sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Um Limite Entre Nós

NOTAS DA SESSÃO:

- Naturalismo: A primeira hora é um falatório longo e chato sobre coisas desimportantes pra plateia, um retrato da vida de pessoas "humildes"... Embora alguns diálogos sejam interessantes (por exemplo: a discussão entre o Denzel Washington e o filho sobre emprestar os 10 dólares), não há nenhuma história, nenhuma direção pra isso tudo.

- Os atores estão ótimos, principalmente o Denzel e a Viola Davis (indicações ao Oscar merecidas). E os diálogos são muito bons em termos de conteúdo moral, sensibilidade, no que eles revelam a respeito dos personagens (nesse ponto o filme começa a flertar com o Idealismo - não é um retrato superficial externo como Moonlight, mas começa a revelar as motivações de cada um). A cada 15 minutos há um momento forte de diálogo que impede o filme de se tornar um tédio total.

- O personagem do Denzel Washington tem cenas incríveis (ele dizendo que não é obrigado a gostar do filho, etc), porém o personagem é detestável - está sempre diminuindo os outros pra se sentir superior, age como se a vida fosse um enorme sacrifício, que família pra ele é um dever, que o trabalho é um fardo que ele carrega heroicamente, e gosta de jogar isso tudo na cara de todos, como se tirasse certo prazer da situação.

- SPOILER: A segunda metade do filme é melhor. Denzel revela que está traindo a esposa e isso gera uma série de conflitos - surge a curiosidade de saber como a situação será resolvida, e o filme ganha certo rumo. A Viola Davis dá um show na cena que confronta o Denzel a respeito da amante.

- Bonita a cena em que a Viola aceita tomar conta do bebê.

- O personagem do Denzel está cada vez mais odioso (ele bêbado brigando com o filho na entrada da casa). O pior é que o filme não parece estar contra ele. É um retrato neutro de uma família em conflito, como se dissesse: essas coisas acontecem, são realistas, portanto devemos nos importar.

- SPOILER: Senso de Vida ruim. No fim o Denzel morre, e o que todos aprenderam? Nada de muito revelador. Que a realidade é dura, que as pessoas fazem o possível, mas a felicidade só pode ser atingida em moderação - ou seja, a vida é essencialmente feita de conflitos, tragédias, mas temos que nos esforçar pra ver alguma beleza no meio disso tudo.

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CONCLUSÃO: Filme Naturalista com uma mensagem chata, porém com excelentes atuações e bons diálogos.

Fences / EUA / 2016 / Denzel Washington

FILMES PARECIDOS: Indomável Sonhadora (2012) / Rio Congelado (2008) / O Segredo de Vera Drake (2004) / Vinhas da Ira (1940)

NOTA: 6.0

Eu Não Sou Seu Negro

Menos irracional e desonesto que A 13ª Emenda (outro documentário sobre racismo indicado ao Oscar), mas ao mesmo tempo menos relevante. A 13ª Emenda pelo menos pretendia abordar o tema sob um novo ângulo, falando do racismo no sistema carcerário, tentando discutir ideias relevantes pros dias de hoje. Esse aqui só repete o que todo mundo já está careca de saber: que o racismo era intenso nos EUA nos anos 50/60, que líderes como Martin Luther King foram assassinados, etc, etc, etc. Apenas mostra tudo pelo ponto de vista do autor James Baldwin (que diz não ser racista mas se sente perfeitamente à vontade chamando Doris Day de uma figura "grotesca" sem oferecer maiores explicações). A narração de Samuel L. Jackson traz bastante autoridade às palavras de Baldwin (que às vezes projetam inteligência e sensatez, e às vezes um anti-americanismo ressentido e tendencioso), mas no fim é apenas mais um lamento pra manter viva a memória de que os negros foram vítimas na história dos EUA - sem uma narrativa interessante ou novos dados esclarecedores que o destaque como documentário.

I Am Not Your Negro / França, EUA / 2016 / Raoul Peck

NOTA: 4.0

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

John Wick: Um Novo Dia Para Matar

NOTAS DA SESSÃO:

- Sequência inicial bastante energética (vai dar pro filme superar isso depois em termos de ação?).

- Gosto do Keanu Reeves, acho divertida a atitude hedonista "tudo pode" do filme, mas ao mesmo tempo não simpatizo por essa celebração da agressividade acéfala, completamente divorciada de valores positivos. O filme é feito pra gente que deseja ganhar autoestima através da habilidade de dar porrada, garotos revoltados que não entendem por que são rejeitados pelo mundo e sonham com o dia da vingança.

- Pelo menos acho a história menos ridícula que a do primeiro filme, onde toda a matança parecia motivada pela morte de um cachorro. Aqui há uma motivação melhor; ele está sendo forçado pelo vilão a embarcar nessa missão.

- As cenas de ação têm bastante energia e ritmo, mas nada que se destaque em termos de criatividade, coreografia, direção, etc. É tudo meio genérico e pontuado por clichês.

- Não existe polícia no universo do filme? O Keanu Reeves assassina dezenas de pessoas em lugares públicos, e em nenhum momento tem que lidar com qualquer tipo de policiamento. Parece um universo de videogame.

- Não faz muito sentido ele ir pedir ajuda pro Laurence Fishburne. No que isso é essencial pra ele encontrar o vilão? Parece que inventaram esse personagem só pra ter um reencontro entre o Neo e o Morpheus. É tipo um filme pornô, onde você sabe que a história não importa, que os personagens não importam... Mas ninguém liga porque o que importa é a ação.

- Mais uma vez o clichê do tiroteio no labirinto de espelhos (com a tentativa de se criar uma metáfora profunda a respeito do caráter do herói). Maldito Orson Welles e A Dama de Shanghai!

- Que absurdo essa cena no Central Park onde todo mundo se comporta como robô... O autor deve ser realmente paranoico.

- A história não tem conclusão... Apenas cria um gancho pra mais matança na parte 3.

John Wick: Chapter 2 / EUA / 2017 / Chad Stahelski

FILMES PARECIDOS: De Volta ao Jogo (2014) / Os Mercenários (2010) / Busca Implacável (2008) / Carga Explosiva (2002)

NOTA: 5.0

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Aliados

NOTAS DA SESSÃO:

- Um show de cinema desde a primeira cena. Robert Zemeckis voltou a se provar um dos melhores diretores vivos... Em termos de domínio da linguagem cinematográfica, ele é um mestre do porte de um Spielberg ou Scorsese.

