sexta-feira, 31 de março de 2017

T2 Trainspotting

NOTAS DA SESSÃO:

- Difícil simpatizar pelos personagens e pelo universo do filme. Somos apresentados a uma série de criminosos, pessoas decadentes, e o filme parece achar graça nisso - retrata os personagens como se eles fossem pessoas divertidas e do bem.

- Danny Boyle chama muita atenção pro próprio estilo, mas não é um estilo que favorece a narrativa ou demonstra domínio da linguagem - é apenas uma maneira de reafirmar o arquétipo rebelde que o filme vende: o desejo de quebrar as regras apenas pelo prazer de ser "do contra", rebeldia pela rebeldia, sem oferecer algo de positivo em troca. Sem falar que o tipo de rebeldia estética que vemos aqui hoje em dia já soa ultrapassada, quase mainstream, pois o que era ousado nos anos 90 já não é mais surpresa.

- Não é muito claro o objetivo do protagonista. Ewan McGregor volta pra cidade aparentemente pra consertar o passado, com a atitude de quem quer se desintoxicar, tirar os amigos do buraco. Mas logo em seguida já está cometendo crimes, roubando carteiras, etc. O filme quer apenas fazer um retrato positivo de delinquentes, mostrar os amigos se reunindo pra mais uma aventura em homenagem aos "velhos tempos" - é como se fosse um Laranja Mecânica, mas sem o conteúdo intelectual nem o valor estético do filme do Kubrick.

- O discurso "Choose Life" é uma chatice. De uma hora pra outra o Ewan McGregor vira um filósofo de boteco pretensioso que critica o mundo moderno, sendo que em nenhum outro momento o personagem demonstrou ter esse tipo intelecto e lucidez.

- Divertido o encontro acidental entre o Ewan McGregor e o Begbie no banheiro. A partir daí o filme ganha certa energia pois se transforma numa grande perseguição - Ewan está correndo risco de ser morto e nesse contexto é possível torcer por ele.

- Mas as negociações entre os amigos, a sauna que eles querem abrir, etc, isso pouco interessa. Sabemos que um está querendo passar a perna no outro; são todos tão assumidamente imorais que nenhuma traição será surpresa pro espectador. Não há uma amizade real entre ninguém no filme.

- Divertida a cena em que o Begbie descobre as anotações do Spud sobre o passado deles.

- Interessante a luta final entre Mark e Begbie. As luzes do trem passando dão um ar meio fantástico pra sequência e nos lembram do título "Trainspotting", apesar de eu não ter a menor ideia do que trens têm a ver com isso tudo (só vi o primeiro filme 1 vez quando foi lançado).

- SPOILER: Begbie sendo preso, Spud virando escritor, Mark voltando pra casa do pai - isso tudo faz o filme terminar numa nota positiva e tira parte da impressão de que ele estava celebrando a delinquência.

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CONCLUSÃO: Feito com energia, com alguns momentos divertidos, embora seja difícil de simpatizar totalmente pelos personagens e o filme soe um pouco datado em sua forma de quebrar as regras.

T2 Trainspotting / Reino Unido / 2017 / Danny Boyle

FILMES PARECIDOS: Os Oito Odiados (2015) / Em Transe (2013) / Clube da Luta (1999)

NOTA: 5.5

3 comentários:

Anônimo disse...

Inconodado, prego? Pois é, tem um mundo todo, com pessoas com muito mais experiência que sua vida limitada. E mediocre. Duvido que usou drogas e transou a três. Prego. Bobo.

Caio Amaral disse...

Hmm.. já fiz essas coisas sim.. agora ser um criminoso imoral como alguns personagens do filme.. isso ainda não fiz.. de repente preciso de mais "experiência de vida" né..

Anônimo disse...

Isso me lembra meu pai, que dizia que pra eu virar homem tinha que passar um tempo na cracolândia, carpir um lote toda manhã, ter pego uma DST de uma prostituta que eu achasse feia e ser violento e brutal com as pessoas(ele dizia que era ser resoluto), pra aprender como funciona o mundo real (ele dizia essas coisas mesmo). Sempre se orgulhou de ter mais doenças e cicatrizes que os outros da idade dele.

Meu pai morreu em um acidente de trânsito, pois queria provar que era mais experiente que o jovem que ele ultrapassou. Não lamentei sua perda, pelo contrário, aprendi a odiar todos aqueles que enaltecem a degradação humana. Meu pai morreu cheio de rancor e ódio, mas e eu continuo vivo, feliz e amando a vida e o meu trabalho, mesmo sem ter as cicatrizes de experiências autodestrutivas e irracionais tão enaltecidas em altares. Onde quer que ele esteja, não sei dizer se está feliz ou odioso, seja por ele estar cheio de "experiência" ou por eu, 40 anos mais jovem, ser muito mais bem sucedido do que ele jamais foi na vida toda dele.

Aprendi que apenas pessoas imaturas e infelizes colocam "experiências" físicas e sensoriais acima do intelecto e da razão. Fico curioso a respeito do perfil intelectual de uma pessoa que acha construtivo utilizar-se de seus meios não só para ofender, mas fazer isso usando os termos "Prego. Bobo."

"Ah, mas não acho nada construtivo". Aprenda praxeologia.