quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cópia Fiel


Muita gente deve ver a Juliette Binoche no cartaz e ir assistir o filme pensando que vai ser um romance leve europeu, e nem se dá conta de que se trata de um filme do Abbas Kiarostami, diretor de Gosto de Cereja, que ajudou a tornar "pop" o cinema Iraniano nos anos 90. Ou seja, não tem nada de leve no filme, que no fim é um grande "papo cabeça" filmado (daria pra comparar com Meu Jantar com André, Ponto de Mutação e até os Antes do Amanhecer/Pôr do Sol).

Um escritor inglês está na Toscana pra promover o seu livro, que é um debate filosófico sobre as diferenças entre obras de arte originais e falsificações. Ali ele conhece uma mulher (Binoche), e os dois passam o resto do filme passeando e conversando. Só que em determinado momento a gente percebe que eles não tinham acabado de se conhecer, mas na verdade são marido e mulher e estão numa espécie de jogo (o casal está em crise).

O problema aqui é o seguinte: se você vai fazer um filme que é basicamente um diálogo intelectual, você tem que garantir que esse diálogo seja absolutamente brilhante, estimulante. Aqui ambos os personagens são igualmente confusos, limitados, deprimidos e ficam falando bobagens achando que são grandes pensadores (lembrei de uma frase que li essa semana no Facebook: "Tão frequentemente o intelectual é um imbecil que o deveríamos sempre tomar como tal, até que nos tenha provado o contrário.").

Orson Welles abordou o tema da falsificação versus o real de uma forma muito mais inteligente em 1973, no falso documentário F for Fake.

Pra mim o mais interessante do filme é que ele acaba demonstrando indiretamente a relação entre amor e arte, e como as pessoas lidam com as duas coisas de maneiras parecidas. No filme, o homem não sabe diferenciar o valor entre uma árvore milenar e uma escultura num museu... Pra ele, a árvore também é arte (!). Não é de se surpreender que ele também não saiba do que se trata o seu casamento.

Cópia Fiel (Copie Conforme / FRA ITA BEL / 2010 / 106 min / Abbas Kiarostami)

INDICAÇÃO: Fãs de Kiarostami e de filmes "bem franceses" do tipo A Criança, Propriedade Privada, etc...

NOTA: 4.5

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