quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Sing: Quem Canta Seus Males Espanta

NOTAS DA SESSÃO:

- Herói Envergonhado: os personagens são todos comuns, losers, não há um protagonista forte. O produtor (coala) não é um personagem interessante ou carismático pelo qual a gente torce.

- Competições de canto na vida real já são um pouco deprimentes, pois sabemos que ninguém que sai dali vira de fato um astro. Um filme sobre uma competição de canto consegue ser ainda menos interessante.

- O coala claramente não tem paixão pelo entretenimento, por performance, por música. Só está pensando em ganhar dinheiro com esse show (todos os espetáculos que ele tentou fazer antes foram um fracasso, pois ele provavelmente não tem talento, então agora ele resolveu apelar pra reality shows e coisas mais clichês apenas pra lucrar). Esse personagem é a representação perfeita do que eu penso sobre produtores de filmes como Sing. O filme não é de fato sobre canto. Ele é muito mais sobre como levantar dinheiro sendo desonesto, inescrupuloso, não tendo valores.

- É uma competição tediosa, você não torce por ninguém (é óbvio que a elefanta vai ser a grande revelação no final, simplesmente por ela ser a que tem menos autoestima). Nenhum dos participantes é admirável. Ou são losers completamente inseguros, ou então são desses que são excessivamente metidos, se acham, e a autoconfiança deles é retratada de forma cômica, como se eles fossem "sem-noção" (me pergunto também por que todos os personagens são feios, se os animadores podiam desenha-los como quisessem). Os dramas naturalistas que eles vivem fora da competição pouco vão interessar o público mais jovem (a mãe de família que não é valorizada pelo marido, etc).

- Mentalidade clichê. O filme todo é feito ao redor de clichês, de cenas clichê.

- O macaco e a família são claramente criminosos e o filme não condena isso. O ratinho também é desonesto e o filme quer que a gente simpatize por ele.

- Assim como o produtor, os cantores também parecem muito mais preocupados com o dinheiro que vão ganhar na competição do que com as próprias carreiras, com a música. Se você for pensar, na maioria dos casos a história é uma competição por dinheiro onde o entretenimento é apenas uma ferramenta, um meio de se chegar a ele (assim como o próprio filme Sing). O filme tem muitos conflitos relacionados a dinheiro (Será que o produtor conseguirá patrocínio da madame? Será que ele perderá o imóvel pro banco? Será que ele será processado por fraude?) e muito pouco se discute das ambições pessoais dos personagens.

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CONCLUSÃO: Mais uma produção sem alma feita pra ganhar dinheiro em cima da inocência do público infantil.

Sing / EUA, Reino Unido / 2016 / Christophe Lourdelet, Garth Jennings

FILMES PARECIDOS: Pets: A Vida Secreta dos Bichos (2016) / A Era do Gelo: O Big Bang (2016) / Zootopia (2016) / Minions (2015)

NOTA: 3.5

27 comentários:

Marcus Aurelius disse...

Bem, pelo menos ainda não fizeram um filme baseado em emojis. Não.... pera! Algo de errado não está certo....

Brincadeiras à parte, eu não acreditei que este filme fosse tão ruim assim quando foi anunciado, mas ao ver o trailer percebi que as coisas não se encaixavam. O tema é horroroso para virar uma animação para crianças, e as referências à cultura pop que não é mais pop, tipo Flashdance, me causaram espanto. Como é possível uma equipe de animadores ter a oportunidade de ser criativos, de inovar, de usar toda a capacidade do cérebro mas optar pelo contrário? é quase uma traição à própria profissão que exercem. Agora quando eu vi o trailer do filme dos emojis eu senti vontade de ir embora pra um sítio lá nos pampas e viver isolado do resto do mundo sobrevivendo a base de criação de animais, da horta e de água de poço.

Aproveitando o comentário, lá no post do "Animais Fantásticos" quando tu comentou que foi se inscrever em festivais de curta nos EUA. Tu filmou o teu curta em dois idiomas, ou dublou depois? se sim, quando lançar no YouTube pretende postar as duas versões?

Caio Amaral disse...

oi Marcus...! Esse Sing não é péssimo no sentido de ser tosco, burro, tipo essas animações de segunda linha como Cada Um Na Sua Casa, etc.. se você analisar superficialmente é um produto tão bem feito quanto a maioria das animações atuais de sucesso.. o problema mesmo são os clichês, a falta de autenticidade, etc.. e os valores q ele passa tb..

