sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

- Filme já começa muito ousado, original, cheio de surpresas a cada minuto: as auto-referências à indústria do entretenimento, os "poderes" que Riggan tem quando está sozinho no camarim, a câmera que parece nunca cortar, os diálogos frenéticos e bem humorados, a trilha sonora só de bateria. Tudo cria um clima de estranheza e emergência apropriado pro universo do teatro e a agitação desses últimos dias de ensaio.

- Qualidade técnica notável (fotografia, efeitos especiais, etc). O elenco é provavelmente o melhor "ensemble" do ano. Personagens muito convincentes. O show é do Michael Keaton, mas os atores coadjuvantes também têm vários momentos onde roubam a cena (discurso da Emma Stone onde ela diz que o pai "não é importante" é fantástico - embora a filosofia dela seja horrorosa).

- Aliás, a filosofia do filme todo é horrorosa. No fundo é um ataque cínico à ambição, à autoestima, ao sucesso. O filme zomba do Riggan por ele querer se superar, fazer algo importante de sua vida, zomba do fato dele querer ser reconhecido e amado pelo público, como se fosse uma bizarrice humana - atitude típica dos pseudo-intelectuais. Só seria ridículo se ele não tivesse competência nenhuma e tivesse tentando fazer algo muito além de sua alçada, mas aparentemente ele é um cara experiente que tem alguma noção do que está fazendo.

- De qualquer forma o filme tem um tema interessante, discute carreira, autoconfiança, coisas de interesse universal, e ilustra esses temas muito bem através da história e dos diálogos.

- Sei que é difícil pro artista não se importar com a opinião do público, mas o Riggan parece depender totalmente disso. É como se a peça só pudesse ter valor se ela fosse sucesso de bilheteria ou se a crítica do New York Times aprovasse. Pra ele não se trata de expressar algo, e sim de ser aprovado - em nenhum momento ele demonstra ter algum tipo de critério pessoal.

- Espetacular o Michael Keaton quando ele finge estar em crise na frente do Edward Norton! Cena digna de um Oscar.

- Comentários sarcásticos em relação a celebridades (Justin Bieber, Farrah Fawcett, etc): é o que eu comento na postagem Idealismo Corrompido. Combina com a atitude geral do filme.

- SPOILER: Roteiro bem escrito, original, cheio de momentos interessantes: Riggan atravessando a Broadway de cueca, a cena do vôo, a tentativa (ou não) de suicídio no final, etc.

CONCLUSÃO: Filme cínico, com valores questionáveis, mas ainda assim feito com energia, criatividade e virtuosismo técnico.

(Birdman / EUA, Canadá / 2014 / Alejandro González Iñárritu)

FILMES PARECIDOS: Whiplash: Em Busca da Perfeição / Cisne Negro / Adaptação

NOTA: 7.5

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Leviatã

- Naturalismo: rotina de pessoas desinteressantes, comuns, sem grandes objetivos ou expectativas. Filme nem estabelece direito quem é quem, quais as relações entre os personagens, temos que ficar nos esforçando pra entender (sem ainda termos uma motivação, um motivo pra querermos saber quem é quem).

- Quando o prefeito resolve demolir a casa quase surge um conflito pra história. Mas não parece algo tão trágico assim pro Kolia (ele se mostra até disposto a mudar de cidade). Não chega a ser um confronto intenso entre bem e mal (os dois são bêbados e patéticos, fica difícil torcer contra ou a favor de alguém).

- Assunto chato, burocrático. Pra que eu quero entrar no cinema e ver pessoas tendo problemas com a prefeitura? Geralmente essas coisas a gente tem que lidar no dia a dia mas querendo fugir pra ir ao cinema! Falta envolvimento emocional com os personagens, objetivos maiores, conflitos com os quais a plateia se identifique.

- SPOILER: Naturalismo: cenas aleatórias que apenas registram a rotina dos personagens mas não acrescentam nada ao filme (advogado indo ao banheiro, amigos atirando nas garrafas, etc). As cenas mais dramáticas e interessantes o filme não mostra (descoberta da traição, seguida da briga - e mais tarde o suicídio de Lilia). Filme é anti-emoção, anti-prazer.

