quarta-feira, 3 de junho de 2015

O Declínio de Originalidade em Hollywood

Um gráfico interessante que mostra o declínio dos filmes originais entre os maiores sucessos de bilheteria do ano.

Será que os estúdios de Hollywood estão cada vez mais medrosos, apostando apenas em projetos que já têm um retorno financeiro garantido - sequências, remakes, reboots, adaptações de quadrinhos, brinquedos e livros de grande sucesso? Ou será que os filmes originais continuam sendo produzidos na mesma quantidade, apenas não estão chegando ao top 10, pois o público prefere histórias mais familiares?

Vale notar que nesse gráfico eles foram "bonzinhos" com a atual situação. Por exemplo, no ano de 1993, o gráfico diz que entre as 10 maiores bilheterias do ano, 5 eram filmes originais. Pra ser preciso, apenas 4 eram originais: O Fugitivo, Risco Total, Sintonia de Amor e Filadélfia. Os outros 6 filmes eram adaptações de livros: Jurassic Park, Uma Babá Quase Perfeita, A Firma, Proposta Indecente, O Dossiê Pelicano e A Lista de Schindler - mas todos eram livros "parte 1", em geral escritos por autores experientes e respeitados.

20 anos depois, em 2013, há apenas 2 filmes originais no top 10: Frozen e Gravidade. Mas vejam como são os outros 8 filmes: Homem de Ferro 3, O Homem de Aço, Meu Malvado Favorito 2, O Hobbit 2, Jogos Vorazes 2, Velozes e Furiosos 6, Universidade Monstros, e Thor 2 - um pouco diferente de filmes "não-originais" como Jurassic Park e A Lista de Schindler, não acham? No fundo minha preocupação não é nem com a originalidade e sim com a qualidade média dos filmes.

É interessante que, apesar de eu estar sempre reclamando que os filmes estão mais sombrios, mais violentos, se você for ver, no fundo há uma certa infantilização do cinema. Muita coisa hoje em dia é voltada pro público infantil e adolescente (ou adulto com mentalidade adolescente). Isso apoia minha noção de que todo esse tom dark no fundo é pra tentar disfarçar e "compensar" a natureza juvenil dos filmes, assim como um adolescente às vezes apela pra um visual agressivo pra que ninguém perceba que ele mal saiu da infância.

E apesar de eu estar sempre falando mal das animações, é preciso dizer que boa parte dos filmes originais de sucesso da atualidade são filmes como Frozen, Valente, Up, Enrolados, Kung Fu Panda - então ponto pra Disney/Pixar e pros outros estúdios de animação por pelo menos manterem o nível de originalidade acima do zero nas estatísticas.

Fica a pergunta no ar: por que filmes como O Dossiê Pelicano antigamente faziam tanto dinheiro quanto filmes infantis ou produções com Stallone/Schwarzenegger - e filmes da mesma categoria hoje em dia não chegam nem perto do Top 10? Isso porque estamos falando dos anos 90, onde a mentalidade "blockbuster" dos estúdios já estava bem estabelecida. A coisa fica ainda mais estranha quando você começa a considerar décadas anteriores.

Lembrando: eu sou totalmente a favor de blockbusters, de filmes infantis, de filmes estrelados por ex-fisiculturistas, etc. A questão aqui não é a existência desses filmes, e sim o nível de seriedade e imaginação com que eles são feitos - e também a diminuição relativa de público pra filmes de temática mais adulta.

6 comentários:

Djefferson disse...

Concordo com você. Principalmente na parte de adolescentes rebeldes, os famosos "ateus satanistas".
Percebo que a sociedade ficou muito infantil, sensível, gay e o pior que é moralista. Hoje mesmo estava contando para minha filha que a alguns anos atrás, a agressividade entre as crianças era muito maior e tínhamos que aprender a ser fortes para sobreviver na escola e pela vizinhança.

Lembro-me de desenhos para crianças com sangue, machucados explícitos, deformidades. Assim como as tatuagens de goma de mascar eram sobre feridas expostas, objetos atravessando a pele, os brindes de cereais eram pedaços do corpo humano em decomposição (olho, nariz, língua), etc etc.

A sessão da tarde passava filmes de terror com cenas bem pesadas sem censura e cenas de relação íntima tambem.

Sem mencionar o óbvio que a internet e tecnologia estragaram, pois isto está na cara, nem quero mencionar.

As crianças tinham uma exposição maior a realidade adulta, mas hoje os adultos agem como crianças fora da realidade. Achando que vão salvar o mundo transformando-o em "fofinho".