Esse do Emoji eu vi o teaser.. tem MUITO dislike no YouTube, rsss.. o público as vezes saca quando eles passam dos limites né, rs.

Meu curta é em português.. eu inscrevi nos festivais uma versão legendada, que é o padrão.. é raro o pessoal dublar curta.. Quando for pro YouTube acho que vou subir a versão sem legenda, e daí coloco uma legenda em inglês no próprio YouTube.. pra ter a opção de ativar e desativar.. abs!

Dood disse...

Acho que SING falha em sua essencia em se direcionar a um público alvo erroneamente: é aquela velha mania de querer fazer uma animação que agrade os adultos, só que mercadologicamente se direcionam para crianças com ações de marketing como o Mc Lanche Feliz que está com o tema da animação esse mês.

Eu assisti o trailer e logo vi que são personagens inadequados para as crianças e nem são exemplos de moral como a família de Gorilas assaltantes. Isso foi uma das coisas mais absurdas que vi esse ano no quesito de animações, mais escancarado que o lance da desonestidade da raposa em Zootopia.

A Ilumination dessa vez foi pior que qualquer coisa que a Dreamworks já fez.

Caio Amaral disse...

Mas vc chegou a ver o filme ou só o trailer..?
Pois é, a tendência agora são esses personagens meio cinza moralmente.. parece q isso torna o desenho mais "moderno".. rs.

Anônimo disse...

Acho que não se poderia mesmo esperar grande coisa de um filme que tem em seus créditos o nome de Seth MacFarlane, o cara das infinitas variações sobre os Simpsons.
De qualquer forma, nas animações da Ilumination ao menos o humor ainda funciona razoavelmente bem, na minha opinião. Melhor, pelo menos, que nas produções recentes da Disney, com seu humor muitas vezes forçado e apelativo, como na cena do campo de nudismo de Zootopia, que ainda nos empurrou a voz chata da Shakira como uma cabra cantora, numa tentativa desesperada e felizmente fracassada de emplacar um novo hit nas rádios.

Caio Amaral disse...

Haha mas o Seth aqui é só ator né.. não dá pra responsabilizá-lo tanto, rss. Só sei que se eu estou com vontade de rir, essas animações são a última coisa q eu vou ver.. dei muito mais risada em "Melancolia" do Lars von Trier do q em Sing, rs (sério).

Dood disse...

Bom Caio, pelo próprio trailer e a apresentação dos personagens dá pra perceber um pouco de como o filme é.

Em comparativo a Dreamworks a Ilumination ainda é pior: a primeira ainda disfarça mais o filme infantil já esta cria animações inteligíveis ao público que se destina. Me parece que ela comete aqui o mesmo erro que cometera no filme dos Minions, que sempre me pergunto se Meu Malvado Favorito precisava mesmo de continuações e spinoffs assim feitas a torto e a direito? Acho um filme médio pra merecer assim tanta exploração cinematográfica e olha que achei a conclusão do primeiro filme satisfatória e sem necessidade de continuações.

Caio Amaral disse...

Essa Illumination parece ser dessas que não tem o menor escrúpulo.. ela só faz filmes pelo dinheiro.. já vai sair Meu Malvado Favorito 3, depois tem o A Vida Secreta dos Bichos 2, depois uma nova adaptação do Grinch, outra do The Cat in the Hat..

Dood disse...

Bem dessa, eles parecem ter uma pressa em estabelecer personagens de animação. Provavelmente se entusiasmaram com o sucesso do Meu Malvado Favorito e começaram a aceitar qualquer ideia para o quesito sem uma análise crítica.

Caio Amaral disse...

Aff tenho horror desse povo..

Anônimo disse...

Acho que é quase inevitável que um estúdio de menor porte buscasse explorar tão intensamente quanto possível um grande sucesso comercial. É claro que se deve lamentar que não o tenham feito de forma mais competente. Mesmo a Pixar incorreu em spin-offs caça-níqueis como Carros 2 e Universidade Monstros. Agora, pior mesmo a meu ver é a doutrinação politicamente correta que invadiu boa parte das produções destinadas ao público infantil, que vem deixando de ser arte ou mesmo entretenimento para se tornar mera propaganda. E pagar para assistir propaganda é uma coisa bastante irritante.

Marcus Aurelius disse...

Caio, como assim tu riu mais em "Melancolia"? Eu lembro que li em algum lugar que tu disse que achou "Anticristo" divertido, assisti só por causa disso. Na inesquecível cena da tesoura eu tirei o filme, não suportei continuar, o que tu achou de engraçado em "Melancolia" e divertido em "Anticristo"?

