segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

As Sufragistas

NOTAS DA SESSÃO:

- A direção de arte é bem feita, mas a fotografia é ruim (câmera tremida em planos fechados, problemas de foco, tratamento de cor feio, etc.).

- Irritante toda essa vitimização. O filme quer vilanizar homens, o industrialismo, qualquer figura de autoridade, e mostrar as mulheres sendo vítimas constantes de abusos de maneira exagerada: são abusadas sexualmente no trabalho, espancadas pela polícia, o marido da Violet é completamente odioso (por que ela se casou e teve filho com ele?).

- Acho um absurdo elas fazerem vandalismo, destruírem propriedade privada, como forma de conquistar direitos. Acho detestável esse tipo de ativista. O prazer delas parece estar no conflito em si, não na busca pela paz, pela justiça, pelo respeito, etc.

- O roteiro é bem estruturado - a história é contada de maneira tradicional, porém eficiente. É apenas difícil de simpatizar pela protagonista e pela causa dela. O filme não é sobre uma pessoa infeliz lutando pela própria felicidade. É sobre uma pessoa pacífica que passa a ser uma rebelde - como se isso fosse uma virtude em si.

- As cenas mais dramáticas da Carey Mulligan são prejudicadas pela fotografia. Mal vemos o rosto dela enquanto ela está chorando, se despedindo do filho, etc.

- SPOILERS: A questão do voto é legítima e nesse ponto eu simpatizo pelas mulheres, pois de fato elas deveriam ter os mesmos direitos dos homens, o problema é a abordagem do filme - ele não é motivado por questões intelectuais, filosóficas, e sim por ódio dos homens. Não há nenhuma figura masculina positiva no filme. E basta observar a estrutura do roteiro: quanto mais detestável o marido da Violet se torna, mais ela vai se tornando agressiva e abraçando a causa das mulheres, como se tudo fosse motivado por questões domésticas pessoais. Quando o marido coloca o filho pra adoção (o pior ato dele no filme), na cena seguinte Violet sai com as outras sufragistas e comete o maior ato de destruição até então (a bomba na casa). A estratégia do filme é a seguinte: provocar ódio contra os personagens masculinos, e na sequência "aliviar" a plateia mostrando elas se vingando: explodindo coisas, Violet queimando a mão do patrão, etc. Pouco se fala de ideias, política, etc.

- SPOILERS: É impactante o final na corrida de cavalos, porém acho um tédio essa glamourização do martírio. Morrer pela causa parece um grande sonho pra pessoas que gostam de se fazer de vítima. Melhor ainda é morrer nas mãos dos "agressores"! Elas podiam ter escolhido qualquer evento público pra chamar a atenção da mídia, então é curioso que a personagem tenha escolhido ser atropelada justamente por um homem montado num cavalo (símbolos de masculinidade e força: os grandes vilões do filme).

CONCLUSÃO: História bem contada e com uma boa performance de Carey Mulligan, porém sem muita originalidade ou méritos artísticos, e promovendo atitudes negativas, destruição, etc.

Suffragette / Reino Unido / 2015 / Sarah Gavron

FILMES PARECIDOS: Orgulho e Esperança / Milk: A Voz da Igualdade / Em Nome de Deus

NOTA: 5.5

21 comentários:

Marcus disse...

Mesmo assim eu acho que as feministas antigamente tinham mais "culhões" que as de hoje em dia. O que as feministas hoje fazem é ficar peladas, escrever um xingamento no corpo, escrever um cartaz do tipo "vai ter___SIM", "eu não mereço___", "_____alguma coisa com a palavra representa", e sair berrando na rua.

Eu vejo isso como única e exclusivamente tentativa de chamar atenção, tendo em vista a era da internet, e não a luta pela causa como era antigamente.

Da mesma forma que os movimentos negro, gay, entre outros que não param de aparecer, não compartilham dos mesmos ideais de antigamente. Eles apenas querem gritar palavrão uns mais altos que os outros e desfazer de quem tem opinião diferente, não contrária, mas apenas diferente.

Cheguei a conclusão que o cenário do politicamente correto na verdade é apenas a inversão de papéis que ocorria com os valentões reprimindo os diferentes há 20 anos. Assim sendo, o meu ponto de vista perante estes novos movimentos é que são um bando de pessoas infantilizadas, carentes de atenção, que não superaram os traumas de infância e agora querem impor aos outros sua posição, tendo como justificativa o "martírio" sofrido pelo grupo como um todo, tanto hoje em dia como através da história.