- SPOILER: O filme começa como um conflito entre Kolia e o prefeito, mas agora já não sei mais se o filme é sobre isso, ou se é sobre adultério. Parece que o filme vai criando problemas aleatórios só pra prender minimamente a atenção da plateia ("Ah, que tal agora ter uma cena de traição? Traição sempre dá ibope. E agora um suicídio - suicídios são trágicos, a plateia irá se interessar!"). O suicídio da Lilia parece mal explicado, forçado - o que aconteceu não foi nada tão terrível assim, e o marido já tinha até perdoado ela.

- O título do filme (supostamente algo importante que revela algo sobre o tema do filme) é uma palavra numa charada confusa dita por um padre que ninguém na plateia entende. O que tem a ver o tema de religião que vai surgindo mais pro fim? Simbologia mal explicada.

- SPOILER: A mensagem parece ser que a vida é horrível e o homem é uma vítima injustiçada que não pode fazer nada a respeito: Kolia começa perdendo a casa, depois a mulher o trai, depois ela se mata, depois ele é preso pela morte dela, e no fim o prefeito (a figura mais desprezível do filme) sai impune e é mostrado numa missa (ou seja, além de tudo ele se considera uma pessoa do bem).

CONCLUSÃO: Um filme sobre decadência, deterioração, morte - contado de uma forma igualmente decadente e tediosa.

(Lefiafan / Rússia / 2014 / Andrey Zvyagintsev)

FILMES PARECIDOS: Ida

NOTA: 2.0

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O Jogo da Imitação

- História bem apresentada, com objetivos grandes, envolventes... O protagonista é fantástico - lembra muito o que o Benedict Cumberbatch já fez em Sherlock, mas é uma personalidade tão fascinante que não dá pra reclamar. O que poderia soar arrogante em Alan, acaba sendo quebrado pelo tom de humor e pela inocência no rosto de Benedict.

- Produção se destaca em todos os aspectos (elenco, direção, trilha sonora, edição, roteiro, etc).

- Entrada ótima do personagem da Keira Knightley (ela solucionando o problema em 5 minutos, etc). Relação entre os 2 é um prazer de assistir.

- Admirável a confiança que o Alan tem na própria razão enquanto todos duvidam dele - a ponto dele apostar vidas humanas na convicção de que a máquina irá funcionar.

- Benedict é um dos atores mais marcantes e carismáticos em Hollywood. Impagável a cena dele levando maçãs pros amigos e tentando contar uma piada. Ótima caracterização.

- SPOILER: O filme poderia ter sido uma história chata sobre um homem num escritório resolvendo problemas, mas há toda uma dimensão humana que torna o filme interessante (os dramas que ele sofre na infância por ser diferente, o fato dele ser gay e ficar noivo da Keira, etc).

- Cena da "paquera" no bar muito bem escrita. E culmina no insight que leva o Alan a quebrar o código da Enigma. Ótimo clímax. A gente participa do raciocínio do personagem, não é algo que ele resolve sozinho e a plateia fica de longe sem entender nada.

- SPOILER: Conflito difícil: ter o poder de salvar o irmão no navio, mas ter que deixar as pessoas morrerem, se não os alemães descobrirão que eles decifraram o código.

- Descoberta do espião russo através da Bíblia: boa forma de contar a história visualmente (não é uma revelação jogada num diálogo qualquer, como geralmente é feito).

- Muito interessante essa visão da guerra não como uma luta física entre soldados num campo de batalha, mas entre grandes inteligências - os melhores cérebros de cada país, sendo isso o que determina o resultado.

CONCLUSÃO: História real interessante (tanto pela parte histórica quanto pelos personagens) contada de maneira impecável, com Benedict Cumberbatch dando um show de atuação e carisma.

(The Imitation Game / Reino Unido, EUA / 2014 / Morten Tyldum)

FILMES PARECIDOS: Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo / A Hora Mais Escura / Argo / O Discurso do Rei

NOTA: 8.5

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

- Channing Tatum e Steve Carell estão ótimos e muito diferentes!

- Interessantes as imagens deles treinando. As cenas de luta são muito convincentes - não parecem truques de edição.

- Trilha sonora boa. Fotografia boa. Direção boa. O filme é cheio de cenas estranhas no começo, com longos silêncios, câmera estática - não sei se é estilo por estilo ou se há um propósito nisso.

