quinta-feira, 26 de março de 2015

Cinderela

- Produção luxuosa; visual de encher os olhos!

- Acho o casting errado. Pegaram uma menina meio comum pra fazer a Cinderela, e colocaram a maravilhosa da Cate Blanchett pra fazer a vilã! No desenho, a madrasta invejava a beleza da Cinderela e esse era o grande motivo dela odiá-la. Além de tirar essa rivalidade essencial, fica sem sentido uma mulher tão elegante quanto a madrasta ter 2 filhas tão vulgares e mal vestidas.

- Um pouco mal resolvido o lance dos animais. Seria melhor que o filme abraçasse a fantasia e fizesse os ratinhos falantes como no desenho - ou então tornasse tudo mais realista. Ficou em cima do muro, talvez por medo de soar infantil. O problema é que mais tarde, quando chega a fada madrinha, não há como fugir da fantasia, e tudo fica meio estranho (principalmente aquele lagarto medonho!).

- Em vez de fazer uma versão dark dos contos infantis (como de costume), o filme erra pro outro lado: acaba soando açucarado demais, ingênuo, superficial, sem seriedade. É justamente esse tipo de atitude que faz as pessoas acharem que a felicidade é uma ilusão.

- Todos os antagonistas são mais fracos. Não só a madrasta, que é meio cômica, não muito assustadora, como também as irmãs e o gato.

- Da transformação do vestido pra frente, o filme vira uma série de "orgasmos" auto-conscientes que são um pouco artificiais. Cada momento clássico do desenho é anunciado com tambores e fogos de artifício, como se o diretor não estivesse mais interessado em emocionar a plateia através da história - quisesse apenas apresentar suas magníficas versões das cenas do desenho.

- Estranhamente, o roteiro é bem mais confuso que o do desenho. Se o príncipe conheceu a Cinderela antes do baile, e ele se encantou por ela mesmo em trajes comuns, não faz sentido ela ficar desesperada à meia-noite e achar que haverá algum problema no fato dela não ser da realeza. Também não faz sentido o príncipe estar indo pessoalmente provar o sapatinho em todas as mulheres do reino. No desenho isso era uma estratégia do rei pra achar a Cinderela (sem o conhecimento do príncipe). O príncipe em si iria reconhecê-la, até por já tê-la visto mais de uma vez, arrumada e desarrumada. Não que o desenho fosse a coisa mais plausível do mundo, mas aqui esses "furos" chegam a atrapalhar o aproveitamento da história.

- SPOILER: Horrível a atitude vingativa da Cinderela em relação à madrasta no final. A Cinderela do clássico jamais faria isso! Ela tinha mais nível.

CONCLUSÃO: Bela produção, mas é mais uma ilustração cara do desenho do que um filme que se sustenta sozinho.

(Cinderella / EUA / 2015 / Kenneth Branagh)

FILMES PARECIDOS: Caminhos da Floresta / Malévola / Frozen / Oz: Mágico e Poderoso

NOTA: 6.5

26 comentários:

Stella disse...

Caio, é a madrasta da Branca de Neve que inveja sua beleza. Ainda não assisti o filme, mas acho a Lily James encantadora como Cinderella. Enfim, gosto é gosto. Um abraço, S.

Caio Amaral disse...

Oi Stella, a madrasta da Cinderela também..! Em 2 minutos e pouco de filme a narradora descreve a madrasta como "fria, cruel e amargamente invejosa do charme e beleza de Cinderela".. hehe. Bjs.

Anônimo disse...

Realmente, não dá pra ver motivo para inveja.
No desenho, era o conselheiro do rei, que fazia do monóculo um ioiô, quem ficava encarregado de buscar a dona do sapato. Como nesse filme resolveram transformara-lo em adversário da cinderela, devem ter achado que a solução seria o príncipe fazer ele mesmo a busca, o que fica muito esquisito.
Que mal pergunte, há alguma coisa que valha a pena dizer do curta Frozen Fever?

Caio Amaral disse...

