segunda-feira, 25 de maio de 2009

Budapeste


O que esperar de um drama cujo personagem principal é um completo fracassado? Quando você começa a escrever um filme, uma das primeiras coisas que se define é o personagem principal (às vezes até antes da história). E normalmente você tenta criar a pessoa mais interessante e admirável possível. O Woody Allen vive interpretando "losers" - mas perdedores apenas em algumas categorias, como no amor e no trabalho. Fora isso ele é sempre fascinante, engraçado e cheio de frases geniais.

No filme "Trovão Tropical" há uma teoria sobre interpretar retardados no cinema - que você nunca pode fazer um retardado completo, se não a Academia não te reconhece (você pode fazer "Rain Man", que é retardado mas é um gênio da matemática e ganha no blackjack). Com fracassados acho que é a mesma coisa - e José Costa em "Budapeste" é um full-loser. Um quarentão chato, triste, mal nos relacionamentos e com a profissão mais desprezível que existe: um ghost-writer (escritores que são pagos pra escrever biografias para outras pessoas e abrir mão de qualquer crédito de autoria). Ou seja, a não ser que você veja genialidade em frases como "A poesia de verdade desaba por dentro...", poupe-se dessas 2 horas de masturbação pseudo-intelectual.

Contei mais de 12 pessoas que sairam da sala durante a sessão.

Budapeste (BRA, 2009, Walter Carvalho)

INDICADO PARA: Apenas fracassados maiores ainda. Pq no filme pelo menos o cara fracassa na Hungria... Tem umas pontes bonitas...

NOTA: 2.5

5 comentários:

Tiffany Noélli disse...

Sempre passo aqui no seu Blog! Adoro... E sabe de uma coisa? Fico rindo aqui com o q escreve, vc é um ótimo crítico e seus comentários são engraçados, mesmo sendo sérios... Tem um toque diferente, por isso que gosto! Por exemplo esse filme, eu estava pensando q tinha outro estilo e tal... Não curto algo desanimador assim! Foi bom vc falar! Bjssssss...

Anônimo disse...

Na verdade houve pelo menos um ator que foi reconhecido pela Academia por interpretar um "retardado completo" (na linguagem do Trovão Tropical), John Mills, premiado pelo seu papel em A Filha de Ryan (1970).
Talvez o verdadeiro problema seja a dificuldade para muitos atores de interpretar um personagem gravemente descapacitado sem soar falso ou caricato. Leonardo DiCaprio conseguiu isso como o Arnie de Gilbert Grappe. Se a atuação dele não lhe valeu indicação ao Oscar, ao menos lhe valorizou como ator. Provavelmente a aparência quase infantil que ele tinha na época também ajudou. Por outro lado, Elisabeth Shue pareceu ter dado início ao fim de seu breve estrelato dos anos 90 com o papel de uma mulher com transtornos mentais em Molly (1999), um filme que parecia querer ser um novo Tempo de Despertar com toques de Rain Man, mas acabou parecendo uma versão real do Simple Jack do Trovão Tropical e sendo um enorme fracasso. Havia momentos em que Elisabeth parecia a ponto de cair na gargalhada com a caricatura que estava interpretando, como numa cena em que ela tira a roupa num escritório supostamente por causa do calor e entra pelada numa reunião de negócios da qual o irmão dela está participando, para dizer a ele "Molly hot", com um enorme sorriso e uma expressão que tornava difícil acreditar que ela não fizesse idéia da situação.

Pedro.

Caio Amaral disse...

É, o John Mills é um "idiota da aldeia" carismático, até pq não parece vítima, dependente... e ele está sempre atento a tudo, engajado na narrativa.. essas performances onde o ator fica o tempo todo fazendo expressões estranhas, semi-desconectado da realidade ao redor, são mais difíceis de agradar no cinema.

Esse Molly nunca vi, mas pelo trailer (e seus comentários) parece realmente pavoroso, rsss.. tipo o Music.

Anônimo disse...

Entendi. Só queria fazer uma correção no meu comentário anterior, o Leonardo DiCaprio foi, sim, indicado ao Oscar de coadjuvante pelo seu papel de "idiota da aldeia" em Gilbert Grape, mas perdeu pro Tommy Lee Jones como Sam Gerard de O Fugitivo.
https://www.youtube.com/watch?v=nCsVjQaNV0E

Esse Music parece mesmo ruim, nunca tinha ouvido falar, já tinha visto imagens da garota com o fone de ouvido no youtube, mas não fazia idéia da referência.

Pedro.

Caio Amaral disse...

É péssimo, e manchou muito a reputação da Sia.. embora parte das críticas tenham focado no ponto errado; no fato de uma autista ter sido interpretada por uma atriz não-autista.. rs.