quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Steve Jobs

Retrato muito bem feito da personalidade e do gênio de Steve Jobs. Em vez de um filme biográfico contanto toda sua trajetória (o que o filme com o Ashton Kutcher já fez), o filme foca em 3 dos momentos mais importantes de sua carreira (e de sua vida, afinal as 2 coisas eram 1 só), quando ele estava prestes a apresentar para o mundo o Macintosh, o computador NeXT e o iMac. E durante esses lançamentos, temos um retrato vívido de quem era Jobs, como ele se relacionava com as pessoas, quais eram suas virtudes, defeitos, conflitos pessoais, etc.

Normalmente não gosto de filmes onde todo o foco é na caracterização, no estudo de personagem - prefiro histórias que além de boas caracterizações têm tramas envolventes, etc. Mas se você vai fazer um filme que é um estudo de personagem, Steve Jobs como figura é uma das pessoas mais interessantes, e qualquer espectador com alguma ambição e interesse em saber como funciona a mente de um visionário (e que não tenha nenhum ressentimento contra pessoas de sucesso) achará o filme interessante de assistir, apesar de não haver uma narrativa cheia de suspense, etc. E além do ótimo tema, tudo é muito bem realizado: Michael Fassbender está impecável e tem uma ótima química com a Kate Winslet. Os diálogos são provavelmente os melhores que vi esse ano, cheios de frases inteligentes, ricas psicologicamente, algumas dignas de pausar e anotar num caderno (o roteiro foi adaptado de um livro pelo Aaron Sorkin, que escreveu a peça e o filme Questão de Honra e ganhou o Oscar por A Rede Social). 

O filme mostra o lado genial e também as limitações de Jobs: a arrogância em certos momentos, a dificuldade de expressar afeto e gratidão - mas sem nunca tentar diminuir a estatura dele, que é o objetivo de muitas biografias hoje em dia. O filme é sempre uma celebração de Jobs, e não uma crítica.

Algumas escolhas de direção não me agradam - no meio do filme alguns diálogos começam a ficar cansativos demais - nem tanto pelo conteúdo, mas porque em vez de parar a câmera e assumir o tom estático da narrativa, Danny Boyle usa música dramática, movimentos de câmera, tentando dar um senso de agilidade artificial pro filme, o que acabou me alienando em certos momentos. O final também não é dos melhores  - a "redenção" dele com a filha me pareceu um pouco apressada, superficial: um gesto que ele fez pra impressionar a garota no momento mas não uma mudança convincente de caráter. Ainda assim, os acertos do filme são maiores que os problemas.

CONCLUSÃO: Biografia sem uma narrativa muito dinâmica, mas ainda assim um retrato fascinante de Steve Jobs, com ótimas performances e diálogos ricos em conteúdo. 

Steve Jobs / EUA, Reino Unido / 2015 / Danny Boyle

FILMES PARECIDOS: Birdman / Jobs / O Homem que Mudou o Jogo / A Rede Social

NOTA: 7.5

6 comentários:

Djefferson disse...

Primeiramente quero dizer que não tenho absolutamente nada contra as pessoas de sucesso. Muito pelo contrário, as admiro e me espelho em algumas.

Mas o Steve Jobs com o Iphone pra mim é o equivalente a Albert Einstein com a bomba atômica: ambas pessoas brilhantes, mas que sua invenção causou destruição total.

O computador caseiro foi uma tecnologia que caminhou junto com o progresso das pessoas, adaptando-se à sociedade. Já a invenção de Steve Jobs foi um salto tecnológico no qual as pessoas tiveram que se adaptar a sua invenção de forma brusca, e praticamente destruiu o futuro do país que são os jovens.

Tempo atrás no programa do Roberto Justus, entrevistaram um jovem que fez uma invenção milionária. Fiquei curioso, e no final era aplicativo para smartfone.

Percebi que hoje tudo de "avanço tecnológico" tem como base programas, aplicativos, tablets, smartfones, inteligência artificial, hologramas.

Não acho ruim ter avanços nestes campos. Mas eu como já fui professor de faculdade, e era minha obrigação estar a par da tecnologia, percebi que os avanços nas outras áreas estagnaram, ao ponto de avanços na medicina levarem quase quatro vezes mais do que nos anos 80.

Talvez Jobs não tenha sido o primeiro a introduzir o produto no mercado, mas foi ele que definitivamente popularizou, principalmente entre os que deveriam cair de cabeça em livros, mas se não tem como ler em e-reader, ignoram.

O SENAI deixou de imprimir as apostilas, confiando, sim CONFIANDO na competência do professor e interesse dos alunos em ir na biblioteca atrás de material, enquanto os tablets pra estudo aguardam aprovação do estado. Por acaso pensam que estamos na Renascença pra os alunos terem esse interesse todo?

