quinta-feira, 20 de julho de 2017

Carros 3

NOTAS DA SESSÃO:

- As cenas de corrida no início não empolgam. O filme não consegue mostrar as qualidades que tornam McQueen o melhor corredor. Ele apenas faz "cara de força" e ultrapassa os outros carros facilmente. Em termos de ação as cenas também são chatas (até por esse ser um esporte meio monótono e previsível, tirando os acidentes).

- O filme insiste nessa ideia tradicionalista de que as técnicas do passado eram melhores, mas não explica por que, nem qual o problema com as técnicas atuais.

- Toda a história de superação do McQueen não funciona direito. Ele não tem uma motivação pessoal interessante, um desejo de realizar algo admirável que a plateia ainda não tenha visto (o personagem é desinteressante, comum, assim como os coadjuvantes). Quer apenas vencer por vencer, pra derrotar o adversário que é metido e agora passou na frente dele. É uma meta subjetiva, baseada numa rivalidade tola, sem carga emocional. E já vimos ele vencendo diversas vezes no começo do filme. Vê-lo fazendo cara de força mais uma vez no final e vencendo mais um adversário não é uma boa motivação pra plateia.

- O filme quer passar a ideia de que, pra vencer, você precisa praticar, treinar, se exercitar, buscar técnicas diferentes das do adversário. Mas não mostra nada que pareça minimamente plausível ou inteligente a partir disso. O espectador não absorve nenhum conceito ou informação que pareça ter qualquer utilidade na vida real. A única "sacada" é a velha ideia de que as técnicas tradicionais são as melhores. Que treinar com equipamentos high-tech não adianta: é preciso se sujar, correr na areia, na lama, na terra, ser "old school". Além disso não ser nenhuma novidade pro McQueen (ele já corria na terra na parte 2), é uma ideia sem sentido. Se ele quer ser o melhor em uma pista de asfalto, ainda mais num esporte tão tecnológico onde tudo é tão milimétrico e cada detalhe é tão decisivo, por que faz sentido ele correr em todo tipo de lugar exceto em pistas como as que acontecem a corrida? Não há muita inteligência na história.

- Meio falso a Cruz Ramirez ser a melhor treinadora do mundo sendo tão jovem e sem nunca ter competido 1 única vez na vida. Pelo menos é um drama mais forte que o do McQueen - dá pra torcer pra que ela explore mais o seu potencial, deixe de ser reprimida, etc.

- Filmes da Pixar mesmo quando são fracos costumam ser ter muitas ideias criativas na composição do universo dos personagens (por exemplo, como funciona o cérebro em Divertida Mente, etc). Esse aqui é bem baixo em criatividade, e o humor também é fraco.

- Frustrante a treinadora ganhar do McQueen nos exercícios. Quer dizer que mesmo com as melhores técnicas do mundo, McQueen não conseguirá se superar?

- SPOILER: Revoltante o McQueen se sacrificar no final e deixar a treinadora competir no lugar dele. Finalmente entendemos porque a história estava tão chata, pouco convincente: é que a intenção do filme nada tinha a ver com mensagens inspiradoras, com o desejo de estimular a autoestima das crianças, etc. No fundo é apenas mais uma animação infantil promovendo coletivismo, altruísmo, que estava apenas disfarçada de história motivacional. Por isso pouco importava o que McQueen fazia nos treinos, se eram coisas plausíveis ou não, pouco importava fazer o espectador torcer por ele. Toda essa pseudo-trama seria jogada fora no fim pra celebrar a Cruz Ramirez. No fim, o grande herói americano cede espaço para a mulher latina (Disney e suas agendas políticas "sutis")! É um insulto à inteligência da plateia dizer que uma novata que NUNCA competiu na vida entraria pela primeira vez numa corrida de verdade e venceria o adversário que nem o melhor do mundo conseguia superar.

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CONCLUSÃO: Uma das produções mais esquecíveis e desnecessárias da Disney / Pixar.

Cars 3 / EUA / 2017 / Brian Fee

FILMES PARECIDOS: O Bom Dinossauro (2015) / Detona Ralph (2012) / Turbo (2013)

NOTA: 4.0

32 comentários:

Anônimo disse...

Para a Disney, a mensagem de girl power/diversidade parece dispensar a lógica. Uma situação similar apareceu num dos episódios da Princesa Sofia, em que ela participa pela primeira vez de uma corrida de cavalos alados, e naturalmente vence, não só apesar de nunca ter participado de uma competição, mas também apesar de montar o pior cavalo e das trapaças de um adversário que resolve bancar o Dick Vigarista. Porque, segundo a Disney, garotas devem sempre ser melhores em tudo que queiram fazer.
Esse filme já parecia bem desinteressante nos trailers, onde Cruz Ramirez parecia uma coadjuvante irritante do tipo Vanellope, querendo ser engraçada sem conseguir.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Nunca vi essa Princesa Sofia... mas realmente, parece ser uma situação bem parecida, Pedro.. revela a mesma tendência, abs!

