terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

127 Horas


Isso aqui é o Danny Boyle dizendo "vejam só, eu sou tão interessante como diretor que posso escolher qualquer besteira pra filmar que ainda serei indicado ao Oscar".

O filme combina o culto à dor (já falei muito sobre esse assunto; quem se interessar, leia minhas críticas sobre Enterrado Vivo ou Biutiful) com outro modismo do cinema que eu detesto - a substituição de conteúdo por estilo.

No filme, o que acontece é apenas o seguinte: rapaz sofre acidente idiota; rapaz amputa o próprio braço - não importa onde o Danny Boyle enfia a câmera, em quantas vezes ele divide a tela, quantas sequências de delírio ele insere na história, nada muda o fato de que o filme é apenas "rapaz sofre acidente idiota; rapaz amputa o próprio braço" (não há nenhuma tentativa de aprofundamento psicológico).

Estilo não é um fim em si mesmo - apenas o meio para se contar uma história. Inverter essa ordem revela que o diretor só está interessado em se mostrar (ainda mais quando o pouco de história que ele traz serve mais pra incomodar a platéia).

O filme é tão sem sentido que eu nem vou perder meu tempo discutindo. Neste caso, quem gostou é que deveria explicar por que.

Indicado a 6 Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator pra James Franco.

Detalhe: um filme que não tem história e só tem algum valor por causa da direção foi indicado a Melhor Roteiro (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e não foi indicado a Direção. Resta alguma dúvida de que a Academia não tem mais critério?

127 Horas (127 Hours / EUA - ING / 2010 / 94 min / Danny Boyle)

Orçamento: US$ 18 milhões
Bilheteria atual: US$ 30 milhões
Nota do público (IMDb): 8.1
Nota da crítica (Metacritic): 8.2
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de Enterrado Vivo, Na Natureza Selvagem, Irreversível, Menina Má.com, etc.

NOTA: 3.0

25 comentários:

Laura Catta Preta disse...

hahaha
eu amei!

justamente porque se fosse um filme sobre um acidente seria meio chato michael bay, mas é um filme sobre a decisão de amputar o prórpio braço, depois de ponderar sobre a própria vida!

desde que eu vi esse filme eu fico pensando na pedras que estão me esperando desde que eu nasci haha.

Caio Amaral disse...

Este conteúdo não está no filme. Reflexões interessantes que passam pela SUA cabeça não melhoram um filme vazio... Ele vê flashes da família, dele criança, de uma menina que ele ficou - mas não há CONTEUDO nenhum nessas cenas... Ele está "ponderando" mas isso é apenas indicado de uma maneira extremamente superficial. Não ficamos sabendo nada de valor a respeito dele, da relação dele com aquelas pessoas, etc. Amputar o braço é a única opção, não se trata de uma escolha entre 2 alternativas - uma escolha que revela algo interessante sobre o personagem. Nem há um personagem.

Laura Catta Preta disse...

melhora sim :P

Caio Amaral disse...

Hehehe. Nesse caso então não há como avaliar qualquer coisa. Você pode ter um devaneio interessante no meio de "Mr. Magoo" e de repente o filme passa a ser uma reflexão profunda sobre a miopia.. rsrs.

Laura Catta Preta disse...

sim, e de repente ele passa a ser o filme da minha vida

Unknown disse...

E concordo com vc Caio...na verdade quando ele viu que não ia conseguir tirar o braço eu pensei "ok, corta o braço"...coisa que ele de repente até conseguiria com a faquinha ainda afiada...mas não...ele enrolou 127 horas (e eu achando que ele ia me surpreender nem que fosse com uma morte dramática e cheia de sentido) pra quê? pra cortar o braço!!!

E essa foi minha sensação...fui enrolada...

Caio Amaral disse...

Ok, ok, Laura.. pelo menos você é honesta!! Rsrs. O problema disso é que é uma rejeição completa da realidade... É colocar tudo no campo da subjetividade... "o que eu vejo é diferente do que você vê, nunca saberemos o que é certo ou errado, não há melhor ou pior, o que importa é a experiência individual".