Conforme comentei na postagem do quarteto fantástico, percebi que o esforço entre os alunos caiu drasticamente após a introdução do smartfone, pois acham que vão ficar ricos "criando" um aplicativo, programa, jogos, e depois vendendo por bilhões.

Cadê nossos futuro cientistas que buscam o progresso pelo bem do futuro e conhecimento?

As grandes "invenções" hoje só giram em torno do tema acessibilidade. Dos jovens que cursam engenharia civil 90% dos trabalhos são sobre cadeirantes, cegos, aplicativos de acessibilidade para metrô, ônibus, etc.
Outros 9% tem cunho econômico, corte de gastos, obras públicas, otimização de espaço. E apenas 1% dos trabalhos tem algum cunho científico inovador. Exemplo um grupo que elaborou uma máquina que automatizava o processo de fabricação e colocação de pavers sem a interação humana.

A gota d'água com este tipo de coisa foi quando precisei fazer uma obra aqui em casa, e os profissionais só atendiam por WhatsApp, custei falar com alguém, que no final pediu o endereço da casa pelo aplicativo.

Como um amante da ciência, afirmo que a tecnologia deve adaptar-se as pessoas e não as pessoas mudarem seu modo de viver por causa dela.

Um vendedor que não possui página em redes sociais e "vende inbox" está fadado a falir. O que não foi o caso do mercado livre, ou sites próprios.

Pra finalizar, vou dar um exemplo bem claro: as máquinas de escrever. Com a introdução da informatização no mercado, tornou-se inviável para as empresas contratar e treinar datilógrafas. Logo, o teclado do computador ADAPTOU-SE à necessidade e veio no layout das máquinas de escrever mais utilizadas de cada país. A Microsoft contratou empresas terceirizadas para criar programas facilitando a introdução deste novo produto para os mais velhos. Preservando o profissional já treinado e possibilitando a chegada dos novos.

Caio Amaral disse...

Oi Djefferson.. a questão da bomba atômica acho meio delicada.. me questiono se deveria existir algo com uma capacidade de destruição tão grande.. me pergunto se isso não representa uma ameaça física à vida, etc.. agora quanto ao iPhone.. sou totalmente a favor.. acho que essa tecnologia melhorou a vida de muitas pessoas.. eu pessoalmente passei a ler muito mais livros, ir mais ao cinema, pois comprar ingresso se tornou mais fácil.. me comunicar e conhecer pessoas novas.. pagar contas.. dirigir e chegar mais rápido a um destino.. fazer consultas no Google, me tornando mais informado.. acho que o smartphone foi uma das melhores coisas que aconteceram nas últimas décadas.. Não tenho conhecimento pra dizer que os avanços na medicina diminuíram por causa da tecnologia... me parece uma contradição e uma afirmação suspeita... E se muitas pessoas estão ficando mais burras, isso é problema delas.. elas ficarão pra trás e as pessoas que aproveitarem a tecnologia racionalmente terão mais conhecimento, serão mais produtivas, crescerão mais na vida, etc. Whatsapp acho ótimo, até minha mãe que é anti-tecnologia aprendeu a usar e têm facilitado a vida dela, a comunicação com clientes, etc..

Não entendo pq vc diz que antigamente a tecnologia se adaptava às pessoas (teclados, etc) e hoje em dia não. Se a tecnologia não fosse totalmente compatível com as necessidades e habilidades do consumidor, será que iPhones venderiam tanto assim? Acho que o Steve Jobs fez de tudo pra servir o consumidor.. tornar as coisas fáceis e práticas pra ele.. oferecendo algo de utilidade.. Não acho que ele tenha criado algo bizarro e inutilizável, baseado em idiossincrasias pessoais, e que agora está todo mundo tendo que correr atrás pra se ajustar às bizarrices dele.. Se fosse isso, uma outra empresa teria produzido um produto melhor, mais adaptado ao consumidor, e teria desbancado ele... talvez você esteja apenas sofrendo um pouco com o processo de adaptação, por ter crescido numa época onde as pessoas tinham certos hábitos, e agora eles estarem mudando radicalmente.. isso acontece pra todos nós.. eu também fico irritado de ter que mudar certos hábitos.. mas fazer o que.. eu aceito isso como algo natural da vida.. que é uma evolução constante.. e não culpa de empresários mal intencionados que não deviam ter nos perturbado com suas inovações..

Djefferson disse...

Tens razão. Talvez eu tenha sido um tanto radical em minha opinião. Com certeza nossas experiências e perspectivas foram diferentes. Eu sou engenheiro mecânico aposentado, me formei em outras coisas também, já lecionei por mais de 30 anos, construí minha carreira sem a intervenção eletrônica, e quando ela chegou, não tinha interface. Consegui aos poucos me relacionar com a tecnologia conforme ela evoluía.

