segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O Protetor

- Denzel é apresentado como um homem comum, mas não totalmente comum: ele é responsável, trabalhador, organizado, culto, generoso, querido pelos amigos. O prólogo estabelece ele como um cara forte e confiável.

- Legal o diálogo dele com a prostituta. Passamos a vê-lo como um homem triste, que deve ter passado por alguma experiência traumática no passado, e agora vive no piloto automático, apenas seguindo sua rotina, mas sem curtir a vida de fato. A plateia sente que ele poderia ser muito mais do que está demonstrando - e agora a gente quer ver esse "muito mais".

- Interessante o conceito. Ele é meio que um Batman - um cara íntegro fazendo justiça com as próprias mãos.

- Conflito simples entre bem e mal. Os vilões são extremamente caricatos (mafiosos russos mal-encarados com caveiras e demônios tatuados pelo corpo - falta só um tapa-olho e uma cicatriz na bochecha!).

- SPOILER: Cena em que vemos o Denzel matando todo mundo pela primeira vez: que absurdo, ele não tem esse direito!!! Uma coisa é fazer justiça, outra é sair por aí matando todo mundo que não esteja de acordo com a lei - e ainda sem ter grandes provas contra as vítimas. Ele perdeu boa parte da minha simpatia agora. Não é um filme sobre valores, sobre justiça, está parecendo mais uma desculpa pra mostrar machões dando porrada... Um culto à violência (o roteirista é o mesmo de Mercenários 2 - o que explica muita coisa).

- Assim como o Batman, falta uma motivação melhor pra ele querer fazer justiça. O que ele de fato ganha com isso? Parece que é só pra descarregar sua raiva da humanidade.

- Habilidades dele são muito forçadas! Uma coisa é um filme como Missão: Impossível, onde a gente já espera coisas exageradas e pouco realistas. Outra coisa é um filme sombrio e violento que quer se passar por sério. E como ele está sempre com tudo sob controle, a gente nem vibra muito... Ele parece invencível, incapaz de qualquer erro.

- SPOILER: O final parece inspirado em Esqueceram de Mim (McCall = McCallister????). Mas não estou achando divertido ver o Denzel torturando os criminosos com suas armadilhas. Parece que ele sente um prazer sádico em matar (e o espectador também). É diferente de quando o protagonista está agindo em auto-defesa apenas - e quando o filme constrói vilões realmente detestáveis, o que não acontece aqui, por serem personagens tão caricatos.

CONCLUSÃO: Pouco original mas dirigido com energia e competência. Infelizmente, o caráter questionável do protagonista diminui o aproveitamento da história.

(The Equalizer / EUA / 2014 / Antoine Fuqua)

FILMES PARECIDOS: Invasão a Casa Branca, Os Mercenários, Busca Implacável, O Fim da Escuridão, Dia de Treinamento.

NOTA: 6.0

Mesmo Se Nada Der Certo

- Personagem do Mark Ruffalo é meio loser e inconveniente. Espero que melhore ao longo do filme.

- Elenco bom, boas caracterizações. Personagens convencem e parecem tridimensionais.

- Muito legal isso de começar na cena do bar, e depois voltar no tempo pra mostrar o contexto de cada personagem até chegar naquele ponto.

- Muito criativa a cena dele imaginando a canção dela com outros instrumentos no arranjo.

- Filme tem muito do naturalismo, mas também tem muitos elementos românticos. Os personagens no geral são admiráveis, têm um objetivo claro no filme, etc. É um caso misto.

- SPOILER: Adam Levine está convincente como ator! A cena em que a Keira descobre a traição dele através da nova composição é fantástica! Adoro que o filme usa essas ideias musicais como forma de contar a história (como nessa cena, ou na do Mark imaginando os instrumentos tocando sozinhos). Integração.

- As músicas do filme não são exatamente o meu estilo, mas são bem compostas.

- Boa a sacada de gravar um álbum ao ar livre. Além de cinema e música, esse diretor parece ter uma ótima noção de marketing também.

- SPOILER: Interessante que o filme tem muito potencial pra ser um romance, mas ele parece resistir esse caminho. O óbvio seria o Mark e a Keira começarem a se apaixonar, mas o filme já passou da metade e eu não tenho certeza que isso irá acontecer (o ex dela também é um personagem gostável apesar da traição, então não seria um final frustrante se eles voltassem também).

