sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Boyhood: Da Infância à Juventude

- Direção de atores um pouco estranha no começo. Ninguém parece muito natural ou à vontade.

- O filme não vai ter uma história? Vai ser só um registro passivo da vida da família? Me parece uma oportunidade perdida! Mas pelo menos o filme é sobre crianças fofas e se passa num universo relativamente agradável (geralmente filmes desse tipo se passam em ambientes horríveis, são sobre pessoas imorais, etc).

- O que torna o filme interessante é mais a sacada de tê-lo filmado ao longo de 12 anos - de podermos ver a transformação física dos atores. Se fosse um filme convencional onde os atores vão sendo trocados, não haveria muito motivo pra querer acompanhar essa história.

- O filme tem a proposta de registrar a vida de um garoto por 12 anos, mas o registro é um tanto externo. Nós ficamos sabendo apenas sobre fatos de sua vida ("divórcio dos pais", "mudança de casa", etc), mas nada mais profundo - nada sobre a alma dele, sobre o desenvolvimento do seu caráter, sobre as consequências desses fatos em sua vida. Psicologicamente, acho que seria mais interessante um documentário sobre a produção desse filme do que o filme em si.

- Há foco demais no aspecto desagradável e entediante da rotina: brigas dos pais, conflitos com os padrastos, Mason levando bronca do chefe, mãe mandando ele lavar a louça, etc. Em termos de "senso de vida", o que o filme projeta é que a vida é uma chatice cheia de obrigações e deveres. Quando Mason quer tomar Coca-Cola no restaurante, a mãe nega e diz pra ele tomar água. Quando a garota está cantarolando High School Musical na cozinha, a mãe manda ela parar e ajudar a preparar o jantar. O filme é inteiro feito de detalhes desse tipo. Chatice não indica necessariamente maturidade, profundidade ou mesmo realismo, é preciso saber distinguir as coisas.

- Apesar de tudo, é difícil não criar um sentimento de carinho pelo garoto depois de acompanhá-lo por tanto tempo. No meio do filme ele já parece um parente nosso... O fato dele se tornar um jovem bonito, aparentemente saudável, inteligente, doce, acaba dando um tom positivo e esperançoso pra história (o que pode ser totalmente acidental, pois o filme tem cara de ter sido bastante improvisado e de ter documentado a evolução real do ator - ou seja, se Ellar Coltrane tivesse se tornado um delinquente ou um ignorante na vida real, será que o filme teria tido um tom deprimente ao invés?). Acidental ou não, isso no fundo é o que salva o filme.

CONCLUSÃO: Acompanhar o desenvolvimento de Ellar Coltrane é uma experiência memorável, tocante, mas se não fosse por esse artifício, o filme não teria grande interesse.

(Boyhood / EUA / 2014 / Richard Linklater)

FILMES PARECIDOS: Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol, Antes da Meia-Noite, A Lula e a Baleia, The Up Series.

NOTA: 7.5

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Drácula: A História Nunca Contada

- Assustadora a criatura na caverna! Não esperava (achava que o filme seria mais "realista").

- História contada com clareza / conflitos convincentes (Vlad se recusar a entregar o próprio filho / isso provocar uma guerra / ele ir procurar o vampiro como única forma de se defender).

- Essa figura do vampiro é bem sinistra! O ator é bom e a maquiagem / efeitos também.

- Bem feita a cena em que Vlad acorda vampiro pela primeira vez e percebe seus sentidos aguçados! O filme faz um "twist" interessante na história do Drácula (a ideia dele ter que resistir ao sangue humano por 3 dias é uma boa estratégia do roteiro pra manter a gente interessado até o fim).

- Um pouco forçado ele conseguir se transformar em um monte de morcegos! Por mais que a história seja uma fantasia, isso não tem muita lógica.

- SPOILER: Boa a cena em que ele luta sozinho contra o exército inteiro - e ganha! Costumo reclamar dessas cenas onde 1 pessoa luta contra várias, por não serem realistas, mas nesse caso faz sentido (foi estabelecido antes que ele teria a força de 100 homens, que seus ferimentos cicatrizariam rapidamente, etc).

- 1 coisa que me impede de curtir totalmente histórias de vampiros (quando eles são retratados como heróis) é que o preço que eles têm que pagar pelos poderes é muito alto. Eles não podem sair no sol, têm que matar pessoas pra se alimentar, vivem eternamente - é uma existência desagradável demais pra eu querer ser como eles.