- Os personagens e a história no entanto não são dos mais interessantes. O filme é um tanto impessoal. Não discute questões de verdadeiro interesse pro espectador. O romance é previsível, sem muitos conflitos, intensidade, intimidade. O personagem do Brad Pitt é meio apático. A maior emoção demonstrada é quando ele beija a Marion Cotillard pra fingir pra vizinha que estava espiando - e depois descobrimos que não tinha ninguém na janela. É uma maneira ótima de revelar um sentimento de forma visual - ainda assim, o conteúdo é morno e não é tão estimulante quanto a técnica.

- Fantástica a cena de sexo no carro. Zemeckis tem esse dom de usar a tecnologia sempre a favor da história, pra aumentar a dramaticidade e o valor artístico de uma cena.

- O figurino é lindo. Não indicaria necessariamente a Melhor Filme, mas sem dúvida ele merecia diversas indicações como Fotografia, Direção de Arte, Figurino, Edição, Direção, etc. Está bem acima da maioria dos filmes indicados ao Oscar nessas áreas.

- Surpreendente a cena do tiroteio na festa! Embora não haja uma trama envolvente, o filme é cheio de momentos interessante (como o do baralho, por exemplo, ou o parto no meio do bombardeio).

- Depois dessa missão, o roteiro fica com uma "barriga"... Um período longo onde a história fica sem nenhum gancho, meio parada. Só em 1 hora de filme mais ou menos surge a suspeita de que a Marion Cotillard seja uma espiã. Aí sim o filme fica mais envolvente e ganha um conflito digno, gerando uma série de ações que o Brad Pitt tem que fazer até o inevitável clímax.

- Adoro que a palavra "lie" esteja destacada sutilmente no título do filme no pôster original.

- Só acho que o Brad Pitt está mentindo muito mal pra esposa (pra quem foi treinado pra isso).

- Interessantes as tentativas dele de confirmar a identidade da Marion. A cena em que ele vai visitar o cara na prisão é bem tensa.

- SPOILER: Excelente a cena do piano quando ele descobre a verdade sobre a esposa. Mais um exemplo de como contar a história visualmente, de maneira criativa. E isso dá um gancho bem envolvente pra conclusão.

- Muito bom o final, que basicamente é uma sequência de fuga. Queremos que eles escapem, mas ao mesmo tempo sabemos que a história não tem como ter um final feliz.

- O desfecho é satisfatório... Trágico, porém a Marion se redime e a gente sai com a sensação de que aconteceu a melhor coisa possível dentro daquele contexto. Bons finais são assim - soam inesperados e inevitáveis ao mesmo tempo.

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CONCLUSÃO: História um pouco morna e impessoal, mas cinematograficamente é o trabalho de um mestre.

Allied / Reino Unido, EUA / 2016 / Robert Zemeckis

FILMES PARECIDOS: A Travessia (2015) / Ponte dos Espiões (2015) / O Jogo da Imitação (2014) / Argo (2012)

NOTA: 8.0 

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Moonlight: Sob a Luz do Luar

NOTAS DA SESSÃO:

- Início decepcionante, o filme é totalmente Naturalista. Um retrato da periferia, de uma realidade dura, sem uma narrativa envolvente, personagens bem construídos (o menino é totalmente passivo, uma vítima genérica da sociedade sem nenhuma característica interessante que o filme saiba destacar).

- Senso de Vida negativo. A vida aqui parece conflituosa por natureza - não porque alguém foi mau ou agiu de forma errada. No universo do filme simplesmente ninguém se entende, ninguém se comunica direito, mesmo quando está tudo normal (compare com Lion, que também é sobre pessoas vivendo em uma realidade difícil).

- Por que o menino sofre bullying? O filme não mostra de que forma ele destoa dos demais da escola. Ele é nerd, afeminado ou algo do tipo? Não vemos nada disso. Não é um retrato feito com inteligência emocional. O público acha que o filme faz um retrato "íntimo" do personagem, mas isso é porque o garoto é tão silencioso que as pessoas projetam o que quiserem nele.

- Não há história. O filme só quer expor a realidade dessas pessoas... Vemos os problemas do menino na escola, a mãe drogada, a rotina na casa (como ele tem que ferver água pra ter um banho quente), etc. É a ideia Naturalista de que, se você está retratando pessoas menos privilegiadas, o espectador não pode esperar uma narrativa envolvente, estimulante... É o dever moral dele sacrificar algumas horas de sua vida pra dar atenção a questões mais "sérias" que cinema.

- O comportamento dos personagens é artificial, como se o cineasta não entendesse de natureza humana ou não conhecesse bem a realidade dessas pessoas. O menino é tão tímido que mal abre a boca; até parece que ele iria perguntar no meio do jantar "o que é uma bicha?" pra pessoas que ele mal conhece. Ele é chamado de bicha na escola? Isso é um drama pra ele? Não vimos nada disso.

- Quando ele se torna adolescente ele continua totalmente enrustido, sem personalidade, mesmo tendo sido parcialmente criado por um casal saudável, feliz, que estimulava a autoestima dele. Não é muito convincente essa caracterização, o garoto se comporta como se fosse um bicho do mato. O filme quer insistir na ideia da vitimização. De que negros pobres não têm chance na vida, são vítimas do sistema (o que pode até ser uma verdade em partes, mas não por esses motivos que estou vendo aqui).

-  O personagem da mãe é odioso (roubando o dinheiro dele pra comprar drogas)! E unidimensional, caricato.

- O fato do menino ter impulsos homossexuais é apenas mais uma informação jogada na história... não cria um novo rumo pro filme. Não sabemos nada sobre o mundo interno do personagem. Seus desejos, receios. Uma hora ele diz "às vezes eu choro tanto que sinto que vou me afogar". Em nenhum momento vimos o personagem chorando no filme! É tudo artificial. O filme está apenas se divertindo com a ideia de subverter o estereótipo do "gangster", do "negão"... Mostrando o lado feminino e delicado dessas figuras - mais para o deleite da plateia "progressista" do que pra fazer uma observação psicológica interessante.

- Pelo menos o ator da versão adulta do protagonista é melhor, mais expressivo. Mas continua não acontecendo nada nesse terceiro ato todo do filme. Apenas 1 tipo de público deve estar tendo algum interesse genuíno na história: o público gay que tem fetiche de ver homens héteros se pegando (claro, os progressistas também devem estar gostando de ver a subversão do machão, etc). O filme quer prender a atenção num nível sexual, não num nível dramático, narrativo (imagine se fosse um romance comum entre um homem e uma mulher... não haveria nenhum interesse, pois os personagens não têm uma relação significativa, um histórico, um universo interno, etc). Eu por ser gay acho interessante a química entre eles, mas tento separar isso dos méritos reais do filme.