Não achei nada memorável... parece que fizeram só pros fãs matarem a saudade dos personagens... algo bem despretensioso...

Anônimo disse...

Não vejo muito motivo pra se ter feito esse filme. Se fosse alguma releitura do conto, ainda se podia justificar. Mas parece que a Disney, não se sabe por quê, está resolvida a fazer versões live action de todas as suas animações. Já estão soltando notícias de filmes live action de "A Bela e A Fera", "Mulan", um Dumbo que seria dirigido por Tim Burton (esse deve ser uma versão dark com certeza, a julgar pelo diretor), e até do Ursinho Pooh.
Não sei pra que isso, só se for algum receio de que produções antigas caiam no esquecimento, embora Cinderela, Bela e o Pohh ainda se mostrem bem vendáveis.
Vi essas notícias no site
http://www.ocamundongo.com.br/

Pedro.

Caio Amaral disse...

O motivo parece ser o mesmo de todos os estúdios: não correr riscos com histórias originais.. As grandes produções hoje em dia são quase sempre sequências, remakes, reboots, adaptações de quadrinhos, livros de sucesso, contos infantis, video games, brinquedos da Disney, brinquedos mesmo tipo Lego, Transformers, etc. Tudo que já é uma marca de sucesso..

Dood disse...

Eu assisti duas vezes, aliás foi o último filme que assisti com minha mãe antes dela falecer no ano de 2015.

Sim o filme e açucarado, mas parece que a animação era um pouco assim.

Realmente A Blanchet como madrasta fica estranho tentaram ofuscar sua beleza com roupas excêntricas e cores frias.

Não compreendi sua afirmativa de que a Cinderella foi vingativa no final. Poderia explicar?

Eu particularmente não gosto da história da Cinderella por ser extremamente fantasiosa a ponto de levar o romantismo a deboche. Mas entre esse é a desconstrucao sem necessidade da bela adormecida em Malévola prefiro esse.

Caio Amaral disse...

Oi.. Estava me referindo à atitude da Cinderela no final.. quando ela levanta o queixo pra madrasta, diz que ela nunca será sua mãe... fecha ela lá no sótão.. e a frase cínica no final "eu te perdôo".. é uma postura cheia ressentimento, ódio reprimido, que mancha o arquétipo inocente que a Cinderela representa.. abs!

Anônimo disse...

No conto escrito por Charles Perrault, Cinderela perdoa a madrasta, mas o faz sinceramente, tanto que até mesmo ajuda a arranjar maridos aristocráticos para as irmãs postiças. Mas a Disney deve ter querido adaptar a história ao gosto moderno.
Penso que o foco principal na história da Cinderela não é o romantismo, mas sim a injustiça sofrida pela personagem, esbulhada na sua herança e humilhada pela família. O romantismo exagerado, admitido no próprio desenho, na forma da narrativa irônica do conselheiro do rei descrevendo a implausível possibilidade de o príncipe se apaixonar à primeira vista por alguém no baile, enquanto isso mesmo está acontecendo, é mais uma forma de realçar a injustiça, pois na vida real a personagem teria pouquíssimas perspectivas.

Caio Amaral disse...

Isso mesmo... há um toque de vitimização no filme que não havia no desenho... essa coisa do oprimido orgulhoso na luta contra o opressor..

Dood disse...

Acho valido o complemento a história da Cinderella, seria um final até mais interessante que cairia bem a versão cinematográfica.

E é essa a linha de pensamento que o anônimo afirmou é que fazem um pouco de deboche de ser romântico. As pessoas tem muita ideia de que é um sonhador bobo. Ainda mais agora que socialmente impera uma cultura depressiva. Só que fico com aquela impressão de que Cinderela é algo fantasioso demais, tudo parece perfeito para o personagem. Algo que no primeiro livro filme de Harry Potter em similaridade.

Caio Amaral disse...

Hmm, eu acho que Cinderela (o desenho) tem conflitos na medida certa pra um conto infantil: a condição péssima dela no começo, quase como uma escrava da família, o receio de revelar sua real identidade pro príncipe e ser rejeitada, as constantes ameaças da madrasta e das irmãs, etc.

