sábado, 5 de dezembro de 2015

No Coração do Mar

ANOTAÇÕES:

- Legal a homenagem a Tubarão na cena inicial (se é que foi intencional).

- É uma produção de certo nível, mas tudo soa muito convencional, clichê. Por exemplo: a esposa grávida que dá o amuleto pro marido que está partindo pra uma grande aventura, etc. As caracterizações soam superficiais, com clima de novela.

- Fotografia feia, escura, suja, muito manipulada. Os efeitos especiais também não são dos mais convincentes. O filme se passa em um ambiente feio e com personagens desinteressantes. Não dá pra comparar com As Aventuras de Pi, ou mesmo Tubarão.

- Não simpatizo muito pelo Chris Hemsworth nesse papel (me parece muito impessoal, invulnerável) nem pela relação principal do filme, que é entre ele e o capitão do navio. É uma disputa pra ver quem é mais poderoso, dominador, mas sem o charme de uma rivalidade como a do filme anterior do Ron Howard (Rush: No Limite da Emoção), onde por trás da competição havia um respeito mútuo e uma química entre as personalidades. Acho que a história seria melhor se fosse contada pelo ponto de vista do garotinho (Tom Holland, que é mal explorado).

- Quando a baleia começa a atacar, o filme fica mais envolvente. Mas ele não diverte como um filme de monstro no estilo Tubarão, primeiro porque a baleia está apenas se defendendo - não é uma assassina perversa. Então nem podemos torcer muito pelos protagonistas. Além disso, o filme se passa num lugar e com pessoas muito distantes da nossa realidade. Não há aquele impacto de ver um tubarão aparecendo numa praia comum cheia de turistas.

- Não gosto dos excessos de cortes, da câmera tremida. Na cena em que o navio afunda e pega fogo mal dá pra ver o que está acontecendo direito. A trilha sonora também é toda errada nessa cena. Há um tom épico, intenso, como se a plateia tivesse que estar muito emocionada, mas não há um grande drama por trás da ação.

- Não é nada convincente o velho que narra a história nunca ter falado sobre esses eventos com ninguém e ainda estar traumatizado décadas depois do que houve! Não é uma história da qual ele iria se envergonhar... E sim uma aventura que ele iria contar incansavelmente pros amigos, netos, etc. O filme tenta seguir técnicas tradicionais de narrativa mas que não funcionam direito no contexto dessa história.

- Um dos motivos da história ser fraca é que os personagens não têm muito o que fazer. Não decidem caçar a baleia ou algo do tipo. Nós ficamos só esperando ela arruinar a viagem deles e fazê-los passar por situações desagradáveis.

- SPOILER: A história tem todo esse tom de crítica ao capitalismo que também é uma chatice. O herói não faz nada de memorável o filme todo, e no fim é pra gente aplaudi-lo por "salvar as baleias" e a se voltar contra os industriais ricos e perversos.

CONCLUSÃO: Pra um filme que estava até cotado pro Oscar, o roteiro é fraco demais, cheio de clichês, e a produção decepciona visualmente.

(In the Heart of the Sea / EUA / 2015 / Ron Howard)

FILMES PARECIDOS: Evereste / Invencível

NOTA: 5.0

7 comentários:

Anônimo disse...

Consta que esse filme seria baseado num fato real que teria inspirado Herman Melville a escrever Moby Dick. E provavelmente o filme foi realizado para atender a mania moderna de realismo. Só que Moby Dick tem valor não tanto pela história, mas simbolismo religioso e filosófico que Melville acrescentou. No livro, o nome do capitão da baleeira, Ahab, é uma referência a um personagem bíblico, o rei de Israel que favoreceu o paganismo e perseguiu o profeta Elias. Os cachalotes, que eram sacrificados para iluminar o mundo, fornecendo óleo para lampiões e matéria-prima para velas, eram vistos por Melville como alegorias de Cristo. Perto do final do livro, antes do desastre final, o capitão Ahab realiza diante da tripulação um ritual macabro para consagrar ao demônio o arpão destinado a matar Moby Dick, reforçando que a história simboliza uma luta entre o bem e o mal.
É esse simbolismo que confere grandiosidade a Moby Dick, não tanto a história em si.

Caio Amaral disse...

Isso mesmo.. é uma mania atual.. preferir mostrar os bastidores, e não a coisa em si.. mas nem toda história de bastidores é tão interessante né, a ponto de sustentar um filme.. se o filme fosse satisfatório pelo menos como suspense/ação (tipo Tubarão), acho que tudo bem.. não sentiria tanta falta desse lado filosófico que o Melville acrescentou à história.. mas como não é.. a história fica meio sem graça.

Anônimo disse...

Sei que não tem muito a ver com o filme em questão, mas pra mim 3 filmes desconstruíram o cenário do cinema atual. No entanto, eu não acho estes filmes tããão ruins: Matrix, Batman Begins e homem de Ferro.

Matrix deixou para trás o ar oitentista do futuro, e iniciou uma nova visão, porem, bem besta, dos anos 2000. O futuro era cyberpunk, cheio de hackers, pessoas vivendo na ilegalidade em cidades que sempre chove, cabelo peculiares, óculos escuros, roupas de couro, pessoas com roupas de couro e óculos escuro perseguindo outras com cabelo estranho na chuva, e todo mundo se olhando sério porque o "SISTEMA" era "corrupto e a sociedade decadente" (ainda bem que os jovens pararam com esse papo, e o negócio agora é o politicamente correto). Podem ver como a cultura naquela época tinha muito disso, pegou até nos góticos que hoje sumiram do mapa. Como exemplo, os clips de crazy frog e Darude Sandstorm são uma perseguição do sistema em uma cidade futurista. Até o Jackie Chan foi corrompido nessa onda. E como bônus, a obrigatoriedade do CGI.