Num relacionamento, você diria pra alguém: veja, eu amo você, mas não porque você tem qualidades reais, valores que eu admiro, mas porque eu tenho certos sentimentos quando estou com você, sensações que não estão conectadas a sua pessoa, mas que me fazem muito bem... Como essa pessoa iria se sentir??? Rsrsrs.

Laura Catta Preta disse...

num relacionamento não.
mas num filme sim :P

e é por isso que eu não me meto a fazer crítica de filme, eu sei o qto depende da reflexão que eu tenho e que pode ou não estar presente no filme...

Tiffany Noélli disse...

Eu gostei do filme, vou explicar o por que, ok? kkkk => O cara antes era um alheio, não é? Passou poucas e boas para aprender a dar valor na vida e nas pessoas próximas. Não deixa de ser uma boa lição, muitas vezes na tristeza que a gente começa a cair na real. Eu gostei do filme por essa mensagem de alerta. Bjsss ;)

Caio Amaral disse...

Pois é Ni!! Quando ele fica preso logo no começo do filme e aparece o título eu pensei "Já??? Como eles vão enrolar até o fim??".

Em certo momento eu até pensei numa saída pro filme.. Imaginei que ele fosse desenvolver o personagem do pai... através de lembranças.. Mostrar por que o garoto fugia pra lugares isolados, por que se metia em perigo, por que era inconsequente... dar um sentido mais amplo à situação dele ali na caverna.. começar uma análise psicológica através de alucinações e lembranças.. Meio que nem "A Felicidade Não Se Compra", quando o cara resolve se jogar da ponte.. Daí vem o anjo e faz uma análise da vida inteira dele até aquele ponto..

Mas não é o que acontece :-S

Tiffany... Como falei, esse conteúdo não está no filme e sim na sua imaginação. A gente não sabe se ele era um "alheio" ou não... Não temos nenhum dado sobre o personagem. O filme não faz esse julgamento. E não sabemos se ele saiu dali transformado ou não.. O que o filme diz apenas é que na hora do desespero, lembramos das pessoas que gostamos e passamos a dar mais valor à nossa vida - dã.. óbvio.

Acho que nunca podemos julgar um filme pela "mensagem"... e sim pela FORMA que essa mensagem é desenvolvida... O quão bem ela é contada, ilustrada... "E o Vento Levou" por exemplo também fala sobre uma pessoa "alheia" - uma garota mimada, que passa por várias dificuldades e depois passa a valorizar mais a vida.. Quer dizer então que os 2 filmes são equivalentes, pois têm mensagens semelhantes?!?! (Eu poderia ter achado um exemplo melhor, mas acho que deu pra entender o meu ponto, hehe). A mensagem em si não pode servir como um critério de avaliação. Muitos filmes têm "mensagens" que eu desaprovo completamente e mesmo assim eu considero brilhantes...

Tiffany Noélli disse...

Alheio no sentido que ele não atendia ligações da mãe, e que quando ele saia para esses buracos de aventureiro, ele não avisava ninguém para onde iria. Deixou bem claro no filme... Passa lá ele refletindo e tal. Sei lá se ele mudou, vai saber! Depois de tudo, a única coisa que falou, que passou a deixar bilhetes avisando seus próximos destinos. Entendi seu ponto de vista do filme, e respeito. Bjs :-)

Gustavo Braun disse...

Caio,

pela PRIMEIRA vez eu concordo com 100% do que você disse a respeito do filme.

Fiquei esperando o conflito, o aprofundamento, qualquer coisa que tirasse minha cabeça do diretor enfiando a câmera dentro da garrafa d'água, mas não veio.

Saí do filme pensando que se ele tivesse cortado a própria cabeça eu teria me irritado menos.

Anônimo disse...