- Os personagens são tão pretensiosos que eles consideram "As Time Goes By" algo brega - um "guilty pleasure". Nisso eu não me identifico em nada com eles.

- Legal a ideia dela de mandar a música pro ex pela caixa postal (mais uma vez o filme usa música de forma narrativa).

- SPOILER: "Lost Stars" - ótima música e ótima cena. Fim é meio ambíguo (em relação ao romance), mas não chega a ser um final aberto, pois temos a sensação de que Keira e Mark foram bem sucedidos no projeto e encontraram um rumo pra carreira deles.

CONCLUSÃO: Drama leve e talentoso com um roteiro inteligente, bons atores e boas músicas.

(Begin Again / EUA / 2013 / John Carney)

FILMES PARECIDOS: As Vantagens de Ser Invisível, 500 Dias com Ela, Apenas Uma Vez.

NOTA: 7.5

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Rio, Eu Te Amo (anotações)

Dona Fulana: Performance carismática da Fernanda Montenegro. / Não gosto que o filme glamouriza a mendiga, como se ela fosse uma pessoa mais sábia e livre por não se apegar a bens materiais. / Final inconclusivo (não há uma história, apenas a apresentação de uma personagem). Nota: 4.5

La Fortuna: Roteiro, diálogos e direção de atores muito amadores! / Relacionamento nada convincente dos dois. / Cena forçada dela dançando na praia. Qual o propósito disso? / Filme é um ataque ao personagem da mulher, que representa "dinheiro e ganância", mas a discussão é extremamente superficial. Nota: 1.0

A Musa: Bizarra essa montagem das pessoas na calçada com trilhas "personalizadas". / O que está acontecendo?? Por que esse monte de pés? Ele tem um fetiche? / Filme coloca estilo acima de conteúdo. Nota: 2.0

- A história do Márcio Garcia é interrompida no meio? Não estou entendendo essa estrutura.

Acho que Estou Apaixonado: O que tem a ver esse tubarão de plástico com o Pão de Açúcar?? / O que tem a ver o fato dele ser um popstar com querer escalar o morro sem proteção? / Ridícula essa ideia da Bebel Gilberto flutuando. Não faz nenhum sentido esse filme! Nota: 0.0

- Detesto esses flashes de outras histórias que aparecem entre os curtas! Não dá pra saber onde algo começa, onde termina, até porque as histórias em geral são confusas e inconclusivas.

Quando Não Há Mais Amor: Direção de atores ruim. / Personagem do John Turturro é desagradável e o relacionamento também. / Por que o filme vira um musical de repente? / Retrato raso e chato de um relacionamento falido. Nota: 0.0

Texas: Meio falso o cara com 1 braço ganhar as lutas. Teria que ser muito bem filmado pra convencer, mas mal enxergamos o que acontece. / Proposta do gringo muito sem noção, não dá pra acreditar que alguém faria isso só porque a mulher lembra uma outra fisicamente. / Péssimo apresentar uma trama dessa e acabar sem mostrar o final!! Nota: 3.0

- Interessante o filme se chamar Rio, Eu Te Amo e as histórias serem sobre: mendigos, relacionamentos falidos, personagens detestáveis, pessoas paralíticas, sem braço, etc.

O Vampiro do Rio: Fotografia melhor que a dos outros curtas. / O garçom é um vampiro?? O que tem a ver? / Simplesmente estranho e constrangedor! Nota: 0.0

Pas de Deux: Fotografia legal, bons atores. / Interessante a cena da dança com as sombras. / Inconclusivo mas o melhor até agora. Nota: 5.0

Inútil Paisagem: Ótimas imagens aéreas do Rio! / Engraçada a discussão com o Cristo, Wagner Moura está divertido. / Meio sem propósito, mas pelo menos é despretensioso e divertido. Nota: 5.0

- Ué, vai voltar a história do vampiro?? Ou é só uma cena extra??? E a história da Cláudia Abreu? Só serve de transição? Que bagunça terrível!!

