sábado, 29 de dezembro de 2012

As Aventuras de Pi

Espetáculo visual de Ang Lee (O Tigre e o Dragão, Brokeback Mountain) que conta a história de Piscine Molitor Patel ("Pi") - um garoto indiano que perde a família num naufrágio e fica à deriva no Oceano Pacífico num bote salva-vidas junto com um tigre de bengala chamado Richard Parker.

Mas em vez de um drama trágico, o filme é contado como se fosse uma aventura - uma viagem ao paraíso onde o garoto vive uma experiência inesquecível (dá pra lembrar de O Corcel Negro, A Lagoa Azul, Náufrago e até filmes como Amor Além da Vida, Um Olhar do Paraíso, O Mensageiro do Diabo, que também usam desse contraste entre o desastre e a fantasia).

A história tem uma introdução divertida (há tantos detalhes que até parece um filme diferente), apresentando Pi como um garoto independente, profundamente místico, e estabelecendo a relação dele com seus familiares. O pai é extremamente racional, e é interessante como o roteiro aborda a discussão de fé X razão com inteligência, mas sem atacar os valores de ninguém.

É difícil comparar o filme pois ele reúne vários tipos de história em uma só, e dessa mistura acaba surgindo algo novo. Já vimos filmes de sobrevivência no mar, já vimos filmes sobre um garoto domando um animal selvagem, já vimos filmes sobre a descoberta de um lugar paradisíaco, já vimos comédias sobre famílias estrangeiras exóticas, já vimos filmes sobre homens que narram suas histórias de vida e aumentam os fatos - mas nunca isso tudo junto, o que dá ao filme um aspecto familiar e original ao mesmo tempo.


SPOILER: No final, surge a questão: a história de Pi é real, ou é apenas uma versão enfeitada de eventos muito mais dolorosos? Ouvi algumas pessoas reclamando que essa questão é colocada de maneira muito explícita, mastigada - que seria mais interessante deixar a platéia lidar sozinha com a ambiguidade. Talvez. Mas isso não me incomoda, pois o filme não apresenta a ideia de maneira pretensiosa - e uma boa ideia não deixa de ser boa apenas por ser fácil de entender. Me incomoda um pouco o toque de pessimismo, pois nesse momento o filme acaba expressando um senso de vida trágico - dizendo que a realidade é cruel e portanto existe certa sabedoria em fugir pra um mundo de ilusão.

Mas isso não tira a beleza do filme, que é uma aula de narrativa visual e um dos melhores exemplo de como a computação gráfica e o 3D podem contribuir artisticamente para um filme. O espectador é constantemente presenteado com imagens impossíveis que parecem ter sido extraídas diretamente de um sonho - o mar iluminado por plânctons, a sequência na ilha flutuante, o barco perdido em meio às estrelas... Mais pro começo do filme, há uma tomada magnífica do navio submergindo que é um daqueles momentos mágicos do cinema onde fotografia, música, tecnologia e narrativa se unem com tal perfeição que Ang Lee mereceria um Oscar por ela apenas.

Life of Pi (EUA, China / 2012 / 127 min / Ang Lee)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Avatar, Náufrago, Forrest Gump, O Corcel Negro.

NOTA: 9.0

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Apesar de se tratar apenas de 1 livro, resolveram transformar numa longa trilogia (por interesses óbvios) essa "prequel" que se passa 60 anos antes de O Senhor dos Anéis. Peter Jackson e boa parte da equipe original permanece a mesma, mas agora a história foca em Bilbo Baggins (Martin Freeman), um hobbit inexperiente e ligeiramente covarde que parte com um grupo de anões numa jornada à Montanha Solitária - território deles que foi invadido pelo dragão Smaug e precisa ser reconquistado.

Se o filme tem uma sensação um pouco menos épica que a trilogia dos Anéis, isso se deve mais ao fato do herói e dos personagens principais serem um grupo mais modesto, menos heróico que o dos outros filmes (embora Frodo e Sam também estejam longe figuras grandiosas). Em termos de produção e história, O Hobbit tem a mesma escala dos filmes dos Anéis. Na verdade, acho a história aqui até mais forte. Em O Senhor dos Anéis, a aventura tinha um objetivo pouco interessante - apenas destruir um anel mágico que a gente mal sabia o que fazia (a mensagem por trás era a de que "o poder corrompe" - Tolkien era cristão então há certos valores na história que vêm da religião). A jornada aqui tem um objetivo mais sólido - recuperar o território e o tesouro que é deles por direito e foi tomado pelo dragão.

É mais uma representação da "Jornada do Herói" - a história mítica do jovem que precisa deixar a proteção do lar pra aprender a ser homem e a se defender sozinho. Assim como os Anéis e Star Wars, o filme se encaixa perfeitamente no "monomito" (quem não conhece os estudos de Joseph Campbell vale a pena dar uma pesquisada). Há várias etapas do monomito que o filme segue à risca como a "Recusa do Chamado", momento em que o herói se recusa a partir na aventura, ou a "Barriga da Baleia", quando o herói passa por uma experiência de quase morte mas escapa milagrosamente (um dos problemas - que talvez venha da influência cristã - é que o herói está constantemente sendo salvo por alguma ajuda sobrenatural ou por pura sorte; heróis que vencem por inteligência e por competência própria são muito mais interessantes, eu acho).


Os efeitos são impressionantes, mas a maior inovação visual aqui vem do filme ser rodado a 48 quadros por segundo (em vez dos 24 habituais), o que dá à imagem uma característica mais fluida e mais próxima da realidade (apenas cinemas selecionados estão exibindo o filme com o "High Frame Rate"). Pessoalmente tenho certas reservas com esse tipo de imagem, pois ela está mais próxima do vídeo e deixa tudo com cara de making of ou de coisa feita pra TV; mas suspeito que isso seja apenas um apego emocional ao jeito que sempre assistimos filmes (não vejo como argumentar logicamente contra os 48 frames).

Mas o importante é que a história funciona - começa devagar, mas vai ganhando força até uma segunda metade espetacular, cheia paisagens de tirar o fôlego e cenas interessantes - como a luta dos gigantes de pedra ou a aparição de Gollum, que dá mais um show de interpretação.

The Hobbit: An Unexpected Journey (EUA, Nova Zelândia / 2012 / 163 min / Peter Jackson)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou das sagas O Senhor dos Anéis, Harry Potter, Star Wars, etc.

NOTA: 8.0

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O Homem da Máfia

Filme de crime do diretor de O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford, também estrelado por Brad Pitt, que aqui faz um assassino profissional contratado pra investigar um assalto a uma roda de poker controlada pela máfia.

