sábado, 2 de janeiro de 2016

Os Oito Odiados

NOTAS DA SESSÃO:

- A tradução correta do título seria "Os Oito Odiosos", não?

- Fotografia linda, a trilha sonora do Ennio Morricone é excelente. Tarantino é um realizador muito habilidoso e toda a "embalagem" de seus filmes é sempre atraente (a sequência de créditos retrô, etc.).

- Engraçada a performance da Jennifer Jason Leigh, embora a graça venha do fato da performance ser absurda, das reações dela não fazerem sentido. Numa comédia escrachada isso me divertiria sem culpa, mas aqui acaba me incomodando um pouco, pois isso é um reflexo da atitude cínica de Tarantino, que quer fazer um filme sério, belamente filmado, e ao mesmo tempo zombar dele, mostrar pro público que não se leva a sério, etc.

- Os diálogos são criativos e divertidos, o problema é que o filme só tem diálogos. E eles são basicamente inúteis: não avançam a história, não discutem valores sérios de interesse do público, nem levantam questões intelectuais interessantes. Servem basicamente pra apresentar os personagens - eles ficam falando sobre histórias do passado (que teriam sido melhores vistas em flashback), etc. Nada do que está acontecendo no presente da história é interessante. Não há uma trama envolvente, relacionamentos interessantes, uma curiosidade em relação ao destino dos personagens (se eu bem conheço o Tarantino, vai acabar tudo num banho de sangue, que é a maneira mais fácil de se criar um final de impacto quando não se tem um bom conteúdo).

- 3 horas de duração pra uma história como essa é imperdoável! O filme parece querer ser algo na linha de 12 Homens e Uma Sentença - um filme que se passa todo numa única locação, mas com uma trama engenhosa cheia de reviravoltas, etc. O problema é que nada é surpreendente aqui. Os personagens são todos vilões. Que surpresa é pra plateia descobrir quem envenenou o café, quem matou quem...? São todos bandidos, não torcemos pra nenhum deles em particular, não há nenhuma questão ética interessante em jogo.

- SPOILER: A história parece forçada. Será que o Channing Tatum precisaria mesmo matar todo mundo na cabana, armar todo esse teatro, só pra conseguir resgatar a irmã?! Não me parece uma estratégia inteligente.

- Intelectualmente o filme é vazio. Por tocar em temas como racismo, história americana, etc, alguns críticos pretensiosos podem querer dizer que o filme é sobre "algo mais", que é algum tipo de alegoria, quando na prática ele é apenas sobre um conflito entre grupos de bandidos.

CONCLUSÃO: Tecnicamente bem realizado, porém com uma história tediosa, vazia de drama e intelecto, que só causa impacto por causa da parte técnica, da atitude subversiva de Tarantino e do apelo pra violência.

The Hateful Eight / EUA / 2015 / Quentin Tarantino

FILMES PARECIDOS: Django Livre, O Lobo de Wall Street, Bastardos Inglórios, Bravura Indômita (2010), Sangue Negro.

NOTA: 4.5

8 comentários:

Anônimo disse...

Vc pretende fazer a crítica de Macbeth?

Caio Amaral disse...

Olha, eu tentei ver Macbeth outro dia mas saí do cinema na metade do filme... é raro eu fazer isso... mas esse realmente estava me matando de tédio :-S uma pena, pois teria sido interessante debater Shakespeare com os anônimos aqui, hehe.

Marcus disse...

Poxa, que pena. Eu vi a crítica dizer que era lindo em termos de fotografia e paisagem. E que era ultraviolento e visceral. Que os diálogos eruditos eram um espetáculo à parte.Não consigo imaginar como um filme pode ter estes fatores e ainda assim ser tedioso.
(Esqueci de colocar o apelido no comentário acima).

Caio Amaral disse...

As paisagens são bonitas mesmo..! Mas não gosto nada dos diálogos.. A cada frase vc tem que ficar parando pra interpretar o significado - mas cinema não é como livro, onde dá pra você ler mais devagar, etc.. Se eles tivessem adaptado a história de uma maneira mais cinematográfica, talvez tivesse me entediado menos.. Ainda assim, a história de Macbeth não me atrai muito.. todo esse papo de misticismo.. o foco em personagens maus, etc. É um conteúdo desagradável, e ainda apresentado de uma forma difícil de digerir (os diálogos eruditos, etc).

Djefferson disse...

Não gosto de Shakespeare. Tudo gira em torno de morte e tragédia. Não há como começar a acompanhar uma história dele e de alguma maneira envolver-se pelos personagens. Eles vão morrer da pior forma possível causando o máximo de sofrimento aos seus próximos. Shakespeare é a própria personificação da lei de Murphy aplicado à literatura.

Até mesmo alguns estudos de transtornos psiquiátricos levam como base as suas obras. Não tem como isso ser um bom sinal.

Mas acontece que ele não se tornou grande pelas suas histórias, e sim pela dramaturgia e linguajar rebuscado. As grande massa conhece ele por causa de Romeu e Julieta. Mão não compreende que foi a dramaturgia que fez o seu nome e escolas foram fundadas com base em seus trabalhos.

Ainda assim, eu acredito que Shakespeare foi o primeiro gótico a inspirar dor e sofrimento, e não Edgar Alan Poe.

Anônimo disse...

Tarantino adora histórias em que ninguém presta, não é?

Caio Amaral disse...

Djefferson.. não sei avaliar tão bem pois só conheço as obras dele através do cinema.. e muitos filmes eu não vi pois, como disse, as histórias e os personagens não costumam me atrair nem um pouco.. os antigos do Orson Welles, tipo Falstaff que é considerado um dos melhores, eu também tentei ver e parei no meio.. os filmes que eu mais gosto são aqueles que fogem do espírito da obra original.. tipo West Side Story.. ou Ran, do Kurosawa.. que são experiências bem visuais..

Caio Amaral disse...

Anônimo.. sim.. eu prefiro quando são histórias de vingança tipo Kill Bill, Death Proof.. daí pelo menos dá pra se identificar com os protagonistas..