segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Mágico


Animação francesa indicada ao Oscar, do mesmo diretor de As Bicicletas de Belleville. O roteiro quem escreveu foi Jacques Tati, o famoso diretor/ator/roteirista/mímico francês que, pra quem não conhece, é mais lembrado pelo personagem do Sr. Hulot - um senhor polido e atrapalhado que parece uma mistura de Chaplin com Mr. Bean (quase nunca falava), mas muito único e excêntrico - eu pessoalmente não acho graça no humor dele, mas reconheço a originalidade e a criatividade dos filmes.

Tati escreveu mas nunca conseguiu produzir o filme em vida, que conta a história de um ilusionista que pertence a uma classe decadente de artistas de palco, que nos anos 60 perdiam espaço pra bandas de rock e um tipo de entretenimento mais histérico. Ou seja, há todo um tom melancólico de nostalgia misturado com crítica social. No meio disso tudo há uma história de amor, mas também meio amarga pois não se sabe direito a natureza da atração dos dois e além disso a mocinha é extremamente interesseira.

Não há muito o que destacar aqui em termos de história. Acho que o melhor do filme é mesmo a qualidade da animação, que torna cada imagem interessante de se ver. Mas o tom pessimista é constante o filme todo: os personagens são todos caricatos e o desenhista parece zombar da raça humana ao exagerar certos traços e gestos, tornando todo mundo meio patético. Se você tem dinheiro, você é um explorador sem alma. Se você está apaixonado, você tem segundas intenções. Se você está num palco cantando rock, você é um demente efeminado. Se você quer comprar uma roupa bonita, você é fútil. Tudo isso é transmitido através da animação, o que não deixa de ser um grande mérito (há tão poucos diálogos que nem se incomodaram em legendar o filme).

Mas acho que eu teria gostado mais da história original de Tati. Acontece que o roteiro foi todo alterado pelo cineasta Sylvain Chomet, causando um sério desentendimento com a família Tatischeff (o neto de Jacques Tati chegou a escrever uma e-mail para o crítico Roger Ebert, explicando o motivo da revolta - leia o e-mail aqui). O roteiro original era muito pessoal, e foi escrito como um pedido de desculpas de Tati à filha que ele abandonou. Na história, o ilusionista fazia amizade com uma jovem fã de uma cidade do interior, que achava que ele era de fato um mágico. Eventualmente, eles vão juntos pra cidade grande e ele acaba sustentando a mentira, com medo de perder a garota pros encantos da cidade, uma vez que seus truques tenham sido revelados. O próprio Tati dizia que o Sr. Hulot era apenas um personagem que tinha criado, mas que na vida real ele era extremamente diferente. Ou seja, esse sentimento de farsa estava no centro da relação de Tati com a filha, que formou a imagem do pai através dos filmes que via quando criança.

O Mágico
L'Illusionniste (ING/FRA, 2010, Sylvain Chomet)

Orçamento: US$ 17 milhões
Bilheteria atual: US$ 3 milhões
Nota do público (IMDb): 7.8
Nota da crítica (Metacritic): 8.4
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de As Bicicletas de Belleville, filmes do Hayao Miyazaki como Ponyo, O Castelo Animado, etc.

NOTA: 6.0

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O Vencedor


A história real do lutador de boxe "Irish" Micky Ward (Mark Wahlberg) e seu irmão mais velho (Christian Bale) que também lutava. Mas enquanto Micky subia na carreira, o irmão vivia das glórias do passado e se perdia nas drogas. O filme está indicado a 7 Oscars, incluindo Melhor Filme, Diretor, Ator Coadjuvante (Bale) e 2 indicações pra Atriz Coadjuvante - Amy Adams, que faz o "love interest" de Micky, e Melissa Leo, a mãe dos dois. Esta é a terceira colaboração entre o diretor David O. Russell e Mark Wahlberg, que trabalharam juntos em Três Reis e Huckabees - A Vida É uma Comédia.