O filme parece uma tentativa de se fazer um filme de Martin Scorsese - é muito menos sobre a história do que sobre o diretor exibindo seu estilo. A diferença é que no caso de Scorsese o estilo era autêntico, e além disso os filmes tinham ótimos roteiros, personagens, diálogos... Aqui até há uma história, mas que não é bem traduzida em termos de ação na tela. A maior parte do filme consiste de "fotografias de pessoas conversando" - e as conversas são desinteressantes, confusas, longe dos diálogos criativos dos filmes de Tarantino, por exemplo. O filme é apenas um registro do "serviço" dos personagens - não há conflitos, objetivos pessoais, nada universal o bastante pra plateia se importar...


Pitt não tem nada a perder - não parece correr risco de ser preso, de ser morto, as pessoas que ele precisa matar não são importantes pra ele, não representam nenhum perigo ou valor... Ele nem acha imoral o que está fazendo. A intenção parece ser apenas a de contemplar a vida de bandidos com aquela atitude de admiração e cinismo típica de quem acha "cool" esse tipo de submundo, mas não tem conteúdo pra interessar o público num nível mais amplo (há uma série de discursos presidenciais sobre a crise econômica no meio do filme, mas eles nada tem a ver com a história - é apenas uma maneira forçada de dar ao filme uma cara anti-americana, o que parece ser um pré-requisito pra quem quer parecer descolado).

Killing Them Softly (EUA / 2012 / 97 min / Andrew Dominik)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Os InfratoresAtração Perigosa, Xeque-Mate, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, etc.

NOTA: 4.5

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Origem dos Guardiões

Animação da Dreamworks produzida por Guillermo del Toro que é uma espécie de Liga da Justiça do mundo infantil. Jack Frost se une ao Papai Noel, ao Coelhinho da Páscoa, à Fada do Dente e ao Sandman pra lutar contra as forças do mal - o Bicho Papão, que vem ganhando forças no mundo e trazendo pesadelos para as crianças.

O filme passa perto de criar uma parábola interessante pra atual cultura americana, que de fato se tornou mais desesperançosa e sombria na última década (como um termômetro, compare os filmes de sucesso dos anos 2000 com os da década de 90 e 80). Mas infelizmente perde a oportunidade, apresentando noções clichês do que é bem e mal, do que são valores, com uma mensagem de "esperança" que é composta de generalizações vagas - do tipo que dão uma má reputação ao entretenimento; que fazem as pessoas pensarem que filmes otimistas são mentirosos e infantis. Além disso, o filme faz uma confusão perigosa entre ter esperança e ter fé - quando eles falam que as crianças estão deixando de "acreditar", algo importante não fica claro. Na filosofia Disney, quando eles dizem "acredite", "sonhe", isso pode ser facilmente traduzido em "tenha confiança", "propósito", "busque seus objetivos" - valores positivos e saudáveis. Aqui, o conceito está mais próximo da fé religiosa, da crença no sobrenatural, o que torna a mensagem suspeita - é como se a possibilidade de seres mágicos e ocultos fosse a única coisa que tornasse a vida na Terra positiva.


A animação é bem feita e tem um ritmo acelerado - às vezes até demais, atropelando momentos da história que deveriam ter mais importância. Mas dentro do gênero é um filme acima da média - só não chega à seriedade e ao nível estético das produções da Disney/Pixar (em parte por não tratar seus heróis com a devida admiração, transformando o Papai Noel e o Coelho da Páscoa em personagens despretensiosos, comuns em termos de consciência, como se fosse a galera de Madagascar ou A Era do Gelo).

Rise of the Guardians (EUA / 2012 / 97 min / Peter Ramsey)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Como Treinar o Seu Dragão, Happy Feet, O Grinch.

NOTA: 6.5

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2

A Parte 1 já tinha uma história muito fraca (se resumia a assistir a uma gravidez parada e desagradável) dando a impressão que muito iria acontecer nesse capítulo final da série, afinal qual seria a justificativa para dividir o livro em 2 filmes? Mas acontece que essa parte tem ainda menos a mostrar que a outra.

A filha de Edward e Bella nasceu, e agora eles correm o risco de serem atacados pelos Volturi (a "família real" dos vampiros que destrói aqueles que desrespeitam suas leis). E tudo por causa de um mal entendido: os Volturi ficam sabendo da existência da criança, mas acham que se trata de uma criança humana transformada em vampira, o que iria contra suas regras.

(SPOILERS) Ou seja, o filme todo é uma expectativa por uma batalha que não tem razão de existir, e que no fim nem acontece: antes da briga eles explicam pros Volturi que a menina é filha deles e tudo se resolve na conversa! Mas o que acontece é ainda pior - há uma batalha de uns 10 minutos onde vários personagens importantes morrem, chocando toda a plateia - mas daí o diretor "volta a fita" e revela que tudo não havia passado de uma visão na mente de Alice, a vampira capaz de ver o futuro. E todos ainda estavam lá parados, conversando pacificamente! É um dos roteiros mais absurdos que eu já vi e um final nada épico pra série - esse grande clímax na cabeça da personagem é um crime dramatúrgico que nenhum roteirista são ousaria cometer.


Fora isso o filme continua surpreendentemente trash pra uma mega-produção de Hollywood: atuações mal ensaiadas, diálogos constrangedores, maquiagem tosca, efeitos especiais de mau gosto... A única coisa que sustenta a série é seu romantismo - a tentativa de retratar uma paixão intensa entre personagens idealizados. O resultado é decepcionante, mas se vê tão pouco disso hoje em dia que até o mal feito acaba se tornando necessário.

The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2 (EUA / 2012 / 115 min / Bill Condon)

INDICAÇÃO: pra quem gostou da Parte 1.

NOTA: 4.5

domingo, 18 de novembro de 2012

Argo

Terceiro filme dirigido por Ben Affleck, que desta vez acerta em cheio com um ótimo roteiro sobre uma operação secreta da CIA (junto com o governo canadense) que resgatou 6 diplomatas americanos do Irã em meio à uma revolução no ano de 1980. A sacada de Tony Mendez (Ben Affleck), especialista "exfiltrações" da CIA, foi inventar uma falsa produção de Hollywood como fachada para a operação - um filme de ficção científica que seria rodado no Irã.

É um desses filmes com uma situação muito clara: um herói, uma missão com etapas bem definidas, e um vilão perigoso servindo como obstáculo. Tudo se resume a uma pergunta: eles irão escapar ou não? Acho sempre eficientes esses roteiros onde há um momento no terceiro ato pelo qual você espera o filme todo e para o qual todos os eventos apontam. Desde o começo você sabe que o clímax será uma tentativa perigosa de fuga, o que cria uma expectativa e um senso de propósito pra trama que nos mantém interessados até o fim.

O filme foi baseado numa história real, mas obviamente distorce alguns eventos pra tornar o roteiro mais envolvente, o que realmente funciona (a sequência do aeroporto é puro suspense e funciona na maneira em que coloca a vida de todos nas mãos de um telefone que toca, de uma passagem que não chega, etc).


