quinta-feira, 30 de abril de 2015

Duna de Jodorowsky

Documentário sobre a produção fracassada do diretor chileno Alejandro Jodorowsky (que fez alguns dos filmes mais bizarros e surrealistas do cinema como El Topo e A Montanha Sagrada). Depois do relativo sucesso de A Montanha Sagrada, Jodorowsky começou a desenvolver seu projeto mais ambicioso - a adaptação pro cinema do livro de ficção-científica Duna de Frank Herbert (que ele ainda nem tinha lido - teve a ideia só porque um amigo disse que era bom!). O filme ia contar com a participação de figuras icônicas no elenco como Mick Jagger, Salvador Dalí, Orson Welles. Pra trilha sonora, Alejandro conseguiu bandas como Magma, Pink Floyd. Muitos storyboards e desenhos foram feitos (e muitos dos designs criados pro filme futuramente serviram de inspiração pra outros filmes, como Alien), mas no fim a produção seria muito cara e nenhum estúdio de Hollywood quis financia-la.

Pra gente que assiste, fica óbvio desde o começo que o filme nunca seria feito (pelo menos por ele) - que nenhum estúdio iria investir alto num projeto tão excêntrico, comandado por um diretor nada comercial (é um caso totalmente diferente de Kubrick, que quando fez 2001 já tinha 4 filmes importantes, tinha provado que sabia contar histórias de maneira objetiva, já tinha comandado a mega-produção Spartacus, etc).

Jodorowsky toma decisões extremamente suspeitas no desenvolvimento do filme. Por exemplo: escala o próprio filho (que não era nem ator e nem atleta) pro papel do herói (que teria várias cenas de luta)... dispensa o gênio dos efeitos especiais Douglas Trumbull, que tinha feito 2001, pois acha ele muito "vaidoso" e muito "técnico" quando o conhece... Jodorowsky é do tipo que odeia dinheiro, acha que cinema é arte e está acima de negócios, de técnica.

Chega a ser constrangedor ver um artista se expondo dessa forma, acreditando tão cegamente que seu trabalho seria a coisa mais revolucionária da história, que iria mudar o mundo, convencendo grandes artistas a participarem do projeto, quando na realidade tudo parecia uma grande viagem de ácido - um desses filmes psicodélicos dos anos 60/70 que as pessoas assistem hoje em dia mais pra dar risada. Pro espectador, acaba sendo útil como exemplo do que não fazer na carreira!

CONCLUSÃO: Bem feito como documentário, mas podia se posicionar de maneira mais sóbria em relação ao projeto.

(Jodorowsky's Dune / EUA, França / 2013 / Frank Pavich)

NOTA: 6.5

4 comentários:

Anônimo disse...

Esse não é aquele filme que o David Lynch adaptou, ou não tem nada a ver? Aproveitando o gancho, interessante notar que o Lynch descobriu em Duna, conforme declaração do mesmo, que ele não consegue trabalhar com altos orçamentos.

Caio Amaral disse...

Isso..! Depois de uns anos o projeto foi pro David Lynch.. que também era doido mas pelo menos já tinha se provado minimamente são em O Homem Elefante.. De qq forma, quem tava no comando aí era o famoso produtor Dino de Laurentiis, que comprou os direitos do livro e contratou o Lynch pra dirigir.. não era um projeto pessoal do Lynch onde ele poderia fazer qq maluquice.. então os estúdios confiaram mais.. e mesmo assim foi um fracasso! hehe.

Anônimo disse...

Muitos filmes são tão diferentes dos livros que supostamente os inspiraram que a gente fica na dúvida se o diretor e o roteirista chegaram a ler a obra. P. ex., o livro "As Minas do Rei Salomão" nada tem a ver o filme desse nome, estrlado Richard Chamberlain e Sharon Stone. Inclusive, no livro, escrito pelo inglês Henry Rider Haggard, não há nenhuma mulher branca, nem soldados alemães, nem um vilão turco sádico. O filme foi uma cópia ruim dos Caçadores da Arca Perdida.
O pior é que muitas vezes as pessoas deixam de ler os livros, pensando que conhecem as histórias pelos filmes.

Caio Amaral disse...

Pois é.. acho que geralmente o interesse dos estúdios é simplesmente o de surfar na onda de algum sucesso recente (como Indiana Jones).. e daí vão atrás de histórias mais ou menos dentro do mesmo gênero pra adaptar.. ou seja: a prioridade não é ser fiel ao material original, e sim fazer algo dentro da estética dos sucessos do momento... Por isso muitos filmes comerciais de um certo período acabam tendo a mesma cara, embora o material de origem possa ser bem diferente..