Caio Amaral disse...

Anônimo, acho que as 2 coisas são igualmente terríveis.. por um lado os exploradores caça-niqueis fazendo coisas vazias de espírito.. por outro os politicamente corretos querendo reeducar as crianças.. e muitas vezes essas 2 coisas se combinam.. afinal os exploradores caça-niqueis, como não têm ideias próprias, copiam todas as tendências.. e entram na onda dos politicamente corretos tb só pra estarem na moda..

Marcus, eu adoro o senso de humor do Lars von Trier e me divirto nos filmes dele em geral.. às vezes o humor é mais escrachado (tipo a cena da Uma Thurman em Ninfomaníaca - aliás, Ninfomaníaca em geral é um filme mais assumidamente cômico) mas em muitos casos ele está por trás de uma máscara de seriedade.. e às vezes é justamente esse contraste que me diverte (o lado bem humorado do cineasta se revelando nas entrelinhas de uma cena aparentemente séria e brutal). Por exemplo, se você viu Ninfomaníaca, vai lembrar da cena da Uma Thurman..

https://www.youtube.com/watch?v=l30dMGGvzO4&t=124s

Agora pegue essa cena do casamento de Melancolia:

https://www.youtube.com/watch?v=dxD78kM36xg

Ela não é abertamente cômica como a de Ninfomaníaca, mas a situação e a graça da cena é basicamente a mesma.. se você não vê graça em nenhuma das 2 cenas, daí é uma outra questão.. senso de humor é um tema complexo, hehe. abs.

Dood disse...

Quando falamos da Disney/Pixar ela só não pensa em bilheterias: ela pensa em produtos que podem ser gerados com aquela franquia. Carros e Princesas são produtos atemporais e vendem em qualquer geração por ser modelo clássico de produto.

Agora a Illumination tem que aprender uma coisa: ou você faz animação infantil, ou faz adulto ou família. Pra fazer o terceiro é preciso de competência extrema pra agradar os dois públicos. Fazer animação visualmente e estruturalmente adulta com um roteiro pra criança é tiro no pé.

Minions foi um acaso que deu certo mercadologicamente como produto. Daria uma série animada ótima para crianças estilo Masha e o Urso, mas pra filme solo eles não prestam.

E concordo que esse lance de querer agradar o politicamente correto e os Justiceiros Sociais de plantão é tiro no pé. Marvel e DC pagaram por isso nos quadrinhos ano passado.

Anônimo disse...

A Ilumination não foi capaz de crir uma história para os minions que fizesse sentido. Pelo menos eles são menos irritantes que o Olaf e outros alívios cômicos que a Disney enfia nos filmes para fins mercadológicos, o pior dos quais foi provavelmente Louis, o ridículo crocodilo trompetista de "A Princesa e o Sapo".

Caio Amaral disse...

Dood, em geral eu não gosto quando o filme separa conceitualmente o público infantil do público adulto e faz coisas diferentes pra tentar agradar a todos.. Tipo: pro público infantil ele coloca os alívios cômicos idiotas que os adultos não vão gostar, pro público adulto ele faz referência a clássicos que as crianças não vão entender, etc.. Prefiro filmes que tentam agradar adultos e crianças pelos mesmos motivos. Minha atitude é a mesma do Walt Disney nesse ponto, que dizia: "Eu não faço filmes primeiramente pra crianças. Eu faço filmes para a criança em todos nós, quer tenhamos 6 ou 60 anos".

Anônimo, eu curti os Minions no Meu Malvado Favorito.. bem mais que Olaf, etc.. só não achei que funcionou como filme solo mesmo.. esse crocodilo eu nem lembro, rsss. abs!

Dood disse...

Dood, em geral eu não gosto quando o filme separa conceitualmente o público infantil do público adulto e faz coisas diferentes pra tentar agradar a todos.. Tipo: pro público infantil ele coloca os alívios cômicos idiotas que os adultos não vão gostar, pro público adulto ele faz referência a clássicos que as crianças não vão entender, etc.. Prefiro filmes que tentam agradar adultos e crianças pelos mesmos motivos. Minha atitude é a mesma do Walt Disney nesse ponto, que dizia: "Eu não faço filmes primeiramente pra crianças. Eu faço filmes para a criança em todos nós, quer tenhamos 6 ou 60 anos".

