terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Espião que Sabia Demais

Está com 3 indicações sem motivo ao Oscar (Ator pra Gary Oldman, roteiro e trilha) esse filme que tem toda a aparência externa de um filme importante: baseado num livro aclamado (de John le Carré), visual classudo, atores premiados fazendo expressões sérias e falando sobre assuntos "sofisticados" do tipo máfia Russa, agentes duplos.. Mas por trás disso há uma bagunça incompreensível e superficial onde nenhuma linha de raciocínio sobrevive mais que 5 minutos. Pra começar, não há qualquer interesse na história (tudo que elogiei em Millennium não se aplica aqui). Por que a plateia deveria se preocupar se há um agente russo infiltrado na inteligência britânica? O que está em jogo pro personagem principal? Por que devo me importar se ele vive ou morre? Não há conflitos, psicologia, mensagens nem lógica; o estilo do filme é Naturalista, mas do pior tipo - não há nem caracterizações interessantes, que costumam ser o ponto forte desses filmes.

 
É um grande vazio: conversas intermináveis sobre pessoas com nomes exóticos que não sabemos quem são. (O filme passa a impressão de ser sério principalmente por um motivo: o toque do grotesco. Há sempre um momento chocante de violência, de nudez, uma senhora que fala algo inesperado do tipo "Não sei quanto a você, mas eu ando muito mal-comida", uma música francesa bizarra no momento mais violento do filme - detalhes desglamourizantes que dão a impressão do filme estar sendo ousado, mais "maduro" que o policial hollywoodiano padrão). 

Tinker Taylor Soldier Spy (França, Reino Unido, Alemanha / 2011 / 127 min / Tomas Alfredson) 

INDICAÇÃO: Quem gostou de Zona Verde, Syriana, A Intérprete, O Jardineiro Fiel, O Alfaiate do Panamá

NOTA: 2.5

Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres


Baseado no bestseller de Stieg Larsson, o filme está indicado a 5 Oscars incluindo Melhor Atriz. O livro já tinha sido adaptado pro cinema em seu país de origem (Suécia) numa versão que também fez bastante sucesso e é igualmente boa. Esta só é de fato superior em termos de produção (fotografia, som, etc), e talvez seja um pouco mais fácil de acompanhar. Mas a verdade é que o material original já é ótimo - se você adaptá-lo com bom senso não tem muito o que dar errado.

O filme está bem no universo de David Fincher e lembra outros filmes dele como Zodíaco ou mesmo Seven (é bastante violento, com um estilo muito cool, misturando o antigo e o novo, o elegante e o underground). A trama segue Mikael, um jornalista afastado que é contratado por um senhor (Christopher Plummer, o capitão Von Trapp de A Noviça Rebelde) numa cidade remota da Suécia pra investigar o misterioso desaparecimento de sua sobrinha, 40 anos antes. No processo, ele une forças com Lisbeth (Rooney Mara, indicada a Melhor Atriz), uma hacker tatuada bissexual que é a figura mais marcante do filme.

Vivo apontando aqui que muitos filmes não funcionam porque não estabelecem as motivações dos personagens e assumem que a plateia se interessará automaticamente por qualquer coisa que aparecer na tela. Aqui está um filme que não comete esse erro.

Por que a história é envolvente? 1) O mistério por si só já é forte e intrigante, mas isso não basta 2) Mikael está com a reputação manchada (mas é inocente), sem o emprego, sem dinheiro, e o senhor oferece um pagamento generoso a ele - isso já seria motivo o bastante, mas ainda há um melhor 3) O senhor tem informações importantes que no final devolverão a Mikael sua reputação e seu emprego.

E é por isso que a história funciona. Se o filme começasse e Mikael fosse apenas um detetive que recebesse a missão de desvendar determinado crime, como parte de seu serviço, o filme inteiro deixaria de ter qualquer suspense ou interesse.

Ou seja, é uma trama bem construída, envolvente, com personagens interessantes, boas cenas e uma produção impecável. Sem muito o que reclamar.