Mas traço um paralelo com videogames. Eu sempre gostei de jogar Mario Bros. com meu filho no primeiro nintendo, e consegui acompanhar até o nintendo 64. Daí em diante eu perdi o interesse. Começou a ficar ambicioso demais.
O salto do smartfone seria como hoje termos o nintendo 64 e subitamente BAM! o playstaition 4 é lançado e inunda o mercado com jogos de ação para adultos. Seus concorrentes fazem a mesma coisa. E o consumidor que aceite, se quiser tem isso, senão, não joga mais nada.

Com relação aos avanços em campos da ciência, é uma história longa, mas em essência é que enquanto todos caminhavam juntos há 20 anos, hoje somente a área eletrônica está mantendo o ritmo, enquanto que as outras, como medicina, diminuiriam.
Os governantes que não entendem da área, criam leis limitando o pesquisador. A última grande descoberta em 2015, um nervo rompido na espinha que não se regenerava, só poderá começar a testar em cobaias humanas daqui a dez anos. Outras leis limitam o uso de animais para experimentos científicos. Temos o caso do projeto Genoma e as pesquisas com células tronco, a qual poderiam levar a humanidade á uma nova era científica, mas foram água a baixo por motivos de moral e ética.

De qualquer forma, não posso deixar de levar a opinião de outros em consideração. Eu e minha esposa não conseguimos adaptar nossas vidas ao uso de smartfones e redes sociais, mas assistimos filmes em Imax 3D direto. Costumo jogar no computador alguns lançamentos. Então é um pouco relativo, e talvez eu mesmo esteja sendo um pouco hipócrita.

Caio Amaral disse...

Provavelmente a área da informática seja menos regulada pelo governo do que a área da medicina... e isso explica em partes o fato de uma avançar mais rápido do que a outra...

Quanto aos games... eu adorava jogar Mario e alguns outros jogos até a minha pré-adolescência... Super Nintendo, etc... no Mario 64 vc já não tinha mais um objetivo tão óbvio nas fases... uma direção específica pra seguir... podia ficar andando aleatoriamente, decidir o que ia fazer primeiro... a trilha sonora passou a ter um tom mais melancólico... virou uma experiência diferente pra mim e meu interesse diminuiu... diria que o jogo virou mais "Naturalista". Mas eu associo isso não a um avanço da tecnologia necessariamente, mas a uma mudança cultural... muitos games populares hoje em dia tem um tom sombrio pelo que vejo... da mesma forma, músicas e filmes dos anos 90, 80, 70 me agradavam mais do que os de hoje... o que mudou de lá pra cá não foi tanto a tecnologia, mas a mentalidade dos artistas e do público.. Ou seja, também me frustro com algumas "inovações" que vejo por aí... mas costumo jogar a culpa muito mais na cultura do que na ciência em si.

Rodrigo E. disse...

A narrativa também me incomodou um pouco. Mas mesmo assim, gostei do que foi apresentado e achei incrível a performance de todos os atores!

O Jobs pra mim é um herói do mundo moderno. É sempre inspirador ler sobre a história e comportamento profissional dele. Serve pra dar aquele up quando vc anda meio desanimado com a vida, hehe.

Os diálogos são ótimos mesmo. Boa parte das frases marcantes no filme são também citadas nos livros sobre ele. Tem uma em especial que não apareceu no filme, mas dizem que foi o argumento final do Jobs para convencer o John Sculley (até então vice-presidente da Pepsico) a trabalhar para ele: "Vc quer ficar o resto da sua vida vendendo água com açúcar ou quer uma chance de mudar o mundo?".

Até fica a dica: não sei se vc leu algum livro sobre ele ou não, mas tem um muito bom escrito pelo Carmine Gallo chamado "Faça como Steve Jobs". O foco do livro é falar sobre comunicação (como apresentar algo de maneira atrativa), e usa a carreira do Jobs como plano de fundo para exemplificar situações. Vale a pena ler .

O filme faz uma analogia bem interessante sobre o Jobs na Apple com um maestro numa orquestra. Tenho quase certeza que isso vai virar argumento na velha discussão "Wosniack vs Jobs" nos fóruns afora, rs.

O outro filme, com oAshton Kutcher no papel, eu não cheguei a ver ainda. É bom?

Caio Amaral disse...

Tb fico inspirado com a história dele, Rodrigo..
Já ouvi essa frase antes... sobre vender água com açúcar, hehe. Não lembro onde. Mas não é de livro pq não li nenhum... Vou dar uma pesquisada sobre esse que vc falou. O outro filme com o Ashton Kutcher eu gostei bastante tb...! É uma biografia mais convencional.. conta a história desde o começo (incluindo uma fase deprimente onde ele era meio hippie, rs).. a produção e as performances não são tão sofisticadas.. mas super recomendo tb! Abs.