O Milagre: Divertida a premissa do garoto esperando a ligação de Jesus. / Ator mirim muito fofo e espontâneo. / Legal a ideia da mulher tirar a foto pra pegar o número do orelhão. / Legal o final - esse é o único com uma história bem estruturada e um bom final. Nota: 6.0

CONCLUSÃO: Curtas em geral muito fracos, incompreensíveis, e a ideia de apresentar as histórias de maneira fragmentadas só torna a experiência mais confusa e irritante.

(Rio, Eu Te Amo / Brasil, EUA / 2014)

FILMES PARECIDOS: Paris, Te Amo / Nova York, Eu Te Amo

NOTA: 2.0

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (anotações)

- Muito bons os créditos iniciais homenageando faroestes antigos!

- Não acho Seth MacFarlane carismático como ator e isso pra mim compromete o filme. Ele não convence fazendo esse tipo loser / covarde, como se fosse um Woody Allen. Ele podia ter se contentado em ser "apenas" o roteirista, diretor e produtor do filme (ou criado um personagem diferente que funcionasse melhor pra ele como ator).

- As paisagens são lindas...! Parece até que o Seth queria fazer um faroeste de verdade, e não uma paródia.

- Muito boa a prostituta "inocente" feita pela Sarah Silverman! Rs. Melhor personagem.

- Muitas piadas de banheiro desagradáveis.

- O roteiro é criativo e cheio de ideias, mas a história em si não é muito interessante (o romance não empolga, etc). Um pouco pelo fato do personagem do Seth não ser dos mais gostáveis. Algo soa frio e artificial na performance dele, como se o filme todo fosse uma "ego trip" e não uma tentativa genuína de divertir a plateia.

- Haha, fantástica a homenagem ao De Volta para o Futuro 3!!

- O filme às vezes parece não saber se quer ser uma aventura real ou uma paródia. Essa mistura pra mim arruína tudo. Seth MacFarlane deve sofrer de Idealismo Reprimido - é como se no fundo ele quisesse ser o herói de um faroeste de verdade, mas como ele é cínico demais (ou tem baixa autoestima) ele esconde isso atrás do humor (mais cedo no filme ele disse a frase reveladora: "eu não sou um herói, eu sou o cara na multidão tirando sarro da camisa do herói"). O problema é que ele termina com um personagem que não é nem patético o bastante pra gente rir dele, nem admirável o bastante pra gente torcer por ele.

- Nível das piadas não é sempre bom (a "viagem" de drogas dele com os índios é particularmente sem graça).

CONCLUSÃO: MacFarlane é criativo e competente como diretor e roteirista, mas deu um passo maior que a perna querendo ser também o astro do filme.

(A Million Ways to Die in the West / EUA / 2014 / Seth MacFarlane)

FILMES PARECIDOS: É o Fim, Ted, O Ditador, Cowboys vs. Aliens.

NOTA: 4.5

domingo, 21 de setembro de 2014

Maze Runner: Correr ou Morrer (anotações)


NOTAS DA SESSÃO:

- Muito interessante o começo sem introdução, já no meio de um clímax! Funciona pois o personagem está com amnésia, ou seja, tão perdido quanto a plateia.

- Produção de primeira (gostei da fotografia - tem uma cara mais natural, não tem cara de vídeo game como eu imaginava). Ator funciona bem.

- Premissa lembra muito o filme Cubo. E também Lost e Jogos Vorazes, obviamente. A intenção é boa mas a história parece muito pré-fabricada (o novato que é o "escolhido" e vai desafiar o sistema, etc). É como se o roteiro estivesse seguindo um manual básico de como criar um sucesso adolescente.

- Ótima a primeira cena da "aranha". Bem tensa!!! Toda a ação do filme é especialmente bem dirigida.

- Esse labirinto é visualmente incrível. Chega a ser um ambiente mais interessante que o do Jogos Vorazes na minha opinião. Ótimo design de produção. O filme só não é melhor que o Jogos porque o protagonista não é dos mais carismáticos - talvez por não ter vulnerabilidades. Ele está sempre 100% confiante, preparado. As caracterizações são meio rasas, sem muita psicologia.

- SPOILER: A trama vai ficando cada vez mais interessante. O final é bem envolvente quando eles acham a saída do labirinto.