Parte do charme da produção é a cara de filme antigo. Affleck usou um processo fotográfico especial pra deixar a imagem granulada e, segundo o IMDb, copiou cenas e movimentos de câmera de Todos os Homens do Presidente. Toda a produção é impecável e te dá a impressão de estar vendo um desses dramas políticos dos anos 70. Há referências a vários outros filmes da época como Rede de Intrigas, Planeta dos Macacos, Star Wars - e todo esse encontro entre o mundo da CIA com a magia de Hollywood cria um contraste interessante para a história, trazendo um elemento imaginativo e escapista pra uma trama que talvez fosse burocrática demais de outra forma.

Affleck está contido e eficaz no papel principal, mas sua melhor performance mesmo é como diretor. Em seus dois filmes anteriores ele me pareceu apenas uma celebridade brincando de cineasta. Suspeito que agora ninguém o verá mais como o amigo menos talentoso de Matt Damon.

Argo (EUA / 2012 / 120 min / Ben Affleck)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Tudo Pelo Poder, Operação Valquíria, Munique, Todos os Homens do Presidente.

NOTA: 8.5

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Magic Mike

Filme de Steven Soderbergh que mostra a vida de Mike e Adam (Channing Tatum e Alex Pettyfer), 2 amigos que trabalham como strippers num "clube das mulheres" na Flórida. 

Durante a sessão esqueci completamente que era um filme de Steven Soderbergh e me espantei ao ver o nome dele nos créditos finais; estava convencido de que se tratava de um diretor estreante - um amador sem a menor noção de como contar uma história, dirigir atores ou filmar uma cena.

O filme realmente é um caso estranho. O problema é que ele faz uma mistura infeliz de estilos e intenções. Parte de uma proposta meio Flashdance / Burlesque / Striptease - uma dessas histórias onde um desconhecido busca algum tipo de fama e enfrenta uma série de obstáculos. Mas ao mesmo tempo, o filme tem um estilo naturalista que foge disso e vai mais pro lado do cinema independente, não-comercial - diálogos improvisados, enquadramentos esquisitos, narrativa solta, protagonista indefinido, cenas sem propósito, etc. Acaba que nenhuma das duas propostas funcionam.

O lado Flashdance / Burlesque do filme é desastroso. Pra começar, os personagens não estão buscando um sonho pessoal; trata-se apenas de um "bico". Os números de apresentação são constrangedores, visualmente feios (há algo naturalmente ridículo num homem exibindo suas curvas para mulheres; fica até difícil imaginar como seria uma boa cena dessas que não fosse pro lado cômico). Alex Pettyfer está apático no papel, sua escalada para o sucesso não é bem ilustrada e não convence... Falta um conflito maior para os personagens, que aceitam muito bem o fato de serem strippers (pra mulheres parece que há sempre um dilema moral quando usam o corpo pra ganhar dinheiro, o que cria automaticamente um conflito pra história; no caso desses personagens, tirar a roupa parece apenas uma profissão meio patética, mas sem esse mesmo tom degradante). O roteiro é uma bagunça. Se a intenção era fazer algo na linha dos filmes que mencionei, o resultado é trágico.


Já se a intenção era a de fazer um filme mais "artístico" - um retrato realista do universo desses personagens, sem a pretensão de contar uma história de sucesso, com começo, meio, fim, etc - então o filme não funciona pela falta de boas caracterizações. Os personagens são incongruentes, se comportam de maneira artificial... Você está constantemente pensando "essa pessoa jamais agiria dessa maneira / jamais se interessaria por essa pessoa / jamais faria tal comentário". As atitudes nunca formam personalidades reconhecíveis. Muito do problema é o elenco. Um bom drama naturalista é sempre sensível, tem personagens verdadeiros e bons atores.

O filme só funciona mesmo no nível do strip - pra quem for ao cinema ver corpos bonitos. E pelos 150 milhões que ele faturou, isso deve ter sido motivo o suficiente pra muita gente.

Magic Mike (EUA / 2012 / 110 min / Steven Soderbergh)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Burlesque; Ela Dança Eu Danço; Show Bar.

NOTA: 4.0

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Frankenweenie

No espírito de Hugo de Martin Scorsese, Tim Burton usa o melhor da tecnologia 3D e dos seus talentos visuais pra fazer uma homenagem ao cinema clássico. Frankenweenie foi um curta-metragem que Burton fez em 1984, e que agora ganha um remake estendido e em animação stop motion.

A história é uma paródia / homenagem em preto e branco ao Frankenstein de 1931, e conta a história de Victor Frankenstein, um garoto desajustado que usa seu conhecimento científico pra trazer seu cachorrinho Sparky de volta à vida, após ele ser atropelado.

Mas em vez de voltar como um monstro, o cão permanece do mesmo jeito que ele era, deixando a história sem grandes conflitos. Após ressuscitar Sparky, não há nada de muito envolvente na trama. Victor já realizou seu objetivo principal e suas preocupações passam a ser esconder o cão de seus pais (que no máximo dariam uma bronca nele), e mais para o final, corrigir um erro cometido por seus colegas da escola, que roubam sua ideia e ressuscitam gatos, tartarugas e outros bichos que saem destruindo a cidade (não fica claro por que alguns animais ficam bons, outros maus, uns gigantes, outros não, etc).


O curta foi expandido pra virar longa-metragem, mas não parece ter sido expandido em termos de profundidade, conflito. Burton evita mensagens sérias, situações dramáticas, surpresas, cenas muito intensas - tudo é meio morno, como se ele estivesse preparando um programa para pessoas com problemas cardíacos. O filme é agradável, impecável tecnicamente, mas frustra por não aproveitar os temas de amizade/perda, aceitação/rejeição, e todos os acordes mais dramáticos da história.

Frankenweenie (EUA / 2012 / 87 min / Tim Burton)

INDICAÇÃO: Quem gostou de A Invenção de Hugo Cabret, Os Fantasmas de Scrooge, A Noiva Cadáver, O Estranho Mundo de Jack, Ed Wood, etc. 

NOTA: 6.5

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Atividade Paranormal 4

É uma continuação de Atividade Paranormal 2 (e não do 3), se passando alguns anos depois dos eventos daquele filme. Mas as histórias são tão parecidas e os personagens tão secundários que eu acho um pouco demais esperar que a plateia se lembre de quem era quem em cada um dos filmes - e se importe por eles.

É melhor que a parte 3, que abusava de sustos baratos e tinha personagens que agiam de maneira incoerente. Fora isso, é mais do mesmo e minhas queixas continuam iguais (leia meus comentários sobre o 2 e o 3). Não há um enredo, o que limita as possibilidades do filme e reduz a experiência a aguardar passivamente o próximo susto - que nem sempre é tão forte quanto gostaríamos. Há algumas sacadas novas que são divertidas (como o efeito visual da sala forrada com pontinhos luminosos, provocados pelo sensor do video game).