Achei que seria algo do tipo A Luta Pela Esperança, mas logo na primeira cena já deu pra perceber que se tratava mais de um O Lutador; ou seja, câmera na mão, tudo bem mais cru, sem verniz, narrativa não muito esquemática, etc. Mas é um filme mais leve e otimista que O Lutador, até porque não tem a cara arrebentada do Mickey Rourke.

Se bem que Christian Bale está monstruoso - e o mais incrível é que isso não parece resultado de um truque de maquiagem. O que a gente pensa é "nossa, ele realmente é uma pessoa feia - como é que ele enganou tão bem nos outros filmes?". Não gostei de sua performance - se você vai fazer um personagem que é um ignorante, você não pode representá-lo de maneira realista, se não obviamente a performance será desagradável. Se você vai pintar uma maçã podre, a pintura em si não precisa ser feia. O ator pode selecionar certas características, pontuar certas ações, omitir outras, e REPRESENTAR um ignorante de forma brilhante, sem ter que imitá-lo.

Pessoalmente, prefiro Mark Wahlberg e acho que o coração do filme está em sua performance quieta, de cabeça baixa.

É um filme decente e satisfatório, até porque filmes de esporte por obrigação têm que ter algumas sequências de competição, mais um conflito final, e isso dá a eles uma estrutura minimamente bem sucedida.

O Vencedor
The Fighter (EUA, 2010, David O. Russell)

Orçamento: US$ 25 milhões
Bilheteria: US$ 77 milhões
Nota do público (IMDb): 8.2
Nota da crítica (Metacritic): 7.9
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Lutador, Rocky Balboa, A Luta Pela Esperança, Touro Indomável, etc.

NOTA: 7.0

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Turista


O Turista é uma tentativa de fazer um filme do Hitchcock, mas se engana ao imitar apenas os aspectos superficiais dos filmes de Hitchcock - um plot envolvendo crime, uma mulher glamourosa no meio, um protagonista carismático e levemente engraçado, perseguições no telhado, conversas em trens, locações bonitas no exterior, reuniões da alta sociedade, etc, etc, etc. É que nem achar uma pessoa engraçada e ir comprar roupas na mesma loja que ela, esperando que isso o torne engraçado também.

Hitchcock dizia que fazer filmes é muito simples - basta criar 3 cenas que as pessoas irão comentar depois da sessão, e conectar tudo com uma história qualquer. Claro que é uma definição simplista, mas não está muito longe de ser verdade. Se Intriga Internacional é um clássico, é muito mais por causa da cena do monomotor, da perseguição no Mount Rushmore, do assassinato na ONU (e ainda outros clímax) do que da "elegância" da Eva Marie Saint, ou do "estilo visual" do filme.

(agora proibiram o cigarro, rs)

Mas é um filme agradável que não ofende ninguém. Uma boa distração. Angelina Jolie está mais chocantemente linda neste filme do que em qualquer outro que eu já vi. Johnny Depp está discreto, mas arranca várias risadinhas da platéia com gestos sutis e palavras curtas. Mas a trama não faz o menor sentido e uma informação que surge no final do filme invalida a parte mais interessante da história, que era o Johnny Depp completamente tímido tendo que trabalhar a auto-estima pra ficar à altura de Jolie.

O Turista
The Tourist (EUA/FRA, 2010, Florian Henckel von Donnersmarck) - - aff!

Orçamento: US$ 100 milhões
Bilheteria atual: US$ 205 milhões

Nota do público (IMDb): 5.5

Nota da crítica (Metacritic): 3.7

Assista o trailer


INDICAÇÃO: Quem gostou de Trama Internacional, Onze Homens e Um Segredo (e as continuações), Cassino Royale, etc.

NOTA: 5.5

Biutiful


A cativante história de um homem com câncer de próstata que irá morrer em 2 meses. Ele é pobre, tem 2 filhos pequenos pra cuidar (que ele teve com uma prostituta viciada) e como trabalho, ele ajuda a dirigir uma fábrica empregando imigrantes ilegais. Além disso, ele descola uns trocados pirateando filmes e se comunicando com os mortos (isso mesmo). O filme não tem exatamente uma história, mas isso não o impede de se arrastar por 2 horas e meia de duração, usando o tempo necessário pra mostrar em closes todas as vezes que Javier Bardem urina sangue (na privada, nas calças, na fralda), ou então quando ele vomita, injeta agulhas no braço, etc.