Dood disse...

Gostei dos comentários, talvez eu reveja a animação novamente. Porque nunca conseguiu me descer muito a personagem e o universo dela. Talvez depois de maduro e agora com os apontamentos de vocês eu consiga compreender essa perspectiva.

Caio Amaral disse...

Se assistir me fala se continua achando tudo muito perfeito pra personagem.. de repente vc está vendo por outro ângulo ou não se expressou direito.. não precisa concordar comigo necessariamente, hehe. Abs!

Dood disse...

Hoje eu assisti a animação, como eu disse nunca fui muito fã da personagem em si. Mas fui sem rejeição, acabei achando melhor mesmo. E talvez até me emocionei mais na cena em que ela chora por ter seu vestido rasgado. Até porque nunca assisti a animação com tanta atenção

Caio Amaral disse...

Legal.. não é uma personagem que tenho também entre minhas preferidas, mas é um símbolo tão importante na cultura que volta e meia estou aqui falando dela hehe. abs!

Dood disse...

Eu sempre tive um pouco de receio da personagem pela simplicidade de sua história e pela solução mágica que ela tinha, diferente de uma Branca de Neve que eu adoro a animação da Disney.

Mas acabei vendo coisas positivas na animação de Cinderella que sustentam a trama:

- É pre estabelecido que a Madrasta não acha as filhas dela merecedoras do príncipe, e embarca elas por desespero por estar quase falida depois de torrar praticamente a fortuna da Cinderella.

- A própria Cinderella tem muita atitude, apesar de sonhar. Ela se esforça para cumprir tudo no prazo para ir ao baile, apesar dos animais antropomorfos ajudarem. Ela já tinha um vestido pronto de sua mãe. Nas outras versões que ouvia como mais populares, ela não tinha vestido para ir ao Baile. Aqui dá um sentido, um quê a mais na trama.

- A Ciderella na animação é bastante gostável, pelo seu esforço. Você se emociona quando as irmãs dela depredam o vestido dela. Muitas vezes nos sentimos assim quando desejamos algo e por um ato de inveja tentam nos sabotar. Você se identifica.

- A Cate Blachett é muito exuberante para uma madrasta, a da animação é superior as feições mais grossas dão um ar de ser desprezível.

- A musica da madrinha bibidi bobidi bu é viciante, meu filho ficou cantarolando aqui.

- Apesar do antropomorfismo fantástico, até que é bacana ver os ratinhos na cena final.

Caio Amaral disse...

As tramas desses clássicos infantis muitas vezes são simples mesmo, até porque são feitas para crianças, pras quais até um conceito básico como "fada madrinha" ainda é algo novo e fascinante.. é com a experiência dessas histórias essenciais que depois conseguimos integrar melhor histórias mais complexas.. e parte da beleza nesses casos é ver o quão bem certos filmes satisfazem essa necessidade, e se tornam quase que um arquétipo platônico, o modelo básico de um tipo de história.

As pessoas têm essa ideia da Cinderela ser extremamente passiva, frágil.. mas quando revi o filme me chamou atenção também essa força que não costuma ser comentada.

A dinâmica com a madrasta realmente mudou.. no desenho Cinderela é atacada por ser secretamente invejada por suas virtudes. No filme, é como se ela fosse rejeitada justamente por não ser tão "nobre" quanto a madrasta, que não quer se misturar com a gentalha, rs. abs!

Anônimo disse...

Na animação, o trabalho de fazer de Cinderela uma personagem simpática foi até bastante bom, considerando o material de origem. O outro caminho mais plausível seria fazer dela uma vítima ou uma revoltada, como Jane Eyre, que era basicamente uma releitura do conto de Cinderela.

Sempre houve na literatura e no cinema uma certa dificuldade de construir personagens bonzinhos que fossem atraentes para o público. É comum que personagens muito bonzinhos sejam vistos como insípidos, rasos ou chatos. Um exemplo disso seria o Victor Laszlo de Casablanca, que de tão heróico, perfeito e impoluto, acabou sendo um personagem tão distante e desprovido de apelo, que praticamente nenhum espectador do filme se conformou que a personagem da Ingrid Bergman ficasse com ele no final, em vez do Rick de Humphrey Bogart.