The Girl with the Dragon Tattoo (EUA, Suécia, Reino Unido, Alemanha / 2011 / 158 min / David Fincher)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Zodíaco, Cassino Royale, Dragão Vermelho, O Quarto do Pânico, Seven, O Silêncio dos Inocentes.

NOTA: 8.0

sábado, 28 de janeiro de 2012

A Separação


Filme iraniano que é um dos mais aclamados do ano (está indicado aos Oscars de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original), o drama conta a história de um pai de família que está com o casamento em crise, precisa cuidar do pai com Alzheimer, e além de tudo se envolve numa briga judicial com a empregada, que o acusa de um crime que ele pode ou não ter cometido, dependendo de dados muito subjetivos (que o filme vai expondo aos poucos) e dos valores morais de cada um.

O filme me prendeu do começo ao fim - é um conflito muito bem elaborado, complexo, os personagens são convincentes, as performances são excelentes; tenho que reconhecer que o filme é bem feito dentro de sua proposta.

Não significa que eu goste dessa proposta. O problema é que eu acho que, em histórias sobre injustiça, conflitos morais, no mínimo 1 dos lados precisa estar certo (ou pelo menos tem que haver uma mensagem clara no final), mas aqui todo mundo é culpado de alguma forma. Os personagens são mostrados com simpatia, sensibilidade, de forma que a gente se põe no lugar deles, se identifica, mas depois quando você começa a tomar partido, o personagem faz algo de errado (mente, distorce fatos, é violento) e você vê que estava defendendo o bandido.

Ou seja, o filme acaba se tornando uma briga irritante entre pessoas falhas, que estão tentando livrar a cara jogando a culpa umas nas outras, e além disso sendo julgadas por uma lei irracional. A história é envolvente, o conflito é forte, difícil, mas não há muito de positivo - é o conflito pelo conflito. Não sei se o filme faz uma crítica à lei, à religião (que só serve pra bagunçar tudo ainda mais) aos atos dos protagonistas, ou se a intenção é apenas mostrar a confusão que dá quando você mistura misticismo com uma lei injusta e pessoas mentirosas num caso especialmente complicado, que não seria simples de resolver mesmo que todos os envolvidos fossem 100% racionais.

A Separation (Irã / 2011 / 123 min / Asghar Farhadi)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Babel, Crash - No Limite, Casa de Areia e Névoa.

NOTA: 5.0

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Histórias Cruzadas


Indicado a 4 Oscars incluindo Melhor Filme, foi sucesso surpreendente de bilheteria nos EUA (fez 170 milhões até agora, sendo que custou 25).

O filme fala do mal do racismo e conta a história de uma jovem escritora (branca) do Mississipi, durante o movimento dos direitos civis nos anos 60, que decide escrever um livro mostrando o ponto de vista das empregadas negras que trabalhavam pras famílias brancas ricas - e que frequentemente eram tratadas de forma desumana. O livro obviamente é escandaloso e coloca a menina em conflito com a família e a sociedade.

Da metade pra frente o roteiro parece se perder um pouco (não gosto da solução da "torta de chocolate", que não chega a ser uma lição de moral e ainda faz a gente questionar o caráter da empregada), e o filme também fica meio dividido quanto a quem é a personagem central, se é a escritora (Emma Stone) ou a empregada Aibileen (Viola Davis).

Seria interessante também se o filme tivesse conflitos mais intensos - se a garota por exemplo tivesse amizades mais fortes que ela tivesse que romper pra publicar o livro, ou que ela se apaixonasse de verdade por um homem que a colocasse em conflito com seus valores, etc. Isso até existe no filme, mas de forma leve, não chegam a gerar dúvidas sérias na personagem. Como desde o começo ela já se sente uma excluída e parece não se importar pelo que pensam dela, o fato dela escrever tal livro é algo natural, que não exige tanta coragem (até Hairspray que é musical - mas tem um tema semelhante - vai mais longe nessa questão dos conflitos).