- Muito ruim a maquiagem da mãe. Quando o filho está adulto, ele parece da mesma idade dela. E a personagem continua desagradável, falando coisas genéricas. A relação dos dois não se torna mais interessante, não passa por uma transformação, ela não participa da descoberta sexual dele (nem contribui pra sua repressão), é como se fizesse parte de outro filme. O filme quer passar a ideia de que descobrir sua sexualidade foi especialmente difícil pro personagem nessa comunidade. Mas ele nunca foi reprimido pela mãe, e o Mahershala Ali parecia lidar com o assunto de maneira bem liberal. Só na escola que ele sofria bullying, mas isso até crianças brancas e ricas sofrem.

- Qual o sentido de dar destaque pra essa música do Caetano Veloso em espanhol? É um elemento aleatório pra mostrar que o filme, além de representar os negros e os gays, também representa os latinos. Moonlight não está focado em coerência estética, ele quer apenas ser o filme "anti-Trump" definitivo concorrendo ao Oscar.

- Todo o final é apenas uma longa cena quase documental, com um ritmo lento, sem novas ideias, que pretende prender o espectador em cima da pergunta: que horas o protagonista e o amigo vão se pegar? Não há um desenvolvimento interessante no roteiro. Nem é algo que deve envolver o espectador comum, que não tenha o perfil sexual que favoreça o filme. E no final o filme ainda se nega a entregar a cena de sexo que estava prometendo. A plateia sai do cinema em silêncio, meio entediada - mas com medo de falar mal do filme, por ele ser tão "relevante" socialmente.

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CONCLUSÃO: Filme naturalista superficial que ganhou relevância mais por causa do conteúdo sócio-político da história do que por méritos cinematográficos reais.

Moonlight / EUA / 2016 / Barry Jenkins

FILMES PARECIDOS: 12 Anos de Escravidão (2013) / Preciosa: Uma História de Esperança (2009)

NOTA: 4.0

Lion: Uma Jornada Para Casa

NOTAS DA SESSÃO:

- Apaixonante o menino que faz o Saroo criança! Uma graça a amizade entre ele e o irmão. Apesar do filme mostrar um ambiente miserável, ele enfatiza o lado forte do personagem (tornando o título Lion apropriado, por sugerir força) e não o sofrimento (Saroo mostrando pro irmão que consegue carregar peso, mais tarde ele aprendendo inglês, a esperteza ao escapar das pessoas que queriam se aproveitar dele, além do simples fato do ator ser uma fofura).

- Bela produção. A fotografia e a trilha sonora estão entre as mais bonitas do ano.

- Pena do Saroo quando ele fica sozinho. O filme tem uma estrutura bem Disney - o herói se perde da família e tem que encontrar o caminho de volta pra casa, se tornando mais maduro e independente no processo. É uma trama simples, com 1 única linha de interesse, porém universal, eficiente e bem contada.

- Quando ele é adotado e vai pra Austrália, há um sentimento misto de alívio e frustração... Por um lado ficamos felizes que ele achou uma boa família e terá uma vida melhor do que poderia ter tido na Índia, mas ainda queremos que ele reencontre a família biológica (pra acabar com a angústia de todos), e isso parece ainda mais impossível agora.

- Dev Patel foi uma ótima escolha pro papel. Legal a ideia dele ver os Jalebis na panela depois de grande e isso trazer à tona as memórias da infância (um bom exemplo de como contar a história visualmente).

- Nicole Kidman está muito bem também. Bonita a cena em que ela diz pro Saroo que poderia ter tido filhos biológicos se quisesse. As relações da história são muito bonitas (uma das coisas que eu mais presto atenção pra avaliar o Senso de Vida de um filme é o quão harmoniosos ou o quão conflituosos são os relacionamentos centrais do filme, especialmente os positivos).

- Interessante o Google Earth ser uma peça fundamental da história. O filme é bastante caprichoso - só agora entendi por que os créditos iniciais tinham aquelas imagens mostradas do alto.

- Apesar do encontro final ser previsível, achei difícil segurar as lágrimas. A cena é linda, a trilha sonora também, e a explicação do nome no fim é aquele ponto final bem dado que parece dar uma elevada em tudo o que veio antes. Pra melhorar ainda entra uma música da Sia nos créditos!

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CONCLUSÃO: Nada de muito inventivo, mas uma história universal emocionante, bem contada, com ótimos atores e uma bela produção.

Lion / Austrália, EUA, Reino Unido / 2016 / Garth Davis

FILMES PARECIDOS: As Aventuras de Pi (2012) / Império do Sol (1987) / A Cor Púrpura (1985)

NOTA: 8.0

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

LEGO Batman: O Filme

Não tinha gostado de Uma Aventura Lego por causa do humor pretensioso, e pela tentativa contraditória de fazer uma crítica à cultura pop - mas felizmente LEGO Batman não segue a mesma linha, trazendo personagens, piadas e uma história com um espírito mais inocente. Ainda há o discurso coletivista chatinho que diz que você não pode ser um herói solitário, que trabalho em equipe é o que realmente importa, etc (o maior clichê das animações atuais). Mas nesse caso o filme faz com que a gente goste do grupo em questão (e o Batman parece gostar dessas pessoas também), então não há um senso de sacrifício - a gente simplesmente torce pro herói superar seus traumas pra que ele tenha uma vida mais feliz (no começo ele está claramente deprimido com o fato de ser solitário) e abra espaço pra novas amizades (inclusive com o Coringa, que é o personagem mais adorável do filme!). É um humor pouco "safe", sem grandes ousadias ou gargalhadas, mas é uma história fofa, com um ritmo ágil que começa a divertir desde antes da primeira imagem aparecer na tela.

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The LEGO Batman Movie / Dinamarca, EUA / 2017 / Chris McKay

FILMES PARECIDOS: Bob Esponja: Um Herói Fora d'Água (2015) / Anjos da Lei (2012) / Meu Malvado Favorito (2010) / Os Simpsons: O Filme (2007)

NOTA: 6.5

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Cinquenta Tons Mais Escuros

NOTAS DA SESSÃO:

- Bonita a canção dos créditos iniciais (é mais um caso em que o álbum é melhor que o filme).

- Meio cômica a cena na galeria de arte - as pessoas indo numa exposição pra ver fotos de uma mulher linda (quando a triste realidade é que um fotógrafo só é considerado artista quando registra crianças famintas na África, rostos enrugados de idosos, etc).