Caio Amaral disse...

Oi Marcus.. tenho essa impressão também.. não sei como eram as feministas do passado, pode ser que fossem mais focadas nas ideias mesmo, mas como esse filme foi feito em 2015, acho que ele reflete tb a mentalidade das feministas de hoje, hehe.

Anônimo disse...

Não sei o que é pior, se o retrato das sufragettes nesse filme, ou o que foi feito em Mary Poppins, com a Sra. Banks. Se aqui se usa o vitimsmo para justificar a violência das sufragettes, a Sra. Banks parecia apenas uma dondoca entendiada querendo se exibir, atirando ovos em ministros de estado para ser notícia e descuidando da família. Pelo que lembro do filme o Sr. Banks cuidava mais assuntos da casa e dos filhos que ela.

Caio Amaral disse...

Nossa eu nem lembrava disso do Mary Poppins.. eles levavam pro lado cômico né.. vi uma cena agora no YouTube.. mas teria q rever o filme pra entender o contexto.

Anônimo disse...

Lamentável ver a análise do filme, enquanto produção artística, ser completamente afetada pela visão deturpada do autor em relação ao movimento sufragista. A visão do mesmo, associando as ações das feministas a um desejo de aparecer como vítima, é simplesmente ridícula. Sou homem e, seja pelos filmes ou pelos livros de história, consigo enxergar com muita clareza o quão injusto o mundo era (e ainda é) para as mulheres. Seguem abaixo algumas questões retratadas pelo filme que deixam claro o estado de vítima real das mulheres da época:

- Ausência do direito ao voto;
- Mais horas de trabalho e menores salários;
- Guarda dos filhos exclusivamente paterna;
- Assédio e abusos sexuais no ambiente de trabalho, etc.

É muita ingenuidade sua achar que essas questões foram exageradas no filme. Em muitos países essas questões continuam presentes e ter um filme que, de alguma forma, exponha isso já é positivo.
Enfim, análise crítica bem pobre...curioso o título do blog. Cinéfilo? Mesmo? rs

Caio Amaral disse...

Lamentável ver um comentário como esse quando fui tão claro em relação aos pontos que não gostei no filme.
Cinéfilo: "Que ou quem tem forte interesse ou entusiasmo pelo cinema." O termo não especifica que a pessoa deva ter o mesmo gosto que você. rs.

Marcus disse...

Não entendo mais o público de hoje. Preferem assistir a críticas sociais do que a um filme. Tecnicamente, se um filme deixa de ser um entretenimento escapista ou ignora a técnica artística de contar uma história para focar em críticas sociais, não se perde o propósito de ter feito um filme?

O filme O Nascimento de uma Nação de 1915 é racista até o talo, no entanto, é um clássico que fora escolhido para preservação devido a sua contribuição artística pra época. Independentemente da mensagem negativa do filme.

Hoje qualquer filme que envolva algo relacionado ao feminismo, gays, negros, pobres, pessoas oprimidas, é automaticamente considerado bom e indicado ao óscar, independente se o realizador era de fato capaz.

Não digo artista, porque por definição, qualquer expressão de emoções ou pensamentos, mesmo que a pessoa não tenha nenhuma técnica, é considerada arte. Assim como na idade antiga, onde os artistas eram ferreiros e oleiros, não pintores ou escultores.

De certa forma, o apego a obras que retratam a este tipo de assunto demonstra que estes "militantes do politicamente correto" não tem sensibilidade artística. E assim como fãs de crepúsculo defendem os livros, os filmes e os atores em suas vidas pessoais. Estes "militantes" são apenas fanboys que defendem a sua opinião no assunto desconsiderando completamente a obra produzida, julgando apenas um dos fatores do que o conjunto inteiro.

Irônico este povo de esquerda que defende o coletivo, o conjunto, mas se uma obra aborda o assunto, mesmo os seus outros pontos (história, cenografia, figurino, atores, personagens, diálogos, produto final) são ruins, já é considerado vitória passível de textão.

Caio Amaral disse...

