sexta-feira, 28 de março de 2008

Um Amor de Tesouro


O filme foi tão massacrado pela crítica americana que eu quase questionei minha sanidade por ter aproveitado a sessão. Trata-se de uma daquelas comédias românticas de aventura no estilo "Tudo por uma Esmeralda" ou "Seis Dias, Sete Noites". Sem dúvida não há nada de artístico no filme, mas até aí, qualquer um que tenha visto o poster ou lido o título não pode dizer que esperava outra coisa. Dentro dessa assumida despretensão, o filme não decepciona. As paisagens são de encher os olhos, as imagens subaquáticas são deslumbrantes, Kate Hudson e Matthew McConaughey estão bronzeados e sem nenhum grama em excesso e, o mais importante, o filme tem certa classe e nos poupa de baixarias e cenas constrangedoras típicas do gênero. O filme é dirigido por Andy Tennant (de "Anna e o Rei", "Doce Lar" e "Hitch"), que só desliza mesmo na dose de violência, que beira o grotesco em algumas cenas e destoa do resto do filme.

Fool's Gold (EUA, 2008, Andy Tennant)

NOTA: 6.0

terça-feira, 25 de março de 2008

Não Estou Lá


A idéia parecia interessante: pegar 6 atores diferentes para interpretar Bob Dylan em suas diversas facetas. Dylan, com sua personalidade contraditória e caótica, soa como a justificativa perfeita para se fazer um filme assim - de narrativa tortuosa, inconsistente e às vezes até incompreensível. Aha! Então o próprio filme é como Dylan, e assistí-lo seria como vivenciar o mundo através de seus olhos. Ok, entendemos! A sacada nós já pegamos na sinopse antes de sair de casa. E é até uma abordagem moderadamente sofisticada (apesar de não ser nova). O problema é ter que sentar e aguentar o filme que acontece nesse meio tempo! 135 minutos de baboseira intelectual. Dylan é uma pessoa tão fechada em seu universo, tão incomunicável, que é a pior idéia do mundo usar uma narrativa igualmente inacessível.

Imaginem uma entrevista com alguém como Dylan. O entrevistador teria que ser a pessoa mais objetiva, clara e articulada do mundo pra torná-la interessante. O entrevistador! Dylan sozinho não ofereceria nenhum foco de interesse à plateia. E este filme é um mau entrevistador. Um reporter pede a Dylan em determinada cena: "Uma palavra para seus fãs". Ele responde: "Astronauta". O filme é repleto de cenas como esta, que celebram o espírito rebelde de Dylan e não oferecem nenhuma perspectiva à sua personalidade. O filme não consegue nem dar uma dimensão de sua importância para a música, fazendo a gente questionar inclusive o seu sucesso. Será que não foi tudo um engano dos fãs?

I'm Not There (EUA/ALE, 2007, Todd Haynes)

NOTA: 3.5

quinta-feira, 20 de março de 2008

O Olho do Mal


Remake americano do terror asiático "The Eye - A Herança", estrelando Jessica Alba como a violinista cega que faz um transplante de córnea e passa a enxergar fantasmas. O original não era nenhuma obra-prima, mas foi nele que eu tomei o maior susto da minha vida. O medo (ou a vontade) de tomar outro era o que tornava o filme interessante. Tirando os sustos (obtidos através de pura técnica visual), sobraria um filme banal, cheio de clichês e mal elaborado - uma boa descrição para "O Olho do Mal". Eles refilmaram a trama - com muito mais dinheiro e aparatos - e não conseguiram reproduzir a única coisa que segurava o filme em pé.

Pra começar não dá pra acreditar na protagonista: essa menina não tem pai nem mãe? Como ela mora num apartamento tão caro sendo música e cega? Quem decora o apartamento dela ou a veste de forma tão coerente e moderna? Fora isso a própria premissa - um transplante de córnea que traz memórias da doadora - já é bem suspeita. O transplante pode até justificar a transferência do "dom" de uma pessoa pra outra, mas não explica por que a primeira menina já era capaz de enxergar fantasmas (ou a própria existência deles!). O filme não perde tempo com essas questões filosóficas - faça da menina uma mexicana esquisita que estamos resolvidos. Além disso nunca ficamos sabendo porque a Jessica Alba também passa a ouvir os fantasmas depois da cirurgia (!).

O filme é assistível, mas todas essas coisas - somadas à performance apática de Jessica - fazem dele desnecessário.

The Eye (EUA, 2008, David Moreau / Xavier Palud)

NOTA: 4.5

sábado, 8 de março de 2008

10.000 A.C.


Aventura pré-histórica de Roland Emmerich, diretor de espetáculos como "Independence Day", "Stargate" e "Godzilla".