- Ridícula a razão do Grey e a Anastasia voltarem! Ele simplesmente diz pra ela "minha mãe era viciada em crack", e de um segundo pro outro todo o comportamento dele parece justificado! Psicologia mais tosca que já vi.

- Os diálogos são infantis. O pior é quando eles ficam citando autores famosos, livros clássicos, pra dar a impressão pra plateia de que eles não são apenas corpos bonitos.

- Preguiça do que esses personagens representam, dos valores por trás desse tipo de relacionamento, do culto às aparências, ao materialismo, dessa garota submissa que não faz nada e é o centro do universo, tem todos babando por ela por causa de seu sex appeal (ela é considerada genial no trabalho só por causa de uma sugestão tola que dá na reunião).

- SPOILER: O roteiro é um tédio. O romance não tem nenhum conflito (até as manias do Grey deixarem de ser um problema, já que a Anastasia parece estar curtindo ser espancada). O filme não faz a gente ficar preocupado com algo, torcendo por algo. Os 2 resolvem voltar, e a partir daí ficamos apenas assistindo tudo dar cada vez mais certo: eles transando o tempo todo, resolvendo morar juntos, dar uma festa, se casar... Os únicos obstáculos são os invejosos que tentam atrapalhar a relação de vez em quando (o chefe da Anastasia, a Kim Basinger, a ex do Grey que parece uma assombração). Mas nada realmente preocupante que forme um enredo.

- SPOILER: Pra não falar só mal do filme, acho bonita a cena em que o Grey se ajoelha diante da Anastasia pra não deixar ela ir embora (um cara como ele se colocar numa posição submissa é realmente a maior prova de amor, rs).

- SPOILER: O que é essa cena do helicóptero?!?!?! Parece que mudaram o canal e pegamos um outro filme pela metade! É uma reviravolta absurda, aleatória, totalmente desconectada do resto do filme! Só pra ter um momento de crise / preocupação (já que o roteiro não fornece isso com conflitos reais) pra daí o haver um final feliz depois. A família está acompanhando as notícias do acidente pela TV?! E de repente o Grey entra pela porta??? Onde foi esse acidente? Não foi em outro estado? Como ele saiu do meio da selva, voltou pro apartamento rapidamente (sem telefonar) e tudo antes do noticiário ter qualquer informação? Essa com certeza leva o prêmio da sequência mais insana do ano.

- O confronto final com a Kim Basinger parece cena de novela mexicana. As frases são inacreditáveis: "Você me ensinou a trepar. Ela me ensinou a amar!".

- O filme trata a cena do anel de noivado como se fosse um clímax, mas eles já estão comprometidos há muito tempo! Está tudo dando certo desde que o filme começou. Eles já foram morar juntos, ele já pediu ela em casamento e ela aceitou... O ato dele dar um anel é mais do mesmo, apenas confirma o que já sabemos há horas. O pior são as pessoas suspirando no cinema - e perceber que a cena funciona sim como um clímax pro público alvo do filme - pras futuras esposas-profissionais-blogueiras-de-Instagram que mal podem esperar pra ver o tamanho do brilhante no anel.

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CONCLUSÃO: Simpatizo pela tentativa de retratar um romance perfeito - mas o roteiro é péssimo e a ideia do filme do que é perfeição me deprime.

Fifty Shades Darker / EUA / 2017 / James Foley

FILMES PARECIDOS: Divergente (2014) / A Culpa É das Estrelas (2014) / Sex and the City: O Filme (2008) / Crepúsculo (2008)

NOTA: 3.5

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Jackie

NOTAS DA SESSÃO:

- A trilha sonora rouba a cena mesmo antes de aparecer a primeira imagem. Em geral gosto de trilhas que se impõem.

- Natalie Portman está bem (a close dela limpando o sangue do rosto é bem forte), embora o jeito dela falar pareça um pouco artificial e distraia do conteúdo.

- O grande problema do filme é que não há uma história. É apenas um retrato de Jackie nos dias após o assassinato do Kennedy: ela dando a notícia pros filhos, preparando o funeral, dando entrevistas, etc. Ela não tem um objetivo interessante. Quer apenas fazer um funeral bonito pro marido e marchar ao lado do caixão. Isso está longe de ser uma boa motivação pro espectador.

- A caracterização de Jackie também é um pouco superficial. A única coisa que sabemos sobre ela é que ela era forte e realmente admirava o marido. Não há camadas mais profundas, não sentimos que estamos conhecendo a essência da personagem, algo além do estereótipo. A preocupação do filme é mais a de reproduzir a aparência dela - mostrar como ela era elegante, como ela se portava, etc.

- Há uma certa glamourização do sofrimento que me entedia. É como se fosse pro espectador ter prazer em se imaginar no lugar dela - uma bela vítima sofrendo diante dos holofotes pro mundo todo ver - e isso bastasse pra tornar o filme agradável.

- No fim ela faz o funeral do jeito que queria, todos dizem que foi algo grandioso, um evento que entrará pra história - mas a cena em si que vimos foi fraca, sem grande impacto visual, esquecível. Já que o filme não tem muita história, pelo menos esse momento deveria ter sido algo mais espetacular em termos de produção.

- Depois do funeral o filme fica sem rumo e começa a se arrastar. Mostra um flashback desnecessário do assassinato do Kennedy que não acrescenta em nada. Há aquelas conversas filosóficas com o padre que também soam meio inúteis (ela fica falando em suicídio - em nenhum momento sentimos que ela ficou deprimida assim a ponto de querer morrer). A discussão sobre a ficção às vezes ser mais real do que os fatos também é meio vazia... Isso não era um tema do filme! O que foi uma ficção na história de Jackie e de Kennedy? Pelo que o filme mostrou, eles de fato se gostavam, Kennedy era um bom homem, fez o melhor que pôde como presidente. Não foi tudo uma farsa criada pela mídia como essa discussão tenta sugerir. Eles tentam enfiar um conteúdo no fim que não estava na história.

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CONCLUSÃO: Interessante por ser uma mulher glamourosa vivendo um momento histórico, mas falta substância e uma boa história pra sustentar o filme.

Jackie / Chile, França, EUA / 2016 / Pablo Larraín

FILMES PARECIDOS: Grace de Mônaco (2014) / Diana (2013) / Sete Dias com Marilyn (2011)

NOTA: 5.5

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O Apartamento

NOTAS DA SESSÃO:

- Intrigante a cena de "ação" no começo com o prédio ruindo. É por causa da obra / escavadeira lá embaixo? Qual a relevância disso pra história?

