segunda-feira, 23 de abril de 2012

À Toda Prova


Thriller de ação de Steven Soderbergh (Traffic, Onze Homens e Um Segredo) sobre uma agente secreta do governo americano que está numa missão na Europa quando se vê no meio de uma emboscada preparada pelos seus parceiros. Ela consegue escapar, e agora precisa usar todas as suas habilidades pra não ser pega, voltar pros EUA e buscar vingança contra os traidores.

O filme lembra um pouco a série Bourne, com a diferença interessante de ser uma mulher no papel principal. Soderbergh consegue dar um ar sofisticado pro filme, mas não há nada de muito original ou dramático na história, até porque o filme já começa no meio da ação (a gente não sabe exatamente o que está acontecendo, quem é o vilão e por que ela está sendo perseguida). Mas não deixa de ser interessante ver uma mulher atraente sendo caçada e dando porrada em um monte de homens. A protagonista Gina Carano é uma das mais famosas lutadoras de MMA do mundo (artes marciais mistas) e seu desempenho físico é a coisa mais memorável do filme. Há participações de Antonio Banderas, Michael Fassbender, Ewan McGregor e Michael Douglas.

Haywire (EUA, Irlanda / 2011 / 93 min / Steven Soderbergh)

INDICAÇÃO: Quem gostou da trilogia Bourne, Salt, Busca Implacável


NOTA: 6.5

terça-feira, 17 de abril de 2012

Espelho, Espelho Meu


Nova interpretação da história da Branca de Neve, mas que não chega a ser uma paródia e nem uma reinvenção completa. Eles apenas mudaram alguns acontecimentos do conto e acrescentaram humor, transformando a rainha má numa vilã carismática, no estilo dessas de novela. O filme é mais honesto e autêntico do que o trailer dublado sugeria. A direção de arte é rica e o elenco convence; a menina Lily Collins tem presença natural e lembra Audrey Hepburn; Julia Roberts rouba a cena de rainha má e não se sai mal; e não consigo imaginar um príncipe encantado melhor que Armie Hammer (que fez os gêmeos de A Rede Social).

Ainda assim algumas coisas não funcionam. Os anões (feitos por anões reais) aqui são ladrões e não muito gostáveis, o que enfraquece toda essa sub-trama. Além disso, da metade pra frente a história fica entediante e o motivo é o fato do filme começar como uma comédia, não se levando a sério, e depois mudar de ideia e querer proporcionar aventura, drama, romance, sem no começo ter estabelecido relações sérias entre os personagens.


O filme é bem feitinho, mas não chega a satisfazer. E se levar crianças, explique pra elas que a Branca de Neve não é boa por ser a mais bela, e que rainha não é má por causa de seus ângulos ou por ter mais idade. Fica fácil de se confundir.

Mirror Mirror (EUA / 2012 / 106 min / Tarsem Singh)

INDICAÇÃO: Quem gostou de A Ilha da Imaginação, Alice no País das Maravilhas (Tim Burton), As Crônicas de Nárnia.

NOTA: 5.5

Guerra É Guerra


Comédia romântica de ação sobre 2 agentes da CIA (Chris Pine e Tom Hardy) que se interessam pela mesma garota (Reese Witherspoon). Ela resolve marcar vários encontros paralelos pra tentar escolher entre um dos dois, mas não faz ideia de que eles são amigos e muito menos que são agentes secretos. O humor vem da transformação das situações românticas em cenas de espionagem (mais ou menos como em Sr. e Sra. Smith).

Algumas dessas sequências são divertidas e o romance é moderadamente interessante, pois ela precisa decidir entre 2 personalidades diferentes - um é um típico mulherengo - sexy, atraente, porém insensível e sem escrúpulos, enquanto o outro é mais romântico, atencioso, porém menos empolgante. E até o final não é possível prever com quem ela vai ficar, até porque nenhum dos dois é exatamente ideal.