Mas ideias visuais e estratégias pra provocar medo não compensam a falta que faz uma história, então infelizmente (digo infelizmente porque eu sempre quero gostar de filmes que trazem fantasia e aventura para o ambiente domiciliar) depois de meia hora o filme acaba se tornando monótono - especialmente para aqueles que não acreditam em espíritos (pra quem acredita, pelo menos o filme está falando de um assunto sério e dando explicações assustadoras para as portas que batem sozinhas e para as crianças que acordam no meio da noite).

Paranormal Activity 4 (EUA / 2012 / 88 min / Henry Joost, Ariel Schulman)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou dos outros da série, Apollo 18, Quarentena, etc.

NOTA: 4.5

terça-feira, 30 de outubro de 2012

007 - Operação Skyfall

Vigésimo terceiro filme da franquia de James Bond (e o terceiro com Daniel Craig), o filme foi dirigido por Sam Mendes (Beleza Americana) e traz Javier Bardem numa performance marcante como o vilão Raoul Silva (que lembra Hannibal Lecter ou mesmo o Coringa de Heath Ledger), além de Judi Dench, que tem uma participação grande na trama, se tornando praticamente a Bond Girl desse episódio. 

O filme começa a mil por hora com uma sequência de ação espetacular envolvendo carros, motos, trens e até uma escavadeira (em cima do trem) que não tinha muito propósito de existir - mas num filme do James Bond você não reclama dessas coisas! Logo depois vem a tradicional sequência de créditos, que eu sempre acho anos 60 demais pra uma série sempre tão atual, mas a música da Adele está à altura do filme, que vem sendo considerado um dos melhores da série, merecidamente. 

Não é nem que a história seja muito melhor que o normal, mas realmente há algo de sofisticado neste filme. E o mérito é em grande parte de Sam Mendes, que além de ser ótimo diretor de atores, é igualmente cuidadoso com a fotografia e a direção de arte de seus filmes, o que dá sempre a impressão de que se está vendo uma produção de primeira.


Gostei que o filme não abusa da violência e tenta sempre manter o foco no entretenimento, o que se pode ver nos diálogos e principalmente nas cenas de ação (há uma luta em meio a dragões num cassino chinês que é o tipo de toque divertido e imaginativo que não se vê nesses filmes de ação realistas que estão na moda).

Há coisas preguiçosas na trama (por exemplo, se um personagem lembrasse de deixar a lanterna desligada, um trecho crucial do filme não aconteceria), mas esses detalhes não comprometem a história como um todo.

Bond é tradicional, mas é atual. É sofisticado, mas põe a mão na lama quando precisa. É invencível, mas tem vulnerabilidades. É sério, mas é bem humorado. No filme há personagens fortes masculinos, femininos, jovens, idosos... Há ação pura, mas com personagens complexos e interessantes o bastante pra nos importarmos. O vilão é ótimo. O filme explora moda, turismo, tecnologia, carros... Todos esses ingredientes tornam a produção um espetáculo de primeira e com um apelo universal que é característico de 007.

Skyfall (Reino Unido, EUA / 2012 / 143 min / Sam Mendes)

INDICAÇÃO: Missão Impossível - Protocolo Fantasma, 007 - Cassino Royale, O Ultimato Bourne, True Lies.

NOTA: 8.5

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Os Candidatos

Comédia estrelada por Will Ferrell e Zach Galifianakis sobre 2 candidatos ao Congresso que transformam a campanha numa espécie de vale-tudo eleitoral, usando das estratégias mais baixas pra derrubar o oponente.

A ideia é interessante, mas por algum motivo o humor nunca parece ser aproveitado ao máximo. Talvez seja só uma questão das piadas não serem surpreendentes ou criativas o bastante. A premissa é parecida com a de O Âncora - outro filme de Will Ferrell sobre rivais disputando um cargo importante. Mas ali tudo funcionava melhor, primeiro porque havia uma química mais interessante entre os protagonistas (a rival de Ferrell era Christina Applegate, que era uma reporter sexy e ambiciosa), além das piadas serem mais fortes.

Em termos de história, falta um pouco de realismo e uma explicação pro fato de ambos os candidatos serem tão incompetentes (uma desculpa na linha de Os Produtores). Talvez fosse mais interessante se apenas Ferrell fosse um personagem cômico e subversivo, e o outro fosse o vilão da história - um candidato politicamente correto porém detestável. Daria um contraponto melhor para as loucuras de Ferrell. Aqui, os dois parecem competir pelas mesmas piadas, diluindo o resultado.


O diretor é Jay Roach, que já se mostrou competente em comédias com Entrando Numa Fria e o primeiro Austin Powers. Esse não chega a ser ruim, mas fica a sensação de que a situação poderia ter sido melhor aproveitada.

The Campaign (EUA / 2012 / 85 min / Jay Roach)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Se Beber, Não Case 2, Quase Irmãos, Escorregando para a Glória, Ricky Bobby - À Toda Velocidade.

NOTA: 6.0

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Os Infratores

Filme de gangster que conta a história real dos irmãos Bondurant, que na época da Lei Seca americana eram contrabandistas de "moonshine" - apelido dado pro whisky produzido clandestinamente. O conflito principal é entre eles e o personagem de Guy Pearce - um policial sanguinário que quer parte dos lucros. Num nível mais pessoal, o filme pode ser visto como a história de "superação" de Jack (Shia LaBeouf), o mais novo dos 3 irmãos, que desde pequeno tinha fama de covarde e precisa aprender a ser durão (coloquei as aspas porque é questionável se o tipo de brutalidade admirada no filme é uma virtude).

A história é bem contada, a produção tem classe, o elenco é muito bom. Infelizmente as qualidades do filme ficam em segundo plano e o que realmente se destaca é a violência, que vai muito além do que seria necessário pra ilustrar o poder dos vilões. Acaba sendo o principal instrumento do filme pra impressionar a plateia de tempos em tempos, o que acaba deixando a história negativa e excessivamente focada no mal (é um caso parecido com o de Selvagens do Oliver Stone).


Ainda assim é uma produção respeitável. Não chega a atingir a sofisticação e a dimensão mítica dos clássicos de Humphrey Bogart e James Cagney, mas funciona no nível da ação e do filme de vingança.

Lawless (EUA / 2012 / 116 min / John Hillcoat)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Selvagens, Inimigos Públicos, Atração Perigosa, O Gangster, Os Infiltrados.

NOTA: 7.0

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

As Vantagens de Ser Invisível

Comédia dramática sobre um adolescente reservado e com problemas psiquiátricos que entra no colegial e é acolhido por dois alunos extrovertidos (mas não populares) de um ano mais avançado. O filme é um dos mais bem avaliados do ano e aborda, de maneira leve, temas como bullying, drogas, primeira vez e homossexualidade. O diretor Stephen Chbosky é também o autor do livro.