- Bom esse ator que faz o Drácula (Luke Evans), não me lembrava dele de outros filmes. Passa força e simpatia na dose certa.

- SPOILER: Inesperado a mulher morrer!! Reviravolta interessante do roteiro (e ainda não estamos perto do fim).

- SPOILER: Confronto com o vilão no final na cabana cheia de prata é bem feito. Outro exemplo de "regras bem estabelecidas" (assim como a cena em que Vlad derrota o exército inteiro sozinho). A gente sabe quais são as forças e as fraquezas do herói, e isso permite a gente acompanhar a ação com interesse (parece algo óbvio mas quase todo filme comete esse erro hoje em dia).

- SPOILER: Final dramático (a separação dele e do filho). Mas faz sentido, não soa gratuito.

- Não entendi o que o Vampiro Mestre vai fazer na última cena!

CONCLUSÃO: Entretenimento honesto, sem grandes ideias ou inovações, mas bem intencionado.

Dracula Untold / EUA, Japão / 2014 / Gary Shore

FILMES PARECIDOS: Hércules (2014), Branca de Neve e o Caçador, série Anjos da Noite.

NOTA: 6.5

domingo, 26 de outubro de 2014

Relatos Selvagens

- Sensacional a cena de abertura no avião!! Um dos melhores começos de comédia que me lembro. / Brilhante como a situação vai sendo revelada. / O final da sequência com os velhinhos no quintal é a cereja do bolo!!

- Humor negro incrível na cena do restaurante. Hilária a cozinheira querendo envenenar o cliente. Mas o que isso tem a ver com o resto? Será que o filme vai ser apenas uma coleção de curtas?

- Amo que eles tem o "Love Theme from Flashdance" na trilha sonora! Direção do filme é ótima, e a fotografia também. / Adoro a edição sincronizada com a música enquanto o carro viaja pela estrada. / Hilária a situação do carro quebrado e o suspense pela chegada do outro motorista - todas as histórias até agora foram excelentes. / Chocado com a violência dos personagens!! Gosto que o filme vai sempre até o extremo de cada situação. / Me incomoda um pouco amoralidade do filme. Na minha opinião, apesar do protagonista estar errado em ofender o outro motorista, este outro está 20 vezes mais errado por querer agredi-lo fisicamente. Mas a atitude do filme é como se os 2 fossem igualmente "selvagens". O filme só se safa porque ele usa humor e não tem a pretensão de passar julgamento moral... A intenção é mais a de divertir a plateia com histórias surpreendentes e irônicas.

- Muito boa a esposa do Ricardo Darín explicando por que ele se atrasou pro aniversário da filha. Ótima psicóloga. / Curta incrivelmente bem escrito: toda a situação do guincho, o diálogo dele com o funcionário através do vidro, o plano de "vingança", e o final perfeito no aniversário dele e a reconciliação com a filha e a mulher. Palmas para o roteirista!!

- Atropelamento da grávida: o filme sempre consegue inventar situações extremamente complicadas, extremas e ao mesmo tempo realistas, possíveis. Não perde a atenção da plateia em 1 minuto sequer. / Ilustração brilhante do comportamento podre das pessoas quando o assunto é dinheiro. Acho que desde Dogville não vejo um retrato tão genial da irracionalidade humana.

- Incrível como casamento visto de longe parece tudo igual! Muito bem dirigida a sequência da festa - o noivo cumprimentando a avó, os amigos festejando, etc. Parece um casamento de verdade! / Desenvolvimento da história muito bom: a desconfiança inicial da noiva, a revelação durante a dança, os conselhos do cozinheiro no topo do prédio, etc. Mais uma vez o filme pega uma situação comum e transforma aos poucos num completo pesadelo, cheio de surpresas, e com um final irônico.

CONCLUSÃO: Coleção genial de curtas sobre violência e vingança. Qualquer um dos 6 estaria entre os melhores que já vi.

(Relatos Salvajes / Argentina, Espanha / 2014 / Damián Szifrón)

FILMES PARECIDOS: A Pele que Habito, Fale com Ela, Dogville, Magnólia, Um Dia de Fúria.

NOTA: 9.0

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Festa no Céu

- Filme se passa em um universo pouco atraente e a aparência dos personagens é horrível (se eu fosse criança eu não iria querer brincar com esses bonecos). O conceito da animação já é confuso - eles não são figuras humanas estilizadas através de animação. Eles são BONECOS de figuras humanas estilizados através de animação! Como se fosse um Toy Story.. mas a história não é sobre brinquedos!