- Não gosto do antiamericanismo do filme, mas provavelmente é isso que torna o filme "cool" e "respeitável" pro público em geral: a crítica que ele faz à riqueza, à ambição, aos EUA, mostrando o personagem do John du Pont como uma aberração, uma pessoa patética, antes mesmo dele fazer qualquer coisa de errado. Leva a plateia a pensar que são justamente os valores americanos que produzem pessoas desse tipo. Já o personagem do Mark Ruffalo (que não pode ser "comprado"), é retratado como um cara maduro, sociável, que é amado pela esposa, pelos filhos, etc.

- Até 1 hora de filme nada de muito dramático aconteceu. Achei que John iria se revelar um monstro, que iria tentar seduzir o Mark ou algo do tipo, mas os conflitos ainda não apareceram.

- "Ornitólogo, filatelista, filantropo." - cena memorável! Muito bem escrita.

- SPOILER: Incrível a sutileza com que o filme vai revelando certos temas, como a atração do John pelo Mark (a cena bizarra dele chamando o Mark pra treinar no meio da noite, que é dirigida como se fosse uma cena de sexo).

- Chocado com a cena da mãe do John assistindo ao treino!!! O filme é um show de sutilezas - há muita coisa interessante acontecendo nas entrelinhas.

- Por que exatamente o Mark não está mais falando com o John? Não aconteceu nada de tão traumático que justifique. Ficou um pouco indefinido.

- SPOILER: Independentemente de ser uma crítica à America ou de ser apenas uma crítica ao John em particular, a caracterização dele é muito rica e interessante!! No fim, o filme é sobre um cara totalmente reprimido, antissocial, usando dinheiro pra tentar comprar das pessoas o que ele não consegue conquistar por conta própria (respeito, afeto, admiração). E há também a possibilidade dele ser um gay enrustido e ter entrado pro esporte como pretexto pra ter contato com homens.

- SPOILER: Chocante o tiro! Pensando agora, é meio óbvio que algo assim iria acontecer (considerando o título), mas eu não esperava. Só gostaria que o filme tornasse um pouco mais explícito o que é que está se passando pela cabeça dos personagens - qual a motivação do John ao fazer isso. Fica tudo nas entrelinhas, como se nem diretor soubesse exatamente qual é o tema do filme - o que esse assassinato revela sobre o personagem e o que aprendemos com isso.

CONCLUSÃO: Filme rico em caracterizações, com ótimos atores, uma direção interessante - que só peca por não oferecer um clímax satisfatório pros temas que foram sugeridos ao longo da história.

(Foxcatcher / EUA / 2014 / Bennett Miller)

FILMES PARECIDOS: O Abutre / Ela / O Mestre

NOTA: 8.0

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Pride

Não fiz anotações neste filme, mas registro aqui que já o assisti e não gostei nem um pouco. Não achei os personagens gostáveis (não há um protagonista - o filme é todo sobre grupos se relacionando com outros grupos, se tornando extremamente impessoal) e em termos de direção, roteiro, diálogos, elenco, não vi grandes méritos. Acho que as pessoas gostam do filme mais por simpatizarem por ativistas e por esquerdistas do que por qualquer outra coisa.

(Pride / Reino Unido / 2014 / Matthew Warchus)

FILMES PARECIDOS: Billy Elliot / Ou Tudo Ou Nada

NOTA: 3.5

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Invencível

- Muito boa a sequência de abertura (ataque aéreo). Interessante como quase tudo é mostrado do ponto de vista de quem está dentro do avião, aumentando o realismo dos eventos.

- Fotografia linda do Roger Deakins! Merece a indicação ao Oscar.

- Por que esse flashback da infância do garoto? O que tem a ver ele ser problemático, odiado por todos? Ele é culpado? O que isso tudo tem a ver com a guerra? Confuso o filme começar com um ataque aéreo, voltar pra contar a infância de um garoto e depois ir se transformando num filme de esporte.

- Protagonista não tem alma. É um rosto bonito, não é mau ator, mas parece distante - o personagem é mal apresentado e não é criado um vínculo com a plateia.

- Falta um lar / uma esposa / filhos / um trabalho / um sonho para o qual o protagonista deseja voltar quando acabar a guerra. Um destino atraente na mente da plateia pra fazê-la querer passar pelos vários momentos desagradáveis.

- SPOILER: Divertido eles caçando tubarões com a mão! Muito bem feita a sequência em que o avião ataca eles no bote salva vidas. Situação tensa!

- O filme nem sempre parece autêntico - às vezes parece estar tentando demais ser "nobre", um típico filme de Oscar, e acaba soando genérico (não traz muito frescor ao tema, que é um pouco batido).