Dood disse...

Princesa Sofia é a pior produção do Disney Junior, até porque ter uma menina como principal há uma forçação de barra tremenda para que ela lacre.

Agora Carros 3 está igualzinho Detona Ralph praticamente: o personagem principal do nada abandona seu objetivo pra dar lugar a uma personagem de uma maneira tendenciosa. Chega a ser pior que Ralph nesse quesito, já que a motivação do personagem é sempre ser o melhor por mais que ele consiga sem esforço.

Mc Queen é um personagem mal construído para vender brinquedos somente funcionou bem no primeiro filme, carros antropomorfos atraem crianças (meninos). É sem sentido colocar um personagem feminina em destaque numa animação dessas. É a necessidade de "lacrar" desnecessariamente, numa tentantiva equivocada de falar com dois públicos.

Caio Amaral disse...

Hehe oi Dood, nada contra as meninas "lacrarem".. desde que o filme não esteja promovendo junto com isso ideias ruins como auto-sacrifício, coletivismo, conflito entre grupos, "oprimidos vs. opressores", etc, que é o que muitos desses filmes acabam fazendo. abs!

Dood disse...

É justamente esse ponto, fazer algo honesto sem fazer algo tendencioso ou pra suprir uma suposta carência.

Caio Amaral disse...

É... é a fase em que nos encontramos... No século 21 a narrativa dos filmes infantis (e da cultura pop em geral) mudou de “sua vida é especial, acredite nos seus sonhos” para “não se coloque em primeiro lugar, o importante é valorizar o coletivo e se sacrificar pelos mais fracos”... enfim... O importante é sempre tentar lembrar que a cultura popular não define sua vida, rs.

Anônimo disse...

Dizem que a Pixar vai deixar as continuações, depois do anunciado "Incríveis 2". Seria bom, talvez pudessem assim reviver a criatividade que deu prestígio ao estúdio, ao invés do comercialismo que gerou continuações fracas e projetos duvidosos, como "O Bom dinossauro", que parecia feito só pra vender brinquedos, o que se notava só de ver o visual fofo de Arlo, que conseguia ser menos realista que o T-Rex de 'Toy Story'.

Caio Amaral disse...

É... se for pra abandonar as sequências pra fazer coisas tipo O Bom Dinossauro... nem adianta muito mudar, rssss. abs.

Dood disse...

Pra fazer outro Bom Dinossauro por favor não, mil vezes não.

Não vejo problema é comercializar junto com o filme, mas contanto que seja feito com histórias com conteúdo sem esse arremedo atual.

Caio Amaral disse...

Tb nada contra os brinquedos... esse tipo de merchandising só funciona até certo ponto.. brinquedos atraentes em geral não conseguem tornar um sucesso um filme que é um péssimo entretenimento..

Dood disse...

No caso do Bom Dinossauro o filme era tão ruim que os brinquedos encalharam aqui e nem com o preço mais popular esgotaram na Loja Americana da minha cidade.

Cars e Planes ainda vendem por serem antropomorfos simpáticos. Pelo menos os primeiros filmes são menos ruins.

Anônimo disse...

Já no caso de UP - Altas Aventuras, dizem que na época do lançamento do filme não havia ainda nenhum produto licenciado, porque as empresas acharam que não dava para vender produtos inspirados na história de um velhinho deprimido. Chega a ser surpreendente que a Pixar não tivesse cedido à tentação de tornar a história mais alegre para faze-la mais vendável.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Eu quando criança nunca brincava dessas coisas... bonequinhos, carrinhos, etc... então nem sei dizer ao certo o que torna um brinquedo desses mais ou menos atraente... exceto casos óbvios tipo Minions, etc...

Anônimo disse...

No caso da Pixar, o sucesso em merchandising vem sendo inversamente proporcional ao sucesso com a crítica: os aclamados Ratatouille, Wall-E e Up foram mal em vender produtos, enquanto a franquia Carros é de longe o maior sucesso comercial:
http://www.denofgeek.com/movies/14308/will-pixar-regret-making-up

Anônimo disse...

E agora, com o Bom Dinossauro, conseguiram fracassar em tudo.

Dood disse...