- La Muerte supostamente é uma mulher bondosa e positiva enquanto Xibalta representa tudo o que é negativo: mas na prática os dois são muito parecidos! Não vejo diferença de personalidade.

- Humor fraco e pouco imaginativo. Baseado em clichês do gênero.

- Filme não cria um romance envolvente entre Manolo e Maria. Personagens e relações são muito superficiais - a gente não torce por ninguém. Nem a rivalidade entre os amigos é muito bem explorada - Joaquín é apenas menos simpático que Manolo, mas não há um grande conflito de valores.

- O herói canta "Creep" do Radiohead pra mocinha?!?! Desde quando ele é um "esquisito", uma "aberração"? E o que isso tem a ver com o universo do filme, com o México? É apenas um toque malevolente pra tornar o filme "cool" pra plateias alternativas (aliás, todo o desenho faz apologia ao senso de vida malevolente com suas caveiras, temas sobre morte, etc).

- Regras mal explicadas: será que é possível morrer dentro da morte?

- SPOILER: Forçado (e frustrante) Manolo ganhar a tourada cantando para o touro em vez de lutando! Não é uma vitória empolgante, parece uma saída preguiçosa do roteirista. É frustrante também o exército de mortos surgir na última hora e ajudá-lo a vencer o vilão. Filmes de "herói envergonhado" são sempre assim: eles nunca fazem nada de interessante, estão sempre sendo salvos por milagres, ações mal explicadas, etc.

- SPOILER: Final terrível: a moral é que você não deve ser individualista, que auto-sacrifício é uma grande virtude, e pra piorar, La Muerte (o bem) e Xibalta (o mal) se beijam apaixonadamente indicando que são 1 só! Pobres crianças.

CONCLUSÃO: Animação pouco atraente, pouco divertida, sem personagens gostáveis e com valores discutíveis.

(The Book of Life / EUA / 2014 / Jorge R. Gutierrez)

FILMES PARECIDOS: Rango / Coraline e o Mundo Secreto / 9 - A Salvação / A Noiva Cadáver

NOTA: 4.0

O Juiz

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.) 

ANOTAÇÕES:

- Robert Downey Jr. está muito bem, tinha esquecido como ele é carismático e bom ator! Ele devia fazer mais dramas como este.

- Produção bonita. Fotografia muito boa do Janusz Kaminski, trilha boa do Thomas Newman - toda a parte técnica do filme é de qualidade. A cidade em que se passa o filme é linda.

- Filme constrói relações positivas entre todos os personagens, o que cria uma atmosfera agradável. Mesmo a rivalidade entre o Downey Jr. e o pai é de certa forma divertida.

- SPOILER: Situação curiosa a do atropelamento. É um pouco forçado o fato do Robert Duvall ser juiz, dele ter problemas pessoais com o cara que atropelou, do filho com o qual ele não fala ser a única pessoa que pode defendê-lo... Ainda assim, simpatizo com a atitude do filme de querer criar conflitos, intensificar a trama, etc. E é boa a ideia do juiz não querer revelar sua doença, pois isso poderia comprometer os julgamentos que passou nos últimos meses, etc.

- No fundo o filme é sobre pai e filho se reaproximando, e ele é bem sucedido em fazer a gente simpatizar com os 2. Robert Duvall está excelente.

- Terrível a cena do Robert Duvall passando mal no banheiro! O curioso é que até uma cena como essa (que está entre as mais desagradáveis imagináveis) o filme consegue tratar com leveza e não deixar o clima deprimente (compare com o filme Amor, por exemplo). É o "senso de vida" do filme falando... Quando as pessoas têm uma visão de mundo positiva, nem a doença nem a morte parecem totalmente trágicas. Quando elas não têm, mesmo a saúde e a diversão parecem deprimentes.

- Boa a cena da defesa do Downey Jr. no tribunal, onde ele fala da tartaruga e das marcas de pneu na pista.

- Trama da ex-namorada e da filha (que pode ou não ser filha do Downey Jr.) parece um pouco desnecessária e desconectada da história principal.

- SPOILER: Bonita a cena dos dois pescando no final, e a reconciliação que estávamos aguardando. Apesar do pai ir preso e no fim morrer, ainda há a sensação de um final feliz.

- Um pouco arrastado o final do filme. Tudo podia ter uns 20 minutos a menos.