- Naturalismo: personagens comuns, lugares feios e desinteressantes, registro do cotidiano, etc.

- Pelo menos lá pelos 30 minutos de filme algo mais dramático acontece (o ataque à mulher). Ainda assim não parece que o filme se transformará num suspense, desenvolverá uma trama envolvente a partir disso. O marido começa a tentar ir atrás do criminoso, mas não dá pra dizer que é uma boa história de vingança. Nem sabemos quem é o "vilão" e qual a motivação dele. Tudo parece ter sido um grande engano (confundiram a mulher com a antiga moradora).

- É uma típica história naturalista que quer mostrar que as pessoas não estão no controle das próprias vidas - que a paz é algo extremamente frágil, que o mundo é um lugar hostil à felicidade humana e que a vida é feita de conflitos. Começa com um casal vivendo uma vida normal, tranquila, daí um evento aleatório acontece e começa a destruir toda a harmonia que existia antes. O relacionamento do casal entra em crise, começam a surgir conflitos deles com os vizinhos, com os atores da peça, o trabalho do protagonista na escola é prejudicado, jantares são arruinados - até no trânsito ele começa a dirigir mal e a brigar com os outros motoristas.

- Por que o protagonista não vai à polícia? Ele começa a se tornar uma pessoa detestável - indo atrás do suspeito (quando nem a mulher que foi a vítima deseja isso), incomodando pessoas, acusando os outros sem ter certeza de quem é o culpado.

- SPOILER: No fim o agressor é um senhor frágil que mal consegue subir uns lances de escada. Ou seja, é a ideia malevolente de que a vida é tão frágil que de um minuto pro outro ela pode virar um caos - não por causa de um grande mal, de eventos épicos, mas por causa de pequenas corrupções de indivíduos desprezíveis.

- O protagonista (que deveria ser o mocinho) começa a agir de maneira agressiva, cruel, enquanto o senhor (que deveria ser o vilão) é retratado como um senhor humilde, frágil, digno de pena. O filme coloca o espectador na posição desagradável de ter que simpatizar pelo culpado e de condenar o comportamento do inocente. É o mesmo espírito de A Separação (outro filme desse diretor), onde ambos os lados do conflito tinham defeitos, você não conseguia ficar 100% a favor de ninguém (o tema de ambiguidade moral, de que o ser humano é bom e mau ao mesmo tempo, de que nada é preto e branco, etc).

- SPOILER: Final bagunçado, insatisfatório. Não sabemos se o senhor morreu... O protagonista acaba não contando pra família o que aconteceu... Quer dizer que ele ficou com pena? Decidiu que o senhor já sofreu o bastante e por isso não precisa ser entregue à polícia e nem exposto pra família? O protagonista não sai nem derrotado, nem vitorioso. Não há nem justiça nem injustiça. É tudo meio ambíguo e cinza e tedioso.

- Ficam aparecendo cenas do teatro pra dar a impressão de que há algum paralelo entre isso e o resto da história, alguma metáfora, mas não há nenhuma conexão clara entre as duas coisas. É só pra plateia sair com a sensação de que não entendeu o filme direito (e que deve falar bem dele).

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CONCLUSÃO: Bem realizado (pro gênero) mas não deixa de ser um filme Naturalista com um Senso de Vida negativo - o que o impede de ter grandes méritos.

Forushande / Irã, França / 2016 / Asghar Farhadi

FILMES PARECIDOS: Aquarius (2016) / A Separação (2011)

NOTA: 3.5

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Toni Erdmann

Tenho sempre um pouco de receio de indicar comédias pois desde pequeno noto que meu senso de humor não combina em nada com o das pessoas em geral. E embora eu tenha achado Toni Erdmann um filme extremamente sensível, original, bem atuado (as 2 performances centrais pra mim são dignas de Oscars), tenho que admitir que parte do motivo dele estar entre meus favoritos dos últimos anos é o fato de eu ter dado risada do começo ao fim (algo que talvez não aconteça com vocês que estão lendo isso). Então levem esse aspecto subjetivo do humor em consideração.

O filme está indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e conta a história de um senhor que resolve viajar pra visitar sua filha - com quem ele tem uma relação um pouco distante - e que está passando por um período de bastante stress profissional. Há muitos filmes que eu gosto que se encaixam nesse formato de narrativa: uma figura externa (o pai / Toni Erdmann) chega pra resgatar o personagem central (a filha) de uma vida de stress e repressão. Mas poucos são tão originais no processo de atingir esse resultado. É meio que um filme de 1 piada só, mas o roteiro consegue criar situações tão diferentes o tempo todo que a fórmula não se esgota (mesmo ele tendo mais de 2 horas e meia de duração).

E claro, não é só o humor que torna o filme especial. Por trás de tudo há uma história tocante de relacionamento familiar e uma mensagem incrível sobre nunca perder o senso de diversão na vida.

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Toni Erdmann / Alemanha, Áustria / 2016 / Maren Ade

FILMES PARECIDOS: Elle (2016)

NOTA: 8.5

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A Qualquer Custo

NOTAS DA SESSÃO:

- Bonito o filme visualmente - os enquadramentos, as paisagens... Divertidas as primeiras cenas de assalto (principalmente as reações das vítimas).

- Não gosto desses filmes sobre personagens comuns, eventos pequenos, cidades pequenas. O filme parece acreditar que o simples fato dele retratar caipiras o torna mais artístico e digno do respeito da plateia. Eu já expliquei aqui o que é Idealismo Corrompido - mas esse filme parece ser exatamente o oposto: Naturalismo Corrompido! É como se ele fosse feito por um cineasta mais comercial, acostumado à estética de filmes hollywoodianos, e que agora resolveu tentar fazer um filme mais "indie", com uma sensibilidade mais "artística", por achar que esses filmes ganham mais prêmios - só que ele falha na tentativa, não consegue ser 100% naturalista e acaba soando inautêntico. A própria ideia de escalar o Chris Pine (um galã de blockbusters) pra interpretar um homem simples do interior já ilustra esse conflito básico da produção.

- As motivações dos personagens são mal desenvolvidas. Não sabemos ao certo se eles são imorais, se estão roubando por uma causa justa, etc.

- O filme parece sugerir que os bandidos são "vítimas do sistema" (da ganância, dos bancos, etc), mas ele não fornece informações o bastante pra gente poder acreditar nisso e ficar do lado deles.

- Não há uma boa motivação no filme. Não torcemos nem pelos protagonistas nem pelo xerife.