- O filme passa MUITO do ponto ao retratar sofrimento e começa a beirar o ridículo. É como O Impossível - 2 horas de pessoas sofrendo, sofrendo e sofrendo mais ainda. Não acho isso inspirador, heroico, e sim um culto à dor. É mostrar o conflito como um fim em si. Em filmes como Um Sonho de Liberdade, Império do Sol, etc, os heróis passam por muitas dificuldades o filme inteiro, mas isso é sempre equilibrado com momentos de beleza.

- SPOILER: Mal sabemos quem é a família dele. Não emociona a mensagem que ele manda pelo rádio.

- SPOILER: Ridículo ele se recusar a ler o texto dos japoneses na rádio! Agora é uma escolha dele ser torturado na prisão!! Não dá pra sentir muita pena na cena dos "socos".

- O filme não ensina nada a respeito de resistência, sobrevivência. Só prova que este cara em particular é estranhamente forte. Não há uma mensagem universal que se aplique ao espectador - nós apenas somos informados que existiu uma pessoa com uma resistência muito acima da nossa.

- SPOILER: Cena "chave" em que ele levanta a peça de madeira é memorável, mas não há tanto suspense pois não é estabelecido um tempo específico pra ele erguê-la. Se o sargento tivesse dito algo do tipo "você morre se soltá-la antes do pôr do sol" - a cena seria bem mais eficiente.

- Final bastante clichê (guerra finalmente acaba, cena obrigatória do reencontro com a família, etc).

CONCLUSÃO: Produção bonita, sem muita originalidade ou profundidade psicológica / intelectual, que se torna desagradável por focar apenas no sofrimento. Um filme que vemos mais por respeito do que por prazer.

(Unbroken / EUA / 2014 / Angelina Jolie)

FILMES PARECIDOS: 12 Anos de Escravidão / O Impossível

NOTA: 6.0

domingo, 18 de janeiro de 2015

Livre

- Que horrível a cena de abertura da unha dela caindo!! Espero que o filme não seja um estudo sobre a dor e o sofrimento no estilo 127 Horas.

- Eu até me identifico com a necessidade dela de se isolar, de fazer uma viagem sozinha pra superar problemas, etc. Mas precisava ser algo tão horrível quanto essa caminhada? Talvez a ideia seja passar por uma experiência tão desagradável que, por contraste, a vida real dela comece a parecer boa.

- Reese Witherspoon está ótima (como sempre). Filme tem personagens gostáveis, é visualmente bonito, discute problemas universais (perda, etc) - apesar de não haver grandes conflitos ou grandes expectativas em relação à história, é agradável de assistir.

- A atitude dela em relação ao sofrimento é positiva. O filme não cai na categoria "culto à dor", pois ele foca na superação da personagem e mostra tudo com leveza e humor.

- Flashbacks de Reese com a mãe são sempre muito bons, com momentos tocantes. Laura Dern está ótima. Adoro a filosofia que ela passa pros filhos.

- SPOILER: Forte a cena da morte da mãe (com o gelo no olho, etc). O filme é bem dirigido e é cheio de detalhes enriquecedores que o impedem de parecer um drama genérico.

CONCLUSÃO: Bom "road-movie a pé" que compensa a ausência de uma narrativa forte com boas performances, conteúdo emocional, cenas sempre interessantes e uma filosofia positiva.

(Wild / EUA / 2014 / Jean-Marc Vallée)

FILMES PARECIDOS: Álbum de Família / Clube de Compras Dallas / Jovens Adultos / Na Natureza Selvagem

NOTA: 7.5

A Família Bélier

- Nojenta a conversa no médico sobre fungos nas genitálias dos pais. Não há nada de engraçado nisso! Que mau gosto!

- Inconscientemente, o filme tira sarro da deficiência auditiva deles. Os retrata de maneira cômica e caricata (assim como gays são retratados em novelas). Apenas a menina que ouve parece uma pessoa real, sensata.

- Naturalismo. Personagens comuns, "losers", com desejos amenos, sem grandes propósitos - não é um grande sonho pra menina ser cantora, ela não tem uma paixão séria pelo garoto do coral, etc.

- Horrível a cena que a menina menstrua no momento de maior romance entre ela e o garoto! Pra que essa cena? E não vejo graça na atitude da mãe de ficar mostrando a calça manchada de sangue pra todo mundo!