E um dos problemas do filme é que ela também não é nada ideal, se mostrando burra e superficial ao decidir entre os dois (por exemplo, tirando pontos de um por achar que ele tem mãos pequenas!). É uma visão vulgar de romance e o Q.I. médio do filme não chega a inspirar. Mas pra passar o tempo no shopping ou ver no avião é indicável. O diretor McG é o mesmo de As Panteras 1 e 2.

This Means War (EUA / 2012 / 97 min / McG)

INDICAÇÃO: Quem gostou de RED - Aposentados e Perigosos, Sr. e Sra. Smith, A Mexicana, As Panteras, etc.

NOTA: 4.5

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Jovens Adultos


Da mesma roteirista de Juno, o filme é um drama cínico sobre Mavis Gary (Charlize Theron), ex-garota popular do colégio, agora com trinta e tantos anos e frustrada com a vida, que resolve voltar pra cidade onde cresceu na expectativa de reconquistar seu namorado de colegial (Patrick Wilson), que está casado e acabou de ter um filho.

Quando era mais nova, Mavis se achava especial demais pro lugar medíocre onde vivia e foi buscar aventura na cidade grande. Desencantada, ela volta pra tentar a vida "simples" e "normal" que abandonou, pois lá as pessoas parecem ser "tão felizes, com tão pouco".

Ela quer voltar com o ex não porque ela o ama de verdade, mas porque ele a conheceu no seu auge. Ou seja, ela precisa dele pra resgatar algum senso de valor próprio. Sua confiança não tem base na realidade, mas no que os outros veem nela. Realidade é o que os outros pensam. Quando ela está pra baixo, ela vai pra cama com um homem que despreza e assim se sente superior. Quando ela se sente fracassada, ela volta pra sua cidadezinha e ganha confiança ao perceber que existem fracassados ainda maiores que ela. Tudo é baseado em comparações e no que os outros pensam, não em fatos.


O filme tenta criar uma personagem desajustada porém gostável, "cool" em suas próprias falhas. Só que ao tentar fazer dela alguém gostável - uma mulher desequilibrada, imatura, insegura, triste e mais pro fim inconveniente e antiética, o filme acaba SE tornando desagradável no processo (mostrar algo negativo de forma positiva resulta em algo negativo).

Ou seja, não gosto da história, mas a caracterização bem feita e a performance de Charlize tornam o filme interessante.

Young Adult (EUA / 2011 / 94 min / Jason Reitman)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Juno, Amor Sem Escalas, O Casamento de Rachel.

NOTA: 6.0

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Titanic em 3D


Há toda uma geração que não viveu o fenômeno de Titanic no final dos anos 90 (um evento que ainda não se repetiu no cinema) e muitos adolescentes ainda nem viram o filme. Na última década as pessoas se habituaram a um nível tão inferior de entretenimento que qualquer coisa um pouco mais ambiciosa já ganha status de fenômeno cultural. Então é muito bem vindo um relançamento como esse (agora em 3D e também em IMAX, com qualidade técnica superior à do lançamento original), pra relembrar as pessoas do que os filmes podem ser - que é possível ser inteligente, original, tecnicamente brilhante, autoral, sério e ao mesmo tempo inspirar, divertir e projetar valores positivos - integridade, independência, ambição, felicidade - em vez de cinismo, naturalismo e as contradições comuns nos filmes chamados de "entretenimento" hoje em dia.

O filme todo mundo conhece e tem tantos méritos que não consigo cobrir todos em alguns parágrafos. Mas dessa vez vi todo o filme focado num ponto específico - a história de Rose; uma garota da alta sociedade, ainda com algum resquício de individualismo, mas que está quase sucumbindo às pressões sociais; aos valores falsos e às tradições superficiais de sua família e cultura - e que é salva (de diversas formas, como aponta a velhinha) por um rapaz pobre numa viagem tanto física quanto simbólica à América.

Notem como o tema é bem integrado à trama, à ação física, aos personagens, e como ele é concretizado nos conflitos e em cenas brilhantes como a do primeiro beijo: Rose, ao ver uma garotinha sendo "catequisada" pela mãe - treinada pra se tornar mais uma do grupo, pra se submeter às expectativas da sociedade - tem um sentimento profundo de alienação e finalmente decide se entregar a Jack, na clássica cena da proa, num "vôo" rumo à Estátua da Liberdade - e à sua própria independência, felicidade, abandonando a prisão de uma cultura que ela despreza.


