segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha


Foi difícil conseguir ingresso no dia da estréia e dá pra entender por que - Bruna Surfistinha é um dos projetos mais comerciais imagináveis, ainda mais no Brasil: história de fama e sucesso + baseada em fatos reais + mulher bonita + muita cena de sexo. Tem como fracassar?

O filme tem uma estrutura batida de ascensão e queda - mas a parte da ascensão é muito boa, pois o fato de ser a ascensão de uma prostituta torna tudo muito original e divertido. Deborah Secco está tão bem, tão natural, que ela anula qualquer tom de crítica que pudesse haver na história - a gente acompanha o filme como se fosse de fato uma história de sucesso convencional e não houvesse nada de errado em se prostituir. Numa festa de aniversário, já famosa, ela sobe no palco e faz um discurso pros convidados, dizendo coisas do tipo "acreditem em seus sonhos", "não desistam nunca" - não há um tom de ironia aqui, nem nela nem no filme - ela diz isso realmente acreditando que "chegou lá".

O melhor do filme são as partes bem humoradas - quando ela seduz o policial pra se livrar de uma multa, ou então as montagens mostrando os tipos de clientes que ela recebia. Quando ela começa a abusar das drogas e o filme entra na fase da decadência, a energia cai um pouco, mas mesmo aí ouvimos pérolas de Bruna, como a frase instantaneamente clássica que ela grita num corredor cheio de homens "Hoje eu não vou dar. Eu vou distribuir!".

As cenas de sexo são mais ousadas do que eu imaginava; muita gente vai achar o filme pesado. Eu não achei não. Aliás, muito pelo contrário - saí da sala leve, pois o filme me "ensinou" uma coisa importante: que existe muito menos doença no mundo do que eu imaginava... Se ela fez tudo o que fez e ainda está viva, quer dizer que é muito mais difícil contrair doenças do que eu imaginava!

Bruna Surfistinha (BRA / 2011 / 109 min / Marcus Baldini)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Meu Nome Não É Johnny, 2 Filhos de Francisco (mas não leve as crianças).

NOTA: 7.0

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Oscar 2011 - PREVISÕES


Pra mim, este provavelmente será o Oscar menos revoltante em anos. Se O Discurso do Rei ganhar, acho que será a primeira vez desde o Oscar 98 (Titanic) que o vencedor é de fato o meu filme favorito do ano. Se A Rede Social levar também fico feliz - pois embora eu ache O Discurso do Rei melhor como filme, A Rede Social me toca num nível mais pessoal. Ou seja, só se der uma zebra mesmo pra eu me irritar.

E acabei de ler uma ótima notícia: O Último Mestre do Ar - a única nota ZERO que dei este ano todo - acabou de "vencer" 5 Framboesas de Ouro, incluindo Pior Filme e Pior Diretor pra Shyamalan. No fim, parece que não estou tão fora de sintonia com os outros quanto venho dizendo, rs.

MELHOR FILME
Cisne Negro
O Vencedor
A Origem
Minhas Mães e Meu Pai
O Discurso do Rei - 1ª aposta dos experts / meu favorito
127 Horas
A Rede Social - 2ª aposta dos experts / meu outro favorito
Toy Story 3
Bravura Indômita
Inverno da Alma

MELHOR DIRETOR
Darren Aronofsky, "Cisne Negro"
David O. Russel, "O Vencedor"
Tom Hooper, "O Discurso do Rei" - 2ª aposta dos experts / meu favorito
David Fincher, "A Rede Social" - 1ª aposta dos experts
Joel Coen e Ethan Coen, "Bravura Indômita"

MELHOR ATOR
Javier Bardem, "Biutiful"
Jeff Bridges, "Bravura Indômita"
Jesse Eisenberg, "A Rede Social"
Colin Firth, "O Discurso do Rei" - aposta dos experts / meu favorito
James Franco, "127 Horas"

MELHOR ATRIZ
Annette Bening, "Minhas Mães e Meu Pai" - 2ª aposta dos experts / minha favorita
Nicole Kidman, "Rabbit Hole" - ainda não vi
Jennifer Lawrence, "Inverno da Alma"
Natalie Portman, "Cisne Negro" - 1ª aposta dos experts / minha 2ª favorita
Michelle Williams, "Blue Valentine" - ainda não vi

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Christian Bale, "O Vencedor" - aposta dos experts (minha maior discórdia)
John Hawkes, "Inverno da Alma"
Jeremy Renner, "Atração Perigosa"
Mark Ruffalo, "Minhas Mães e Meu Pai"
Geoffrey Rush, "O Discurso do Rei" - meu favorito

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Amy Adams, "O Vencedor"
Helena Bonham Carter, "O Discurso do Rei"
Melissa Leo, "O Vencedor" - aposta dos experts / minha favorita
Hailee Steinfeld, "Bravura Indômita"
Jacki Weaver, "Animal Kingdom" - ainda não vi

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Another Year - ainda não vi
O Vencedor
A Origem
Minhas Mães e Meu Pai
O Discurso do Rei - aposta dos experts / meu favorito

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
127 Horas
A Rede Social - aposta dos experts / meu favorito
Toy Story 3
Bravura Indômita
Inverno da Alma

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Justin Bieber: Never Say Never


Documentário em 3D sobre a vida de Justin Bieber. O filme mostra como foi sua ascensão à fama enquanto acompanha a turnê de 2010, culminando numa apresentação no Madison Square Garden. Não dá pra separar muito o documentário do assunto... Então vou falar de Justin.

Se você odeia o Justin Bieber, eu teria que escrever um livro aqui pra tentar explicar por que você está cometendo uma grande injustiça, provavelmente baseada em falta de informação (não conhecê-lo / não ter escutado as músicas / ter aceito a opinião dos seus amigos) - ou em alguns casos até em inveja, amargura ou sei lá o que.