- O filme não provoca um desejo na plateia de ver a menina fazendo sucesso. Não cria expectativa, não mostra a importância que isso tem pra ela. Pra começar a voz dela não é mostrada como algo realmente especial... E mesmo que fosse, de que adianta ter uma habilidade motora se por trás disso não há um desejo, uma visão artística, uma necessidade de expressar algo?

- Por que a filha está boicotando a entrevista do pai, traduzindo tudo errado?? Que desgraçada!

- Os pais deveriam ter (e provavelmente teriam) orgulho da filha escutar bem e ter o dom da música! É imperdoável a atitude da mãe de ficar indignada com a filha e não gostar que ela cante.

- Todas as músicas que eles cantam no coral são horríveis.

- A menina vai fazer um teste importantíssimo que pode mudar a vida dela, e ela não se prepara? Não leva partitura, não sabe como nada funciona? Ela merecia não passar! Apresentação não empolga e a letra da música é inapropriada.

CONCLUSÃO: Tentativa mal sucedida de misturar uma história de sucesso e crescimento com Naturalismo e uma mentalidade anti-autoestima. Idealismo Corrompido.

(La Famille Bélier / FRA / 2014 / Eric Lartigau)

FILMES PARECIDOS: Eu, Mamãe e os Meninos

NOTA: 3.0

domingo, 11 de janeiro de 2015

Trinta

- Matheus Nachtergaele está ótimo. Personagem imediatamente gostável, carismático - gosto da delicadeza dele de ir conversar com o Pamplona antes de aceitar o cargo de carnavalesco.

- Bons conflitos: largar ou não o emprego estável pra perseguir a carreira de bailarino, largar ou não a dança pra virar cenógrafo, aceitar ou não o cargo do amigo de carnavalesco - fora a questão do preconceito contra a homossexualidade dele, a desconfiança de todos por ele ser novato, etc.

- Boa a trilha sonora (o tema de cordas toda vez que Joãosinho está criando).

- Lindos os desenhos que ele faz pra apresentação do enredo do Salgueiro! É demais a sofisticação que ele trás pra algo tão popular (as referências da ópera, etc). Seria mais interessante se o filme mostrasse como era o carnaval antes do Joãosinho Trinta: como eram as outras escolas na época, etc, pois apesar do trabalho dele ser obviamente brilhante, uma comparação seria interessante pra dar um parâmetro pra plateia.

- Tião (Milhem Cortaz) é detestável, funciona bem como vilão.

- O filme ilustra muito bem o talento de Joãosinho Trinta - o capricho que ele tinha, a maneira que ele usa história pra criar as máscaras no começo, a ideia de usar bandejas prateadas no lugar de espelhos, ele alterando o samba enredo pra música ficar em sincronia com o desfile, a ideia de deixar a mulata com os seios aparecendo, etc. É como assistir o processo criativo de camarote. Poucos filmes conseguem fazer isso.

- Demais a cena dele tentando impor respeito falando palavrões. Matheus está dando um show!

- Admirável a capacidade dele de ser profissional, de manter boas relações com todos. O filme é uma ótima aula de liderança.

- SPOILER: Inesperado o incêndio antes do desfile!! Será que isso aconteceu mesmo? Ou é só pra deixar a gente nervoso???

- SPOILER: Emocionado com a cena da reconstrução do carro e com a apresentação da rainha da bateria no final. Roteiro muito bem feito!

CONCLUSÃO: Filme biográfico convencional, porém feito com eficiência. Uma história inspiradora de liderança, sucesso, integridade artística. Um dos melhores nacionais do ano.

(Trinta / BRA / 2014 / Paulo Machline)

FILMES PARECIDOS: 2 Filhos de Francisco

NOTA: 7.5

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Deus Não Está Morto


NOTAS DA SESSÃO:

- O filme tem cara de produção barata pra TV. Nível inferior de direção, produção, roteiro e elenco.

- O comportamento do professor parece forçado e caricato. Um professor minimamente sensato não agiria dessa forma, não diria que na sala de aula que ele é "Deus". Maneira desonesta de vilanizar os ateus.

- As histórias paralelas dos outros personagens não funcionam. Parecem cenas jogadas que nada têm a ver com a trama principal, só pra fazer alguns comentários ideológicos de forma artificial. E o que tem a ver essa história do pastor tentando alugar um carro???