Batman é óbvio, do momento que aquele filme foi feito pra frente, ninguém conseguiu mais ser original, era comum ouvir: "taí, outro filme sombrio e realista". Se vc chegar a assistir o Harry Potter 1 e o último em seguida, se pergunta se começaram a filmar em preto e branco e para onde foi toda a fantasia da série. Até as roupas de bruxo não usavam mais pq tinha que ser realista. As cores foram pro espaço. Entre outros filmes é claro.

Já homem de ferro acabou de vez com a esperança do cinema. Diz a lenda que quando stan lee criou o Tony Stark, era pra provar a um amigo que poderia criar o pior personagem que tinha em mente: alcoólatra, irresponsável, egoísta etc, que os fãs iam gostar mesmo assim porque eram "mindless". Dito e feito. Não se sabe se houve um caso similar para o filme, mas eu gosto de pensar que o sucesso se deve ao fato de que um ano antes fomos presenteados com um Peter Parker emo. Procurávamos algo de novo e o que tinha era homem de ferro.

De lá pra cá, o cinema começou a focar demais em bilheteria entregando o que o público acha que quer. Qualquer filme hoje tem exército ou uma batalha com vários inimigos no climax para parecer cada vez maior: Alice, planeta dos macacos, homem de ferro 2 e 3, vingadores 1 e 2, guardiões da galáxia, transformers, hobbit, harry potter, crepúsculo, o remake de Tarzan e tartarugas ninja 2 pelo trailer e inúmeros que não consigo lembrar. Não ficarei impressionado se o clímax do novo Star Wars for mais uma guerra de naves estilo guardiões da galáxia/transformes. Ou se vingadores 3 e 4 o vilãozão ficar sentado o filme todo enquanto seu exército sai de um buraco no céu e destrói a cidade em uma luta com todos os vingadores juntos. Até os trailers alguém sempre diz "estamos em UOÁRR" (war)

Ainda que parecem que tem tesão em ver prédios caindo. Eu começo a me perguntar se o povo americano realmente teme o terrorismo ou é um amor platônico igual filmes-catástrofe.

Li em algum blog que vivemos em uma era que o cinema é feito de plástico em linha de produção seriada. Exatamente como era feito nos anos 50, onde o cinema deixou para trás sua era de ouro e foi inundado com produções de baixo nível e sem a originalidade de seus antecessores e sucessores.

Anônimo disse...

Sem querer entrar na parte dos filmes. Falando da atitude dos americanos para com desastres e terrorismo, é um fenômeno psicológico chamado Catarse. Os brasileiros talvez tenham dificuldade de entender por causa da cultura, mas funciona mais ou menos assim: "Quando vai ocorrer a próxima tragédia para que possamos nos unir como nação novamente?". É muito similar aquela pessoa que diz assim: "Depois deste acidente em que quase morri, encontrei um novo sentido na minha vida", aí você não vê a hora de que aconteça um acidente similar para que você também possa encontrar seu sentido.

Quando ocorreu o 11 de setembro, os Estados Unidos se comoveram e ficaram melancólicos, bandeiras por todo o lugar, e o assunto era esse. Quando um garoto negro foi baleado por um policial, o caso Zimmerman, a nação inteira protesta até hoje.
Se a mesma situação ocorresse no Brasil, tudo ia virar em notícia e talvez em piada. Olhe as tragédias em Mariana e Santa Catarina, assassinatos frios, o máximo que fazemos é doar algo pra não nos sentirmos mal, daí esquecemos.

Caio Amaral disse...

Matrix, Batman Begins, Homem de Ferro.. sem dúvida influenciaram muitos outros filmes... tudo que faz muito sucesso acaba gerando uma série de tendências né... especialmente quando o filme capta os valores do momento e expressa isso de uma nova maneira... tipo: escalando o Robert Downey Jr. pra fazer o Homem de Ferro em vez de um galã mais convencional, etc...

Caio Amaral disse...

Existe um certo encanto das pessoas por catástrofes mesmo.. lembro que eu estava nos EUA na época do 11 de Setembro.. e as pessoas às vezes pareciam animadas, "orgulhosas" de estarem vivendo tempos históricos.. como se a tragédia tivesse tornado as vidas delas um pouco mais glamourosas ou pelo menos menos banais.. mesmo que elas não estivessem diretamente envolvidas no desastre.. meio que nem o brasileiro que fica envaidecido quando a seleção ganha um jogo, etc.. No Brasil acho que nunca teve uma tragédia tão grandiosa né.. a ponto de ganhar as manchetes do mundo inteiro.. Quando o país tem a estatura de um EUA, qualquer desastre vira motivo de comoção.. que nem quando morre uma celebridade e as pessoas se comovem muito mais do que quando um mendigo é morto na rua, etc.. o Brasil é meio que o "mendigo", hehe.

Unknown disse...

Muito agradável, embora inicialmente um pouco solto. Em suma, "No Coração do Mar " é um espetáculo visual muito interessante que recebe cenas específicas com força suficiente. Além disso, o filme também adiciona duas reflexões interessantes: em primeiro lugar, com Melville como eixo sobre o ato de escrever, sobre o medo de nossa própria incapacidade ea luta interna entre revelando e inventar, entre a transmissão da verdade e da captura da essência; ea segunda, sobre os interesses comerciais eternas e a tirania do dinheiro.