Esse é o Naturalismo atingindo novos patamares. Nem é Naturalismo mais - não estamos falando de "pedaços da vida", de "pessoas comuns vivendo problemas da vida real". Aqui é um mundo onde SÓ há problemas, onde absolutamente tudo é negativo. Uma visão estilizada, que elimina qualquer vestígio do positivo de maneira exagerada, proposital; até uma cena onde a família toma sorvete à mesa se transforma num pequeno momento de horror. Esta "realidade" de Biutiful é tão editada quanto à de um musical da MGM - pro lado oposto. Mas que alguém queira contemplar algo bonito é auto-explanatório. Um filme como esse é que precisa se justificar.

Mas não há como justificar - o filme só poderia ser pior na verdade se Iñárritu fosse pior diretor e não soubesse nem se comunicar com clareza. Ao mesmo tempo, fico me perguntando se há algum mérito em "dirigir bem" uma história tão suja quanto essa. Seria que nem ouvir uma música horrível e elogiar o cantor por "estar afinado".

Não dá nem pra sentir pena do Javier Bardem, pois ele não faz nada pra melhorar. Não se trata de uma vítima indefesa, "refém da realidade", mas de uma pessoa depravada tendo aquilo que merece. Se ele é pobre, ele não precisava ser porco, nem virar criminoso. Se ele está com uma doença terminal, ele não precisava fazer a filha pequena vê-lo apodrecer. Não tenho respeito nem dó de alguém que se permite esse grau de sofrimento sem lutar. Se é um caso extremo, onde a dor é inescapável e insuportável, há sempre a alternativa totalmente válida do suicídio, que era a coisa mais sensata que ele poderia ter feito (é por isso que o final de Thelma & Louise não soa como uma tragédia e sim como um triunfo, um grito de liberdade de pessoas livres que se recusam a viver num nível sub-humano). Neste único caso, o suicídio não seria uma derrota, e sim uma afirmação da vida.

As pessoas muitas vezes confundem silêncio com conteúdo - Biutiful é tão vazio quanto Sex and the City 2 por exemplo (Lars von Trier consegue mostrar o horror sendo inteligente, criativo, original). A diferença é que quando você é vazio retratando a beleza, as pessoas chamam isso de "fútil". Quando você é vazio retratando a sujeira, elas chamam de "profundo". Pra mim ambos os casos são negativos, embora o primeiro seja superior.

Acho sempre ridículo e contraditório um artista tentando retratar de maneira tão enfática que a vida é um horror e que o homem é deplorável - será que no fundo ele realmente pensa isso? Pense bem: o interesse em fazer arte em si já é uma demonstração de algo positivo - significa que a pessoa é livre, que tem condições boas de vida, que tem interesse no mundo, que deseja se comunicar, mostrar suas habilidades, expressar suas ideias, etc. Um artista sempre tem um certo nível de autoestima e vaidade, e por mais que se esforce, não consegue ser convincente "desglamourizando" e condenando o mundo e as pessoas por completo (um mendigo na rua pode, um suicida pode, mas não um cineasta livre exercendo sua profissão).

Ele pode mostrar o protagonista urinando sangue - mas observe: nunca vai mostrar uma flatulência. Isso mesmo! Pode procurar... Pegue todos esses filmes "realistas" que estão na moda, esses diretores anti-Hollywood que dizem que o cinema deve mostrar a "verdade" sem glamour, que se orgulham de mostrar um retrato cru do homem... Nenhum deles mostra o protagonista soltando uma flatulência, defecando. Porque aí eles perderiam a classe, ofenderiam o próprio senso de dignidade. Vomitar e mijar sangue tudo bem. Mostrar o Javier Bardem de fralda, cheirando cocaína, ou então mostrar um cadáver em decomposição em close - isso tudo é "realismo"; essas imagens, por mais grotescas que sejam, ainda garantem ao diretor certo prestígio por ser tão "corajoso". Mas comece a refletir sobre a ausência das flatulências e você vai ver que esse realismo "cru" e violento no fundo é uma farsa e que, de uma maneira distorcida, ainda é uma expressão de vaidade do autor. 