- O filme parece achar que está dizendo algo importante a respeito da sociedade, do homem comum americano, mas é vago demais pra gente saber se o discurso tem algum mérito intelectual.

- Algumas cenas de assalto / fuga até que são interessantes (por exemplo quando a cidade inteira sai atrás dos 2 de carro e o Ben Foster saca a metralhadora). É o que falei sobre Naturalismo Corrompido - o cineasta não tem coragem de fazer um filme totalmente chato, então de vez em quando cria um pequeno espetáculo pra entreter o público.

- Não entendi por que os irmãos resolvem fugir em carros separados (e 1 deles no carro suspeito!) no final. É um pouco ilógico: os 2 deveriam ter fugido no carro que não chamaria a atenção da polícia.

- SPOILER: Mais alguns momentos divertidos no final em termos de ação (o Ben Foster explodindo o carro, etc). Não porque estamos envolvidos pela história, torcendo pelo personagem - é só porque o filme estava tão sem sal que é um alívio ver algumas mortes, explosões, etc.

- SPOILER: A história é vazia de significado. Quando o Ben Foster é baleado e morre, não há nenhum impacto emocional, não sentimos que há um significado maior por trás disso, uma mensagem, que algum raciocínio foi concluído pelo filme, etc. Assim como o encontro final entre o Chris Pine e o Jeff Bridges. O filme tenta dar um clima de que é um duelo entre 2 grandes personagens, que eles passaram por eventos épicos, mas como o filme é superficial, não discute valores importantes, não sentimos nada disso. Soa pequeno. Apenas um conflito comum entre bandidos e policiais. O Jeff Bridges diz pro Chris Pine que esses crimes o assombrarão pra sempre. Em nenhum momento sentimos que o Chris Pine sofreu um trauma emocional, que passou por uma transformação ao longo do filme.

- O filme lembra um pouco o Onde os Fracos Não Têm Vez (que eu também não gosto muito). A diferença é que a direção do Onde os Fracos tinha uns toques de experimentalismo que davam uma aparência mais "moderna" e inovadora pro filme. Esse aqui é convencional demais pra enganar como cult.

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CONCLUSÃO: História morna, feita pra atrair prêmios, mas sem grande impacto emocional ou intelectual.

Hell or High Water / EUA / 2016 / David Mackenzie

FILMES PARECIDOS: O Mensageiro (2009) / Rio Congelado (2008) / Onde os Fracos Não Têm Vez (2007) / A Promessa (2001)

NOTA: 5.5

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Estrelas Além do Tempo


História inspiradora de 3 mulheres negras que se tornaram peças importantes na corrida espacial americana nos anos 60. Resolvi não postar minhas anotações aqui pois elas acabaram sendo apenas uma série monótona de elogios ao filme: "o elenco está ótimo!", "que cena incrível!", etc.

Não é o tipo de filme que eu admiro tanto pelo virtuosismo técnico da produção, mas simplesmente por ser uma história prazerosa do começo ao fim, que a cada 5 minutos presenteia o público com uma boa cena, que tem excelentes valores e um casting impecável (Octavia Spencer foi a única indicada ao Oscar, mas não dá pra dizer que as outras atrizes mereciam menos - adorei inclusive a ideia de colocar a Kirsten Dunst como vilã; uma atriz que nunca me convenceu direito em personagens simpáticos).

Numa época em que tantos filmes parecem ansiosos pra tocar em questões políticas, se posicionar contra o racismo, etc - e o fazem de maneira desastrosa, criando ainda mais ódio e conflito - é um alívio ver 1 filme que aborda o tema da maneira certa, mostrando que nada melhor que o mérito pra quebrar preconceitos (especialmente quando acompanhado de uma atitude humilde e pacífica).

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Hidden Figures / EUA / 2016 / Theodore Melfi

FILMES PARECIDOS: O Mordomo da Casa Branca (2013) / Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2013) / Histórias Cruzadas (2011) / Julie & Julia (2009)

NOTA: 8.0

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O Chamado 3

NOTAS DA SESSÃO:

- Péssima a sequência inicial no avião. Mal dirigida, sem impacto, com ideias tolas. Sem falar que depois disso há um segundo prólogo, também ruim (por que o cara decide comprar um videocassete antigo e ligá-lo?), que tira toda a necessidade dessa primeira cena.

- O primeiro filme (que eu já não gostava muito) pelo menos era uma produção maior, bonita visualmente (custou 48 milhões de dólares em 2002, esse aqui custou 25 milhões em 2017). Parece um filme de estudante. A fotografia é horrível, a imagem tem uma correção de cor forçada que dá a impressão que o filme inteiro está com um filtro de Instagram. Os atores são péssimos, parecem ter sido escolhido por serem bonitinhos apenas, e não por convencerem como os personagens. O som é ruim também - muitas vezes eles estão em lugares abertos (avião, faculdade) e o som parece o de um estúdio silencioso, sem ruído ambiente, sem pessoas falando ao fundo, etc.

- Por que a Julia tem um pesadelo no começo do filme, sendo que ela não viu a fita e nem sabe que o namorado assistiu ou que ele está em perigo? Ela teve uma premonição? Coisas sobrenaturais já acontecem no dia a dia mesmo sem a fita?

- Não faz nenhum sentido o começo da trama - ela ir atrás do namorado na faculdade sem antes entrar em contato com a família dele, sem insistir em perguntar pros amigos onde ele está (em vez disso ela vai falar com um professor aleatório). Daí tem a história da chave que ela usa no elevador e descobre um andar secreto com uma TV ligada. Como ela foi parar aí?!

- O filme foi feito por uma equipe sem talento: trama é ruim, a direção é ruim, os atores são ruins, a parte técnica é ruim, as cenas de morte são ruins.

- Desde o primeiro filme já acho meio idiota essa ideia de uma fita cassete assassina, uma menina sair da TV, etc. Faria sentido se fosse algo meio simbólico (uma crítica à mídia ou algo do tipo), mas não há nenhum subtexto desse tipo na franquia.

- A história volta um pouquinho pros trilhos depois que a Julia assiste a fita e as regras do jogo mudam (eles acham o vídeo dentro do vídeo, descobrem novas pistas, etc).

- Mas a trama continua totalmente burra. Não conseguimos acompanhar a história como um filme de investigação, onde uma pista leva à outra e há uma progressão coerente de eventos. Os personagens simplesmente vão tendo insights, intuições que vêm do além que dizem o que eles devem fazer em seguida (veja a forma como a protagonista olha o recorte de jornal no mural e lembra que é a mesma igreja que ela viu no vídeo, ou como ela vê o retrato antigo da mulher na parede do hotel e lembra de outra visão que teve). Eu gosto de filmes sobrenaturais - desde que eles abordem o tema da maneira mais racional possível.