Caio tu disseste: "vejam só, eu sou tão interessante como diretor que posso escolher qualquer besteira pra filmar que ainda serei indicado ao Oscar". Qualquer "besteira"???? O filme baseia-se num acontecimento real, que demonstrou a coragem e força mental que Aron Ralston teve quando ficou preso numa rocha. O teu texto parece que desvaloriza a coragem deste homem, como se tivesse amputado o braço fosse uma coisa banal. Este filme tinha como intuito mostrar os momentos de um homem que ficou preso numa rocha. Ver como ele tentou se libertar, como ele lutou, quando a esperança já começava a desaparecer, por isso para quê "encher" o filme com a sua vida pessoal??? O Danny Boyle fez o filme desta forma porque queria que as pessoas vissem aqueles que devem ter sido os piores momentos de Aron Ralston e não fazer um filme sobre a sua vida pessoal.

Quanto à Nicole só tenho a dizer que o seu comentário é ríciculo por diversas razões:
1º Tu dizes "ok, corta o braço", como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Se tu tivesses na mesma situação que ele, pensarias logo em pegar na faca e cortar o braço?
2º Ele não "enrolou 127 horas". Este foi o tempo que Aron Ralston ficou preso e se o filme é baseado na nele, querias que ele tivesse saído dali em 1 hora?
3º(Serve também para o comentário do Gustavo Braun que "preferia" que tivesse cortado a cabeça)esperavas uma morte dramática? O filme é baseado em factos reais: um homem que amputou o braço para se libertar. Quereres ver a morte dele neste filme era como no filme Titanic o barco não se ter afundado, ou seja, se o filme é para ser baseado em factos reais, as cenas mais importantes do filme não podem ser alteradas, senão deixa de ser um filme baseado em factos reais.

Por fim, podem dizer que não gostaram do filme mas não podem ridicularizar os acontecimentos que estiveram na base do filme. Se acham esta "história" tão ridícula, então vejam o documentário "Desperate Days in Blue John Canyon", onde podem ver os testemunhos e as declarações de Aron Ralston quando ficou preso na rocha e depois vejam o que este homem passou e vejam se dizer " ah e tal, ficou com o braço preso e cortou-o. que estupidez" tem algum sentido.

Caio Amaral disse...

Hahahah... Gu... Podemos filmar uma paródia com esse final alternativo!!

Anônimo... Seguinte... O fato da história ser baseada em fatos reais não significa nada, nem serve como desculpa pro diretor fazer um filme superficial.

Agora pouco eu fui ao banheiro e tomei um banho - isto foi uma história real! Será que merece um longa-metragem?

Sem dúvida ele precisou de muita coragem pra cortar o braço - mesmo assim é uma situação vazia, uma decisão que não revela nada de muito interessante. Às vezes algo bem menos dramático ou violento pode significar muito mais num filme - como Jack Nicholson no final de "As Good as It Gets", quando decide pisar finalmente nas "linhas" do piso pra poder acompanhar a namorada.

Anônimo disse...

Adorei o post!!
A única coisa boa que posso dizer que achei que o James Franco estava bem em um filme tão chato!
essa história é ótima pra uma machete de jornal. Eu acredito que podemos contar histórias interessantes com qq coisa, Clarice Lispector comprova isso; mas seja qual fosse a história possível aí, Boyle a perdeu!!

Caio Amaral disse...

Ana, gostei do James Franco também! Não acho que é uma grande "interpretação", no sentido tradicional... É mais uma questão de carisma... de "gostabilidade", hehe.

Rafael disse...

Caio Amaral, vc é um completo babaca!

Caio Amaral disse...

Obrigado Rafael, sua opinião é muito importante pra mim.

Unknown disse...

Caio acho que você não assiste mais filme como um entretenimento, e sim apenas para julga-lo. Você já começa a assisti-lo com um pré julgamento do diretor, e com certeza varias outros pensamentos sobre o filme. Fica buscando algo que você não vai encontrar em um filme autobiográfico, baseado em um livro escrito pelo próprio Aron Ralston. Se você mergulha na trama, se sente como se fosse a pessoa que está ali presa, passando por todas aquelas emoções e sensações de poder ser seus últimos segundos de vida. E o filme trata muito bem isso, percorrendo por todos eles(sentidos). Que vai da displicência de como ele vive, até ter o seu último prazer sexual.