Vendo este filme me dei conta de que além dos parâmetros normais que utilizamos pra julgar um filme (roteiro, direção, atores...), existe algo menos palpável que acaba influenciando muito na nossa opinião, que é a noção da inteligência média do filme. Não há nada de muito errado com "10.000 A.C.", o problema é que é tudo muito idiota e ingênuo. Os personagens caricatos, as reações dos atores, o romance, os diálogos, os valores, tudo parece ignorar a seriedade e a sensibilidade da platéia. Frases nonsense como "You will always be in my heart..." são ouvidas aos montes. O filme parece mais um catálogo de clichês cinematográficos; não há nada que se possa chamar de autêntico ou inesperado do começo ao fim. Claro, o resto da filmografia de Emmerich não é exatamente artística, mas seus filmes sempre estiveram recheados daquelas grandes cenas espetaculares que justificavam o ingresso. Aqui, o efeito de maior impacto - as luzes do planeta se apagando conforme voltamos para o passado - foi produzido apenas para o trailer.

De qualquer forma é uma matinê inofensiva, com alguns panoramas bonitos e um tempo de duração adequado.

10,000 B.C. (EUA/NZ, 2008, Roland Emmerich)

NOTA: 5.0

O Orfanato


Produzido por Guillermo del Toro ("O Labirinto do Fauno") e dirigido pelo estreante Juan Antonio Bayona, "O Orfanato" revisita o gênero de terror sobrenatural/psicológico associado a filmes como "Os Outros", "O Sexto Sentido" ou o clássico "Os Inocentes".

O filme é dirigido com elegância, é bem atuado, bem fotografado e tem sequências realmente assustadoras. Mas fica a sensação de que ficou aquém de suas pretensões. Um dos problemas é que há um certo distanciamento emocional - o filme parece estar mais empenhado em se parecer com outros filmes, em ser um representante digno do gênero (abusando de elementos e clichês associados a esses filmes), do que em proporcionar uma experiência envolvente e satisfatória à platéia. Tirando isso, e um final meio duvidoso, é um filme de terror sofisticado que agradará a quase todos.

El Orfanato (MEX/ESP, 2007, Juan Antonio Bayona)

NOTA: 7.0

quinta-feira, 6 de março de 2008

Espartalhões


Nova paródia da dupla que fez "Uma Comédia Nada Romântica" e "Deu a Louca em Hollywood". O filme é todo construído em cima de "300", uma escolha já discutível, pois não se trata de um clássico ou filme tão importante que mereça essa honra. Sou fã do gênero, mas esse realmente consegue ser mais fraco que os 2 anteriores (que já exigiam muita boa vontade). As piadas são extremamente limitadas, sem nenhum tipo de sofisticação, e são frequentemente preconceituosas e de mau gosto (como brincar com a morte de Anna Nicole Smith). Sem falar que o filme não se sustenta sozinho como comédia - se você não tiver assistido "300" e não passar o dia inteiro ligado na E!, nem os créditos farão sentido.

Meet the Spartans (EUA, 2008, Jason Friedberg e Aaron Seltzer)

NOTA: 4.0

domingo, 2 de março de 2008

Eu Sei Quem Me Matou


"Vencedor" de 8 Framboesas de Ouro, incluindo Pior Filme e 2 prêmios de Pior Atriz pra Lindsay Lohan. Como sempre, não é de fato o pior do ano. É um dos de pior mau gosto talvez, e também um dos mais mal vendidos.

Lindsay faz uma estudante aspirante a escritora e pianista (!). Ela é raptada por um serial-killer, tem algumas de suas partes amputadas, e é largada inconsciente à beira de uma estrada. Resgatada com vida, ela acorda num hospital com uma nova identidade (de stripper), negando qualquer relação com a Lindsay do começo do filme. A partir daí, acompanhamos de boca aberta o desenrolar de uma das tramas mais esquizofrênicas dos últimos tempos.

Fica claro em 15 minutos de filme que o diretor Chris Sivertson está fazendo um filme de David Lynch. O visual escuro, o azul e o vermelho, a mulher no meio de um mistério, o sound design, a trilha, a coruja do Twin Peaks, tudo lembra Lynch. E até certo ponto ele é muito bem sucedido, mas erra quando não sabe definir o tom certo pra determinadas cenas. Lynch brinca muito com humor negro, mas sabe que tem que exagerar certas coisas pra deixar claro que se trata de uma paródia, usa música pra dar o contraste certo à cena, dirige os atores da maneira certa, e o resultado é uma estranheza justificada. Neste filme, nunca sabemos se foi humor negro ou puro mau gosto do diretor! Eu particularmente achei divertidíssimo e tive que assistir 2 vezes consecutivas. Primeiro pra entender a história (que é insana) e pegar elementos que tinha perdido da primeira vez (esse é daqueles filmes cheios de brincadeiras e detalhes que só ficam evidentes na revisão), e depois porque simplesmente não acreditava que tinha visto certas imagens.

Talvez o maior erro dele tenha sido escalar Lindsay pro papel principal. Apesar de ela estar muito bem, acaba atraindo um tipo de público que não entende a proposta do filme e fica simplesmente confuso quando a mocinha começar a perder os membros do corpo no começo do filme. Se fosse um filme alternativo com a Asia Argento, ele certamente teria tido um outro destino.

I Know Who Killed Me (EUA, 2007, Chis Sivertson)

NOTA: 7.0