segunda-feira, 13 de março de 2017

Silêncio

NOTAS DA SESSÃO:

- Como já se espera do Scorsese, o filme é muito bem realizado tecnicamente, a fotografia e as locações são muito bonitas, os atores estão bem, porém a história não é das mais interessantes. O grande problema aqui é que o filme assume que o espectador se importa por fé, religião, em particular pelo cristianismo, e portanto pelos dramas dos protagonistas. Mas pra quem não é religioso, o filme é sobre um conflito sem sentido e tedioso. A história não é contada de maneira universal, para todo tipo de público.

- O protagonista não tem nada de admirável além da fidelidade dele aos valores cristãos - mas fidelidade não é uma virtude em si, ela depende da pergunta "fidelidade a que?". O Andrew Garfield só vai ser admirável pro espectador cristão - os outros ficarão o filme todo querendo que ele deixe de ser fiel e salve a própria vida. Será difícil pro espectador não-religioso simpatizar com uma crença que glamouriza o martírio, a fé cega, o sofrimento, que diz que auto-sacrifício é uma virtude - e uma virtude maior ainda se for auto-sacrifício em nome dos miseráveis e corruptos.

- A discussão ética parece tola pra quem está de fora. Por exemplo: o personagem se sente culpado por não conseguir amar os torturadores (assim como Jesus manda). Pra qualquer não religioso, é claro que ele não deveria amá-los! E qual o problema de pisar na imagem de Jesus? É apenas um pedaço de matéria. Seria apenas um ato físico sem verdadeiro significado. Os vilões estão forçando eles a fazerem isso. Se eles não pisarem, serão mortos! Será que o cristianismo diz que, numa situação dessa, o correto seria desobedecer os criminosos e ser assassinado? Só isso já deveria ser motivo o bastante pra eles questionarem a religião.

- A narrativa é monótona e pouco prazerosa. O filme tem 2h40 e basicamente é a repetição de uma mesma cena: um cristão em conflito entre "renunciar" sua fé ou ser morto pelos japoneses. Os protagonistas não têm nenhum objetivo interessante, nenhum plano, são apenas vítimas que ficam sofrendo e sendo agredidas pelos vilões.

- Intelectualmente o filme é raso. Os debates que tentam provar a superioridade do cristianismo não são muito lógicos ou bem argumentados.

- É bem questionável o desejo dos protagonistas de disseminarem sua fé num outro país que não os quer lá. Claro que os japoneses estão errados em matar os cristãos, mas também não dá pra simpatizar muito com os "mocinhos". O filme mostra um conflito entre 2 grupos moralmente duvidosos - você não consegue torcer por nenhum dos lados 100%.

- SPOILER: O final é uma celebração da fé cega. Apesar do Andrew Garfield nunca ter tido 1 sinal de Deus, de ter vivido uma vida miserável, de saber das incoerências da religião e da impraticabilidade de muitos de seus ideais, o filme parece achar nobre o fato dele ignorar isso tudo e morrer agarrado ao crucifixo.

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CONCLUSÃO: Produção bem feita, mas com uma narrativa chata que não se esforça pra se comunicar com não-religiosos.

Silence / EUA, Taiwan, México / 2016 / Martin Scorsese

FILMES PARECIDOS: Até o Último Homem (2016) / Invencível (2014) / 12 Anos de Escravidão (2013) / A Conquista da Honra (2006) / Além da Linha Vermelha (1998)

NOTA: 5.0

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