sábado, 10 de março de 2012

Atlas Shrugged: Part I


A Revolta de Atlas é o magnum opus de Ayn Rand e provavelmente o livro americano mais conhecido e influente que ainda não havia sido adaptado pro cinema (o livro é um épico filosófico cheio de ideias polêmicas a respeito de política, economia, ética, sexo; tem mais de mil páginas, foi lançado há mais de 50 anos, e mesmo assim continua em alta e sendo debatido - só em 2009 vendeu mais de 500 mil cópias nos EUA). Esta é sua primeira versão pro cinema, que será lançada em 3 partes (isso SE forem feitas, pois o filme foi muito mal recebido pela crítica).

O livro se passa num futuro indefinido (no filme situaram em 2016, o que eu acho um erro), e mostra o que aconteceria com os EUA se as grandes mentes - empresários, cientistas, artistas; os grandes produtores que carregam o mundo nas costas - começassem a desaparecer misteriosamente. No centro da história está Dagny Taggart, uma mulher determinada que dirige a principal ferrovia do país e luta pra mantê-la em funcionamento enquanto o mundo desmorona (o livro previa a crise econômica americana, e até por isso teve um boom de vendas nos últimos anos).

Por que o livro nunca tinha sido adaptado? Em partes pela complexidade do tema e pelo medo de mexer em algo tão sagrado pra muita gente; mas acho que o real motivo são as ideias controversas do livro. Atlas toca em muitos tabus, temas que todo mundo tem medo de defender. Você pode fazer filmes celebrando traficantes, prostitutas, serial-killers, mas glamourizar empresários, homens individualistas, ateus, isso parece irritar muito mais gente.

Eu sou fã do livro e de Ayn Rand, mas essa primeira parte do filme é um desastre. Não só é fraco como cinema, como não serve nem pra divulgar das ideias de Rand (o diretor é estreante, os roteiristas e produtores não têm nada no currículo de relevante). Pra quem não leu o livro, o filme vai parecer uma série de diálogos confusos, reuniões desinteressantes, personagens secundários que você não sabe quem são ou o que querem - e o filme acaba sem um desfecho, antes mesmo de você entender por que ele começou.

Apesar das teorias econômicas e tudo mais, o que te prende emocionalmente no livro não é nada disso. O livro, no fundo, é sobre uma mulher extraordinária sendo disputada pelos homens mais atraentes e brilhantes do planeta e tendo que escolher entre um deles (imagine o que prende as garotas em Crepúsculo - sem querer fazer comparações entre as obras!). Uma das coisas mais memoráveis do livro são as intensas cenas de sexo - no filme, não há nada disso de paixões grandiosas, etc. Eles simplesmente deixaram de fora a alma da história.

Além disso, o livro é sobre uma mulher que, contra todas as críticas, toma o lugar do irmão no comando de uma grande empresa e precisa se mostrar mais competente que ele, que é um dos grandes vilões da história. No filme, ela já começa dirigindo a ferrovia, como se sempre tivesse feito isso, eliminando todo esse tema da mulher desacreditada que tem que se provar - outro pilar emocional do livro.

Há também o mistério dos gênios que vão desaparecendo da face da Terra sem deixar rastros. Isso o filme até explora, porém muito mal. No livro, a intriga era tão grande que eu me sentia assistindo Lost, Arquivo X ou algo do tipo.

A Revolta de Atlas teria que ser um épico de 3, 4 horas, no estilo de clássicos como Doutor Jivago, E o Vento Levou, Lawrence da Arábia, onde há todo um contexto político, porém o que sustenta a história são os romances, a busca pessoal do herói, etc.

O lado bom é que, agora que já tocaram no intocável, já fizeram uma versão ruim do livro, a pressão diminuiu - quem sabe não encoraja cineastas melhores a produzirem algo à altura.

Atlas Shrugged: Part I (EUA / 2011 / 97 min / Paul Johansson)

INDICAÇÃO: Se você não leu o livro, jamais veja esse filme!

NOTA: 4.0

12 comentários:

Rodrigo E. disse...

Esse foi realmente um fiasco. Temo pelos próximos filmes.
O orçamento dessa primeira parte foi de apenas 10 milhões se ñ me engano. Baixo, muito baixo para uma obra dessa.

Caio Amaral disse...

Oi Rodrigo, você já assistiu? Conhece o livro? Abs!

Rodrigo E. disse...

Já li e assisti. Conheci os trabalhos da Ayn Rand ano passado, achei incrível. Foi tb pesquisando sobre ela q encontrei o seu blog q venho acompanhando faz algum tempo.
A Revolta de Atlas foi uma das melhores leituras q eu já tive na minha vida. Seria difícil o filme ñ me decepcionar. Se bem q com um orçamento tão baixo apenas a conclusão do projeto já é uma vitória.

Caio Amaral disse...

Sim, se o orçamento foi esse mesmo de 10 milhões, então a produção foi muito bem feita, hehe. A cena da ponte achei boa até.

Olha, se você tiver facilidade pra ler em inglês, leia os livros dela sobre arte, principalmente "The Romantic Manifesto" e depois "The Art of Fiction". Me parece contraditório alguém gostar de A Origem e da Ayn Rand, hehe. É tipo gostar de Aristóteles e Platão ao mesmo tempo :-S Abs.

Rodrigo E. disse...