Pois aqui está um garoto que aos 16 anos é o maior astro teen do mundo - não porque foi uma manipulação da indústria, das grandes gravadoras, mas por mérito real. Vemos no filme que ele morava no Canadá quando foi descoberto no YouTube por um produtor americano - e em pouco tempo já estava viajando pelos EUA, se apresentando em rádios, conhecendo DJs, conquistando aos poucos o público feminino, até que caiu nas graças do Usher e gravou seu primeiro álbum. É a história mais natural de sucesso que eu ouço em muito tempo.



É preciso ser muito engenhoso com racionalizações pra não reconhecer as qualidades de Bieber - além de incrivelmente precoce e talentoso (há vários vídeos no documentário mostrando ele criança já tocando bateria, violão), ele tem determinação, a aparência certa, personalidade (alguém no filme o descreve como "o Macaulay Culkin da música") e parece completamente espontâneo e natural. É uma raridade mesmo (ele é uma daquelas pessoas "irritantes" que conseguem montar o cubo mágico em 5 minutos) - se isso é algo que você odeia, vale a pena sentar e refletir sobre os motivos.

E o principal é que seu "star power" foi bem traduzido em uma série de canções pop simples, mas muito bem feitas, que viraram hits no mundo todo. Lógico, se pop não é seu estilo favorito de música, você não vai ser fã de Bieber - mas será um caso de indiferença, desinteresse, não de ódio como tenho visto (da mesma forma que você pode ser indiferente a jazz ou country sem a necessidade de atacar o estilo). Mas falar que a música dele é um lixo e em seguida escutar sucessos do Bruno Mars e da Katy Perry, é admitir que o que te interessa não é bem música, e sim personalidade, aparência, embalagem, pois não há grande diferença artística entre ele e as outras pessoas que estão por aí ganhando Grammys, tocando nas baladas. Nada que justifique essa reação exagerada das pessoas quando se toca no nome de Bieber.

Não estou dizendo que ele é meu novo ídolo, mas me sinto na obrigação de defendê-lo. Até porque o documentário em si é muito bem feito e eficiente. Difícil não sair da sala inspirado.

Justin Bieber: Never Say Never (EUA / 2011 / 105 min / Jon Chu)

Orçamento: US$ 13 milhões
Bilheteria atual: US$ 54 milhões

Nota do público (IMDb): 1.1 (veja se isso soa minimamente realista)
Nota da crítica (Metacritic): 5.2


INDICAÇÃO: Quem gostou de Michael Jackson - This Is It, Hannah Montana & Miley Cyrus - Show: O Melhor dos Dois Mundos, High School Musical 3, etc.

NOTA: 8.0

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Cisne Negro (2ª chance)


Revi o filme ontem com mais boa vontade e achei melhor que da primeira vez. Como drama, vai muito bem durante a maior parte do tempo - é envolvente, bem atuado, bem dirigido, coeso - só descamba mais pro final, quando Aronofsky começa a brincar de filme de terror.

Mas pude observar melhor o que foi que me incomodou:

Desde as primeiríssimas cenas já vemos sinais de alucinação, como no metrô, onde Nina enxerga uma outra garota parecida com ela (ao som de um efeito sonoro sinistro). Neste ponto, ainda nem foi anunciada a produção de O Lago dos Cisnes! As feridas nas costas dela também já aparecem logo nos primeiros minutos de filme, muito antes de qualquer conflito "Cisne Branco / Cisne Negro" começar a perturbá-la. Qual o sentido dessas alucinações então, se o drama ainda nem começou?

Isso é uma boa dica de que o interesse do filme não está de fato no conflito psicológico da personagem, não em fazer a platéia se importar por ela, acompanhando passo a passo o seu drama - e sim na maneira "estilosa" de representar isso visualmente (que também não chega a ser tão genial). Faltam dados e a transformação dela é muito mal contada. Como é que ela chega finalmente ao Cisne Negro? Quais foram as etapas dessa transformação psicológica? O que ela fez (ou sofreu) para mudar? Não vivenciamos isso direito. Vemos a pressão do diretor... Ela começa a se "tocar"... Daí tem a cena que ela briga com a mãe e sai com a amiga pra usar drogas e beijar uns caras... Joga os ursinhos de pelúcia no lixo. E acho que só. Nós só vemos os resultados de sua transformação, mas não as causas. Se você desconsiderar as cenas de alucinação e pensar só no que de fato aconteceu à personagem ao longo do filme, verá que não foi nada de tão épico e fora do comum que merecesse uma ilustração tão pretensiosa.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Primeiro Mentiroso


O material é tão ousado, inteligente e controverso, que merecia um filme mais ambicioso - parece que Ricky Gervais (roteirista, ator e diretor - mais conhecido pela série The Office) ficou tímido com suas idéias e resolveu enquadrar tudo num formato convencional de comédia-romântica censura 12 anos. Ainda assim, é um das comédias mais interessantes que vi recentemente.

A história se passa num mundo onde não existe a mentira. Imagine O Mentiroso (do Jim Carrey) só que ao contrário - todos na cidade falam a absoluta verdade o tempo todo. Os comerciais da Pepsi anunciam "Para quando não tiver Coca". Quando Mark (Gervais) sai num encontro com Anna (Jennifer Garner), ela logo avisa que não haverá possibilidade de sexo, pois ele é um "loser" e ela não quer que seus filhos sejam baixinhos e gordinhos como ele.