Mas mesmo sendo "light" o filme funciona muito bem, emociona, diverte, é bem realizado e tem um elenco feminino excelente (das 4 indicações, 3 são pras atrizes). Justifica o sucesso e as indicações.

The Help (EUA / 2011 / 146 min / Tate Taylor)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Julie & Julia, Divinos Segredos, Tomates Verdes Fritos, Conduzindo Miss Daisy, A Cor Púrpura.

NOTA: 7.5

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Os Descendentes

Um dos filmes mais premiados do ano, está indicado a 5 Oscars incluindo Melhor Filme, Ator (George Clooney) e Diretor (Alexander Payne, de Sideways - Entre Umas e Outras). A história é sobre um homem cuja esposa entra em coma após sofrer um acidente de barco e, só então, através de uma das filhas, ele descobre que estava sendo traído. Não achei grande coisa pois o filme é essencialmente Naturalista (embora seja um filme Naturalista bem feito, acima da média, pois ainda há uma história, uma série de acontecimentos coerentes, além de ser bem produzido, ter bons atores, etc). Mas o filme não chega a ter um enredo forte, um tema muito amplo (filmes Naturalistas por natureza são limitados em termos de história, cenas, significados, etc). É basicamente a caracterização desse personagem em particular, nesse lugar, e as coisas que acidentalmente aconteceram a ele. Mas não é um estudo muito aprofundado (até no fim da história, quando ele está prestes a assinar um documento, não sabemos por que ele decide de um jeito ou de outro, soa aleatório). Além disso o filme tem um tom cínico-pessimista que eu não gosto. A intenção é dizer que, não importa onde você esteja, você sempre será miserável. Nos primeiros segundos o filme já deixa isso claro. Pra enfatizar a ideia de que o homem é impotente e infeliz, o autor situa a história no Havaí, numa das paisagens mais bonitas do planeta, só pra destruir essa beleza com o drama da mulher no hospital. Se você pensar, a estratégia é oposta à do filme Cavalo de Guerra, que situa a história no ambiente mais hostil possível (1ª Guerra Mundial) pra mostrar que mesmo no inferno a bondade e o espírito humano sobrevivem. A trilha (composta de músicas havaianas engraçadinhas) também serve pra diminuir o personagem e a tragédia pela qual ele está passando (isso é o autor sendo irônico, dizendo nas entrelinhas "a vida é essa droga mesmo, somos todos uns fracassados, então vamos rir das nossas desgraças pois é o único jeito"). Inúmeras vezes um acontecimento sério é derrubado por uma música inapropriadamente divertida ou um toque de humor fora de hora (como por exemplo a senhora com Alzheimer confundindo a filha Elizabeth com a Rainha Elizabeth). O público deve achar isso "corajoso" ou "maduro" de alguma forma. Assim como Clooney beijando o vômito seco na boca da esposa em coma. É a ideia de que uma coisa pelo simples fato de ser negativa deve ser séria e importante. A própria filha mais nova expõe isso numa cena onde mostra seu álbum de fotografias da mãe no hospital. Quando questionada por que tira essas fotos mórbidas da mãe em coma ela diz, "Ah, uma fotógrafa famosa fez isso e ouvi dizer que é arte". Em partes, é assim que o próprio filme busca conquistar certo prestígio. The Descendants (EUA / 2011 / 115 min / Alexander Payne) INDICAÇÃO: Quem gostou de Sideways, As Confissões de Schmidt, Beleza Americana. NOTA: 6.5

sábado, 21 de janeiro de 2012

As Aventuras de Tintim


Spielberg nem sempre opera no máximo do seu potencial, mas acho que essa foi a primeira vez que ele me entediou com um filme. Por trás de toda a complexidade técnica da animação, da riqueza de detalhes e de ideias, temos uma história completamente desinteressante, com personagens vazios, um vilão fraco, cheia de flashbacks confusos e desnecessários - pura ação física dissociada de valores.

