sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Boyhood: Da Infância à Juventude

- Direção de atores um pouco estranha no começo. Ninguém parece muito natural ou à vontade.

- O filme não vai ter uma história? Vai ser só um registro passivo da vida da família? Me parece uma oportunidade perdida! Mas pelo menos o filme é sobre crianças fofas e se passa num universo relativamente agradável (geralmente filmes desse tipo se passam em ambientes horríveis, são sobre pessoas imorais, etc).

- O que torna o filme interessante é mais a sacada de tê-lo filmado ao longo de 12 anos - de podermos ver a transformação física dos atores. Se fosse um filme convencional onde os atores vão sendo trocados, não haveria muito motivo pra querer acompanhar essa história.

- O filme tem a proposta de registrar a vida de um garoto por 12 anos, mas o registro é um tanto externo. Nós ficamos sabendo apenas sobre fatos de sua vida ("divórcio dos pais", "mudança de casa", etc), mas nada mais profundo - nada sobre a alma dele, sobre o desenvolvimento do seu caráter, sobre as consequências desses fatos em sua vida. Psicologicamente, acho que seria mais interessante um documentário sobre a produção desse filme do que o filme em si.

- Há foco demais no aspecto desagradável e entediante da rotina: brigas dos pais, conflitos com os padrastos, Mason levando bronca do chefe, mãe mandando ele lavar a louça, etc. Em termos de "senso de vida", o que o filme projeta é que a vida é uma chatice cheia de obrigações e deveres. Quando Mason quer tomar Coca-Cola no restaurante, a mãe nega e diz pra ele tomar água. Quando a garota está cantarolando High School Musical na cozinha, a mãe manda ela parar e ajudar a preparar o jantar. O filme é inteiro feito de detalhes desse tipo. Chatice não indica necessariamente maturidade, profundidade ou mesmo realismo, é preciso saber distinguir as coisas.

- Apesar de tudo, é difícil não criar um sentimento de carinho pelo garoto depois de acompanhá-lo por tanto tempo. No meio do filme ele já parece um parente nosso... O fato dele se tornar um jovem bonito, aparentemente saudável, inteligente, doce, acaba dando um tom positivo e esperançoso pra história (o que pode ser totalmente acidental, pois o filme tem cara de ter sido bastante improvisado e de ter documentado a evolução real do ator - ou seja, se Ellar Coltrane tivesse se tornado um delinquente ou um ignorante na vida real, será que o filme teria tido um tom deprimente ao invés?). Acidental ou não, isso no fundo é o que salva o filme.

CONCLUSÃO: Acompanhar o desenvolvimento de Ellar Coltrane é uma experiência memorável, tocante, mas se não fosse por esse artifício, o filme não teria grande interesse.

(Boyhood / EUA / 2014 / Richard Linklater)

FILMES PARECIDOS: Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol, Antes da Meia-Noite, A Lula e a Baleia, The Up Series.

NOTA: 7.5

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