O filme foi dirigido por Alejandro González Iñárritu (Babel, Amores Brutos, 21 Gramas) e foi indicado a 2 Oscars: Melhor Ator (Javier Bardem) e Melhor Filme Estrangeiro (México).

Biutiful (MEX/ESP, 2010, Alejandro González Iñárritu)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Ensaio Sobre a Cegueira, Mar Adentro, 21 Gramas, Antes do Anoitecer, etc. Mas se você tiver prazer vendo este filme, ouso dizer que está com sérios problemas na vida.

NOTA: 2.0

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Amor e Outras Drogas


Um filme bem acima da média e que demonstra um ponto importante - de que não é preciso gostar da "mensagem", nem mesmo dos personagens, pra se gostar de um filme - que a avaliação estética está acima da nossa reação emocional primária a ele. Muitas vezes me atacam aqui no blog dizendo que fui injusto, que há uma diferença entre o filme ser bom ou ruim e o meu "gosto pessoal". Sim. O problema é que quase todos os filmes hoje em dia são ruins esteticamente - restando apenas nossa "empatia" particular pela história como única ferramenta de avaliação.

Jake Gyllenhaal é um jovem ambicioso, extrovertido, "conquistador" (pense no Tom Cruise dos anos 80 - aliás o filme todo lembra produções daquela época, no bom sentido) e trabalha na Pfizer vendendo remédios (o filme é uma grande propaganda da Pfizer, mas totalmente apropriada e justificada pela história, assim como Náufrago fez com a FedEx). Ele conhece a Anne Hathaway, uma paciente com Parkinson, e os dois começam um relacionamento de sexo vazio que aos poucos vai se tornando mais complicado (ambos aparecem praticamente nus, o que é bem raro hoje em dia).

Por que não gosto da "mensagem" do filme? Porque não simpatizo pelos personagens - não me identifico com o amor deles, que é o tipo de amor "cínico" predominante hoje em dia, onde as pessoas se unem pelo desprezo compartilhado que sentem pela vida (sou mais Meg Ryan nesse aspecto).

Mas isso não importa, pois o filme é uma história bem contada - clara, inteligente, divertida, uma história de amor honesta com personagens reais, boas cenas, bons diálogos, tecnicamente impecável. Enfim, não é um novo clássico, mas é um filme rico, bem escrito, atuado e dirigido (por Edward Zwick, de Tempos de Glória e O Último Samurai). Se tivesse atores mais feios certamente seria indicado a alguns Oscars.

Amor e Outras Drogas
Love & Other Drugs (EUA, 2010, Edward Zwick)

Orçamento: US$ 30 milhões
Bilheteria atual: US$ 76 milhões
Nota do público (IMDb): 6.6
Nota da crítica (Metacritic): 5.5
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Solteirão, Amor Sem Escalas, Jerry Maguire, etc.

NOTA: 7.5

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Os Indicados ao Oscar 2011


A maioria dos filmes ainda não estreou, então não tenho uma opinião geral sobre as indicações. Mas o Oscar já não me encanta mais como antigamente, pois deixei de acreditar na palavra da Academia. São milhares de membros que votam, e na grande maioria são atores - pessoas que não necessariamente entendem qualquer coisa de cinema. Quando um filme leva uma estatueta, ele não está sendo congratulado por uma entidade mística chamada "Oscar" que sabe tudo - mas por 6.000 indivíduos, dos quais 4.000 pelo menos não sabem o que dizem.