O filme se passa no início dos anos 90 e faz um retrato nostálgico do ano mais importante da juventude desses 3 amigos. Eles são do tipo que escutam David Bowie, The Smiths, frequentam sessões à meia-noite de Rocky Horror Picture Show e querem viver livremente. Os atores estão todos bem - só não sei se é possível acreditar totalmente que esses personagens seriam excluídos. É um paradoxo comum em filmes com esse tema: o diretor quer que o personagem seja um desajustado apenas no universo da história, mas não para a plateia do filme. Então você acaba com uma figura carismática, atraente, que na realidade seria popular no colégio - só que por algum motivo todo mundo no filme diz que ele é um esquisito.


O fato do filme ser narrado do futuro pelo personagem principal dá ao filme um tom melancólico que eu particularmente acho desnecessário. É como se ele dissesse "a vida era tão boa", mas não explica por que ela não é mais, tornando a felicidade um evento raro, que existe apenas num "paraíso perdido" da juventude (o que infelizmente deve ser verdade pra muita gente). Pra quem está na adolescência, fica a sensação de que deve-se curtir a vida às pressas, pois após o colegial a magia acaba (se você for pensar, pros "invisíveis" do colégio o que ocorre muitas vezes é o oposto). Mas isso não torna o filme negativo.

O que importa aqui é que os personagens foram criados com sensibilidade, têm personalidades bem definidas, e os conflitos e a amizade entre eles são interessantes. Parece uma versão adolescente de Na Estrada, ou talvez um novo Três Formas de Amar.

The Perks of Being a Wallflower (EUA / 2012 / 103 min / Stephen Chbosky)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Um Dia, 500 Dias Com Ela, C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor, Três Formas de Amar.

NOTA: 7.5

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Selvagens

Após uma série de filmes que fugiram de seu estilo, Oliver Stone volta ao universo de violência e foras da lei carismáticos - esse é daquele tipo de filme que mesmo antes de acabarem os créditos iniciais já vemos cenas de sexo, tortura e consumo de drogas.

Chon e Ben (Taylor Kitsch e Aaron Johnson) são melhores amigos na Califórnia e estão entre os melhores produtores de maconha do mundo. Além do negócio, eles também dividem a mesma namorada. Tudo vai bem até que a garota é sequestrada por um cartel mexicano (liderado por Salma Hayek) após eles se recusarem a fazer uma parceria.

Geralmente não gosto de filmes cujo conflito é entre 2 grupos de bandidos. Eles te colocam na posição de ter que torcer pelo menos pior dos dois lados, mas não para o lado bom. Aqui ainda dá pra tomar partido, pois apesar da profissão questionável, Chon e Ben são mostrados como pessoas relativamente honestas e bem intencionadas.


A história é envolvente e bem contada, mas não gosto do universo do filme, que tem a intenção de glamourizar a imagem dos bandidos; tornar o mal poderoso e descolado. Nunca sei se isso é um verdadeiro fascínio do diretor pelo lado negro, ou se é apenas uma maneira de parecer 'cool' pra plateias mais jovens.

Savages (EUA / 2012 / 131 min / Oliver Stone)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Drive, Atração Perigosa, Profissão de Risco, Assassinos por Natureza.

NOTA: 6.5

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Moonrise Kingdom

De Wes Anderson (Os Excêntricos Tenenbaums), o filme se passa no verão de 1965 numa ilha fictícia na Nova Inglaterra, onde Sam, um escoteiro anti-social de 12 anos, foge de seu acampamento pra encontrar Suzy, uma menina problemática que foge de casa. Rompendo com o mundo convencional, eles vivem uma aventura pela natureza enquanto são perseguidos pela polícia e por seus pais. 

O quanto você vai gostar do filme depende em grande parte do quanto você acha que estilo pode superar conteúdo. As locações são belíssimas, a fotografia tem uma textura orgânica de filme antigo, os cenários são ricos e cheios de objetos interessantes - o que há de descaso por drama, há de atenção pelo visual. 

Em termos de estilo, o objetivo de Anderson parece ser o de causar estranheza. A câmera tem um comportamento artificial, simétrico, como se o filme estivesse sendo filmado por um ciborgue sobre trilhos. Os atores muitas vezes se comportam e se vestem de maneira caricata. Se isso já não bastasse, a trilha faz o trabalho final de deixar o tom excêntrico, usando músicas esquisitas que nada combinam com o tom emocional das cenas.


O que isso faz é dar a impressão que o filme despreza o potencial dramático do cinema, como se ele dissesse "eu não estou tentando ser um filme de verdade, fazer você se importar - meu objetivo é apenas criar essas imagens interessantes, e quem sabe fazer você refletir um pouco sobre os excluídos da turma".

Isso não invalida o filme, que é interessante e cheio de ideias, mas é uma pena que um capricho técnico tão alto esteja num filme que parece estar constantemente tirando sarro de si mesmo. 

Moonrise Kingdom (EUA / 2012 / 94 min / Wes Anderson)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Viagem a Darjeeling, O Excêntricos Tenenbaums; E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, etc.

NOTA: 7.0

Ruby Sparks - A Namorada Perfeita

Comédia romântica sobre um escritor com bloqueio criativo (Paul Dano) que cria a mulher dos seus sonhos - até que ela inexplicavelmente salta das folhas de sua máquina de escrever para se tornar sua namorada na vida real. Os diretores são os mesmos de Pequena Miss Sunshine e o roteiro foi escrito por Zoe Kazan, que interpreta Ruby no filme.

Um dos problemas é que a personagem de Ruby é superficial e não convence como garota dos sonhos. Ela cozinha bem, é extrovertida, gosta de cachorro, mas o que há de tão fora do comum? O filme não mostra. Ela diz para Calvin: "Eu sou uma bagunça". Ele responde: "Eu amo a sua bagunça". O romance tem toda essa atitude "isso é tão complicado e inevitável" - no fim parece um relacionamento desses de 3 meses que todo mundo tem.

A primeira meia hora do filme funciona, mas passado o trecho em que Ruby ganha vida e Calvin aceita que ela é real, a história não encontra um rumo interessante. O casal começa a ter problemas, mas não há nenhuma explicação para isso (é a premissa do universo malevolente, de que as coisas têm que dar errado por algum motivo). O motivo é que Calvin não sabe como seria sua garota ideal, e por isso não consegue escrevê-la direito.