E por aí vai, até que em determinado momento Mark descobre que tem o poder de mentir - e em pouco tempo ele se torna milionário, consegue convencer qualquer mulher a ir pra cama com ele, e de quebra se torna o Messias: quando sua mãe está morrendo no hospital, ele a conforta dizendo que ela irá para um lugar lindo onde encontrará todas as pessoas que ama. Os enfermeiros ouvem e ficam fascinados com a informação - e em pouco tempo há milhares de pessoas acampadas na frente do hospital, interessadas no novo conceito de uma "vida após a morte". O que acontece depois é talvez a melhor sátira a religião desde A Vida de Brian.

Mas será que com todo esse poder ele consegue conquistar a mulher que ama? Anna está dividida entre ele, que é seu melhor amigo, alguém que ela genuinamente gosta e se diverte (embora não haja o elemento "admiração" presente, pelo menos do lado dela) - e Brad (Rob Lowe) um cara chato, mas com material genético bem mais interessante.

Ou seja, o filme é uma crítica à superficialidade. Mark uma hora lamenta "As pessoas não entendem o que elas querem de verdade. É por isso que eu sempre estarei sozinho". Acho que a maioria das pessoas de fato só enxerga o superficial - aquilo que é concreto, imediato... Incapazes de fazer uma avaliação pessoal, fogem para o que foi estabelecido pela sociedade. Namoram pessoas que não gostam, mas que têm ângulos simétricos e um bom status. Ouvem sons desagradáveis, mas produzidos pelo artista do momento, etc, etc.

Não vou dizer se ela decide ficar com ele ou não. Minha única objeção ao filme é que a mensagem é um pouco comprometida... Pois apesar dele tentar manter o jogo aberto com ela - tentar conquistá-la por méritos reais, não pelas mentiras, não pela manipulação, ainda assim ele se tornou rico ao longo do filme sendo desonesto. Quando ela o conheceu ele era um quarentão falido - no final ele está vivendo numa mansão... A gente é levado a pensar que, mesmo que ela mude de idéia e decida ficar com ele e não com o bonitão (não vou dizer) o fato dele ter ficado rico ainda pode ter influenciado. Ou seja, não sei se a mensagem é "entenda seus valores e aja de acordo" ou então "fique rico, consiga a garota"!

Lançado direto em DVD no Brasil.

O Primeiro Mentiroso (The Invention of Lying / 2009 / 100 min / Ricky Gervais, Matthew Robinson)

Orçamento: US$ 18 milhões
Bilheteria: US$ 32 milhões
Nota do público (IMDb): 6.4
Nota da crítica (Metacritic): 5.8
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Show de Truman, O Mentiroso, A Vida de Brian.

NOTA: 7.0

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Besouro Verde


Estamos numa das épocas em que mais se faz filmes de super-heróis e ao mesmo tempo numa época em que quase ninguém se interessa por heróis - as pessoas não estão querendo ir ao cinema ver fantasia, atos de integridade - o que dá ibope hoje em dia é dizer que somos seres complicados, que não se pode vencer nessa vida (a sala estava 30% cheia, apesar de ser estréia, enquanto Cisne Negro na sala ao lado estava lotado). O que surge então são esses heróis diminuidos, "simplificados" - mas como esses filmes são construídos em cima de uma contradição, nenhum deles realmente funciona.

Pelo menos o Besouro Verde não é dark e pretensioso que nem o novo Batman. É apenas um herdeiro irresponsável que só pensa em curtir a vida e não se importa por mais nada. Isso é feito pra tornar o personagem mais simpático, mais "cool", só que depois que ele coloca a fantasia e começa a combater o crime, nada faz sentido.

Estranhamente, o filme foi dirigido por Michel Gondry, diretor cult de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Não gosto muito dos filmes dele, mas nesse caso (onde ele é apenas contratado) acho que ele trouxe um toque de estilo e inteligência visual ao filme que não fez mal. É esquecível, desimportante, chato de assistir, mas pelo menos não é de mau gosto.

O Besouro Verde (The Green Hornet / EUA / 2011 / 119 min / Michel Gondry)

Orçamento: US$ 120 milhões
Bilheteria atual: US$ 200 milhões
Nota do público (IMDb): 6.5
Nota da crítica (Metacritic): 3.9
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Homem de Ferro 1 e 2, Kick-Ass...

NOTA: 4.5

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas


Às vezes gosto de ver uns filmes completamente diferentes só pra colocar as coisas em perspectiva. Fico reclamando que 127 Horas não tem história, que Cisne Negro é óbvio - mas estes todos ficam parecendo adrenalina pura quando colocados ao lado de um Tio Boonmee (até por isso tomo cuidado com notas muito baixas - preciso reservar os 1's e os 0's pra esse tipo de coisa).

Achei interessante o monstrinho da capa e fui ver o filme sabendo muito pouco a respeito - apenas que ele tinha levado a Palma de Ouro em Cannes. Esperava um filme diferente, cheio de surpresas, bizarrices. Ele tem uma linguagem diferente, mistura realismo com fantasia (lembra a primeira parte de 2001, filmes do Tarkovsky), mas após alguns minutos de curiosidade (como os fantasmas e as criaturas estranhas) o tédio toma conta.

É um daqueles filmes longos e chatos que a crítica adora e diz ser uma experiência "sensorial" (amplie o pôster e veja as barbaridades que escrevem). Ser sensorial significa "não ser racional". Significa que existem coisas no filme que estão além do que pode ser visto ou percebido pelo seu cérebro. E o público fica na poltrona num estado de transe, "sentindo" as imagens abstratas que o diretor joga na tela, tendo "sensações" e tentando em vão extrair algum significado delas. Por exemplo, um crítico (que eu não vou citar o nome) notou a presença de "janelas" nos filmes desse cineasta e concluiu:

"As janelas nunca estiveram tão presentes. Elas marcam a divisa entre os interiores das cabanas e a floresta tailandesa, entre a memória individual e a coletiva, entre o agora e o sempre." (?!?!)