- Eu até simpatizo com a atitude do menino de querer ser íntegro, de não aceitar algo que vai contra seus princípios - mesmo eu tendo uma filosofia diferente da dele. O problema é que o roteiro é muito ruim! Os produtores só estão interessados em fazer propaganda ideológica, mas não entendem nada de cinema e nem do outro lado do debate. Independentemente do conteúdo, um filme tem que ter certa universalidade - falar com todos os espectadores num nível dramático, independentemente de suas crenças.

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- A esposa do professor é cristã????? Que absurdo! Até parece que um cara que não tolera religiosos e baseia toda sua profissão no ateísmo iria ter uma mulher abertamente cristã! O que é essa cena onde ela é humilhada por todos na mesa por causa do vinho que comprou?? Outra tentativa patética de vilanizar os ateus. O filme é muito mais uma declaração de ódio contra os ateus do que uma defesa dos valores cristãos. 

- Os argumentos do garoto pra existência de Deus são muito fracos! Eu esperava uma discussão mais desafiadora, que me fizesse refletir minimamente sobre o assunto. O garoto se limita a achar erros em discursos de ateus, ou dar exemplos de fatos ainda desconhecidos pela ciência, ou a dizer que seria melhor se existisse Deus (pela questão ética) - mas nada disso é indício de que Deus existe.

- Pavoroso o relato do professor (que viu a mãe morrer de câncer e por isso perdeu a fé)!!! Quer dizer que os ateus no fundo são apenas pessoas tristes, que tiveram decepções no passado e se tornaram pessimistas e amarguradas??? O filme iguala Deus a esperança... Como se sem Deus não pudesse haver benevolência, otimismo - e iguala Deus a moralidade também, como se sem Deus ninguém tivesse motivo pra ser ético. 

- Atropelamento do professor + show gospel: será este o pior final de todos os tempos??? É tão ruim que é divertido de ver!!!

CONCLUSÃO: Propaganda ideológica pouco inteligente, mal realizada e e mal intencionada.

(God's Not Dead / EUA / 2014 / Harold Cronk)

FILMES PARECIDOS: ?

NOTA: 2.0

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Sob a Pele

- Não dá pra entender sobre o que será o filme, mas a direção e o uso do som são muito interessantes... faz você olhar cenas do dia a dia como se fosse um extraterrestre.

- SPOILER: Muito interessante o começo - Scarlett "caçando" homens pelas ruas. A performance dela é muito boa. Bizarro os homens sendo engolidos pelo piso preto!!!! O que isso significa??? Chocante a cena dela dando a pedrada na cabeça do mergulhador e abandonando o bebê sozinho.

- Muito bom o efeito especial do cara sendo sugado pra fora da própria pele.

- Depois de uns 40 minutos o filme começa a cansar e a ficar repetitivo. No começo dava a impressão que em algum momento o filme ganharia algum sentido, um propósito (como em 2001 que no começo você não entende nada, mas aos poucos vai ficando claro o tema do filme), mas agora parece que ele será apenas um exercício de estilo sem história e sem nenhum conteúdo palpável. Subjetivismo.

CONCLUSÃO: Exercício interessante de estilo e atmosfera que parece querer dizer algo sobre solidão e alienação, mas acaba não o fazendo. Teria funcionado melhor como um curta ou como um videoclipe.

(Under the Skin / Reino Unido, EUA, Suíça / 2013 / Jonathan Glazer)

FILMES PARECIDOS: Holy Motors / Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas

NOTA: 2.5

domingo, 4 de janeiro de 2015

Whiplash: Em Busca da Perfeição

- Interessante como a primeira cena já estabelece todo o conflito central da história (o desejo do garoto de ser aprovado pelo instrutor).

- Os 2 atores principais funcionam bem e a situação é interessante. Todo mundo pode se identificar com o desejo do garoto de querer se superar, se tornar excelente no que faz.

- A atitude do professor me parece destrutiva e irracional. É divertido de assistir (assim como o sargento linha-dura de Nascido Para Matar, só que ali o filme não estava dizendo que a atitude do sargento era construtiva). Bons líderes não deviam usar medo pra motivar as pessoas. Além disso, ele parece estar buscando padrões irracionais de perfeição, de forma que a gente na plateia não consegue nem perceber a diferença entre os acertos e os erros dos músicos.