Mais pro final, o filme se torna pretensioso. Calvin resolve escrever um livro - que é exatamente a história do filme que estamos assistindo. O livro é aclamado por todos por sua genialidade. Bem, isso é afirmar que a história do próprio filme Ruby Sparks é genial! É preciso tomar muito cuidado quando você faz estimativas de algo que está contido no trabalho. Se você diz que vai mostrar a mulher mais bonita do mundo, você tem que garantir que será alguém realmente impressionante. O filme faz várias estimativas que não consegue atingir - diz que Calvin é um escritor genial, mas o personagem que mostra parece apenas um garoto inseguro. Diz que Ruby é a namorada dos sonhos, mas o que mostra é uma garota normal. Diz que a história do filme é genial, mas o que vemos é uma versão inferior de um roteiro do Charlie Kaufman (Quero Ser John Malkovich, Adaptação, etc).

A roteirista Zoe Kazan é neta do famoso cineasta Elia Kazan, e é filha de roteiristas (a mãe escreveu Benjamin Button, o pai escreveu O Reverso da Fortuna). Expectativas altas podem ser um fardo pesado pra quem é parente de artistas bem sucedidos, mas é preciso ser realista pra não tentar dar um passo maior que a perna. Zoe escreveu uma história que se autoproclama brilhante, criou uma personagem que pretende ser a garota dos sonhos, e depois se escalou pra interpretá-la! Pretensão tem limite.

Ruby Sparks (EUA / 2012 / 104 min / Jonathan Dayton, Valerie Faris)

INDICAÇÃO: Mais Estranho que a Ficção, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças.

NOTA: 6.0

sábado, 13 de outubro de 2012

A Entidade

Do diretor de O Exorcismo de Emily Rose (e dos produtores de Atividade Paranormal), o filme conta a história de um escritor famoso de livros criminais (Ethan Hawke) que se muda para uma cidade nova com sua família onde ele pretende investigar uma série de assassinatos para seu próximo livro. Mas, ao encontrar uma caixa de filmes antigos no sótão da casa, eventos estranhos começam a acontecer ameaçando ele e sua família.

É um dos filmes de terror mais bem dirigidos que vi recentemente - a trilha sonora, o uso da fotografia, da edição - tudo é usado com habilidade pra criar o máximo de suspense: pode-se ver que o filme não está simplesmente imitando os cacoetes de dezenas de outros filmes, mas descobrindo cena a cena qual a técnica mais eficiente pra gerar tensão - mesmo quando usa dos clichês.

Há outro elemento importante aqui, que é o senso de realismo. Num filme de terror, não há envolvimento se os atores parecem estar interpretando de uma maneira forçada ou se os eventos da história parecem ilógicos. Aqui, há inúmeros detalhes que buscam quebrar com essa artificialidade. Por exemplo: o personagem de Ethan Hawke precisa descobrir como emendar um filme 8mm. O que ele faz? O que todos nós faríamos - entra no Google! Ou então, a cena no meio da madrugada em que a filha se perde ao ir ao banheiro. Nós pensamos: sim, isso realmente aconteceria com uma criança pequena que acabou de mudar para uma casa nova! Tudo isso é feito pra você acreditar na realidade que está na tela, e só assim um filme desse tipo pode funcionar.


O filme é tão bem feito em seu desenvolvimento que o fato do público sair (em grande parte) contrariado prova o quão importante é o final de um filme em relação a tudo o que aconteceu antes. Um filme medíocre pode ser aclamado se tiver uma cena final de impacto. Por outro lado, um filme bem feito às vezes pode ser rejeitado se decepcionar nos últimos minutos - pra mim isso é o que acontece aqui. Em filmes de serial killers / monstros / espíritos, você sempre espera que os personagens tenham um encontro definitivo com o vilão no final. Aqui, há um encontro, mas não exatamente da maneira que o público espera. A sensação é a de que faltou algo, de que a experiência não foi vivida completamente. É um problema de roteiro, mas no geral, acho que os méritos do filme compensam essa falha.

Sinister (EUA / 2012 / 110 min / Scott Derrickson)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Sobrenatural, O Último Exorcismo, REC, Revelação.

NOTA: 7.0

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Busca Implacável 2

Sequência do bem sucedido (e super eficiente) Busca Implacável, que deu início a essa nova fase da carreira de Liam Neeson como herói de ação. Produzido por Luc Besson, o filme trás de volta Maggie Grace e Famke Janssen como a filha e a ex-mulher do herói.

No primeiro filme, Neeson matou dezenas de criminosos pra poder resgatar sua filha sequestrada. Agora, o pai de um desses sequestradores mortos busca vingança, planejando raptar a família inteira durante uma viagem a Istambul.

Embora menos interessante (como na maioria das sequências) a fórmula continua funcionando. Neeson é a figura ideal para o papel, e muito da graça do filme vem de assistir esse senhor respeitável, solene e elegante derrotando assassinos perigosos (o que é muito mais interessante do que ver machões bombados fazendo a mesma coisa, como em Os Mercenários 2, pois aqui há a ideia de que inteligência e experiência superam a força bruta).

Os diálogos são primários, a história é simples até demais, mas pelo menos o conflito é claro e a ação é bem feita (os melhores momentos são quando Neeson encarna o MacGyver e encontra saídas sofisticadas para os seus problemas).


O ponto fraco é que esse é o tipo de história que não pede uma sequência; eles teriam que ter criado um enredo 3 vezes mais elaborado e original pra não dar a sensação de "mais do mesmo"; de um filme feito apenas pra faturar mais alguns milhões (o primeiro custou 25 milhões e faturou quase 10 vezes isso).

Ainda assim, é um entretenimento honesto. Assim como Neeson, tem um objetivo muito simples, e o cumpre de maneira direta, sem fingir ter maiores pretensões.

Taken 2 (França / 2012 / 91 min / Olivier Megaton)

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Legado Bourne, À Toda Prova (Haywire), Desconhecido, O Fim da Escuridão, etc.

NOTA: 6.5

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Poder Paranormal

Sigourney Weaver  e Cillian Murphy interpretam cientistas especializados em desmascarar pessoas que afirmam ter poderes sobrenaturais. Com poucos recursos pra continuarem com suas investigações, eles veem uma grande oportunidade quando um famoso paranormal (Robert De Niro) ressurge após anos sumido - provar que ele é um charlatão representaria não só a salvação profissional da dupla, mas uma vitória pessoal em muitos níveis. O conflito envolve questões importantes e é muito bem apresentado (imagine James Randi contra Uri Geller) - estes são personagens sérios e ambiciosos numa rota de colisão. Eles não podem ser completamente bem sucedidos sem se enfrentarem - e o sucesso de um requer a derrota do outro.