É o tipo de filme que só é respeitado dentro do meio artístico, afinal, é onde existem pessoas interessada nesse universo mental alternativo, onde esforços não são necessários, onde elas ainda têm a chance de serem consideradas geniais sem que tenham que demonstrar qualquer habilidade. É como um mau pintor que aprova os rabiscos dos outros pra justificar os seus. No "mundo real", nenhuma pessoa saudável (um adolescente, um empresário brilhante, uma dona de casa) adoraria um filme como este - apenas pessoas com pretensões criativas, buscando uma fuga da necessidade de se ter virtudes objetivas.

Loong Boonme raleuk chat (TAI, ING, FRA, ALE, ESP, HOL / 2010 / 114 min / Apichatpong Weerasethakul)

INDICAÇÃO: Pegue o carro e procure um engarrafamento - será mais divertido.

NOTA: 0.0

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Burlesque


Christina Aguilera e Cher dividem a tela nesse filme de música (não chega a ser um musical) sobre uma garota do interior que chega em L.A. com um grande sonho (e uma voz) e começa a se apresentar num cabaré chamado Burlesque.

Primeiro problema grande: Aguilera, quando chega em L.A., já é uma estrela pronta. Não há nada a ser melhorado ou superado... Ela canta, sabe todas as coreografias, tem o visual certo, confiança, presença de palco... Que interesse poderíamos ter num ser indestrutível como esse?

Segundo: a trilha sonora me pareceu bastante esquecível.

Terceiro: o sonho dela é se apresentar no Burlesque - e ela consegue isso logo no primeiro terço do filme. E depois? Onde ela quer chegar? Não sabemos... Não há uma apresentação final a ser aguardada, um produtor musical que ela queira conhecer, uma escola de dança que ela queira ser admitida... Nada... Mesmo o romance é previsível e fica claro desde o começo que os dois se gostam.

Pegue Flashdance como parâmetro - o filme tem apenas um fiapo de história, os personagens são superficiais - mas ele não comete nenhum destes erros e virou uma espécie de clássico mesmo assim.

Cher tem presença como atriz, já Aguilera é uma bagunça... Uma hora quer ser a menina ingênua, outra hora quer ser a poderosa, uma hora sexy, na outra infantil, e em nenhum momento parece uma pessoa de verdade. A impressão que dá é que como ela já não surpreende mais ninguém com sua voz, então ela resolveu ir pro cinema fazer papel de novata, pra ter a sensação de estar impressionando uma platéia de novo.

O visual é macio, luxuoso, colorido, bonito de ver... O filme parece uma desculpa pra elas ficarem lindas na tela. Acho que esse é o maior elogio que pode ser feito... (Cher tem 65 anos mas tem corpo de 35, rosto de 45, e a pele de um bebê recém nascido fora de foco). Mas é tudo muito clichê e faltam conflitos... Talvez as 2 sejam estrelas há tempo de mais pra se lembrarem do que se trata essa história.

Burlesque (EUA / 2010 / 119 min / Steve Antin)

Orçamento: US$ 55 milhões
Bilheteria atual: US$ 84 milhões
Nota do público (IMDb): 6.1
Nota da crítica (Metacritic): 4.8
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Fama (o remake), Nine, Dreamgirls, Show Bar.

NOTA: 5.0

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Santuário


Santuário tenta ser um filme de James Cameron (que é o produtor executivo) e em alguns aspectos até que ele imita muito bem (em particular O Segredo do Abismo). Mas simplesmente não é bom o bastante. A situação já não é tão envolvente. Os filmes de Cameron são sempre sobre pessoas comuns em perigo - mas esse perigo parece sempre inevitável, e só por isso nós nos identificamos com elas. Aqui nós não temos pessoas comuns correndo um perigo inevitável - e sim exploradores que se colocam propositalmente em situações de extremo risco, não porque este é o trabalho deles, mas pelo prazer da aventura mesmo - não dá nem pra sentir pena de ninguém (assim como em 127 Horas).

Além disso os personagens são extremamente superficiais, de papelão (em qualquer bom filme, há um senso de intimidade com os personagens centrais... aqui é a sensação de entrar numa festa que você não foi convidado e não sabe o nome de ninguém).

Pra ser um Cameron, faltam também grandes cenas... 2 ou 3 clímax inesquecíveis. Não há nenhum.

Enfim, não achei completamente dispensável o filme. As imagens são interessantes, há alguns momentos fortes. Mas é um daqueles casos onde simplesmente faltou mais talento. Copiaram bem a massa do bolo, mas esqueceram do recheio, da cereja, etc.

Santuário (Sanctum / EUA - AUS / 2011 / 109 min / Alister Grierson)

Orçamento: US$ 30 milhões
Bilheteria atual: US$ 22 milhões
Nota do público (IMDb): 5.6
Nota da crítica (Metacritic): 4.2
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Viagem ao Centro da Terra, Turistas, Limite Vertical, etc.

NOTA: 5.5

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

127 Horas


Isso aqui é o Danny Boyle dizendo "vejam só, eu sou tão interessante como diretor que posso escolher qualquer besteira pra filmar que ainda serei indicado ao Oscar".

O filme combina o culto à dor (já falei muito sobre esse assunto; quem se interessar, leia minhas críticas sobre Enterrado Vivo ou Biutiful) com outro modismo do cinema que eu detesto - a substituição de conteúdo por estilo.

No filme, o que acontece é apenas o seguinte: rapaz sofre acidente idiota; rapaz amputa o próprio braço - não importa onde o Danny Boyle enfia a câmera, em quantas vezes ele divide a tela, quantas sequências de delírio ele insere na história, nada muda o fato de que o filme é apenas "rapaz sofre acidente idiota; rapaz amputa o próprio braço" (não há nenhuma tentativa de aprofundamento psicológico).