Oi Marcus! Sim, na minha visão um filme não deve ser apenas um veículo pra uma mensagem política.. Se ele tem algo a dizer nesse sentido, a mensagem tem que emergir de uma boa narrativa. Alguns cineastas priorizam tanto a mensagem, que não estão nem aí se o filme é um tédio de assistir, se é precário tecnicamente, etc. Agora, eu não acho que esse seja o caso de As Sufragistas.. Tecnicamente é um filme até que bem feito, com um roteiro bem estruturado, uma boa atriz... Por isso dei uma nota acima de 5, e não zero ou algo do tipo, rs.

Marcus disse...

Oi Caio. Mas no caso eu não me referia ao As Sufragistas, e sim ao anônimo, que prioriza tanto a mensagem a ponto de não interpretar corretamente a sua crítica, e provavelmente tem a mesma atitude no que se trata de filmes de qualidade inferior mas com mesmo teor político. Daí chega fazendo uns comentários agressivos.

Três recados para ele: quando você age em defesa do assunto feminismo na internet, se identificar como homem na verdade causa o efeito oposto. Pois, é como se pensássemos "esse tipo de comentário só pode vir de mulher", então para ter verdadeira credibilidade se identifica como homem, pois mulher não tem opinião de igual valor.

Sociedades avançadas na Europa antiga (na mesma época dos artistas ferreiros e oleiros), as mulheres agiam ativamente dentro do cenário político. As comunidades indígenas americanas foram construídas com base no matriarcado. As deusas mitológicas eram sempre relacionadas a coisas positivas como sabedoria, beleza, natureza, fertilidade, colheita e família. Foram os líderes judaico-cristãos e as tribos africanas (que o feminismo fala tanto em ancestralidade) que sempre oprimiram as mulheres e as colocavam no papel de vilãs nas suas obras religiosas.
Hoje na Europa e nos EUA, as mulheres são da mesma forma ativas no cenário política, social e no mercado de trabalho. E justamente aonde que as mulheres são oprimidas? Africa e Oriente médio, justamente as "minorias" de hoje em dia.

Não é necessário dizer "pelos filmes ou pelos livros de história" para dar veracidade ao seu comentário. Se o fizer, cite fontes. Fatos são fatos que não precisam ser reafirmados.

Caio Amaral disse...

O lance de se identificar como homem acho que tem o seguinte propósito: mostrar que a pessoa não tem uma opinião distorcida a favor do feminismo só pelo fato de ser mulher.. o fato dele ser homem e ser a favor das feministas sugere que ele acredita na causa delas por razões objetivas.. Mas claro, isso ainda não é argumento.. pq o cara pode ser homem e ainda assim ter uma opinião tendenciosa a favor das feministas - mas por ele ser de esquerda, rs.

Caio Amaral disse...

De qq forma, eu não neguei que as mulheres sofreram injustiças na época.. até falei na crítica que sou a favor dos direitos iguais, etc.. Só critiquei a maneira caricata em que o filme ilustrou a situação.. o fato dele vilanizar o sexo masculino.. Da mesma forma, critiquei o Filho de Saul por motivos parecidos.. Não estou dizendo que os judeus não foram vítimas dos nazistas, rssss.. óbvio que foram.. mas existem formas e formas de você retratar uma mesma situação.

Anônimo disse...

Vai catar coquinhos... Leia mais, informe-se mais antes de querer expor o seu ponto de vista sobre as relações de poder. Vcs não conseguem "enxergar" o que de fato está por de trás de cada um destes movimentos? O que cada um busca? E quais sao os reais interesses em reprimi-los? Não é possível...

Caio Amaral disse...

Pra anônima: eu não acho que seria diferente se tivesse nascido mulher. Por exemplo: eu sou gay mas faço a mesma crítica aos gays que se comportam dessa maneira... é uma questão de mentalidade, valores, e não de sexo, raça, etc. E Karla, não sou contra a luta pelo direito ao voto.. deixei isso claro na postagem. Estava criticando mais as atitudes, a estratégia e a mentalidade delas.

Anônimo disse...

Pois eu seria bem diferente se eu fosse gay. Saberia de fato como é ser gay. E não ficaria apenas observando a ignorância das pessoas em relação à realidade. Não julgaria e não criticaria a minha classe pois conheceria cada dificuldade que se passou para ser respeitado como ser humano e cada direito conquistado, por menor que possa parecer aos outros. Mas, enfim, nasci mulher, heterossexual, então sei bem a dor e a delícia de ser o que é.

Caio Amaral disse...