Gostei da cena final, talvez a única q consegue transmitir um pouco do verdadeiro desespero da Dagny do livro.
Infelizmente ñ vai dar, meu inglês ñ é muito bom. Oq eu já li dela até hoje foi A Revolta de Atlas e A Virtude do Egoísmo, d restante foram apenas alguns trechos d livros ñ publicados no Brasil traduzidos na internet. Faz alguns meses q estou a procura d A Nascente, único livro dos três publicados por aqui q ainda ñ consegui ler, mas está difícil d encontrar.
É contraditório, mas são casos diferentes, rs.

Caio Amaral disse...

Aqui no blog eu traduzi trechos do Romantic Manifesto, mas falando sobre Naturalismo e Romantismo, que não é exatamente a discussão sobre A Origem. Teria que ler os textos dela falando sobre "esthetic judgment", "malevolent universe", "sense of life", "subjectivism", "modern art", etc. Tem no site Ayn Rand Lexicon - mas em inglês.. quem sabe jogando no google tradutor né, hehe. Abs.

Rodrigo E. disse...

Sobre subjetivismo lembro d ter lido alguma coisa q ela escreveu.
Acredita q a tradução dos textos desse site pelo tradutor do google ñ estão tão ruins? Dei apenas uma olhada rápida, mas a tradução até parece ter sentido! Outra hora vejo isso melhor. De qualquer forma um dia eu vou ler essas outras obras da Ayn Rand, seja pelo tradutor ou em inglês, rs. Vou precisar aperfeiçoar meu inglês mais pra frente mesmo. Agradeço pela indicação do site, ñ conhecia.

Marcus Aurelius disse...

Uau! um desastre este filme... Deixei pra assistir depois que lesse os três volumes e não me arrependi de adiar a dor. Achei um horror a forma como o filme foi dirigido. Os atores estão bem, mas as decisões do cara que manda na porra toda são um verdadeiro desastre.

O filme entrega o maior mistério do livro logo no começo! No livro eu não sabia se John Galt era uma pessoa concreta ou um símbolo do pensamento "coletivo". Aqui já mostraram nas primeiras cenas que o cara é um detetive de filme noir dos anos 40 (eu achei muito destoada a caracterização de Galt em pleno 2016). E no final entregam a Atlântida também! E a forma que o motor foi descoberto, pra que fazer aquilo?!?!

Nada foi feito direito, absolutamente nada. Os atores principais se esforçam para não parecer que recitam textos decorados, e alguns deles foram muito bem escolhidos, mas aparentam não ter convicção naquilo que estão dizendo, isso afeta muito a dinâmica da cena. (Olha eu, um cara que não fez curso de cinema tentando dar uma de entendido kkkkkk)

Depois de ver esta primeira parte me ocorreu algo: se for pra retratar grandes mentes, gênios, heróis, é necessário que no mínimo a pessoa que está no comando seja uma delas. Isto só prova que Ayn Rand era uma mulher excepcional de grandes feitos e a grandeza do livro só foi possível graças à grandeza dela.

Tu tens a crítica das outras duas partes? Não sei se vale o esforço assistir o resto. A parte final tem 0% no Rotten Tomatoes, menos que "Plano 9" que é considerado o pior do mundo!

Caio Amaral disse...

Marcus, nem precisa ser expert em cinema pra sacar que há algo de errado com esse filme... hehe. Minha nota devia ser até menor, já que inclui a trilogia na lista dos piores filmes. Nos outros 2 os atores vão mudando, inclusive os protagonistas, o que é meio bizarro.. e a adaptação continua a mesma bagunça. Dá essa impressão mesmo que vc falou.. que quem fez o filme estava distante demais do intelecto da Ayn Rand e dos personagens pra poder compreender o material.. tirou todo o peso do livro. abs!

Caio Amaral disse...

(meio arriscado eu dizer isso agora que eu também adaptei uma história dela, kkkk.. mas no The Simplest Thing In the World pelo menos o personagem não é pra ser um grande gênio, rsss)

Marcus Aurelius disse...

Agora não tem perdão Caio, se o curta ficar ruim vai ter que lançar a versão ultimate cut.

Mas não quis dizer que para que um grande industrial seja retratado em tela o diretor tenha que entender de indústrias. Mas que pelo menos saiba traduzir as linguagens, tipo o que aconteceu no filme A Chegada (que discordando de sua crítica, achei fantástico). Não sei se o diretor é um linguística, mas pelo menos ele sabe se comunicar claramente e fez o dever de casa. Diferentemente de um Michael Bay por exemplo que parece que não sabe o que está fazendo e colocou perfuradores de petróleo pra fazer trabalho de gênios da ciência em Armagedom.

Claro que isso são achismos meus.

Quando sai teu curta? o teaser dizia entre outubro/novembro. Você tem 10 minutos para cumprir o prazo.

Caio Amaral disse...

Rs. A parte de línguas do A Chegada eu achei bem interessante também.. mas não o roteiro como um todo (que é do mesmo roteirista de Quando as Luzes Se Apagam, A Hora do Pesadelo (remake) e Premonição 5 - e isso não é um elogio, hehe). O curta já está pronto há alguns dias mas não posso deixá-lo público no YouTube pq vou tentar inscrevê-lo em uns festivais.. se liberar me torno inelegível.. mas se vc tiver conta no YouTube depois me chama no face que te passo um link privado.. :-P