quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O Apartamento

NOTAS DA SESSÃO:

- Intrigante a cena de "ação" no começo com o prédio ruindo. É por causa da obra / escavadeira lá embaixo? Qual a relevância disso pra história?

- Naturalismo: personagens comuns, lugares feios e desinteressantes, registro do cotidiano, etc.

- Pelo menos lá pelos 30 minutos de filme algo mais dramático acontece (o ataque à mulher). Ainda assim não parece que o filme se transformará num suspense, desenvolverá uma trama envolvente a partir disso. O marido começa a tentar ir atrás do criminoso, mas não dá pra dizer que é uma boa história de vingança. Nem sabemos quem é o "vilão" e qual a motivação dele. Tudo parece ter sido um grande engano (confundiram a mulher com a antiga moradora).

- É uma típica história naturalista que quer mostrar que as pessoas não estão no controle das próprias vidas - que a paz é algo extremamente frágil, que o mundo é um lugar hostil à felicidade humana e que a vida é feita de conflitos. Começa com um casal vivendo uma vida normal, tranquila, daí um evento aleatório acontece e começa a destruir toda a harmonia que existia antes. O relacionamento do casal entra em crise, começam a surgir conflitos deles com os vizinhos, com os atores da peça, o trabalho do protagonista na escola é prejudicado, jantares são arruinados - até no trânsito ele começa a dirigir mal e a brigar com os outros motoristas.

- Por que o protagonista não vai à polícia? Ele começa a se tornar uma pessoa detestável - indo atrás do suspeito (quando nem a mulher que foi a vítima deseja isso), incomodando pessoas, acusando os outros sem ter certeza de quem é o culpado.

- SPOILER: No fim o agressor é um senhor frágil que mal consegue subir uns lances de escada. Ou seja, é a ideia malevolente de que a vida é tão frágil que de um minuto pro outro ela pode virar um caos - não por causa de um grande mal, de eventos épicos, mas por causa de pequenas corrupções de indivíduos desprezíveis.

- O protagonista (que deveria ser o mocinho) começa a agir de maneira agressiva, cruel, enquanto o senhor (que deveria ser o vilão) é retratado como um senhor humilde, frágil, digno de pena. O filme coloca o espectador na posição desagradável de ter que simpatizar pelo culpado e de condenar o comportamento do inocente. É o mesmo espírito de A Separação (outro filme desse diretor), onde ambos os lados do conflito tinham defeitos, você não conseguia ficar 100% a favor de ninguém (o tema de ambiguidade moral, de que o ser humano é bom e mau ao mesmo tempo, de que nada é preto e branco, etc).

- SPOILER: Final bagunçado, insatisfatório. Não sabemos se o senhor morreu... O protagonista acaba não contando pra família o que aconteceu... Quer dizer que ele ficou com pena? Decidiu que o senhor já sofreu o bastante e por isso não precisa ser entregue à polícia e nem exposto pra família? O protagonista não sai nem derrotado, nem vitorioso. Não há nem justiça nem injustiça. É tudo meio ambíguo e cinza e tedioso.

- Ficam aparecendo cenas do teatro pra dar a impressão de que há algum paralelo entre isso e o resto da história, alguma metáfora, mas não há nenhuma conexão clara entre as duas coisas. É só pra plateia sair com a sensação de que não entendeu o filme direito (e que deve falar bem dele).

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CONCLUSÃO: Bem realizado (pro gênero) mas não deixa de ser um filme Naturalista com um Senso de Vida negativo - o que o impede de ter grandes méritos.

Forushande / Irã, França / 2016 / Asghar Farhadi

FILMES PARECIDOS: Aquarius (2016) / A Separação (2011)

NOTA: 3.5

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