- SPOILER: Explicação frustrante no final para o motivo deles terem construído o labirinto. Será que teriam gasto bilhões numa estrutura daquele tamanho, só pra entender o comportamento de algumas pessoas? É muito forçado. Também me pareceu meio forçada essa aparição surpresa do "vilão" no fim, e a morte do Chuck. Ele nem era um personagem tão central pro protagonista ter uma reação tão desesperada.

- SPOILER: Ainda assim o filme termina numa nota alta, com a reviravolta final e o gancho pra parte 2.

CONCLUSÃO: Sem dúvida o melhor "descendente" de Jogos Vorazes até agora.

(The Maze Runner / EUA / 2014 / Wes Ball)

FILMES PARECIDOS: O Doador de Memórias, Divergente, Jogos Vorazes.

NOTA: 7.5

domingo, 14 de setembro de 2014

O Doador de Memórias (anotações)

- O protagonista é atraente, especial, "enxerga" mais que o normal, etc. Brenton Thwaites é simpático e parece certo pro papel.

- Muito bonito o visual preto e branco do começo! Produção é mais sofisticada do que eu esperava.

- O filme é uma crítica ao comunismo? Interessante. E é incrível ele sugerir que a motivação dos criadores da comunidade não é a de promover o bem estar, a felicidade, e sim acabar com a inveja, impedindo qualquer um de se sobressair (o que na minha visão corresponde à realidade).

- História lembra muito Divergente. Não sei que livro veio primeiro, mas o filme acaba perdendo uns pontos em originalidade (lembra Jogos Vorazes também, claro).

- SPOILER: Demais a cena que ele vê o pôr do sol colorido pela primeira vez. Todas essas cenas dele descobrindo como a vida poderia ser melhor são ótimas (e com as emoções positivas também podem surgir as negativas, o que é uma boa observação). A ideia de ir acrescentando cor aos poucos na fotografia também é um toque inteligente de direção.

- SPOILER: Forte a cena do sacrifício do bebê (e sem apelar pra violência).

- O filme "escapa" da discussão política tornando a história um conflito entre pessoas a favor de emoções e pessoas contra emoções (e não pessoas a favor da liberdade, do estado, etc). Claro que ninguém na plateia vai ser contra emoções, então o filme acaba sendo mais universal - e um pouco mais óbvio (é interessante notar que, no campo da arte, o Naturalismo parece também ter esse desejo de eliminar emoções).

- O romance com a garota não funciona muito, pois como ela não sente emoções (está vivendo dentro do sistema), nós na plateia vemos ela como um robô quase. Alguém sem personalidade, vida, etc. Sinto falta de mais personagens "acordados" no filme, juntos com o herói.

- A premissa de que ninguém sente emoções enfraquece o filme de certa forma. Pois nem os vilões (Meryl Streep, policiais) conseguem ser muito interessantes, já que eles não sentem nada muito forte. O filme tenta driblar esse problema fazendo a Meryl interpretar com cara de ódio (o que contradiz a premissa), mas não é o mesmo que ter um vilão realmente mau, que quer destruir o herói, não está apenas sendo "correto".

-  SPOILER: Meio irreal o Brenton pular penhascos com esse bebê, atravessar nevascas, etc.

- Ação no final (toda a parte dele fugindo) não envolve muito. Ele não tem grandes obstáculos e a meta dele não é muito empolgante pois não nos importamos pelos outros personagens da história.

- SPOILER: Não entendi por que o bebê representa o futuro, já que a memória voltou pra todo mundo. E o que é essa casa no final? Existem pessoas vivendo fora da comunidade? Achei que ficaram coisas mal explicadas.

CONCLUSÃO: Pode frustrar quem espera uma discussão ideológica mais explícita, mas é um entretenimento bem feito e bem intencionado. Apesar das semelhanças com outros filme recentes, consegue ter sua autenticidade.

(The Giver / EUA / 2014 / Phillip Noyce)

FILMES PARECIDOS: Divergente, Jogos Vorazes, Ender's Game.


NOTA: 7.0

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Se Eu Ficar (anotações)


- Idealismo: filme apresenta os protagonistas como jovens especiais, admiráveis.