-Esse é o ponto que eu queria chegar: um filme que agrade ambos é algo que requer habilidade. Esse que é o defeito você tratar os públicos como algo distinto. Eu gosto de animações com uma pegada mais adulta, geralmente algo que meu filho não vai sacar do que se trata e até proibitivo para ter acesso. Até mesmo certas animações como Família da Pesada são complexas pra nós brasileiros porque necessitam de uma informação do universo americano que nem todos tem.

Dood disse...

A Ilumination não foi capaz de crir uma história para os minions que fizesse sentido. Pelo menos eles são menos irritantes que o Olaf e outros alívios cômicos que a Disney enfia nos filmes para fins mercadológicos, o pior dos quais foi provavelmente Louis, o ridículo crocodilo trompetista de "A Princesa e o Sapo".

-Como disse esse é o diferencial da Disney: ela transforma até seus personagens ruins em produtos, porque eles são trabalhados da forma a chamar atenção das crianças. Mas tem casos que é impossível tu imaginar como trabalhar como no caso do longa Sing.

Caio Amaral disse...

Tb gosto de animações mais adultas.. o importante é haver integridade né.. quando vc vai ver um filme, você espera que ele seja uma expressão autêntica do autor.. se o autor é tipo o Walt Disney, então vai ter o espírito dele, uma coisa mais família.. se for algo mais na linha Família da Pesada, vai ter outra personalidade.. Mas em todo caso há uma certa coerência, não parece algo feito por um comitê, decidindo artificialmente como agradar público A, público B, etc.

Anônimo disse...

Em alguns casos, os estúdios de animação estão mesmo usando comitês. Segundo algumas notícias o Flynn Rider de Enrolados teria sido produto de um hot man meeting no qual os diretores do filme chamaram trinta empregadas da Disney para dar seus palpites sobre o que seria um homem atraente.
O crocodilo da Princesa e o Sapo não merece mesmo ser lembrado, além de sem graça não tinha nenhuma importância real na história, que teria sido melhor sem ele. Outro problema recorrente nas novas animações da Disney é esse, a presença de personagens inúteis na trama, que estão lá só pra ocupar espaço.

Caio Amaral disse...

Pois é.. e pra não deixar o debate esfriar, hoje é dia de "Moana", rssss. Abs.

Dood disse...

Realmente Olaf e um caso inexplicável em frozen: tu não sabe porque ele existe afinal. Só é mencionado por Elsa no inicio quando ela brinca com a Anna. Ele é simplesmente pra cumprir uma cota de personagem fofinho/alívio cômico pra vender produtos. Se ainda fosse um capanga de uma Elsa vilã como o Malvado do desenho Ursinhos Carinhosos e fosse feito pra um embuste contra Ana (caso ela fosse a heroína da trama) teria mais sentido.

Anônimo disse...

Como você disse, Dood, Olaf não fazia mesmo sentido no filme, foi o produto de merchandising inserido num filme mais forçado que já vi. Mesmo o crocodilo bobo da Princesa e o Sapo ainda tinha alguma desculpa para existir, afinal pelo menos há crocodilos nos pântanos dos Estados Unidos.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Pena que é tão caro produzir animação, se não juro q investiria na área.. em vez de ficar só reclamando aqui, kkk.

Anônimo disse...

Conflitos relacionados a dinheiro como motivação central numa animação infantil não funciona muito bem, deixa a história algo fria e dificulta a empatia com os protagonistas. Foi algo que prejudicou A Princesa e o Sapo, que era muito centrado no interesse de Tiana em obter o dinheiro para abrir seu restaurante de luxo. E o pior é que, afora a Tiana, ninguém mais parecia ligar a mínima para o tal restaurante, nem a mãe dela. Assim, ficava difícil para o espectador se interessar.

Caio Amaral disse...

Ah sim lembro que era péssima essa história da Princesa e o Sapo.. a história dela querer abrir o restaurante.. nada envolvente.. a história em si nem é o decisivo acho, tudo depende da forma como o filme é contado.. no que ele enfatiza.. como ele apresenta esse objetivo (que pode ser qualquer coisa: um restaurante, um par romântico, um objeto, etc). Um filme que eu adoro é Xanadu, que também é uma história "boba" sobre pessoas juntando recursos pra abrir um bar.. só que ali na minha opinião eles conseguem transformar esse objetivo mundano em algo mágico, um sonho maior que a vida, tudo pela maneira como a história é contada.. na Princesa e o Sapo parece simplesmente algo tedioso..

Dood disse...

É aquela o personagem tem que ter desejo de fazer aquilo, a busca. Ou mesmo se ele estiver numa situação sem escolha mostrar o desejo de aprender e mudar.