O diretor e roteirista Rodrigo Cortés (de Enterrado Vivo) sem dúvida fez muita pesquisa antes de escrever o roteiro e isso aparece no filme - e o interessante é que ele ilustra os dois lados do conflito com o mesmo nível de inteligência e respeito (o lado dos céticos e o lado dos crentes) de forma que, mesmo estando do lado dos céticos na história, nunca é possível saber pra que lado ele tombará no final - o que gera um grande suspense pra quem se interessa pelo debate (e quem não se interessa?). Esse posicionamento deve ser reflexo das incertezas do diretor, que disse em entrevista que acha que tanto os céticos quanto os crentes acreditam naquilo que é mais conveniente para eles - ou seja, ele parece não acreditar que existam pessoas de fato racionais, que se baseiam em evidências apenas.


Ainda não sei se o filme faz total sentido e pretendo revê-lo em breve. Mas é importante dizer que há uma diferença profunda entre um filme como este, que é totalmente compreensível em todo o seu percurso, mas que eventualmente apresenta alguns elementos duvidosos e toma certas liberdades com a narrativa - e um filme que já parte de uma premissa mal explicada, que nunca é completamente inteligível pro espectador. O primeiro tipo respeita a racionalidade da plateia e é motivado pelo desejo de tornar a experiência mais interessante. O segundo conta com a confusão da plateia e é motivado pelo desejo de parecer mais esperto que ela.

Recebido friamente pela crítica e pelo público, pra mim foi uma das melhores surpresas do ano. Ótimos atores, ótimos personagens, ótimo tema. Suponho que muita gente tenha problemas com a segunda metade e com o desfecho, que não é exatamente o que o primeiro ato promete (embora não seja desonesto). Eu certamente gostaria de ver um filme inteiro sobre essa primeira parte, porém o rumo que a história toma é interessante em sua própria maneira e a experiência acaba sendo satisfatória de uma maneira inesperada.

Red Lights (EUA, Espanha / 2012 / 113 min / Rodrigo Cortés)

INDICAÇÃO: para quem gostou de A Caixa, O Ilusionista, O Sexto Sentido, Twin Peaks, etc.

NOTA: 8.0

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Looper - Assassinos do Futuro

Foi aclamada pela crítica essa ficção-científica de orçamento modesto, escrita e dirigida por Rian Johnson (que fez só 2 outros longas antes, nenhum muito conhecido). A história se passa em 2044, onde assassinos profissionais chamados "loopers" são pagos para matar homens vindo de um futuro ainda mais distante (2074, onde a viagem no tempo já foi inventada). Neste futuro, a tecnologia se desenvolveu tanto que se tornou impossível se livrar de corpos sem deixar rastros para a polícia. Portanto, a saída encontrada por mafiosos para dar fim a suas vítimas é enviá-las para serem executadas no passado.

Acontece que a viagem no tempo também é altamente ilegal em 2074 - por que é que a polícia, com uma tecnologia tão imbatível, não consegue detectar essas viagens no tempo clandestinas? A resposta é: não faça muitas perguntas! O filme é todo construído em cima de pequenos problemas como este, deixando a trama confusa e desagradável de se acompanhar. Filmes sobre viagem no tempo quase sempre têm buracos na história, mas é preciso escondê-los - e construir conflitos fortes que funcionem independentemente da lógica da trama.


Aqui, mesmo que a trama fosse perfeitamente plausível, ainda seria uma história insatisfatória, onde nenhum personagem é totalmente gostável (são criminosos contra criminosos - fica difícil de torcer por alguém), as pessoas agem de maneira inconsistente, as regras são mal explicadas, a segunda metade parece um filme separado - o roteirista parece ter tido algumas sacadas interessantes para um filme e, pra dar um jeito de enfiá-las na mesma história, abriu mão de qualquer senso de unidade e realismo psicológico.

Joseph Gordon-Levitt está quase irreconhecível. Quando o filme começou, imaginei que ele tivesse sofrido um acidente ou feito alguma cirurgia no maxilar. Depois percebi que era maquiagem - para deixá-lo mais parecido com Bruce Willis! Fiquei pensando: que senso de prioridade tem um diretor que escolhe comprometer a harmonia facial do ator principal, deixando ele bizarro e artificial o filme inteiro, por causa de um detalhe que não faz a menor diferença (ainda menos num filme que toma tantas outras liberdades)?

O filme parte de uma ideia interessante e esbarra em temas sérios, mas é mal realizado e não tem o intelecto pra elaborar as questões filosóficas que levanta.

Looper (EUA, China / 2012 / 118 min / Rian Johnson)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Contra o Tempo, Os Agentes do Destino, O Preço do Amanhã, A Origem.

NOTA: 4.0

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Dredd

Não é um remake do filme O Juiz de 1995 (com o Stallone), mas um filme novo baseado nos mesmos quadrinhos. A história se passa num futuro apocalíptico onde os EUA foram devastados e reduzidos a 1 única megacidade de 800 milhões de habitantes. Tomada pela violência e pelo caos, a cidade é protegida por policiais que têm autoridade para prender, julgar e executar criminosos por conta própria. A ação principal do filme se passa dentro de um prédio residencial gigante, com todas as saídas bloqueadas, onde um juiz e sua parceira em treinamento são caçados por traficantes.

Apesar de não ser literalmente um remake, não deixa de ser mais um exemplo dessa onda de reviver produções escapistas dos anos 80 e 90 e transformá-las em filmes ultraviolentos e sombrios (Hollywood tem me lembrado o Cemitério Maldito, onde as pessoas tentavam ressuscitar entes queridos, mas eles acabavam voltando como zumbis do mal - vamos ver como será o Robocop do José Padilha). O lado bom aqui é que o filme tem um enredo razoavelmente bem estruturado, além de um herói que luta por justiça e que não é moralmente ambíguo (como de costume). Isso não quer dizer que seja um filme muito positivo. Embora a história seja essencialmente positiva ("mocinho vence bandidos"), há um desencontro entre estilo e conteúdo: o filme foca tanto na violência física, nas balas que rasgam a pele dos vilões em câmera lenta, que a emoção predominante acaba sendo de horror e tragédia.


De qualquer forma, o filme é visualmente interessante (as cenas de morte em câmera lenta chegam a ser bonitas às vezes), há um enredo acompanhável, e a personagem de Olivia Thirlby (a parceira de Dredd) traz um alivio inocente à trama que torna a atmosfera menos escura e claustrofóbica.

Dredd 3D (EUA, Reino Unido, India / 2012 / 95 min / Pete Travis)

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Vingador do Futuro, Resident Evil 5: Retribuição, Watchmen, Hellboy, etc.

NOTA: 6.0

sábado, 22 de setembro de 2012

Cosmópolis

Dirigido por David Cronenberg (A Mosca, Marcas da Violência), o filme mostra Robert Pattinson como um bilionário excêntrico em sua limousine atravessando o trânsito caótico de Manhattan para ir ao cabeleireiro. Teatral e alegórico, o filme pretende ser uma crítica ao capitalismo, caracterizando o bilionário como um ser inconsequente e detestável.