- Chloë Grace Moretz é uma das atrizes mais naturais da nova geração. Não é à toa que está em tudo que é filme. O garoto também foi boa escolha - os personagens soam autênticos. Acho legal a convicção que ele passa de que ela é a pessoa certa.

- SPOILER: Interessante a estrutura do roteiro: o romance sendo contado em flashbacks enquanto ela tenta sair do coma.

- Meio do filme não é dos mais envolventes. Faltam objetivos e conflitos mais fortes. Em relação ao coma, ela não tem muito o que fazer. Já nos flashbacks, o romance parece estar indo de vento em popa - o único problema é ela querer ir pra Nova York, o que não é tão preocupante assim. 

- Boa a cena da audição na Juilliard. Chloë parecia estar tocando mesmo (pra quem é leigo)!

- Término do namoro não é dos mais dramáticos (é óbvio que eles irão voltar depois, o problema não é tão sério assim). 

- SPOILER: Fofa a cena dele tocando música clássica pra ela no hospital, e depois a música nova que ele escreveu. 

- SPOILER: No final, a gente chega a achar que ela pode morrer mesmo, o que aumenta o suspense (é legal que, apesar do filme sugerir a ideia de vida após a morte, a abordagem não é nem um pouco religiosa). 

CONCLUSÃO: Retrato leve e honesto de um romance adolescente idealizado.

FILMES PARECIDOS: A Culpa É das Estrelas, A Saga Crepúsculo, P.S. Eu Te Amo. 

NOTA: 6.5

sábado, 6 de setembro de 2014

Hércules (anotações)

- Mentalidade Clichê - filme segue todas as regras dos filmes épicos atuais (300, Pompéia, Fúria de Titãs, Conan, etc). Desde a fotografia, até as peças de figurino meio "Beyoncé" que cobrem 1 ombro só, protagonistas bombados, aquela "nevinha" branca que tinha no Gladiador, o casting do Rufus Sewell como coadjuvante, etc. Pouco criativo, sem ideias interessantes.

- Protagonista não tem uma grande motivação pessoal. Vai à guerra pra cumprir o seu dever.

- Geralmente não gosto de filmes que tratam guerras, batalhas, como coisas positivas, grandes aventuras. Tem gente na história se disfarçando pra poder ir pra guerra, como se fosse uma viagem pra Disney! Não me identifico. O filme teria primeiro que ter criado uma motivação: derrotar um vilão detestável já introduzido na história, ou recuperar uma reputação perdida, etc.

- Dwayne Johnson se sai melhor em papéis cômicos, eu acho. Aqui ele precisaria projetar mais sabedoria, autoridade, e acaba não sendo tão convincente.

- Cenas de batalha pouco empolgantes. Lembra o que falei de Mercenários 3: o grande "barato" do filme parece ser essas cenas onde os personagens chegam num ambiente e matam dezenas de inimigos com facilidade. Não é muito divertido. Parece fácil, e é tudo muito previsível, sem drama (há sempre a cena em que o herói está encurralado, e no último momento o vilão é morto por trás, por um amigo que estava fora de quadro).

- SPOILER: Que pena o Hércules destruir essa estátua gigante e linda só pra mostrar sua força... Será que isso está na história original? Acaba sendo meio simbólico e revelador... esse descaso com a arte e a super-valorização do músculo.

CONCLUSÃO: Não há nada de extremamente errado com a produção, exceto o fato de tudo ser pouco original, memorável, envolvente, etc.

(Hercules / EUA / 2014 / Brett Ratner)

FILMES PARECIDOS: 300 / Mercenários / Pompéia / Conan, o Bárbaro (2011)

NOTA: 4.5

Mentalidade Clichê

(Capítulo 25 do livro Idealismo: Os Princípios Esquecidos do Cinema Americano)

Às vezes um filme não tem nenhum defeito óbvio em termos de narrativa, produção, conteúdo, mas, por falta de originalidade e autenticidade, acaba perdendo todo o seu impacto. Pra mim, isso acontece sempre que percebo que o filme está funcionando com base em uma mentalidade clichê — quando tudo o que surge na tela parece uma imitação: algo baseado em fórmulas, convenções, desde elementos grandes como o tema do filme, os valores básicos da história, até detalhes mais específicos e técnicos, como o estilo de edição ou o tratamento da imagem.