Estilo não é um fim em si mesmo - apenas o meio para se contar uma história. Inverter essa ordem revela que o diretor só está interessado em se mostrar (ainda mais quando o pouco de história que ele traz serve mais pra incomodar a platéia).

O filme é tão sem sentido que eu nem vou perder meu tempo discutindo. Neste caso, quem gostou é que deveria explicar por que.

Indicado a 6 Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator pra James Franco.

Detalhe: um filme que não tem história e só tem algum valor por causa da direção foi indicado a Melhor Roteiro (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e não foi indicado a Direção. Resta alguma dúvida de que a Academia não tem mais critério?

127 Horas (127 Hours / EUA - ING / 2010 / 94 min / Danny Boyle)

Orçamento: US$ 18 milhões
Bilheteria atual: US$ 30 milhões
Nota do público (IMDb): 8.1
Nota da crítica (Metacritic): 8.2
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Enterrado Vivo, Na Natureza Selvagem, Irreversível, Menina Má.com, etc.

NOTA: 3.0

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita


Parece uma tentativa dos irmãos Coen de fazer um filme menos obscuro, menos sombrio do que de costume, mas claro que eles não aguentam e o resultado é misto, insatisfatório - não é nem um filme sério e intelectual como Onde os Fracos Não Têm Vez, nem chega a ser um bom faroeste tradicional.

Refilmagem do clássico que deu o Oscar a John Wayne, o filme conta a história de uma menina que quer capturar o assassino de seu pai e pede ajuda a um U.S. Marshall (agora Jeff Bridges) conhecido por ser extremamente violento (ambos foram baseados num livro - mas o visual indica que os Coen se basearam mais no filme mesmo).

Enquanto o antigo focava na conexão entre o xerife e a garota (ela era destemida, determinada, e por trás da grosseria aparente, ele cultivava por ela algum tipo de orgulho paternal), esse aqui mostra o xerife como um bêbado incompetente e ela como uma menina-prodígio pretensiosa e antipática.

O filme não é ruim - o maior problema mesmo é que a menina Hailee Steinfeld não convence como durona (até as tranças compridas atrapalham a caracterização - no antigo ela tinha um cabelo curto, jeito de moleca). Além disso não há química entre ela e o xerife (no outro eles tinham uma admiração mútua compreensível).

É um exercício interessante assistir aos 2 filmes na sequência e observar o que é omitido, acentuado e acrescentado pelos irmãos Coen na nova versão. Quase todas as alterações deles vão na direção de destruir ou amenizar que havia de admirável nos personagens do clássico, e de acrescentar sujeira, detalhes físicos nojentos, violência, pessimismo e impotência. E claro que não poderia faltar uma amputação - repare como Bravura Indômita, Cisne Negro, 127 Horas, O Vencedor, Como Treinar o Seu Dragão, Inverno da Alma e até Toy Story 3 - todos incluem cenas importantes onde partes do corpo são esmagadas ou amputadas. É o novo pré-requisito pra ser indicado ao Oscar, vejam só (SPOILERS!!!):



Indicado a 10 Oscars incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz Coadjuvante pra garota que eu falei mal.

Bravura Indômita (True Grit / EUA / 2010 / 110 min / Joel Coen e Ethan Coen)

Orçamento: US$ 38 milhões
Bilheteria atual: US$ 174 milhões
Nota do público (IMDb): 8.1
Nota da crítica (Metacritic): 8.0
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Os Indomáveis, O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, etc.

NOTA: 6.0

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Minhas Mães e Meu Pai

Melhor filme lésbico que eu já vi. O interessante é que é tudo tão natural que após a primeira cena você praticamente esquece que não se trata de uma família convencional. Muitos filmes sobre casais gays cometem esse erro - focam na superficialidade da relação, onde coisas como "masculino" e "feminino" acabam sendo muito importantes . Minhas Mães e Meu Pai foca em personalidades, em valores, e assim, o fato delas serem mulheres fica em segundo plano, como deveria ser na vida real. Quando o filme sai da superficialidade, a gente não pensa "nossa, são 2 mulheres!" - a gente está ocupado demais pensando coisas do tipo "nossa, ela mentiu, como será que a outra vai reagir?". Na história, Julianne Moore e Annette Bening vivem juntas com 2 filhos, um menino e uma menina. Cada uma pariu um, através de inseminação artificial, mas usando o sêmen do mesmo pai. Já adolescentes, os filhos resolvem secretamente procurar o pai biológico, interpretado por Mark Ruffalo.

 
Costumo não gostar muito de filmes realistas sobre pessoas reais - mas aqui são pessoas reais interessantes, vivendo conflitos reais interessantes. O elenco está ótimo, em especial Annette Bening, que está tão natural que você sai da sala certo de que seu casamento com Warren Beatty é de fachada.

Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right / EUA / 2010 / 106 min / Lisa Cholodenko)

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Casamento de Rachel, Pequena Miss Sunshine, A Lula e a Baleia, Conte Comigo, etc. 

NOTA: 7.5

Deixe-Me Entrar


Remake americano de Deixe Ela Entrar - filme sueco de vampiros de 2008 que fez um sucesso enorme no circuito alternativo. O estranho é que não é uma versão mais comercial, mais pop, como se costuma fazer com os de terror japoneses - é apenas uma versão mais cara, mais bonita, mas que preserva a mesma atmosfera pesada e triste do original. O que não justifica muito o filme, pois o outro já era uma produção muito elegante... Mas aqui o lado técnico vai além - há uma cena de acidente de carro que arrancou um aplauso meu no meio do cinema (isso porque eu estava sozinho!). Um dos melhores que já vi.

Mas continuo achando o filme meio vazio e monótono. É o tipo de filme que tenta ser "atmosférico" o tempo todo... O visual é sempre meio escuro, as pessoas estão o tempo todo sérias, falando de forma suave, melancólica, pausada, como não se vê no dia a dia.