Não só Tintim é um herói distante, sem personalidade, sem nenhuma característica admirável ou vulnerabilidade, como a história não tem drama, não interessa. Todo o conflito é físico, externo.

Qual a motivação de Tintim? O que ele quer? Por que ele arriscaria a vida numa grande aventura atrás de um tesouro perdido? Ele é apaixonado por arqueologia? Ele precisa desesperadamente do dinheiro? Sua carreira de jornalista está em risco e essa é a última chance de uma boa história? A garota que ele ama foi raptada pelos piratas e ele precisa salvá-la? O vilão é tão terrível que a aventura se torna uma luta abstrata contra o mal? Sua reputação está em jogo? O tesouro é tão especial que isso já justifica tudo? Não.

Em histórias desse tipo, é importante que o "tesouro" do filme seja fascinante o bastante pra prender o interesse da plateia até o final. Um pote de joias é quase sempre um destino frustrante. E mesmo assim, se a busca não tiver um sentido maior pro herói, também não vai ter pra plateia, e o resultado será um monte de movimentação sem propósito, sem nenhuma intensidade ou significado.

Aqui, Tintim sai na jornada por curiosidade, por "espírito aventureiro", mas não é imprescindível - ele poderia simplesmente desistir no meio e voltar pra casa sem perder nada. Não fica nem muito claro sobre quem é a história. Tintim muitas vezes parece coadjuvante numa história que na verdade é sobre seu parceiro - o capitão bêbado e de memória fraca que se mostra um protagonista ainda menos interessante que ele.

Se fosse o Indiana Jones, a história continuaria desinteressante, mas pelo menos estaríamos em boa companhia!

The Adventures of Tintin (EUA, NZ / 2011 / 107 min / Steven Spielberg)

INDICAÇÃO: Quem gosta da série Piratas do Caribe, As Crônicas de Nárnia, Os Fantasmas de Scrooge, A Lenda do Tesouro Perdido, etc.

NOTA: 6.0

sábado, 14 de janeiro de 2012

Precisamos Falar Sobre o Kevin


As sinopses do Guia da Folha e do IMDb entregam o acontecimento principal dessa história, o que pra mim acabou sendo um verdadeiro spoiler - recomendo que não leiam nenhuma sinopse!

Embora o trailer dê a impressão de um filme de terror psicológico, o filme é apenas um drama sobre uma mãe que começa a suspeitar que há algo de errado com seu filho, que desde os primeiros anos de vida parece ser meio desequilibrado e ter uma espécie de maldade inata. Lembra do filme Anjo Malvado com o Macaulay Culkin? É um esboço daquilo, mas sem o suspense, sem as cenas marcantes, e tudo meio pretensioso, com uma roupagem "cult".

Um dos problemas do filme é falta de realismo psicológico. Quando o menino ainda é uma criança pequena a situação até convence. Mas depois que ele se torna adolescente, fica difícil de acreditar que a mãe ainda está começando a descobrir que o menino tem problemas. Ela reage às atitudes dele com cara de surpresa e a gente fica se perguntando: Eles não moram juntos na mesma casa? Isso não é assim todo dia desde que ele era bebê? Por que o distúrbio dele ainda não se tornou uma questão explícita na família? Por que ela ainda não o levou ao psiquiatra?

Além disso nenhum tipo de explicação é dada pro comportamento do menino e pro ódio que ele sente pela mãe. Se estivéssemos falando de Sexta-Feira 13 essas perguntas seriam irrelevantes, mas num drama pretensioso sobre relacionamentos isso se torna importante.

Outro problema é a narrativa fragmentada que fica saltando do futuro pro presente pro passado sem nenhuma razão. Aqui é a diretora tentando substituir estilo por conteúdo. Achando que, ao contar uma história simples de maneira confusa ela a tornará mais interessante ou mais profunda.

We Need to Talk About Kevin (ING, EUA / 2011 / 112 min / Lynne Ramsay)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Reencontrando a Felicidade, Elefante...

NOTA: 4.0