quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Film Socialisme


O mais novo do lendário Jean-Luc Godard, que disse que este é seu último filme. Mas pra começar, é preciso dizer que isso não é um filme. Está mais pra um anti-filme; uma tentativa de acabar com a comunicação e com aquilo que conhecemos como cinema. É o exemplo definitivo de Experimentalismo (leia esse texto, que serve como uma crítica ao filme todo).

Outro dia li algo sobre um compositor moderno que lançou uma música de 4 minutos de puro silêncio (nada mesmo - e ainda colocou à venda no iTunes!). A atitude deste filme é a mesma. É uma montagem absurda de cenas fragmentadas, pessoas desconhecidas soltando frases vagas sobre socialismo, guerra, judeus, Palestina, existencialismo e outros temas que soam importantes mas que nunca são desenvolvidos - e tudo editado aleatoriamente, filmado com vários tipos de câmera de vídeo, com várias estéticas diferentes, rejeitando qualquer tipo de ordem e sentido.

O filme é um ataque à comunicação em vários níveis - às vezes eu não sabia nem se o DVD estava riscado ou se os pulos na imagem eram propositais. E quando o som começou a falhar do lado esquerdo da sala, eu não sabia se isso era do filme ou se meu home-theater estava quebrado. Ainda não sei - e não faria diferença. O próprio Godard admitiu a inutilidade de seu filme e postou na internet uma versão em fast forward, resumindo tudo em 4 minutos.

O crítico americano Roger Ebert disse que não entendeu o que Godard dizia a respeito do socialismo aqui. Mas veja a frase que abre o filme: "Dinheiro é um bem público, assim como a água". Que tipo de pessoa teria interesse em acreditar numa ideia como essa? De anular o valor do dinheiro (que representa a produtividade)? Quem se beneficiaria disso e quem sairia perdendo? E por que isso tem tudo a ver com a tentativa de Godard de invalidar a comunicação e, por consequência, o valor da arte? Tirem suas próprias conclusões.

Film Socialisme (SUI, FRA / 2010 / 101 min / Jean-Luc Godard)

NOTA: 0.0

9 comentários:

renatocinema disse...

Pegou pesado? talvez, não?

Mas, não posso negar que fiquei intrigado a assistir a produção.

Mesmo sabendo que mereça uma nota como essa, talvez, assista com ambição de criticar ainda mais ou quem sabe dar uma nota 5. kk

Abraços

Caio Amaral disse...

Oi Renato! Alguns filmes precisam de um comentário pra justificar a nota, hehe.

Como falei, isso pra mim nem é um filme. Daria uma nota "X" se existisse, rsss. 5 eu dou pra filmes medianos, que não me agradam nem desagradam; que têm tantas qualidades quanto defeitos. Mas não posso dizer que fiquei "neutro" com esse filme... 5 é muito! Mais apropriado seria ZERO, pq não vejo valor nenhum aqui, mas zero eu reservo pra filmes que além de tudo me fazem MAL, hehe. Film Socialisme é niilismo puro... É tão absurdo que não chega nem a ser perigoso. Vejo até certa graça no Godard, pq no fim nem ele parece se levar a sério.

Mas não dá pra julgar o filme por padrões estéticos (roteiro, diálogos, direção, etc...) então minha nota é baseada apenas na minha resposta emocional ao filme como um todo. Por isso o 2.5 - o meio do caminho entre o 5 (um filme mediano) e o zero (o pior filme imaginável), hehe. Abs.

Wagner disse...

Olá Caio, é meu primeiro comentário em seu blog. Sou leitor há alguns meses, indicação da Laura, e normalmente levo muito em consideração suas resenhas antes de ver um filme.

Porém, creio que você entrou em terreno pantanoso ao dar uma nota para um filme de Godard.

Vou começar com um exemplo do professor e músico Luiz Tatit:

"Se você pedir para um estudioso de música clássica avaliar a qualidade músical de uma canção do Chico Buarque, ele irá lhe dizer que não tem qualidade alguma. Porque sob a ótica musical, nenhuma canção merece algum mérito, pela pobreza do arranjo e construção."

Acho que você está no mesmo problema. Tenta encontrar mérito cinematográfico, numa ótica do cinema como espetáculo, num filme de um diretor inspirado em toda uma corrente de pensamento que deseja destruir o espetáculo (Guy Debord na veia... rsrs).

Por outro lado, não gosto daqueles que definem determinados artistas como "gênios", porque a partir do momento em que se faz isso já não é possível mais discutí-lo, torna-se objeto de confete apenas. Neste ponto, louvo sua atitude de tratá-lo como os demais diretores.

Em suma, embora você deixe claro se tratar de opinião somente, seu explícito desprezo pela obra (aliviado pelo aval do próprio cineasta) transmite mais a sensação de certa ignorância do assunto do que de um ponto de vista divergente.

Um grande abraço!

Wagner

lcattapreta disse...

(anti comentário)

Caio Amaral disse...

Oi Wagner!

Como comentei acima, pensei mesmo em não dar nota pro filme. Em dar uma nota "X"... rs. Por outro lado, isso daria ao filme um grande destaque... Colocaria ele acima de todos os outros que já comentei, e não achei isso certo. Por que não dar nota? Certamente há um lugar ENTRE as grandes obras-primas de todos os tempos e os maiores lixos que eu já vi pra posicionar este filme (ou qualquer outro, na minha visão).

Enfim, escrevi esse texto consciente de que poderia soar um "ignorante" rejeitando Godard sem nenhuma consideração pela carreira e pela proposta dele (pela proposta realmente não tenho mta). Era justamente essa a intenção. Ia começar a resenha falando como já vi uns 15 filmes do Godard, de quais gosto e quais não gosto, etc.. Mas preferi passar a impressão de que esse era um filme insignificante mesmo, rs. Se acharem que se trata de ignorância minha no assunto, NESSE caso isso realmente não me incomoda.