Ser nerd era o oposto de popular, não era como é hoje (não sou nerd, sou um senhor aposentado) e por isso o bullying acontecia em uma escala muito acentuada. Principalmente entre as etnias, religiões e sexos. As crianças aprendiam esta dura realidade desde cedo na escola.
Em certa época as crianças começaram a viver num mundo de fantasia, onde todos são "antiviolência", "anti bullying", "antirracismo", "anti-homofobia" etc. Cresceram e não foram apresentados aos dramas da vida adulta. Qualquer mídia com o mínimo de realidade é acusada de ser ofensiva e é censurada por estas pessoas imediatamente.
Uma organização nos estados unidos queria boicotar Mad Max 4 por ser feminista demais (WTF?)

Fica difícil tentar transmitir a minha ideia em palavras e acabo escrevendo demais. Mas em resumo eu acho que o filme que mais se aproxima do caminho que a sociedade está tomando é esse: http://www.imdb.com/title/tt0106697/

Note o fascínio que a mocinha sente pelos século passado (hipsters, alguém?).
Sexo virtual, machões frágeis, vegetarianismo, sem violência e sem palavras agressivas. Todos se amam. Igualzinho hoje.

Caio Amaral disse...

Oi Djefferson..! Não lembro nada do Demolidor, precisaria rever pra entender melhor o que vc quis dizer. Você foi pra um tópico bem diferente do da postagem né, mas concordo com algumas coisas que disse... Realmente a mídia hoje em dia parece estar mais "politicamente correta".. mais conservadora.. e se tornando apática.. ao mesmo tempo, acho que com a internet as crianças acabam sendo expostas a coisas como pornografia e violência de uma maneira mais fácil do que antigamente.. então apesar das tentativas, não sei se elas estão de fato crescendo com essa imagem de que o mundo é "fofinho".. capaz até de estarem mais cínicas... Mas independentemente da mídia, da internet, cada pessoa tem um par de olhos e é capaz de observar como o mundo funciona na prática, e criar os próprios julgamentos.. a mídia pode manipular notícias, acontecimentos, etc, mas não impedir as pessoas de enxergarem a realidade.. essas noções básicas a respeito da natureza humana, etc. Então não é um assunto que me preocupa tanto.. abs!

Anônimo disse...

Talvez o declínio da originalidade seja mesmo medo de arriscar, de perder dinheiro, ainda mais que as produções estão se tornando cada vez mais caras, muitas vezes absurda e injustificavelmente caras, o que aumenta o perigo de prejuízo, e leva os produtores a quererem coisas que tragam alguma certeza de lucro. Um exemplo extremo dos níveis inacreditáveis dos gastos atuais de Holywood é o desenho da Disney "Nem que a Vaca Tussa" que, segundo a Wikipedia, custou 110 milhões de dólares e arrecadou 50 milhões. Não consigo imaginar como uma animação 2D de 76 minutos e que nada tem de especial possa ter custado mais da metade do que custou sete anos antes uma superprodução como Titanic, na qual se vê cada centavo dos US$ 200 milhões que nele foi investido. Mas parece que Holywood está se esmerando em fazer tudo da maneira mais cara possível. Li na VEJA uma entrevista do George Miller na qual ele no começo conta como filmou o primeiro Mad Max com o mínimmo de dinheiro, indo pro deserto pra economizar em cenografia, e, na versão atual, se deu ao luxo de fazer parte do filme na Austrália e outra parte na Namíbia, embarcando toneladas de equipamentos para cruzar meio mundo.

Caio Amaral disse...

Realmente o Nem que a Vaca Tussa foi um pouco desproporcional..! Rs. Tem que levar em conta a inflação também né.. 200 milhões na época do Titanic viram 294 milhões hoje. Mas não entendo como as animações podem custar tanto.. Enrolados custou 260 milhões..!

Na minha cabeça os filmes deviam estar custando mais barato atualmente.. por causa dos efeitos especiais cada vez mais acessíveis.. Hoje em dia seria muito difícil alguém gravar algo como Lawrence da Arábia por exemplo.. transportando milhares de figurantes, cavalos, camelos pro deserto.. explodindo trens.. tudo sem nenhum efeito.. É que esses blockbusters atuais investem pesado em publicidade também né.. Acho que boa parte do orçamento deve ir pra isso..

Anônimo disse...

Realmente, a tecnologia poderia mesmo baratear as produções, um bom exemplo de como isso poderia ser feito seria o "Capitão Sky e o Mundo de Amanhã" (2004), que custou 70 milhões de dólares, bem menos que os exemplos citados, um filme onde atores trabalharam diante de uma tela azul, e onde os cenários foram criados em computador. Talvez esse filme venha a ser mais lembraddo quando se começar a questionar o modelo atual de produção tão perdulário.

Caio Amaral disse...

Não ficou muito claro, mas eu sou contra a essa tendência dos filmes ficarem totalmente computadorizados.. Prefiro locações reais, efeitos práticos, etc.. Mas JÁ QUE os filmes estão cada vez mais "CGI", as produções, na minha cabeça, deviam estar ficando mais baratas e não mais caras.. Sei lá.. Pode ser a questão da publicidade mesmo que explique esses orçamentos..