Pedro.

Caio Amaral disse...

Sim muita gente se identifica mais com os personagens "polutos", etc. Mas na minha visão essa não é a essência do apelo.. Bogart é um astro dez vezes mais carismático que o ator que faz Laszlo, Rick se veste melhor, diz várias frases dignas de aplauso, tem todo um status construído desde o início do filme.. Pra mim é por causa desses inúmeros positivos que ele se sobressai sobre Laszlo, e não o fato dele ter defeitos e Laszlo ser perfeito demais..

Dood disse...

Eu tinha uma visão insípida da Cinderella, talvez porque geralmente a gente se apega ao genérico, sem se atentar nos detalhes. Eu acho a Cinderella uma representação idealista do excluído que, mesmo durante as adversidades, está lutando e buscando, não deixando o sonho morrer.

Mesmo com o fantástico que é toda a magia no arco da Fada Madrinha a gente entende como uma ajuda inesperada, um levante por quem nos estima. Isso é algo que pode ocorrer, reconhecimento do mérito ás vezes não vem de onde se espera ver. Acho a mágica válida ao ponto que se tem esse peso.

Caio Amaral disse...

Sim.. acho que é aquela ideia de que, se você for bondoso, permanecer íntegro, o universo irá conspirar ao seu favor (outras pessoas boas reconhecerão isso, poderão te ajudar etc.)

Anônimo disse...

Sim, Rick é mais elegante e espirituoso, mas é também cínico e moralmente ambíguo, o que torna seus atos nobres mais admiráveis. Já Laszlo é todo virtuoso desde o início, jamais demonstra medo, hesitação ou qualquer fraqueza, o que torna seu personagem um tanto unidimensional e inumano, difícil de empatizar, ao contrário de Rick, o “sentimental”, como ele é chamado algumas vezes no filme. Isso prejudica um pouco até o triângulo amoroso do filme, porque Laszlo é inabalável demais para sentir falta da companheira. Se ela o deixasse, ele no máximo a criticaria por deixar a causa em segundo plano, e seguiria em frente.
Na verdade, Casablanca deve ser mais entendido como filme de guerra que como história de amor. Laszlo é a encarnação dos valores da resistência ao nazismo, e Rick é a América que deve sair de sua apatia e distanciamento, e abraçar a luta pelos valores nobres personificados por Laszlo.

Cinderela também não apresenta falhas pessoais, mas nas cenas da vida doméstica e suas interações com os bichos, na animação, foi construída uma personagem simpática.

Pedro.

Caio Amaral disse...

Isso, lá no post "O que torna um personagem gostável?" eu discuto essa necessidade toda de apresentar virtudes, vulnerabilidades, mostrar o personagem agindo, etc... Se você não leva o espectador por este processo, ele não vai desenvolver grandes afetos pelo personagem, mesmo que à distância pareça alguém respeitável. E esse dilema entre Rick e Laszlo me lembra um pouco o dilema do Doutor Jivago entre Lara e a esposa, que apesar de toda certinha, não despertava uma paixão tão intensa nele.. É um conflito pelo qual todo mundo passa na vida real.. ter um pretendente que pelos padrões da sociedade seria um ótimo "partido".. mas isso não ser o bastante pra criar um sentimento romântico. abs!

Dood disse...

Cinderella tem um ar de "perfeição", mas creio eu que a condição de seu cenário e a questão de superá-lo em torno de um objetivo (ter oportunidade de dançar com o príncipe) o faz torcer por ela, por mais que a história seja manjada a animação da Disney dá esse toque narrativo que dá pra se apegar.

Caio Amaral disse...

Sim.. os objetivos + os obstáculos externos já ajudam a criar essa empatia.. mesmo que o personagem não tenha fraquezas em termos de caráter, etc..