CONCLUSÃO: Filme tradicional, sem grandes surpresas ou novidades, mas bem feito, com personagens carismáticos e performances ótimas de Robert Downey Jr. e Robert Duvall.

(The Judge / EUA / 2014 / David Dobkin)

FILMES PARECIDOS: Álbum de Família, Jovens Adultos, Divinos Segredos.

NOTA: 7.5

sábado, 11 de outubro de 2014

Trash: A Esperança Vem do Lixo

- Intrigante o começo: a carteira indo parar no lixão, etc. Premissa interessante, faz a gente querer saber o que há de importante lá dentro.

- Atores são bons e carismáticos (inclusive as crianças). O fato do diretor ser estrangeiro (dirigindo atores em outra língua) torna o mérito ainda maior. 

- Retrato impressionante do lixão e da miséria. O filme só não é deprimente porque os personagens são gostáveis, os relacionamentos são positivos, a produção é bonita, há bastante humor, etc. 

- Selton Mello está ótimo como vilão. Revoltante a forma como eles "espancam" o Rafael no banco de trás do carro.

- SPOILER: Me parece forçado essas crianças ficarem em silêncio em relação à carteira, mesmo com uma recompensa sendo oferecida. Elas não teriam como ter princípios tão sólidos assim, nem noção de como funciona o esquema de corrupção, etc. Teria que haver uma motivação mais convincente pra eles preferirem ser torturados a entregarem a carteira. 

- Filme parece ter preconceito contra os ricos e qualquer um que tenha certo status ou poder: a patroa da casa que os meninos invadem, os policiais, os políticos - todos são maus. A mensagem acaba sendo: apenas os pobres são inocentes e têm caráter (ou aqueles que servem diretamente os pobres, como o Martin Sheen e a Rooney Mara). 

- Carta do Wagner Moura para o tio: muito vagas as ideias políticas do filme. Ele está lutando apenas contra a corrupção? Ou há uma propaganda socialista por trás do filme? 

Adicionar legenda
- SPOILER: Divertido os meninos tentando decifrar os códigos da Bíblia passo a passo (e a ideia de serem nomes de animais em inglês - e os meninos conhecerem os nomes por causa das aulas de inglês com a Rooney Mara, etc). 

- SPOILER: Um pouco forçado o Selton Mello encontrar o quarto em que os meninos decifraram o código, etc. 

- SPOILER: Faz sentido a filha do Wagner Moura estar esperando o pai no cemitério??? Mal explicada essa parte da história. Parece que os roteiristas só inventaram isso porque acharam legal ter uma cena de "fantasma".

- SPOILER: Chuva de dinheiro: um dos tipos de cena que eu mais odeio em filmes! A ideia é passar a ideia de final feliz, de abundância, mas acho que só alguém que não valoriza dinheiro faria uma cena dessas (imagine as centenas de notas que serão perdidas!). 

CONCLUSÃO: Produção bem feita com atores carismáticos, trama interessante, embora a mensagem política seja vaga e questionável.

(Trash / Reino Unido / 2014 / Stephen Daldry)

FILMES PARECIDOS: O Mordomo da Casa Branca / Quem Quer Ser um Milionário? / Última Parada 174

NOTA: 6.5

Annabelle

- Diferente o elenco e a direção de atores. Eles não parecem muito talentosos, mas ao mesmo tempo há uma naturalidade na direção que acaba tornando as performances interessantes. A mulher particularmente é muito bonita e tem certa personalidade.

- Assim como Invocação do Mal, é um terror mais "classudo" que a média, com uma boa fotografia (o fato de se passar no passado também traz certa elegância pra produção).

- SPOILER: Ótima a cena da morte do vizinho! Chocado com a facada na barriga!! Realmente não esperava!

- Acho sempre um pouco ingênuos esses filmes onde espíritos se expressam através de eletrodomésticos, interferências na TV, luzes piscando, etc.

- Outra cena boa: ela espetando o dedo na máquina de costura + a edição com a pipoca estourando no fogão. Tensão bem construída.

- O fato dela estar grávida torna tudo mais tenso. Uma agressão contra ela tem 3X o impacto do que teria uma agressão contra uma personagem não-grávida.

- SPOILER: Ótima a cena em que a menininha fantasma atravessa a porta e vira adulta!! Sustos do filme são ótimos, mesmo sem ser o James Wan dirigindo.

- SPOILER: Sensacional a cena do carrinho de bebê e o diabo aparecendo pela primeira vez na penumbra. Uma das criaturas mais sinistras que já vi em filmes de terror.