- A cena dentro do túmulo da Samara não dá o menor medo. Detesto filmes onde os monstros são apenas alucinações que aparecem do nada só pra dar um susto no personagem, e no segundo seguinte desaparecem sem consequências. Se você for pensar a protagonista não passa por perigos reais ao longo do filme inteiro (na prática ela só estará em perigo mesmo no fim dos 7 dias quando aparecer a Samara). Não há um vilão ao longo do filme criando tensão constante. O filme precisa ficar assustando a plateia de forma barata: visões, um guarda-chuva que abre do nada, um cachorro que late, etc. Quando eles se deparam com o acidente de carro (o poste que cai, etc) eu nem sabia se o que estava acontecendo era uma alucinação ou se a protagonista estava realmente em perigo.

- Odeio essas conexões idiotas que o filme faz como se fossem sacadas inteligentes: por exemplo os vários números 7 que aparecem ao longo do filme (o que tem a ver o 7º andar da faculdade com o fato da Samara ter ficado 7 dias no fundo do poço?!?!?!). Ou então o fato do sino da igreja formar um "anel" quando visto de baixo, semelhante ao do poço. Isso só revela o nível da inteligência de quem escreveu o roteiro.

- SPOILER: Sem sentido a Julia ir sozinha no fim do filme pra igreja, depois pra casa do padre. Por que ela não foi com o namorado? O suspense funciona um pouco melhor nessa parte do filme, pois o perigo fica mais palpável - o padre ser o vilão e ela não saber, etc. Mas ainda assim o filme é todo feito em cima de clichês. Esse final todo parece um mashup de O Homem das Trevas com o final de O Silêncio dos Inocentes.

- O filme esquece o fato de que a Julia tem 7 dias pra viver. Quanto tempo ela ainda tem pra resolver o mistério? Por que eles não usam esse elemento pra gerar mais tensão na história?

- SPOILER: O final todo é fraco e mal explicado. A morte do padre é muito fraca. Quer dizer que depois disso tudo a Samara vai continuar matando como sempre fez? Pra que serviu então tudo o que a protagonista fez? Queimar os ossos, etc? E o que significa "renascimento"? A Samara vai se tornar uma pessoa de carne e osso? Então por que ela continua precisando passar o vídeo adiante?

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CONCLUSÃO: Produção de segunda categoria, sem talento ou inteligência, feita apenas pra lucrar em cima da franquia.

Rings / EUA / 2017 / F. Javier Gutiérrez

FILMES PARECIDOS: O Espelho (2013) / Mama (2013) / O Olho do Mal (2008) / Água Negra (2005)

NOTA: 3.5

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A Morte de Luís XIV

NOTAS DA SESSÃO:

- Bonito o visual com cara de pintura. Mas o começo é uma chatice. Fica mostrando momentos vazios da rotina de um homem doente na cama.

- Não sabemos nada sobre o personagem - seus valores, desejos, motivações, o que ele está sentindo, pensando, etc. O fato dele ser o Luís XIV pouco importa pro espectador se o filme não desenvolve o personagem. Pra plateia é apenas um corpo físico numa cama sem conteúdo algum. Naturalismo extremo. Não há nenhum conflito na história, nenhuma mudança na vida do personagem. Quando o filme começa ele já está doente e ele apenas continua desse jeito, passivo, apenas vai piorando lentamente.

- O filme intercala cenas vazias do Luís XIV na cama impotente, bebendo água, comendo, com diálogos paralelos banais dos empregados discutindo sua saúde, etc. Os personagens são todos um tédio, sem nenhum tipo de carisma, personalidade.

- Se aparecer mais uma vez um empregado servindo água / comida pra ele na cama acho que eu vou me levantar e ir embora! Se você cortasse todas as "cenas" em que isso acontece, o filme teria uns 40 minutos a menos de duração. O problema é que esse tipo de coisa é basicamente a única "ação" que existe no filme. Sem isso, seria apenas um velho parado na cama sem fazer nada. Então a cada 5 minutos alguém tem que servir água pra ele e "eletrizar" a plateia.

- O filme é patético. Uma pegadinha em cima do espectador (o mais engraçado é olhar as pessoas no cinema olhando atentas pra tela tentando analisar o filme - tipo pessoas numa galeria de arte moderna tentando decifrar o indecifrável). Parece aquelas coisas do Andy Warhol nos anos 60, que lançou um filme de 8 horas que era apenas uma imagem parada do Empire State onde nada acontecia. Só que ali pelo menos estávamos olhando pra um prédio bonito em Nova York, e não pra um senhor feio agonizando na cama. Nem em um velório um ser humano é obrigado a passar por um tédio tão grande quanto assistir a esse filme - num velório pelo menos há a emoção intensa da perda, podemos conversar com os convidados, etc.

- Alerta Vermelho: o prazer todo do cineasta é o de mostrar a derrota dos poderosos, a impotência daqueles que se consideram privilegiados. Ele diminui não apenas o rei (com seu cabelo ridículo), mas também os homens ao seu redor - mostrando a impotência da razão e da ciência ao lidar com questões médicas.

- As atuações são péssimas. Repare como ninguém fala ou reage de maneira lógica. O cara vira pro médico e diz "Acho você um charlatão". Em vez de reagir como qualquer ser humano — ficar ofendido, tentar se defender, o cara não muda de expressão e responde algo que não tem nada a ver, como se não tivesse ouvido o comentário: "Vim salvar o rei". Isso tudo é pra dar um clima estranho e misterioso de "filme de arte", e camuflar o fato de que não há nada acontecendo na tela, de que o filme não tem conteúdo algum.

- Experimentalismo: o cineasta parece achar que arte é o oposto de entretenimento. Portanto quanto menos estimulante e menos prazerosa for a experiência, maior é a prova de seu valor artístico. Ele se orgulha em mostrar pro espectador como ele é rebelde, como ele é anti-comercial, como ele zomba de quem que entra no cinema esperando uma boa história, e se depara com um filme que é apenas um homem morrendo numa cama - e espera ser aplaudido por isso. O problema é que, julgando apenas pelo que vemos na tela, não dá pra saber se este é de fato o propósito do cineasta, ou se ele é apenas um deficiente mental achando que está fazendo um filme autêntico com algum valor artístico.