Você não precisa ser 100% inovador em tudo numa obra para ser autêntico e interessante (exemplo absurdo: fazer um filme num formato de tela redondo, em vez de retangular, só para não ser convencional). Um formato diferente de tela poderia até ser justificável em algum caso especial, mas, em geral, apenas chamaria atenção para o estilo e distrairia o público do conteúdo do filme. Certas convenções são apropriadas, têm uma razão de existir, e, a não ser que você tenha um motivo especial, não há por que querer quebrá-las.

Familiaridade também pode ser algo muito bom e útil. Pode facilitar a comunicação com o espectador e deixar a plateia à vontade para embarcar na sua história, criando um ambiente conhecido, se essa for a sua intenção (nem todo cineasta quer ser transgressor, causar estranhamento, e não há nada de errado com isso).

Mas há uma grande diferença entre usar convenções a seu favor, de maneira consciente (para facilitar a comunicação ou criar familiaridade), e usá-las em todos os aspectos do filme sistematicamente. Eu, por exemplo, adoro filmes de gênero, e se fosse cineasta adoraria fazer um terror slasher, ou um suspense estilo Hitchcock. Para criar essa atmosfera, certamente eu usaria algumas convenções (como o estilo de fotografia ou de trilha sonora). Há muita diversão nisso. Mas, se você tem um mínimo de autoestima como artista, você vai querer deixar a sua marca e expressar a sua individualidade ali, trazendo ideias originais e elementos diferentes para a obra.

Quando um artista é honesto e independente, seu trabalho já tende a expressar autenticidade, mesmo quando ele tem um gosto popular, comercial — pois seria impossível a verdade de um artista bater exatamente com todas as convenções do momento. Se você for fiel aos seus valores, uma coisa ou outra vai acabar saindo da norma, e isso soará autêntico. É necessário um esforço enorme para estar em sintonia com todos os modismos do momento, e é preciso abrir mão de toda sua personalidade e do seu senso crítico.

Quando um filme apenas segue as convenções, se baseia em clichês, deseja apenas se enquadrar, ele acaba não causando emoções fortes no público. Emoções vêm da percepção de valores em uma obra, mas, para que esses valores realmente sejam projetados, para que eles “imprimam” no espectador, a obra precisa sair do lugar comum, ir além do padrão, do esperado. Por exemplo: há algumas décadas atrás, usar tatuagem era um sinal de rebeldia, e se você aparecesse num ambiente público tatuado, isso iria causar certas reações e emoções nas outras pessoas. Agora, hoje em dia, tatuagem se tornou algo bem mais convencional — quase o esperado para uma pessoa jovem. Portanto, se você quiser projetar rebeldia e causar uma reação forte nos outros, você terá que ir além do clichê, fazer algo mais ousado que o resto das pessoas, se não a mensagem se perderá.

Como disse, nem todas as convenções são irracionais e inúteis, por isso, devemos ficar desconfiados também daqueles cineastas que tentam inovar absolutamente em tudo, pois eles estão se mostrando igualmente dependentes — eles não estão tomando decisões baseados no que acham bom ou ruim, no que funciona ou não funciona, mas pegando o convencional como critério e fazendo exatamente o oposto só para mostrar que são rebeldes.

Diante das milhares de decisões importantes que um diretor deve tomar durante uma produção, ele deveria se perguntar: “Qual a melhor forma de gravar essa cena?”, “Que técnica terá um resultado mais eficiente?”, “O que servirá melhor ao propósito desta história?”. Ele é quase como um cientista, consultando a realidade e seus valores para resolver cada problema. Já alguém com uma mentalidade clichê se pergunta: “Como isso é feito por outros diretores?”, “Como isso é feito na atualidade?”, “Como essa cena pode se parecer com a cena do filme X?”. Ele não tem princípios firmes, noções independentes de certo ou errado, bonito ou feio — ele precisa consultar as tendências e os outros cineastas o tempo todo para tomar qualquer decisão.