Acho que nossos princípios éticos devem ser os mesmos independente de nossa "classe".. Se eu acho que explodir a propriedade dos outros pra chamar atenção pra uma causa é algo errado, eu vou continuar achando isso errado se um hetero fizer, se um gay fizer, se uma mulher fizer, ou se minha mãe fizer... Não devemos ir alterando esse tipo de princípio dependendo da nossa empatia pessoal por determinado grupo, etc.

Djefferson disse...

Agora entendi o seu clipe Caio, sobre a crise de identidade e muita coisa que você disse antes fez sentido, como por exemplo a crítica sobre o filme "The Room" onde focaste mais na identidade e estranheza do diretor do que nos aspectos técnicos do filme.

Admito que tinha uma leve desconfiança, mas como disse Derren Brown, uma das minhas pessoas preferidas: "quando você é um alguém extraordinário e impressiona as pessoas com suas habilidades, dizer que é gay vai ser apenas uma informação adicional sobre você. Os outros estarão mais interessados em vê-lo brilhar". Ele também é gay.

Minha esposa recebeu hoje sobre o dia da mulher as imagens abaixo, acho que resume muito o que eu penso sobre a militância hoje em dia.

http://bobagento.com/wp-content/uploads/2016/03/01.jpg
http://bobagento.com/wp-content/uploads/2016/03/02.jpg

Caio Amaral disse...

Oi Djefferson..! A 'crise' de identidade não sei se está associada ao fato de eu ser gay.. tenho muitos amigos gays e vejo que essa discussão que eu levantei na música ou na crítica do The Room é algo mais específico meu, que não tem tanto a ver com orientação sexual.. E sim com personalidade, auto-imagem. Mas achei legal o que disse o Derren Brown :) só não acredite muito nos vídeos dele pq acho que ele manipula a plateia de maneira desonesta... é o que digo no item 9 da postagem "10 Tendências Irritantes em Hollywood".

Ah, eu vi essa imagem das mulheres rolando hoje pelas redes sociais, hehe.. boa.

Marcus Aurelius disse...

Caio, lembra que você não queria fazer o post sobre os piores filmes, nem um sobre filmes baseados em quadrinhos pra não irritar ninguém nem gerar discussão? Parece que não teve escape. Só espero que esse pessoal politicamente correto não desanime você de fazer críticas de todos os filmes que der vontade, de uma certa forma te censurando.

Outra coisa: você dizer que é gay me fez gostar mais ainda do blog. Talvez você seja o único blogueiro do mundo que pertença a tão chamada "minoria", mas não coloca isso na sua testa nem utiliza isso como critério de avaliação para os filmes. Lembro de vários sobre o tema homossexual em que você deu nota baixa, mas ganharam por aí nota alta só porque os principais personagens era gays.

Estendendo o comentário do amigo Djefferson, alguns personagens são tão mal escritos que a principal característica deles é ser gay, negro ou mulher em um papel principal. E não uma informação que adiciona a complexidade do personagem.

Por exemplo, no lançamento de Skyfall, os fãs especularam se de fato este novo James Bond era gay. Mas como isto não estava na testa dele justamente para "representar", ficou a dúvida no ar, pois Bond tinha características mais relevantes do que uma coisa tão comum quanto ser gay ser a principal qualidade dele.

Caio Amaral disse...

Marcus.. não dá pra fugir da polêmica.. mas sabe que já foi pior por aqui!? Hoje em dia a maioria dos comentários são amigáveis.. Há uns anos atrás eu recebia bem mais ataques, proporcionalmente.. mesmo sem fazer listas controversas, etc, hehe.

Verdade, nem sempre dou nota boa pra filmes de temática gay.. pelo contrário.. em geral eles me decepcionam.. lembro que aquele filme Pride (2014), sobre um grupo de ativistas gays, me incomodou da mesma forma que As Sufragistas.. Não vou simpatizar por um filme só pelas pessoas representadas terem a mesma orientação sexual que eu.. não é essa característica que me coloca no mesmo grupo de alguém.. e sim os valores, interesses, etc. Abs!

Anônimo disse...

O Caio, o que você que é gay e tem um pensamento mais pra direita e menos coletivista acha do deputado Jair Bolsonaro, e sobre a possibilidade dele ser eleito presidente em 2018?

Caio Amaral disse...

Não conheço bem as propostas do Bolsonaro, mas pessoalmente acho ele um homem ignorante, motivado por ódio e não por ideias respeitáveis. Não me parece um defensor da liberdade e de direitos individuais.