La mort de Louis XIV / Portugal, França, Espanha / 2016 / Albert Serra

NOTA: 0.0

A 13ª Emenda

Se você gosta de um discurso claro, racional, não tendencioso, fuja desse documentário da Netflix que está indicado ao Oscar não sei por que. Ele foi dirigido pela Ava DuVernay (de Selma: Uma Luta Pela Igualdade) e pretende expor o racismo nos EUA e no sistema carcerário. A teoria aqui é que a escravidão continua existindo nos EUA através de leis "injustas" que contribuem pra prisão em massa da população negra (o documentário é contra a 13ª emenda, que permite que uma pessoa perca sua liberdade caso cometa crimes!). Exceto por um ou outro exemplo de pessoas inocentes que foram presas injustamente, o filme parece na maior parte do tempo estar defendendo criminosos de verdade - dizendo que eles não deviam ter uma punição tão grave mesmo após terem cometido 3 crimes! Que não deviam sofrer "preconceito" da sociedade depois de soltos, ao procurarem emprego por exemplo, só pelo fato de serem ex-presidiários! É como se fosse tudo uma grande conspiração das grandes empresas, dos republicanos, pra manter os negros na cadeia, pois alguém está faturando bilhões com isso (sim - eles chegam ao cúmulo de sugerir que os negros são presos pra enriquecer as grandes empresas que fornecem coisas como aparelhos telefônicos e alimentação pras cadeias!). Os grandes vilões de tudo claro que são figuras como Ronald Reagan, Donald Trump, etc. É um discurso ignorante que não sabe se culpa a guerra às drogas, se culpa o estado, se culpa o livre mercado... Que não sabe a diferença entre quem tem preconceito contra negros (o que é condenável, obviamente) e quem tem "preconceito" contra grupos violentos de esquerda como os Panteras Negras. E em nenhum momento diz uma palavra positiva em relação aos EUA - um país que com menos de 1 século de existência acabou com a escravidão numa época onde isso era prática comum - e inspirou o resto do mundo a seguir seu exemplo.

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13th / EUA / 2016 / Ava DuVernay

FILMES PARECIDOS: The Hunting Ground (2015)

NOTA: 2.0

Beleza Oculta


(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- Já acho uma bobagem essa teoria inicial do Will Smith (a ideia de que amor, tempo e morte são a essência de qualquer coisa).

- O elenco é espetacular. Mas me incomoda ver pessoas como Kate Winslet e Edward Norton em papeis tão fracos. Parece um insulto à carreira deles.

- A situação inicial é envolvente (o Will em crise, os amigos precisando que ele se recupere, etc). O filme foca em temas grandes, valores importantes. E gosto da direção - as coisas são retratadas de maneira meio teatral, exagerada, o que faz com que ações comuns ganhem um significado maior.

- O filme às vezes parece confuso, perdido em várias tramas paralelas, sem um personagem central forte (Kate Winslet procurando doador de esperma, o Edward Norton com problemas familiares, o outro com doença terminal - sobre o que é essa história? Não dá a impressão de que é um filme sobre várias tramas que se cruzam, tipo Crash: No Limite, e sim que ele é mal escrito). E em cima disso há a trama principal do filme, que já seria difícil de digerir por si só. A ideia deles de contratarem atores pra enganar o Will Smith é meio tola. Seria uma ótima ideia pra uma comédia screwball, mas não pra um filme que se leva a sério. O Will Smith não é um esquizofrênico, nem alguém que tem visões sobrenaturais. Sem falar que ele é publicitário e sabe que vive rodeado de pessoas criativas que seriam bem capazes de pregar uma peça como essa. É ridículo ele realmente acreditar que está conversando com a Morte, com o Tempo, etc. Não dá pra embarcar na história direito (a própria maneira como o Edward Norton encontrou os atores no teatro soa irreal).

- Há certa diversão em ver a Helen Mirren aparecendo pro Will Smith como se fosse a Morte (uma coisa meio Ruth Romcy), ainda assim a ideia é tão impossível que não dá pra acreditar. As coisas que os atores falam pra ele são muito clichês - não são reflexões inteligentes que iriam realmente transformar a vida dele (ainda mais ele sendo um "guru" que a princípio já é um homem sábio).

- Eu já estava achando meio anti-ética essa ideia dos 3 enganarem o Will Smith, mas até aqui dava a impressão de que era pro bem dele, pra ele superar a crise - uma mentirinha inocente. Mas quando os amigos têm a ideia de filmá-lo e usar as imagens contra ele, eles se revelam verdadeiros vilões! Só que o filme continua como se eles estivessem fazendo algo aceitável!

- Que bagunça de roteiro! O filme quer discutir tanta coisa ao mesmo tempo, provocar emoções tão profundas, reflexões tão grandiosas, que acaba se afundando na própria pretensão. Fica parecendo mais um adolescente tolo que acabou de fumar maconha e está tentando explicar o sentido da vida pra alguém. O Will Smith está nessa onda agora de querer exibir sua sabedoria milenar em todo filme que faz, mas acaba só falando bobagem. Em vez do filme gerar significado através dos eventos da história, os personagens ficam vomitando o sentido do filme diretamente na tela, cena após cena, através de frases sem sentido como "Nada está realmente morto quando você olha direito". Filmes que valorizam a inteligência do espectador deixam espaço pra ele mesmo entender o significado da história. Além disso, detesto também toda essa glamourização do sofrimento.

- SPOILER: É realmente odiosa essa ideia dos amigos fazerem o Will Smith acreditar que ele está ficando louco, só pra ele assinar os documentos e entregar o controle da empresa. Se esses 3 não forem punidos no final, o filme será revoltante.

- SPOILER: A revelação de que o Will Smith era o pai da Olivia não funciona. Esse não é o clímax do filme,  a conclusão correta pra essa história. Ele não era o protagonista do filme na prática. Sabíamos muito pouco sobre ele, sobre seu passado, sobre a relação dele com a filha, com a esposa. Não dá pra querer fazer a gente chorar agora só porque vimos uns flashbacks cafonas dele brincando com a filha. E a história da agência? Os 3 amigos sairão impunes? Ele nunca irá descobrir que foi feito de idiota?

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CONCLUSÃO: Bem produzido, com bons atores e uma premissa diferente - mas que se desenvolve num dos roteiros mais estranhos e problemáticos que já vi.

Collateral Beauty / EUA / 2016 / David Frankel

FILMES PARECIDOS: Sete Vidas (2008) / Crash: No Limite (2004) / A Corrente do Bem (2000)

NOTA: 4.5