- Acho errada a forma que o filme coloca o Andrew contra sua família e contra o irmão "popular" - é como se ele sugerisse que o desejo de se tornar excelente tornasse uma pessoa anti-social e mal compreendida necessariamente. Da mesma forma, não acho necessário ele terminar o namoro com a garota pra focar na carreira. O filme parece estar dizendo: se você quiser ter sucesso, você precisa sacrificar suas relações pessoais.

- O filme retrata apenas relacionamentos negativos.

- O espectador não participa muito das cenas, pois não sabe quais os critérios do instrutor, quais os erros que Andrew está cometendo de fato (a diferença é tão sutil que não percebemos), e o que ele tem que fazer pra superar esses erros (não sabemos quais as fraquezas, as desvantagens de Andrew, que técnicas ele tem que aprender pra tocar melhor). É tudo muito subjetivo - a gente só sabe se Andrew está indo bem ou mal prestando atenção nas reações do Fletcher - não no que Andrew está tocando. A plateia não vibra com o que Andrew realiza - mas com as reações do instrutor. É uma emoção de segunda mão. O filme se resume a observar expressões faciais e a aguardar a aprovação do "mestre", da autoridade (que não é um personagem muito gostável).

- A mensagem do filme: o sucesso exige sacrifícios horríveis, exige que você derrame o seu sangue, que você sofra até o seu limite. A vida é uma competição cruel! O filme no fundo parece fazer uma crítica à busca pelo sucesso... Cria um desincentivo, pois o retrata de uma maneira tão desagradável que faz a plateia se sentir aliviada por não ser tão ambiciosa.

- A apresentação final é muito bem filmada e editada.

(Whiplash / EUA / 2014 / Damien Chazelle)

FILMES PARECIDOS: Rush: No Limite da Emoção / Cisne Negro / Billy Elliot

NOTA: 6.0 

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Ida

- Fotografia bonita! Gosto da luz difusa e da precisão do foco. Parece um filme dos anos 50. Curiosos os enquadramentos que deixam os atores na porção inferior do quadro, embora soe algo aleatório (um toque de subjetivismo pra deixar a fotografia menos "comercial").

- Filme extremamente frio, sem emoção, sem música, sem cor, atores pouco expressivos.

- História nem um pouco interessante. Ida é uma personagem distante, fria, com o qual não nos importamos. Não sabemos como funciona a mente dela, quais os seus conflitos. A meta dela é desinteressante (descobrir como os pais morreram e onde foram enterrados - pais que ela nunca conheceu) e ela não parece ter nenhum desejo forte.

- Personagem da tia (Wanda) é mais interessante, e o contraste entre as duas (a "vadia" versus a "santinha") quase cria um tema interessante pro filme (a libertação de Ida de uma vida de repressão), mas isso ainda não é bem desenvolvido.

- O filme parece achar que por ele ser sobre o holocausto, isso o torna automaticamente "respeitável", dando a ele a permissão para ser chato. E o público parece cair nessa... As pessoas no cinema estão completamente imóveis no assento - ninguém come pipoca, ninguém bebe refrigerante, ninguém comenta nada com o amigo. O filme é "artístico" demais pra essas coisas - afinal, ele é polonês, é sobre o holocausto, é preto e branco, e é chato - então temos que nos comportar como se estivéssemos em um museu, ou em uma igreja (eu faço anotações no celular durante a sessão pra postar depois aqui no blog, e como sei que isso pode ser um incômodo para os outros, tento fazer da maneira mais discreta possível, reduzindo ao máximo a luminosidade do celular e deixando o aparelho próximo ao corpo enquanto escrevo, escondendo a tela dos que estão atrás - ainda assim, pela primeira vez desde que comecei a fazer isso, um senhor pediu indignadamente que eu parasse de mexer no telefone, me forçando a mudar de lugar como se eu fosse um herege).

- Legal que a Ida começa a beber, a fazer sexo, etc. Pelo menos acontece algo no filme. Ainda assim, isso é um evento casual, sem um significado emocional ou intelectual (o filme não julga - não retrata o fato como sendo positivo ou negativo). Realismo.

CONCLUSÃO: Fotografia bonita, mas roteiro raso, sem drama ou conteúdo intelectual.

(Ida / Polônia, Dinamarca, França, Reino Unido / 2013 / Pawel Pawlikowski)

FILMES PARECIDOS: A Fita Branca

NOTA: 3.5