É sem dúvida diferente, mas não tem muito a dizer... A não ser que você ache poética a imagem de uma criancinha angelical com os olhos tristes e a boca manchada de sangue... Ou a frase do pôster "A Inocência morre. Abby não". É mais um conto desses da moda sobre a inocência corrompida - menos avacalhado que Cisne Negro, mas também mais chato.

SPOILERS:
E pra quem não entendeu o que eles falam em código morse no final do filme - não se preocupe, não é o segredo da vida: Abby diz apenas "oi" e Owen responde "OX" - símbolo em inglês pra "beijo e abraço".

Deixe-Me Entrar (Let Me In / ING EUA / 2010 / 116 min / Matt Reeves)

Orçamento: US$ 20 milhões
Bilheteria atual: US$ 22 milhões
Nota do público (IMDb): 7.3
Nota da crítica (Metacritic): 7.9
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou do original, 30 Dias de Noite, Anjos da Noite - A Evolução, etc.

NOTA: 6.0

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cisne Negro


Há um drama humano interessante no centro de Cisne Negro que impede o filme de ser completamente ridículo - em especial o conflito psicológico da bailarina, que precisa resolver sua sexualidade e auto-estima pra conseguir interpretar o cisne negro tão bem quanto o branco.

Há outros conflitos interessantes também, como a rivalidade entre as bailarinas e o relacionamento entre elas e o diretor - mas muita coisa aqui já é reciclada de filmes melhores, como Os Sapatinhos Vermelhos ou A Malvada (não ter visto certos filmes certamente vai dar a impressão deste ser mais original do que é de fato).

Enfim, há coisas boas no filme, mas a pretensão de Aronofsky eventualmente esmaga a história e o filme passa a ser mais sobre ele do que sobre o tema do filme em si. Mais sobre a representação do que sobre aquilo que está sendo representado.

O tormento da menina é mostrado de maneira estilizada: conforme ela vai se transformando em sua consciência, seu corpo vai mudando também, se transformando literalmente num cisne negro (sim, é tão ruim quanto soa - se fosse o contrário aposto que ninguém suportaria: a história de uma menina rebelde e perturbada, que vai aos poucos descobrindo sua pureza, seu lado inocente, educado, e no final se transforma num cisne branco!! Ou melhor, numa linda borboleta..!).

Pense no quão primária é essa idéia... O filme se acha genial e complexo, mas o tipo de metáfora usada aqui é tão óbvia e grosseira que qualquer pedestre de inteligência mediana entenderia de cara. Me lembra aquele tipo de associação "inteligente" que se vê nas capas da Veja:

Cisne Negro até poderia ter sido uma viagem ousada, "louca", num sentido David Lynch, mas Aronofsky é limitado, inseguro, e deixa óbvio desde o começo que tudo não passa de uma alucinação. Fica um surrealismo comportado, auto-consciente, "sensato", que avisa o público antes de fazer algo diferente.

Assim como a protagonista, Aronofsky é quadradinho demais pra levar a platéia numa jornada realmente criativa e ousada  - e só assim uma história como essa poderia ter sido contada sem cair no ridículo. As cenas de terror não têm força, pois o filme desde o começo já tem  clima de fantasia - não há o contraste essencial com o real, o familiar, o lúcido - quando reflexos começam a ganhar vida no espelho, nós só estamos indo de uma fantasia pra outra fantasia.

Resumindo a história toda, a mensagem que sobra é a seguinte: não tente ser perfeito - você precisa "se entregar" para o lado negro pra atingir o seu verdadeiro potencial (ou seja, use drogas e faça sexo selvagem). Por trás do filme, existe uma vontade de limitar a vida a apenas 2 alternativas - o selvagem, auto-destrutivo, animal, vs. o inocente, porém reprimido e frígido (o filme não inclui uma 3ª bailarina na história disputando o papel - uma capaz de dançar tanto o cisne branco quanto o negro, mas por pura habilidade, não por ser uma enrustida ou uma vagabunda).

Natalie Portman deve ganhar o Oscar, mas não sei se é pra tanto não. Ela estudou 1 ano de ballet se preparando pro filme, e essa informação externa sensibiliza as pessoas na hora de votar. Mas o que vemos na tela não é nada de outro mundo - ela faz cara de ingênua o filme todo, e não chega a demonstrar a transformação do personagem (Naomi Watts interpretou um papel parecido em Cidade dos Sonhos, mas de uma forma mais convincente e memorável).

Enfim, diverte por sair do comum, pela pretensão, mas não deve ser levado muito a sério.

Cisne Negro (Black Swan / EUA / 2010 / 108 min / Darren Aronofsky)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Ilha do Medo, Closer - Perto Demais, Requiem para um Sonho.

NOTA: 6.5

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2ª VEZ:

Revi o filme ontem com mais boa vontade e achei um pouco melhor que da primeira vez. Como drama, vai muito bem durante a maior parte do tempo - é envolvente, bem atuado, bem dirigido, coeso - só descamba mais pro final, quando Aronofsky começa a brincar de filme de terror.

Mas pude observar melhor o que foi que me incomodou:

Desde as primeiríssimas cenas já vemos sinais de alucinação, como no metrô, onde Nina enxerga uma outra garota parecida com ela (ao som de um efeito sonoro sinistro). Neste ponto, ainda nem foi anunciada a produção de O Lago dos Cisnes! As feridas nas costas dela também já aparecem logo nos primeiros minutos de filme, muito antes de qualquer conflito "Cisne Branco / Cisne Negro" começar a perturbá-la. Qual o sentido dessas alucinações então, se o drama ainda nem começou?

