domingo, 29 de junho de 2014

O Grande Hotel Budapeste (anotações)

- Direção de arte espetacular (como em muitos filmes do Wes Anderson)!

- Imagens sempre simétricas chamam atenção demais pro estilo e distraem a gente do conteúdo do filme. Anderson deve ser fã do estilo de fotografia do Kubrick (imagens simétricas, zooms rápidos e repentinos, formato 4:3 - sem falar que o Hotel Budapeste remete ao Hotel Overlook de O Iluminado). Mas Kubrick não usava imagens simétricas o tempo todo. Seu foco era sempre a história, o conteúdo, e o estilo vinha pra servir à história - a forma estava em harmonia com o propósito das cenas. Aqui, a forma tem uma vida própria e passa por cima do conteúdo. O diretor usa zooms, movimentos bruscos de câmera, etc, tudo aleatoriamente, apenas pra ser "estiloso".

- História é Naturalista e pouco envolvente. Por que é importante pro personagem principal (e pra plateia) ouvir a história de vida do dono do hotel? Não há uma grande motivação. Além disso, a história que ele conta não é tão fantástica assim. São apenas episódios curiosos da juventude dele, mas sem uma grande mensagem por trás ou uma ideia importante.

- Filme retrata praticamente todos os personagens de maneira caricata, cínica, tornando eles distantes e levemente ridículos (os figurinos, os enquadramentos simétricos, os inúmeros bigodes engraçadinhos, a mancha no formato do México no rosto da menina - tudo trabalha pra diminuir a estatura dos personagens).

- Ausência de emoção parece ser uma meta do filme. A história não tem conflitos sérios, momentos dramáticos, surpresas, envolvimento, etc. Intelectualmente o filme também não tem muito a dizer. A experiência se resume a dar pequenas risadinhas enquanto vemos cenários bonitos. Também não chega a ser uma comédia (as risadas do público geralmente vêm de atitudes inapropriadas, que revelam que o filme e os personagens não se levam a sério).

CONCLUSÃO: Às vezes não me incomoda um filme ser pouco emocionante quando ele é muito inteligente (ou um filme ser pouco inteligente quando ele é muito emocionante). Mas não vejo muita graça num filme que não pretende nem ser emocionante, nem ser inteligente, e tem estilo como o seu maior objetivo.

(The Grand Budapest Hotel / EUA, Alemanha / 2014 / Wes Anderson)

FILMES PARECIDOS: Moonrise Kingdom, Viagem a Darjeeling, etc.

NOTA: 4.0

5 comentários:

Stella disse...

Vou ter que conferir! Hoje mesmo um amigo me fez rasgados elogios a "Moonrise Kingdom".

Caio Amaral disse...

Oi Stella! Tenho uma relação parecida com os filmes desse diretor.. Alguns gosto um pouquinho mais, outros um pouquinho menos, mas surge sempre essa questão do estilo superar o conteúdo, de não haver um enredo forte, dos personagens serem retratados com cinismo, etc.

Isabela F. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isabela F. disse...

Olá Caio!
Primeiramente, sou fã do seu blog e sempre acompanho as postagens e hoje resolvi procurar sobre o que você achou de "O Grande Hotel Budapeste". E muito me admirei. Por que me senti completamente diferente em relação ao filme. Realmente achei que o diretor faz muita questão de ser estiloso em excesso abusando do estilo Kubrick de ser, e que em alguns momentos do filme isso chamou mais atenção do que a história. Mas achei o filme extremamente emocionante, ri e chorei, adorei a sensibilidade como o roteiro tratou da mocinha feia namorada do garoto. Gostei também do link que o filme faz com um outro filme que amo desse diretor, animação "O fantástico sr. Raposo".
Achei também que o excesso de estilo do diretor na composição foi algo benéfico para o filme, pois ajudou na arte, ou de distrair o público para a imersão em uma realidade que não a sua. Tirando que, os personagens, além de ter ganho minha simpatia por inteiro, os atores tiveram boa atuação.
O que me incomodou, foi que acho que o estilo "naturalista" do filme combine com o excesso de detalhe. E ainda, me lembrar imensamente de "O cinema Paradiso" fazendo quase que uma adaptação mais hollywoodiana do filme.
Concordei em número, gênero e grau com a suas anotações de Birdman.

Caio Amaral disse...

Olá! Realmente eu sou exceção por não ter curtido muito esse filme.. mesmo assim, eu nunca tinha ouvido alguém falar que achou o filme extremamente emocionante! Mesmo quem gostou do filme. Vc teria que me explicar isso melhor, hehe. Emocionalmente o filme me pareceu bastante suave, do tipo que no máximo provoca risadinhas discretas na plateia. Em termos de personagens.. eles não me parecem pessoas reais, com personalidades reais, apenas corpos pra preencher os figurinos, os bigodes e os cenários do filme, e fazer expressões caricatas pra dar um ar meio ridículo pra tudo.. não consegui me identificar.. mas é um filme que gostaria de ver de novo pra ver se enxergo por outro ângulo..! Tks pelos comentários!!