Geralmente são filmes de estúdio que adotam essa mentalidade, pois muitos têm interesses puramente comerciais e não querem assumir grandes riscos, portanto, repetem fórmulas de sucesso. Mas existem filmes alternativos, sem grandes ambições comerciais, que são igualmente feitos com base em clichês — só escolheram um segmento menor da cultura para copiar. Um diretor pode estar fazendo um grande blockbuster de gênero e estar sendo autêntico, enquanto outro pode estar fazendo um filme de arte, mas com uma mentalidade clichê. De qualquer forma, o resultado acaba sempre soando artificial, sem vida, pouco convincente.

Há uma magia, um magnetismo natural, quando alguém está sendo íntegro, expressando sua verdade; quando, por trás de um filme, você sente a presença de uma mente singular, e percebe que as decisões estão sendo tomadas por um DNA criativo único, por uma intenção verdadeira. Isso é algo muito difícil de forjar, pois está presente em cada detalhe e se revela em cada aspecto do filme, assim como a personalidade de uma pessoa se revela em cada aspecto dela. Muitas vezes, nos primeiros segundos de um filme, já é possível perceber se ele vai ser autêntico, se ele tem luz própria, ou se vai apenas seguir as convenções. Alguém que está apenas imitando os outros nunca consegue projetar a mesma energia que alguém que está em contato com a realidade e seguindo seus princípios, e isso fica evidente no trabalho.

Claro, não é por um filme ser autêntico que ele vai ser bom necessariamente ou que você vai gostar dele. O artista pode ser autêntico, mas pode não ter talento, ou pode estar expressando valores incompatíveis com os seus. Mas, em certas situações, acho preferível ver um filme com valores diferentes dos meus, mas que seja autêntico, do que um filme totalmente clichê que supostamente reflete os meus valores (“supostamente”, pois fica sempre uma desconfiança). Autenticidade parece ser uma qualidade básica, sem a qual todas as outras perdem força.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Magia ao Luar (anotações)

- Muito bom o personagem do mágico! Trama interessante, apresentada logo de cara e com clareza.

- Ótima produção (direção, elenco, diálogos, fotografia, figurinos, locações, etc).

- A história é um duelo entre razão (Stanley) e misticismo (Sophie), e o diretor se safa adotando uma posição cética: nenhum dos dois lados parece estar muito certo. Nem Stanley nem Sophie são apresentados como heróis - é como se o diretor se colocasse "acima" dessa discussão e tirasse um pouco de sarro de tudo.

- Típica abordagem cética: não se pode ter certeza de nada, a mente é ineficaz, etc. Aos poucos o filme parece estar ridicularizando mais o lado racional e deixando a mística parecer mais atraente.

- O filme não é extremamente engraçado ou emocionante, mas envolve por ser inteligente (além da produção ser muito bonita, etc).

- Woody Allen acredita que a vida é trágica e sem sentido, mas que se existisse o sobrenatural, por algum motivo isso mudaria as coisas. Aliás, o filme tem várias crenças "suspeitas" que contribuem pro senso de vida malevolente (como eu disse na postagem Senso de Vida). Há também claramente a ideia de que inteligência leva à tristeza, e que a felicidade só é possível quando nos iludimos. Por isso os personagens do Woody Allen (intelectuais) estão sempre querendo abandonar suas mulheres (também intelectuais) pra viver romances com mulheres menos cultas porém felizes. É como se só tivessem 2 alternativas: ou você é culto e deprimido, ou você é ignorante e feliz (infelizmente na maioria dos casos isso é verdade). Obviamente eu não penso dessa forma, mas não deixa de ser uma ilustração brilhante desse tipo de mentalidade.

- SPOILER: Muito boa a reviravolta!!! No fim era o amigo dele que estava armando tudo. Faz total sentido!

- SPOILER: Depois que a Sophie se revela uma impostora, a ideia de um romance entre os dois começa a ficar mais interessante e palpável. Vai ser frustrante se ela ficar com o milionário, embora faria sentido também.

- GENIAL a cena final das "batidas"!!! Palmas pra Woody!!!

CONCLUSÃO: História simples, muito bem contada, com ótima produção, elenco, diálogos. O que o filme tem de negativo em termos de crenças, ele compensa com um senso estético bem acima da média.

(Magic in the Moonlight / EUA / 2014 / Woody Allen)

FILMES PARECIDOS: Meia-Noite em Paris / Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

NOTA: 8.0