Isso é uma boa dica de que o interesse do filme não está de fato no conflito psicológico da personagem, não em fazer a platéia se importar por ela, acompanhando passo a passo o seu drama - e sim na maneira "estilosa" de representar isso visualmente (que também não chega a ser tão genial). Faltam dados e a transformação dela é muito mal contada. Como é que ela chega finalmente ao Cisne Negro? Quais foram as etapas dessa transformação psicológica? O que ela fez (ou sofreu) para mudar? Não vivenciamos isso direito. Vemos a pressão vinda do diretor... Ela começa a se "tocar"... Daí tem a cena que ela briga com a mãe e sai com a amiga pra usar drogas e beijar uns caras... Joga os ursinhos de pelúcia no lixo. E acho que só. Nós só vemos os resultados de sua transformação, mas não as causas. Se você desconsiderar as cenas de alucinação e pensar só no que de fato aconteceu à personagem ao longo do filme, verá que não foi nada de tão épico e fora do comum que merecesse uma ilustração tão pretensiosa.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Bate-papo exclusivo com Rubens Ewald Filho


Com mais de quarenta anos de profissão, Rubens é um pioneiro na imprensa brasileira. Foi o primeiro crítico a trabalhar numa televisão por assinatura (a Showtime da TVA, depois virou diretor de programação e produção da HBO Brasil, esteve uma temporada no Telecine e atualmente está no programa TNT Mais Filme, em sua terceira temporada e também na Band apresentando longa-metragens). Também fez cinema como ator e roteirista, escreveu telenovelas (a mais premiada foi Éramos Seis) e atualmente é diretor teatral. Também é conhecido como o Homem do Oscar, depois de comentar 24 vezes a festa dos Academy Awards para o Brasil (atualmente pela TNT).

Caio - Você já teve programas de rádio, TV, escreveu em jornais, revistas, sites, publicou livros... Como você ganha a vida como crítico de cinema hoje em dia?

Rubens - No Brasil onde a cultura não tem espaço, a gente faz de tudo na vida pra sobreviver matando um leão por dia... Não eh papo furado eh real... Digamos que sobrevivo com a mesma dificuldade de todos os jornalistas que fazem uma profissão em crise, com jornais e imprensa escrita destinados a acabar, uma internet que ainda não se firmou... Por isso já escrevi novelas e muitas vezes fugi do ramo pra manter um padrão de vida digno. Mas eu sou privilegiado... Somos todos assim.

Caio - Eu estou sempre brigando com as pessoas e discordando de todo mundo em relação aos filmes. Você, por outro lado, tem um gosto que está muito mais em sintonia com o gosto do público e com o consenso. Para um crítico, isso é uma vantagem?

Rubens - Suponho que sim, se não como explicar a longevidade...? O importante é que não estou fingindo ou procurando isso. É assim porque é assim que eu penso e assim defendo... Engraçado ver isso como defeito, eu vejo como qualidade.

Caio - Lembro da sua crítica ao filme Irreversível do Gaspar Noé (que eu também acho um dos piores de todos os tempos), onde você dizia que era quase caso de romper a amizade com quem gostasse do filme. Como você lida com essas diferenças grandes de opinião? Dá pra dizer "gosto não se discute"?

Rubens - Claro que gosto não se discute, mas certas coisas não são questão de gosto... Já é uma questão de psicopatia, sociopatia, sei lá o nome... O que quis dizer é que gostar de ver uma mulher sendo estuprada por vários minutos eh sinal de que a pessoa não é boa da cabeça. É melhor mandar se tratar antes que faça mais mal a sociedade...

Caio - Quais alguns filmes que quase todo mundo gosta e você odeia - e outros que quase todo mundo odeia e você gosta?

Rubens - Não sei se há casos tão radicais... Eu odeio a falsidade de tudo, pessoas que dizem gostar de coisas que são chatas, ridículas ou insuportáveis, por puro esnobismo, ou medo de ser acusado de não ter entendido alguma coisa. Não imponho por exemplo gosto nenhum meu, nem por musicais, que por sinal tem alguns horríveis, heheh, muitos na verdade... Cada vez menos gosto de impor qualquer opinião. Gosto de entender porém por que certos filmes não são aceitos, como o Além da Vida que achei ótimo e vi gente dizendo que eh paradão!! Ora faça-me o favor, um filme com tsunami!!! Acho sim que pela falta de bons filmes as pessoas vão ficando cada vez menos informadas, mais com medo do novo, do difícil, do complexo... Isso seria burrice!!! E eu temo muito isso... Dos espectadores se fecharem em sua sensibilidade...

Caio - Você costumava assistir de 2 a 3 filmes por dia. Ainda é assim?

Rubens - Sim, em 2010 assisti 140 filmes sem ter ido a festivais no exterior... Nem sei como ou por que... Eh no fundo porque continuo a gostar e a procurar filmes que perdi... Correndo atrás...

Caio - Considerando que você já viu todos os clássicos importantes, e que o nível médio do que se produz hoje em dia é muito baixo, concluo que você deva assistir muita coisa RUIM diariamente. De onde você tira forças pra aguentar os filmes ruins?

Rubens - Clássicos importantes sim, mas tem muito filme velho, de antes dos anos 60, que eu nunca vi heheh... e gostaria de ver até pra entender melhor as coisas, a evolução. Sim, vejo muito filme ruim... De qualquer época... Mas olha, o cinema eh um grande companheiro... Ontem tinha um jantar legal e não fui porque preferi ficar no ar condicionado lendo e vendo filme (aliás a paixão de ler cresce!!! E toma espaço!!!)... Hoje idem, quero ficar no refúgio tranquilo, vendo ou revendo filmes... Virei urso mesmo, eheh... Na caverna... Só que acordado e ligado, eheh.