-  Atriz que faz a dona da livraria é muito boa. Dá um pouco de medo dela no começo, mas depois vai ganhando nossa confiança.

- SPOILER: Por mim a boneca podia andar, falar, fazer caretas, tipo o Chucky. Seria mais divertido.

- SPOILER: Clímax tenso, embora um pouquinho forçado (será que a amiga pularia da janela pra salvar alguém que conhece há pouco tempo?).

CONCLUSÃO: Terror divertido, bem dirigido, cheio de sustos e cenas arrepiantes.

(Annabelle / EUA / 2014 / John R. Leonetti)

FILMES PARECIDOS: Invocação do Mal, Sobrenatural 1 e 2.

NOTA: 7.0

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sin City: A Dama Fatal

- Prólogo já é bem desagradável, uma desculpa pra mostrar violência. O protagonista (Mickey Rourke) é fracassado, violento, fisicamente grotesco, criminoso, e o filme mostra tudo de forma mais ou menos positiva, como se ele fosse uma espécie de Batman barra pesada. O filme parece uma celebração visual de tudo o que é sombrio, violento, desagradável.

- Cena do pôquer com o Joseph Gordon-Levitt: não há muito suspense pois aparentemente ele tem poderes sobrenaturais e sempre ganha todas as partidas.

- Personagens são muito caricatos e artificiais. A narração é forçada, pretensiosa, querendo se passar por literatura de qualidade. O foco do filme está mais em recriar esse estilo "noir", não em te envolver na história, nos personagens, provocar emoções verdadeiras... Só que os film-noir antigos funcionavam porque eles tinham histórias boas, bons personagens, diálogos com profundidade, etc. Não eram apenas estilo.

- Pelo menos o vilão (Roark) é detestável e faz a gente torcer pra ele morrer (não que isso seja uma motivação suficiente pra se querer ver um filme).

- O filme abandona a história do Joseph Gordon-Levitt pra focar em outra trama (na do Josh Brolin)? Vai voltar depois?! Quem é o protagonista do filme? O vilão parece ser o que interliga as histórias, e não os mocinhos (o que não é de surpreender, considerando que todo o foco do filme é no negativo).

- O filme não consegue criar uma narrativa bem estruturada, envolvente. É tudo meio desconectado, como se fosse uma série de TV com vários núcleos diferentes, e o filme fosse saltando de uma pra outra.

- Curioso: a Jessica Alba desfigura o próprio rosto no filme, Eva Green tem o rosto inteiro machucado, Josh Brolin também, Joseph também, Mickey Rourke já tem o rosto deformado... Quase todos os personagens "bons" são torturados, desfigurados ou acabam mortos pelos vilões.

CONCLUSÃO: Exercício em estilo pouco divertido, feito pra glamourizar o que é violento e desagradável. Só chama atenção pelo visual marcante.

(Sin City: A Dame to Kill For / EUA / 2014 / Frank Miller, Robert Rodriguez)

FILMES PARECIDOS: 300: A Ascensão do Império / Machete / Bastardos Inglórios / Hellboy / Capitão Sky e o Mundo de Amanhã

NOTA: 3.5

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Livrai-nos do Mal

- Interessante o começo no Iraque e as imagens de aranhas, cobras, morcegos, etc.

- Gosto do Eric Bana nesse papel! Hollywood devia aproveitá-lo melhor como protagonista.

- Muito legal a cena à noite no zoológico e todo o clima de terror. O que os animais têm a ver com tudo?? A história é intrigante.

- Adoro que o filme tem humor! Os filmes de terror hoje em dia costumam ter um tom sério e dramático que eu não acho tão interessante pro gênero (como O Ritual com o Anthony Hopkins, por exemplo).

- Filme tem umas imagens originais e marcantes (o cadáver cheio de moscas, o gato crucificado, etc).

- Cenas de suspense são bem filmadas e os sustos funcionam!

- SPOILER: Cena do exorcismo no fim é intensa mas não é muito interessante, talvez porque a trama do filme é confusa e eu não sei direito o que esse exorcismo resolveria, nem pra trama, nem emocionalmente pro espectador (é diferente de um filme como O Exorcista, onde o exorcismo dá um senso de conclusão pra história e resolve o conflito principal, trazendo a filha de volta pra mãe, etc).

- SPOILER: O que tem a ver a música do The Doors?? E as pessoas arranhando o chão? E as vozes de criança que o Eric Bana ouve? E os animais?

