segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Cães de Guerra


(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- Não gosto da visão de mundo cínica do filme (o homem é corrupto, guerra é lucro, etc). E ele deixa bem claro que é voltado para o público masculino, jovem, branco, conservador, que se julga superior ao resto da humanidade. Os negros que aparecem no filme são bandidos. Os idosos são inválidos em asilos que não merecem atenção. A mulher que aparece só serve pra engravidar e ficar em casa aguardando o marido. O gay que aparece é um cara patético tentando seduzir o protagonista (na cena da massagem). Não que o filme seja imoral necessariamente, mas já dá pra saber que estamos lidando com uma inteligência limitada.

- Miles Teller e Jonah Hill estão ótimos como sempre e têm boa química - embora sejam personagens tolos, com valores baixos (principalmente o Jonah Hill) e o filme irrite um pouco por retratá-los como pessoas carismáticas, mais ou menos como O Lobo de Wall Street (e a mensagem aqui é a mesma: o homem é imoral, o capitalismo é mau, poder corrompe, etc). O Miles Teller pelo menos nunca se corrompe totalmente, está sempre questionando o que eles estão fazendo, então ainda dá pra torcer por ele.

- A história é bem contada, interessante, até pelo fato de ser verídica e de certa forma ser uma história de aventura, sucesso, curiosa pra quem gosta de negócios, etc (a maneira como eles negociam a venda das Berettas, lidam com os imprevistos, se arriscam no Oriente Médio, etc). De qualquer forma é uma visão cínica de negócios - a ideia de que apenas os malandros vencem, que não basta ser honesto e criar algo de valor, etc.

- O filme também exalta a guerra, como se fosse uma grande diversão pros personagens estarem passando por situações de perigo, lidando com terroristas, traficando armas, fazendo coisas de "macho" que poderão contar pros netos depois ("Viva a America de Dick Cheney!"). Mostra dinheiro e o "sonho americano" como algo vulgar - assim que eles ficam ricos eles começam a gastar loucamente, cheirar cocaína, viver sem escrúpulos, etc.

- SPOILER: No começo faltava um conflito maior pra história (o maior risco que o protagonista corria de fato era o de perder o negócio e ter que voltar pra sua vida normal, o que não seria tão trágico assim). Mas mais pra frente as coisas ficam mais intensas e o filme melhora - a amizade dele com o Jonah Hill começa a entrar em perigo, a esposa ameaça ir embora, ao falsificar a munição chinesa eles passam a correr o risco de serem presos, etc.

- Hilário eles fechando negócio (por 100 mil dólares) com o cara que vai trocar as munições de embalagem.

- SPOILER: O Miles Teller se redime mais pro fim, quando decide sair do negócio, voltar pro seu antigo trabalho, para de mentir pra esposa, paga certo preço pelo que fez (fica em prisão domiciliar, etc). Por isso é possível ficar feliz por ele quando ele ganha o dinheiro do Bradley Cooper no final. Mas claro, a mensagem ainda é chata e cínica. A letra da música que toca nos créditos ("Everybody Knows") resume bem o Senso de Vida do filme - "Todo mundo sabe que a luta foi arranjada... que o jogo foi trapaceado... que os mocinhos perderam... que os ricos ficam ricos e os pobres continuam pobres...". O que irrita no filme é que ele é tudo aquilo que ele pretende criticar... O filme admira a guerra, é machista (vide o que falei no começo), gosta de dinheiro, mas conta uma história que aparentemente critica esses "valores republicanos" (talvez por culpa?).

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CONCLUSÃO: História interessante, bem contada, mas com valores questionáveis e sem nada de muito original ou memorável esteticamente.

War Dogs / EUA / 2016 / Todd Phillips

FILMES PARECIDOS: A Grande Aposta (2015) / O Lobo de Wall Street (2013) / Selvagens (2012) / O Senhor das Armas (2005)

NOTA: 6.5

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