Caio - Acho que muita gente enxerga você como um cara de "Hollywood", alguém que gosta de filmes comerciais - mas no fundo você me parece ser muito mais próximo do cinema europeu, de filmes mais sensíveis sobre pessoas. Você acha que no geral as pessoas têm uma impressão errada sua?

Rubens - Sim, mas eu deixo, heheh. Minha formação é mais filme italiano e até francês (adoro as duas culturas)... Mas não vou lutar contra a imagem que me sustenta de "homem do Oscar"... Porque eu realmente me divirto em fazer o Oscar, eu curto e tento passar isso para as pessoas. Não o levando a sério demais.

Caio - Você não acha que existem membros demais na Academia, e que deveria haver um critério melhor de seleção?

Rubens - Membros demais? São apenas 6 mil e muitos não tem o direito de votar... Acho que houve uma renovação nela... O que faltam eh melhores filmes... Este foi o ano de todas as depressões, tudo é down... pesado, trágico... Ufa, precisa ter coragem pra enfrentar os filmes deste ano... Ao menos agora no fim do ano apareceram bons e boas interpretações... Menos mal.

Caio - Algum grande favorito seu no Oscar desse ano?

Rubens - Gosto de quase todos eles... Acho Christopher Nolan injustiçado, deveria ter sido lembrado como diretor... Mas não acho errado ganhar O Discurso do Rei... Adoro boas histórias com bons atores... Gosto de A Rede Social por ser cínico e um retrato dos jovens atuais... Enfim, nem vou torcer muito por isso... A que mais me impressionou foi a Melissa Leo e todo o elenco de O Vencedor, que tinha tudo para dar errado...

Caio - De onde você fará a transmissão?

Rubens - Dos estúdios da Turner em Atlanta, Georgia... Vou 1 semana antes porque entramos ao vivo com estúdio e tudo o mais, e a equipe só fala inglês, tem que nos entender em português, eheh. Apresento com a Chris Niklas, que é uma graça de pessoa... Saio correndo e vou para o outro estúdio fazer os comentários (só traduzo porque a Regina que faz isso, pede ajuda porque são cerca de 4 horas e meia de tradução pesada).

Caio - Boa sorte! Abraços.

Rubens - Idem, abraços!

Visitem o blog oficial do Rubens

E cuidado com o @rubensewald no Twitter que apesar de ter muito mais seguidores que o real - @rubens_ewald - é falso e tem mau gosto!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Inverno da Alma


Em algum lugar inóspito do interior dos EUA (onde você poderia refilmar tranquilamente O Massacre da Serra Elétrica), uma garota tenta encontrar o pai traficante de drogas que está desaparecido - se não encontrá-lo até a data do julgamento, ela irá perder a casa onde mora com a mãe doente e os 2 irmãos pequenos (o pai está em liberdade condicional e deixou a casa da família como garantia).

É um filme independente, lento e pesado, mas não desses depressivos, afinal a protagonista é uma menina forte e admirável, interpretada muito bem por Jennifer Lawrence (que tem apenas 20 anos, não fez nenhum filme muito conhecido, e recebeu de cara a indicação ao Oscar de Melhor Atriz). A trama se desenrola de maneira interessante, contando sempre com a inteligência da platéia pra preencher as lacunas, mas sem complicar demais.

Indicado a Melhor Filme e também a Melhor Roteiro - o que me fez esperar por um final surpreendente, reviravoltas mais inesperadas; no fim acabei tendo idéias mais ousadas que o próprio filme e fiquei meio decepcionado. De qualquer forma, é um filme sério, autêntico. Mas as indicações pra elenco teriam sido suficientes (podiam ter indicado O Escritor Fantasma pra Melhor Filme, por exemplo).

Inverno da Alma (Winter's Bone / EUA / 2010 / 100 min / Debra Granik)

Orçamento: US$ 2 milhões
Bilheteria atual: US$ 7 milhões
Nota do público (IMDb): 7.5
Nota da crítica (Metacritic): 9.0
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Rio Congelado, O Casamento de Rachel, Terra Fria, etc.

NOTA: 7.0

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei


Atualmente é o favorito ao Oscar 2011 e é também o que tem mais indicações - 12, incluindo Melhor Ator pra Colin Firth (que está brilhante e deverá ganhar) e Melhor Ator Coadjuvante pra Geoffrey Rush (que também está brilhante mas deverá perder injustamente pro Christian Bale).

O filme se passa no começo do século passado, onde o rei George VI assumia o trono da Inglaterra mas com um pequeno problema: era gago e não conseguia falar em público. A história foca na amizade entre ele e o fonoaudiólogo, que aos poucos vai virando uma espécie de terapeuta também. Afinal, o que aparenta ser um problema simples, mecânico, muitas vezes está enraizado em problemas mais profundos, e pra corrigir 1 problema, você tem que corrigir os outros também (pessoalmente, me identifiquei bastante com a situação pois passei por um processo semelhante quando resolvi começar a cantar).

Falei que A Origem era um filme irracional sobre o processo da irracionalidade - estamos agora no outro extremo: um filme racional sobre o processo da racionalidade. Uma história que só poderia acontecer num universo real, onde a mente é eficaz e inteligência e prática trazem benefícios reais - onde problemas têm explicações e você não está condenado a viver com eles. Este é o espírito de otimismo por trás do filme. Não é um filme de ideias muito complexas, mas é uma história que fala pra todos, contada com capricho, sensibilidade, numa integração excelente entre conteúdo e forma.

O Discurso do Rei (The King's Speech / EUA / 2010 / Tom Hooper) - o diretor não é famoso, mas fez a premiada mini-série de TV John Adams

Orçamento: US$ 15 milhões
Bilheteria atual: US$ 140 milhões
Nota do público (IMDb): 8.5
Nota da crítica (Metacritic): 8.8
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Frost/Nixon, A Rainha, Billy Elliot.

NOTA: 8.5