Muita gente diz que o romance de Titanic é "brega", "fútil", "superficial", quando não há nada de superficial aqui - o romance de Rose e Jack é tão detalhado, bem caracterizado, psicologicamente convincente quanto deveria ser. Nós acompanhamos cada etapa do romance com absoluta clareza; cada expressão no rosto, cada diálogo, cada ideia que caracteriza o processo de encantamento de uma pessoa por outra (vemos eles descobrindo que têm opiniões compatíveis sobre arte, o mesmo senso de humor, que gostam do mesmo tipo de diversão, ou seja, que têm a mesma visão de mundo) - tudo é muito consistente com o caráter de cada um e com o tema do filme - e o naufrágio não é apenas uma ação vazia; serve pra intensificar o conflito e forçar Rose a tomar decisões importantes.

O que as pessoas querem quando dizem "superficial" na verdade é fazer um protesto contra a visão benevolente, não-trágica, não-melancólica de amor que o filme projeta e que a maioria das pessoas abandonou em algum ponto da juventude, depois de muitas decepções - um amor ligado à admiração, ao compartilhamento de ideais positivos. Essas pessoas geralmente passam a considerar um filme trágico, melancólico, essencialmente mais profundo e significativo do que um otimista - não por ele ser mais elaborado, por ter mais realismo psicológico, por ser ilustrado com mais riqueza de detalhes, mas pelo simples fato de ser trágico.

(Não confundam o fato de Jack morrer com a ideia de tragédia - ele morre heroicamente, lutando por seus valores. O relevante é que ele existiu e que, depois dessa experiência, Rose não pode descer de volta ao mundo em que vivia - Jack morre mas seus valores vencem e sobrevivem nela, que é o que ouvimos em "My Heart Will Go On".)

Recomendo fortemente assistir em IMAX 3D - a sequência do naufrágio continua sendo uma das mais espetaculares já filmadas.

Titanic (EUA / 1997 / 194 min / James Cameron)

NOTA: 10.0

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um Método Perigoso


Drama histórico dirigido por David Cronenberg (A Mosca, Marcas da Violência) que mostra o nascimento da psicanálise. A história foca na amizade turbulenta entre Carl Jung (Michael Fassbender) e Sigmund Freud (Viggo Mortensen, em seu 3º filme com Cronenberg), e no relacionamento de Jung com Sabina Spielrein (Keira Knightley), inicialmente sua paciente, mas que depois se torna uma das primeiras mulheres psicólogas.

Quando você tem personagens fascinantes no meio da sua história (e você os caracteriza direito) fica muito difícil arruinar o filme completamente. Lembrei de David Lean que dizia que gostava de fazer filmes sobre personagens com quem ele gostaria de sair pra jantar. Concordo, e o filme começa bem por isso - não há 1, mas 3 personagens interessantes e bem caracterizados na história (o mínimo que se espera de um filme sobre psicanálise!).

Não apoio 100% as ideias deles, principalmente as de Freud que tinha uma visão bem determinista do homem. Jung já parecia acreditar no livre arbítrio e achava possível ajudar os pacientes, não queria apenas desvendar as origens de seus problemas, queria tentar corrigí-los (sou fã dos estudos dele sobre personalidades e arquétipos).

Em termos de estilo é um filme simples, direto, sem muita pretensão, que prende pelo conteúdo e pelos personagens (o elenco todo convence; só a Keira se fazendo de louca no começo que é um pouco exagerado e entra em conflito com a elegância natural que ela transmite).

A Dangerous Method (Alemanha, Reino Unido, Canadá, Suíça / 2011 / 99 min / David Cronenberg)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Criação, Kinsey - Vamos Falar de Sexo, O Homem Elefante, Freud Além da Alma, etc.

NOTA: 7.5