CONCLUSÃO: Filme assusta, diverte, mas a trama extremamente bagunçada deixa perguntas demais na cabeça do espectador.

(Deliver Us from Evil / EUA / 2014 / Scott Derrickson)

FILMES PARECIDOS: Invocação do Mal, O Último Exorcismo, A Entidade.

NOTA: 6.5

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Garota Exemplar

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- O tom cínico do casal me desagrada (o que acontece no primeiro encontro já não parece atração, amor, eles apenas se identificam como dois cínicos no meio de uma festa). Duvido que pessoas assim teriam um relacionamento sem conflitos durante 2 anos. Todo o tom do filme parece dizer: o amor não existe, o casamento é uma farsa, as pessoas são medíocres, etc.

- O mistério do desaparecimento torna o filme interessante desde o começo. Lembra um pouco Os Suspeitos. O lance dele seguir as pistas da esposa é divertido.

- Como todo filme do Fincher, a produção é ótima, assim como a direção, o elenco, etc. Nível estético acima da média.

- O relacionamento dos dois é detestável. Ambos estão errados, e o filme não parece condenar as atitudes deles. É como se ele estivesse dizendo: "vejam como os relacionamentos são inevitavelmente horríveis". O fato da menina ser a Amazing Amy apenas piora tudo: ou seja, até a "garota exemplar" no fundo é infeliz. Ninguém e nada pode ser "amazing" na realidade (senso de vida malevolente).

- SPOILER: A revelação da amante do Ben Affleck / da gravidez: filme é cheio de pequenas surpresas que o mantém interessante.

- SPOILER: Legal a reviravolta principal (Amy estar viva). Achei que essa revelação viria só no final do filme e não no meio. Deixa a gente curioso pra saber o que ainda pode acontecer.

- Interessante a crítica à mídia, embora também tenha um tom "malevolente" que me desagrada: a noção de que as pessoas são mal intencionadas, que a TV controla a sua realidade, etc.

- SPOILER: Inconsistência psicológica: eles não pareciam nem um pouco desequilibrados até o meio do filme. Por anos eles foram um casal típico, e de repente a mulher se torna uma assassina psicopata só por causa de uma traição?! Meio forçada essa transformação.

- SPOILER: A ideia parece ser que ela é super inteligente e é capaz de criar o crime perfeito. Mas na realidade é tudo muito descuidado. Ela está na mídia do país inteiro e fica andando por aí sem medo de ser reconhecida?? Se ela fosse "inteligente", ela teria se matado logo depois de ter armado a cena do crime na casa dela - antes da história explodir. É tudo meio irreal (até parece que ela iria se matar só pra incriminar o marido, sem ter a satisfação de saber que ele foi condenado. E se o plano desse errado? E se a investigadora descobrisse que foi tudo armação dela? Ela estaria morta e tudo teria sido em vão? Não me parece um plano nada plausível).

- Boa a cena do Ben Affleck sendo treinado pra parecer inocente na TV.

- SPOILER: Divertido Amy fingindo pras câmeras que o ex (Neil Patrick Harris) a estuprou. Rosamund faz bem esse papel de louca. Mas não acho ela uma louca tão gostável como por exemplo a de Atração Fatal (em Atração Fatal, a ideia era apenas chocar a plateia com uma mulher totalmente desequilibrada - aqui, junto com isso, há a intenção criticar a natureza do amor, de mostrar o lado negro da "Amazing Amy", o que dá um tempero amargo pra história).

- SPOILER: O final vai ficando falso demais e me distancia como espectador. Até agora pouco era um suspense cínico mas ainda assim envolvente, cheio de reviravoltas interessantes, bem feito. Depois que ela mata o ex e volta pra casa cheia de sangue, não dá mais pra acreditar em nada. Não faz o menor sentido esse plano dela.

- Talvez o problema do filme seja o Fincher, que tentou fazer um filme sofisticado a partir de uma história meio absurda. Acho que funcionaria melhor nas mãos de um Brian De Palma ou um diretor menos sério, que desse ao filme um tom explicitamente exagerado e kitsch.

CONCLUSÃO: O roteiro se perde no final, mas o resto é envolvente, tecnicamente bem feito, e deve agradar principalmente quem concordar com essa visão cínica do amor e da natureza humana.

(Gone Girl / EUA / 2014 / David Fincher)

FILMES PARECIDOS: Os Suspeitos / Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres / Zodíaco

NOTA: 7.0