Veja por exemplo a categoria Efeitos Visuais. O drama do Clint Eastwood Além da Vida recebeu uma indicação, tudo por causa da cena da tsunami que nem é tão genial assim (a água parece falsa; e se ser "bem feito" fosse critério, 2012 teria sido indicado ano passado). Enquanto isso Tron ficou de fora - os efeitos mais complexos, originais, bonitos do cinema desde Avatar. Obviamente o critério aqui não é "os melhores efeitos especiais" e sim "filmes que nós gostamos por algum motivo qualquer e que têm efeitos especiais".

Se numa categoria puramente técnica erros tão grotescos são possíveis, imagine nas que exigem níveis mais elevados de abstração.

Ou seja, não há razão para ficar irritado caso um filme que você goste não tenha sido indicado - e logicamente, nem pra ficar feliz caso o seu favorito ganhe.

Melhor Filme (por total de indicações)


O Discurso do Rei (12)
Bravura Indômita (10)
A Origem (8)
A Rede Social (8)
O Vencedor (7)
127 Horas (6)
Cisne Negro (5)
Toy Story 3 (5)
Minhas Mães e Meu Pai (4)
Inverno da Alma (4)

Confira a lista completa de indicações AQUI.
A cerimônia de entrega do Oscar acontece no Domingo, dia 27 de Fevereiro.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Primeiro que Disse


Dramédia italiana sobre um rapaz gay que resolve contar tudo pros pais durante um almoço - só que o irmão mais velho passa na frente e anuncia primeiro que também é gay (pra surpresa do irmão, dos pais e também da platéia). O pai expulsa o filho de casa, sofre um ataque do coração, deixando o outro numa situação complicada, sem poder falar a verdade, com receio de matar o pai de vez.

É um filme pessoal (daqueles que o autor coloca dedicatória no final) sobre pessoas comuns vivendo conflitos humanos, e que aborda esse tema da homossexualidade, mas superficialmente, sem grandes reflexões (longe da sensibilidade de um C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor, por exemplo). Certamente não é a minha praia. O melhor que esse tipo de filme tem a oferecer é alguma espécie de observação psicológica mais aguçada, um estudo de personagens interessante, mas os personagens aqui são bem genéricos, às vezes até caricatos (como os amigos gays de Tommaso - até duvidei que o diretor fosse gay, pois um gay não retrataria outro de maneira tão constrangedora - mas ele é sim; inclusive dirigiu A Janela da Frente e vários outros filmes com essa temática).

É tudo bem simpatiquinho, legalzinho - mas dentro daquele espírito europeu semi-depressivo (não muito diferente do latino); os personagens principais têm um olhar distante, "poético", e dizem coisas do tipo "Ela me ensinou a coisa mais importante, que é sorrir quando estamos tristes, quando estamos morrendo por dentro". Esse é o clima do filme - uma comédia despretensiosa, mas que não foi feita pra fazer rir, e sim pra amenizar a depressão.

O Primeiro que Disse
Mine Vaganti (ITA, 2010, Ferzan Ozpetek)

Nota do público (IMDb): 7.0
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Canções de Amor, De Repente Califórnia, A Janela da Frente, etc.

NOTA: 4.5

Incontrolável


Um filme tão insípido, livre de drama, que faz Velocidade Máxima parecer literatura clássica. Ele conta a história real de um engenheiro e um condutor (Denzel Washington, Chris Pine) que têm que parar um trem de carga cheio de material inflamável que vai acelerando em direção a uma cidade na Pennsylvania, sem ninguém no comando.

A situação é interessante e permite uma variedade de idéias, mas o filme se limita a descrever a ação física, passo a passo, sem oferecer uma dimensão dramática pra história (e ainda assim descrever MUITO MAL - o diretor Tony Scott treme a câmera e faz cortes rápidos pra dar uma sensação de que ele tem "estilo", mas no fundo o filme também está sem maquinista).

O roteiro faz várias tentativas patéticas de enfiar conteúdo na história, por exemplo, mostrando que Denzel Washington tem problemas de relacionamento com a filha - uma cena sem o menor sentido, inserida no começo do filme e esquecida depois, que tenta forjar algum conceito de "profundidade". Ou então sugerindo um antagonismo entre Denzel e o chefe, que logo é abandonado.