E o problema não é nem que o cinema dele é anti-espetáculo... Até reconheço a outra escola (que não é minha favorita, mas acho válida). O que o Godard fez aqui é anti-comunicação.. anti-cinema.. mas ao mesmo tempo fazendo... CINEMA! rsss. Ou seja, é uma contradição logo de cara. Se você é um artista e não quer comunicar nada, fique em casa dormindo! Hehe. Vendo o filme me veio a imagem de uma prova de 100 metros rasos nas olimpíadas... Quando é dada a largada, todos os atletas saem correndo - Godard seria aquele que ficaria parado, sentaria no chão... abriria um livro... uma taça de vinho... e faria uma anti-corrida, como um "protesto" ao atlestismo em geral. Mas se você for ver, o que ele fez não tem valor algum em si. Só faz sentido dentro daquele contexto... como uma "negação" de algo, mas dependendo totalmente desse "algo".

Mais honesto era o Andy Warhol, que fazia aqueles filmes de 18 horas mostrando uma imagem estática do Empire State, etc... Tb acho ridículo, mas é menos contraditório. A partir do momento que o Godard faz um filme de 100 minutos, ele está adequando a duração do filme à bexiga humana (como dizia Hitchcock).. quando usa atores (em vez de pedras, ou poeira..) está admitindo algum interesse em atrair a plateia e comunicar algo.. Ou seja.. Tudo na tela fica meio absurdo dentro dessa proposta.

Enfim, gostei dos seus comentários e agradeço a visita ao blog! Abs!

(boa Laura, rsss)

Caio Amaral disse...

Outro sketch do Monty Python, esse representando muito bem a minha visão das olimpíadas, rss: http://www.youtube.com/watch?v=dmyz_f8Sx14

lcattapreta disse...

isso que vc falou da corrida me lembrou na hora do sketch do futebol dos filósofos, sabe?

http://www.youtube.com/watch?v=ZW-g3y2NfFo

Wagner disse...

Olá Caio!

Gostei da sua resposta ao meu comentário, e concordo contigo em muitos aspectos.

Só gostaria de saber como você encara de forma tão positiva o trabalho de Lars Von Trier, que não tem nada de espetacular (quem acha lindo a Bjork se ferrando no Dançando no Escuro acredita em qualquer coisa mesmo, até no Serra), mas demonstra tantas reticências no trato com um cineasta tão antipático quanto. Alias, em entrevistas, sou muito mais o Godard que o chato do Lars.

Ambos fizeram experimentações muito importantes e muita coisa ruim também.

Com o agravante que pelo menos o Godard esteve mergulhado no pensamento de sua geração, enquanto o Sr. Trier observa o mundo lá de longe, daquela ilhota gelada, com todos os estereótipos que um bom dinamarques pode conceber.

Divaguei pra fora do tema, mas acho que dá um caldo.

abraços!

Caio Amaral disse...

Hmm... Vamos por partes.

- Não entendi a relação entre gostar de "Dançando no Escuro" e acreditar no Serra, hehe.

- Não assisti muitas entrevistas com o Godard nem com o Lars von Trier, mas não levaria isso em conta ao avaliar o trabalho deles. Uma pessoa pode falar bem, ter teorias brilhantes, isso não significa que o trabalho será genial.

- O lance de estar mergulhado no pensamento da geração pra mim também não é nenhum mérito, necessariamente. E se o artista não aprovar as ideias daquela geração? E se for a geração nazista? Sou mais os inovadores, artistas que têm suas próprias convicções.

- Não estou falando mal de TODA a filmografia do Godard. Tem filmes dele que eu acho muito interessantes como "Weekend à Francesa" por exemplo.

- O Lars von Trier é sim um cineasta "espetacular" - você tem que separar conteúdo de estilo. O ASSUNTO dos filmes são pessimistas, mas os filmes em si são construídos em forma de "espetáculo". Um espetáculo adulto, claro... intelectual.

- Mesmo eu discordando da visão pessimista dos dois, a diferença fundamental é que o Lars von Trier usa um processo racional enquanto o Godard é anti-razão. Lars conta histórias para o cérebro; ele leva em conta a inteligência das pessoas - a maneira como processamos informações. Ele faz filmes narrativos; conta histórias que se desenvolvem passo a passo até atingir um clímax. Consigo apreciá-lo pelo talento dele como contador de história, sem ter que concordar com a "mensagem" do filme necessariamente (é como o Michael Moore - discordo das ideias dele, mas acho ele um cineasta brilhante e sempre fico entusiasmado com seus filmes). Quando vejo um filme como "Dogville", minha mente está trabalhando o tempo todo e o prazer vem justamente de integrar as informações, de avaliar o desenvolvimento da história, as decisões do diretor, antecipar o que vai acontecer, se identificar com os conflitos, admirar as atitudes dos personagens, tirar suas conclusões finais, etc.

Em "Film Socialisme" eu fico num estado de transe o filme inteiro - numa viagem pessoal que pouco tem a ver com o que está na tela, sem nenhuma pista do que está sendo dito, sem saber se o filme é brilhante ou se foi uma edição feita por um macaco num experimento... É a mesma sensação de paralisia mental que tive vendo "Transformers 3" - pro qual eu também dei nota 2.5.

Enfim... Estou imaginando que você tenha visto o filme! Heheh. VOCÊ podia tentar me explicar qual o valor de arte assim... De repente não me ocorreu algo ainda. Abs!