A unica coisa que eu fiquei incomodado no filme são nas partes onde ele divide a tela em dois e em três em certos momentos, mostrando cenas desnecessárias e desconexas.

Graziela Azevedo disse...

Oi Caio! É pq a historia do cara fez mtu sentido pra quem mora nos USA, onde teve uma repercussão enorme, onde fizeram documentarios sobre ele e tals. Vendo por esse lado, concordo com a Laura, faz as pessoas ponderarem melhor sobre as próprias vidas. E na minha opinião, o filme não fica vazio se produz esse tipo de reflexão, pq eu saí do cinema pensando na aplicabilidade daquilo na minha vida e não sai como se tivesse visto 'apenas mais um filme' ou 'apenas mais uma historia', como já saí várias vezes do cinema. Enfim, acho que vc podia pesquisar a vida do cara que ficou preso na rocha, talvez assim o filme faria mais sentido pra vc tb!

Abraço

Caio Amaral disse...

Yvens.. Claro que tenho um pré-julgamento do diretor - já vi vários filmes dele, já conheço seu universo.. Da mesma forma que quando entro num restaurante onde já comi várias vezes, tenho um "pré-julgamento" do que será servido ali. Mas posso sempre me surpreender pra melhor ou pra pior.

Talvez o problema seja que eu não considere "sensações" uma boa base pra se avaliar um filme. Muito menos sensações negativas (aliás, essas pra mim TIRAM pontos). Abs.

Oi Graziela.. O fato da história ser verídica, de ter tido repercussão ou não.. esses são fatores externos, não podem ser levados em conta.. Um filme é apenas o que acontece ali na sala, entre o logotipo do estúdio e os créditos finais. É isso que tem que funcionar.

O filme é bastante simples e sem muito aprofundamento psicológico.. É basicamente um filme de ação - que não sai do lugar. As reflexões que você teve não são mérito de um grande roteiro.. mas da nossa reação humana básica ao vermos outra pessoa numa situação de vida ou morte... pode acontecer numa visita ao hospital, ao testemunharmos um acidente de carro, etc... Não foi o roteiro, com insights brilhantes, grandes diálogos, etc, que fez você refletir profundamente sobre a vida - acho eu. Abs!

Pablo disse...

Não vi o filme ainda mas já conhecia a história de uma revista de aventura. Como sou montanhista já passei por alguns perrengues na rocha! Me identifiquei muito com o filme tentando me colocar no lugar do personagem... Não gosto de desmerecer esses casos porque posso passar por isso um dia e não sei se terei esse discernimento...!

Caio Amaral disse...

Oi Pablo! Não precisa desmerecer o caso.. Mas não é porque você se identifica com a situação do cara que o filme se torna automaticamente bom, não é? Imagine um outro filme contando a mesma história... Só que nesse caso uma ópera... Uma versão musical do acidente... Ou então um outro, com 4 horas de duração, com longos planos onde nada contece.. Ou um outro, brilhantemente escrito, com monólogos interessantes, fazendo um estudo profundo do personagem... Todos seriam bons, só porque você se identifica com a situação? Claro que não né.. Temos que analisar o filme como um todo.

Anônimo disse...

Nem sei se ainda acessa o blog, mas com certeza vc poderia dar as mãos ao Ewald e amarem o cinema anos 30 que nunca deveria mudar...e continuar nos brindando com a "maravilhosa fama" que os profissionais de cinema dão ao cinema brasileiro ao redor do mundo...

Caio Amaral disse...

A década de 30 realmente produziu muitos clássicos.

O cinema brasileiro tem má fama ao redor do mundo? Se tiver, então é culpa dos filmes em si, não de um ou outro que fala mal deles aqui.