Só que falar asneiras não é o mesmo que fazer uma crítica, e o filme não pode ser levado a sério em termos intelectuais - ele não discute fatos, não prova seus argumentos, não mostra as alternativas - apenas solta opiniões pretensiosas e sem fundamento em diálogos esquizofrênicos que fazem a gente questionar seriamente a saúde mental do autor.


Discordo profundamente dos ataques do filme ao dinheiro e à razão, mas mesmo que o conteúdo fosse diferente - mesmo que fosse uma crítica válida à sociedade - ainda assim seria um filme medíocre em termos de história, diálogos, produção, etc. Nem aqueles que concordam com ele deverão ficar muito satisfeitos (das 10 pessoas que estavam na minha sala, 4 saíram na metade).

Cosmopolis (França, Canadá, Portugal, Itália / 2012 / 109 min / David Cronenberg)

INDICAÇÃO: Quem gostou de O Preço do Amanhã, O Nevoeiro, Ensaio Sobre a Cegueira.

NOTA: 2.0

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros

Produzido por Tim Burton e baseado no livro de Seth Grahame-Smith (autor de "Orgulho e Preconceito e Zumbis"), o filme revela que vampiros existiam no século 19 e que a Guerra Civil serviu em partes para tentar exterminá-los. Benjamin Walker faz o jovem Abraham Lincoln, que tem a mãe assassinada quando criança por um vampiro e depois de adulto vai buscar vingança.

A última coisa que eu esperava de um filme com este título é que ele se levasse a sério. Até E o Vento Levou tem humor, romance - mas este não; o filme mantém um tom pesado e dramático do começo ao fim e quer passar uma mensagem importante sobre os direitos humanos. Este erro de tom pra mim é o primeiro problema do filme.

Outros problemas também prejudicam: 1) o herói é comum, sem personalidade; o ator não convence como um homem grandioso que marcou a história 2) sua busca por vingança não é algo envolvente o bastante pra sustentar o filme 3) o vilão é esquecível e não há uma relação interessante entre eles.


O filme não funciona nem como puro escapismo pois não há nenhum senso de realidade. A fotografia é hiper-manipulada, artificial, com cara de computação gráfica. Seres humanos normais lutam como se estivessem na Matrix. Tudo é fake. Fantasia só acontece quando é abordada com inteligência e realismo. Se o filme torna explícitos os efeitos digitais e a falsidade, a graça vai embora - é como um mágico que usa cordas visíveis pra levitar, já que no fim ninguém de fato acredita que ele pode voar. O que ele esquece é que a plateia quer ser enganada.

O filme é quase respeitável mas tudo é mediano, convencional, cheio de clichês - a fotografia, a música, o elenco, os diálogos, as reações, as cenas de ação... Os cineastas simplesmente não têm sensibilidade pra esse tipo de entretenimento.

Abraham Lincoln: Vampire Hunter (EUA / 2012 / 105 min / Timur Bekmambetov)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Sherlock Holmes, da série Anjos da Noite, Van Helsing, etc.

NOTA: 4.0

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ted

Estrelado por Mark Wahlberg e Mila Kunis, o filme conta a história de um menino solitário que pede no Natal que seu ursinho de pelúcia ganhe vida, para que eles se tornem melhores amigos. Uma estrela cadente atende o seu pedido e o ursinho passa a andar e a falar, chocando os pais do garoto e se tornando uma celebridade nacional.

Mas em vez dessa história, o filme resolve contar o que acontece anos depois do "felizes para sempre", mostrando a rotina medíocre do garoto (agora com 35 anos de idade) e do ursinho, que vivem usando drogas e não têm nenhum propósito na vida (é uma paródia dos contos de fada, mais ou menos como Encantada, só que com piadas sujas).

Sucesso inesperado nos EUA, a comédia é a estreia na direção de Seth MacFarlane (criador de The Family Guy) que também escreveu o roteiro e faz a voz do ursinho. O filme é inundado de referências à cultura pop: faz piadas com E.T., Indiana Jones, Star Wars, Flash Gordon, 007, Top Gun, Aliens, Os Embalos de Sábado à Noite, Katy Perry, Taylor Lautner e muito mais.


Mas em vez de alguém que despreza isso tudo, o filme parece ter sido feito por um fã desses filmes - alguém que se preparou a vida toda pra criar o seu Star Wars ou E.T., mas que em algum momento se tornou cínico, abandonou suas ambições originais (com medo de se tornar alguém como Mark Wahlberg no filme) e concluiu que elas não passavam de infantilidades - só que mesmo assim precisa manter esse universo vivo de alguma forma, e o faz tirando sarro dele, o apresentando sob a proteção da comédia.

Apesar de eu não gostar da atitude, ainda achei um dos filmes mais autênticos e bem escritos do ano. A habilidade de MacFarlane pra inventar diálogos absurdos com inteligência é impressionante e, apesar do cinismo e da moralidade duvidosa, é possível se divertir com o filme num nível puramente criativo.

Ted (EUA / 2012 / 106 min / Seth MacFarlane)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de O Ditador, Se Beber Não Case, Segurando as Pontas, Penetras Bons de Bico, etc.

NOTA: 7.5

sábado, 15 de setembro de 2012

O Legado Bourne

Quarto episódio da série Bourne, que agora muda o foco para o agente Aaron Cross (Jeremy Renner, de Guerra ao Terror), parte de um outro programa secreto do Departamento de Defesa que usa químicos pra aumentar as capacidades físicas e mentais de seus agentes. Sob o risco da operação Outcome ser exposta, a CIA resolve cancelar o programa e para isso começa a eliminar os envolvidos.

A primeira hora é difícil de acompanhar e é cheia de personagens desconhecidos que estão vários passos à nossa frente e falam como se o espectador estivesse a par de tudo. Mas isso não soa como falha de narrativa ou como estratégia pra disfarçar um roteiro sem conteúdo. Pelo contrário, temos a sensação de estarmos entrando num universo complexo, onde há muito mais informações além daquelas que estão na tela - o filme exige uma concentração elevada do espectador, que se não estiver em foco pode perder detalhes importantes da história.


Seguimos 3 tramas paralelas lideradas pelo ótimo trio de atores Jeremy Renner, Rachel Weisz e Edward Norton. Após essa primeira hora confusa, as histórias finalmente se encontram e o filme vira uma grande perseguição, com sequências de ação fantásticas mas que sempre preservam algum senso de realismo. 

O filme foi dirigido por Tony Gilroy (de Conduta de Risco) que foi roteirista dos outros 3 filmes - talvez por isso o filme consiga manter o mesmo espírito e a mesma qualidade da série mesmo sem Matt Damon.

The Bourne Legacy (EUA / 2012 / 135 min / Tony Gilroy)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou dos outros 3 da série, de À Toda Prova, Missão Impossível - Protocolo Fantasma, Inimigo do Estado, etc

NOTA: 7.5