Ou seja, acharam que por se tratar de uma história real e de um evento realmente intenso, que eles poderiam dispensar de personagens, de conteúdo. Errado... Basta pegar As Torres Gêmeas - uma história real infinitamente mais dramática que essa do trem - e que também resultou num filme insípido - e comparar com Encurralado, uma simples perseguição de carros, completamente inventada, e que é muito mais envolvente que ambos.

Incontrolável
Unstoppable (EUA, 2010, Tony Scott)

Orçamento: US$ 100 milhões
Bilheteria atual: US$ 155 milhões
Nota do público (IMDb): 7.0
Nota da crítica (Metacritic): 6.9
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Assalto ao Metro 1 2 3, Deja Vu, 16 Quadras.

NOTA: 4.5

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família


O filme custou 100 milhões de dólares e tenho certeza que a maior parte desse orçamento foi pra cobrir o elenco: Robert De Niro, Ben Stiller, Barbra Streisand, Jessica Alba, Dustin Hoffman, Owen Wilson, Harvey Keitel, Laura Dern e até uma aparição especial de Deepak Chopra! Investir no elenco é uma maneira bem mais segura de garantir retorno. Um filme de 100 milhões gastos em efeitos especiais - mas sem astros - ainda pode ser um fracasso absoluto. Uma produção caseira, mas com esses nomes no cartaz, não fatura menos que 200, 300 milhões. E você nem precisa de um roteiro!

Esse é o tipo de filme que de tão ruim eu saio da sala alguns segundos antes dos créditos, assim não tenho que encarar a platéia (sabe aquela festa furada que você não quer sair nas fotos?). Mas não é preciso falar mal de uma comédia cuja maior piada é o sobrenome do protagonista ser "Focker". Isso sem mencionar o título.

Enfim, como esse é o décimo filme seguido que eu dou uma avaliação negativa, vou tentar fazer algo diferente. Vou manter a nota baixa, porém vou comentar os pontos positivos do filme, só pelo exercício. Vamos lá:

Barbra Streisand é um dos maiores ícones do entretenimento, e é sempre agradável vê-la, mesmo que num papel que não a mereça.

Jessica Alba tem um corpo bonito e aparece de roupas íntimas.

Embora a cena seja péssima e gratuita, há uma referência a Tubarão, que foi um ótimo filme.

Poderia ter sido pior.

Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família
Little Fockers (EUA, 2010, Paul Weitz)

Orçamento: US$ 100 milhões
Bilheteria atual: US$ 236 milhões
Nota do público (IMDb): 5.4
Nota da crítica (Metacritic): 2.7
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Uma Noite no Museu 2, A Máfia Volta ao Divã, etc.

NOTA: 3.0

domingo, 9 de janeiro de 2011

Além da Vida


Posso curtir perfeitamente filmes que falam sobre espíritos, vida após a morte, demônios, etc, mesmo sem acreditar em nada disso. Ghost, O Sexto Sentido - são ótimos filmes e o fato de eu não acreditar em fantasmas não interfere em nada. Mas isso porque esses filmes colocam o misticismo em segundo plano. Acima de tudo, eles são entretenimento (têm romance, suspense, fazem a gente chorar, levar susto, acompanhar uma trama interessante, etc), não são propaganda esotérica.

Além da Vida, por outro lado, exige que você tenha fé. Ele põe crenças em primeiro plano e não te oferece mais nada. O gancho do filme - o elemento que tenta prender o espectador na poltrona - não é narrativo, e sim o desejo de acreditar em "algo mais". Não há uma trama pra sustentar o filme como um todo.

O crítico americano Roger Ebert, que se diz cético mas deu nota máxima ao filme, baseia toda sua crítica na noção de que o filme não AFIRMA que existam espíritos. Que isso pode ou não ser interpretado pelo espectador - que as visões do personagem de Matt Damon possam ser apenas alguma forma de "telepatia"! Isso é apenas trocar a fé por outra coisa ainda pior; admirar o fato do filme não se posicionar, não ter convicções sobre nada. O filme conta com o desejo da plateia de acreditar na vida após a morte; sem isso, todo o mistério e o suspense vão por água abaixo e o que sobram são 2 horas e pouco de pura letargia, chatice, de personagens frustrados vivendo vidas entediantes.

Pro meu choque, o filme foi dirigido por Clint Eastwood (que eu geralmente gosto), produzido por Steven Spielberg (meu cineasta favorito), escrito por Peter Morgan (dos ótimos A Rainha e Frost/Nixon) e recebeu a avaliação máxima de Roger Ebert, Mick LaSalle, A.O. Scott - meus críticos de cinema favoritos.

Além da Vida
Hereafter (EUA, 2010, Clint Eastwood)

Orçamento: US$ 50 milhões
Bilheteria atual: US$ 32 milhões
Nota do público (IMDb): 7.4
Nota da crítica (Metacritic): 5.6
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Nosso Lar, Presságio, O Mistério da Libélula.

NOTA: 3.0

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Amor por Contrato


A premissa é interessante: o filme começa nos apresentando os Joneses (como fica o plural no português, Joneses ou permanece só Jones?) - a família americana perfeita. Eles são lindos, jovens, simpáticos e milionários. Tudo que eles têm é motivo de inveja da vizinhança - o novo Audi do pai (David Duchovny), o tênis de caminhada da mãe (Demi Moore, que à distância parece mais nova que a filha) ou os novos games do filho.

Ainda no começo do filme, o roteiro, de uma maneira bastante ousada, faz a gente perceber que eles não são de fato uma família. Na verdade, os Joneses são uma estratégia de marketing; uma família fictícia, formada por uma empresa como forma de inserir produtos no mercado de luxo.

Parte do filme é uma crítica cínica ao consumismo. A outra parte trata dos dramas particulares de cada membro da família: Duchovny que começa a se interessar de verdade pela falsa esposa, o filho que sofre uma crise de identidade, etc.

Mas nem uma parte nem outra funciona muito bem. O roteiro é raso demais pra dar vida aos personagens. O filme não consegue nos dar a ótica de nenhum deles. Não conhecemos nenhum deles de verdade. Não entendemos o que eles pensam, o que eles sentem e por que. Eles são figuras de papelão, tanto para os vizinhos da história quanto para a platéia.

Quanto à mensagem anti-consumismo, o filme dá um tiro no pé. Primeiro, toda a "sacada" da empresa me parece uma grande furada. Quantos Audis será que se pode vender através da inveja de vizinhos? 2, 3? Por que eles não patrocinam logo uma família real da mídia, como Brad Pitt e Angelina Jolie? Seria muito mais interessante e plausível sugerir também que alguns desses casais de celebridades fossem armações com essa finalidade (Zac Efron e Vanessa Hudgens, Tom Cruise e todas as namoradas, etc).

A contradição básica do filme é a seguinte: ele diz ser contra o consumismo, mas assim como os Joneses, o filme só consegue prender a atenção da platéia através de coisas concretas, materiais - mansões luxuosas, pessoas bonitas, aparelhos de ponta - coisas que vão surgindo na tela o tempo todo e "prendendo" o espectador da forma mais superficial possível. Não envolvendo a platéia com caracterizações interessantes e conteúdo, mas exibindo produtos e "sonhos de consumo" na tela.

O filme foi escrito e dirigido pelo estreante Derrick Borte. Antes ele era diretor - pasmem - de comerciais...

Amor por Contrato
The Joneses (EUA, 2010, Derrick Borte)

Orçamento: US$ 10 milhões
Bilheteria atual: US$ 6 milhões
Nota do público (IMDb): 6.6
Nota da crítica (Metacritic): 5.5
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Jogando com Prazer... Não estou lembrando de nada muito parecido. Tem um "q" de Beleza Americana, até O Show de Truman, mas nem de longe tão brilhante.

NOTA: 5.0