Carros e Aviões tinham em comum veículos antropomorfos, isso meio que facilita a criação de produtos relacionados. A própria Mattel que detém a marca Hot Wheels (uma linha de miniaturas de carros em metal colecionável) gostou da ideia tanto que fez diversas coleções ainda no primeiro filme.

O que torna o produto atraente é um desing amigável e fofinho e que seja fácil de desenhar e animar em alguns casos. Por exemplo a Turma da Mônica teve o boom de licenciamento quando o Aluir Amancio fez o redesing dos personagens, compare os quadrinhos dos anos 70 com os dos anos 80/ atuais. A diferença eram personagens mais bonitinhos o que gera uma receptividade melhor para venda e mascote para produtos.

No caso de Ratatouille e Wall-E é difícil convencer como personagens vendáveis porque o primeiro é um ser que passa repugnância e desenhado de uma maneira mais realista não algo mais humano como Mickey e o segundo não era chamativo para crianças e também os filmes não chamaram atenção do público.

O que não entendo e personagens que não conversam bem com o público infantil e ter um desing menos receptível para esse público como Sherk e Simpsons tiveram um relativo sucesso a esse público.

Dood disse...

E agora, com o Bom Dinossauro, conseguiram fracassar em tudo.

Bom dinossauro o personagem era muito ruim, chegava a ser chato. Existem personagens chatos "agradáveis" como Bob Esponja. No caso do Arlo quando você assiste o filme você se pergunta por que estou vendo isso? O bicho não me passou simpatia nenhuma não teve desenvolvimento nenhum.

Caio Amaral disse...

Os Simpsons eu curtia quando criança, jogava o video game, gostava de desenhar os personagens.. acho que tanto Shrek quando os Simpsons misturam piadas pros adultos com coisas bem non-sense que qualquer criança entende (não que eu goste do Shrek, mas daí é por outros motivos, rs).

Anônimo disse...

Não sei se é influência dos Simpsons e de outras animações dos anos 90, como a Vaca e o Frango, mas hoje os estúdios parecem estar optando cada vez mais pelo feio, em termos visuais e de conteúdo, nas animações. Até o Mickey e o Pernalonga agora estão aparecendo mais feios, em curtas novos cheios de sarcasmo exagerado.
Pedro.

Dood disse...

Pedro personagens com traços mais simples dão menos trabalho pra animar, até mesmo os recursos de animação com o computador estão mais utilizados agora. Meio que morreu esse lance de fazer a mão, poucos ainda o fazem como estúdios japoneses.


Os Simpsons eu curtia quando criança, jogava o video game, gostava de desenhar os personagens.. acho que tanto Shrek quando os Simpsons misturam piadas pros adultos com coisas bem non-sense que qualquer criança entende (não que eu goste do Shrek, mas daí é por outros motivos, rs).

Acho que explica também sucesso de alguns desenhos como Flinstones e Pica Pau: eles ficam no meio termo. Só que esteticamente são estranhos, principalmente Sherk parece que eles ficam no meio termo entre alegre e sombrio. Até as cores usadas nos filmes dele tendem ao sombrio.

Caio Amaral disse...

Vcs tão falando de coisas como Flintstones, Simpsons, Pica Pau... eu não vejo nada de feio, sombrio ou esteticamente estranho nesses aí... Já os desenhos atuais pra TV eu nem saberia palpitar pq nunca assisto... Mas sempre que passo por esses canais tipo Cartoon Network sempre acho tudo meio feio e de gosto duvidoso...

Dood disse...

No caso de ser sombrio me referia a Sherk, agora caso Flinstones e Pica Pau são por outras coias. Ainda mais Pica Pau por mesclar elementos meio que adultos, mas segundo seu criador Walter Lantz como ele era produzido originalmente pro cinema ele tinha mais liberdade nas piadas. No caso as crianças gostavam por conta das situações cômicas e exageradas.

Já os Flinstones era uma Sitcom animada, ia no horário nobre e mesmo sendo uma série mais familiar ela tinha elementos mais puxado pelo lado adulto. Seria o equivalente a Jeanie é um Gênio e a Feiticeira. Mas por alguns elementos me atraia como os dinossauros e o desing da cidade, mas não me prendia pra assistir muitos episódios por completo, achava Jetsons mais palatável no geral. Só fui gostar de Flinstones pra valer depois de velho.

Caio Amaral disse...

Eu tb assistia mais Os Jetsons do que os Flintstones.. curtia as ideias futuristas, etc.. os desenhos dessa época pegavam um público mais amplo acho.. conseguiam entreter as crianças e os adultos simultaneamente.. não tinham a filosofia de hoje que acaba distanciando as crianças dos adultos.. "temos que ter referências soltas a clássicos pra agradar apenas aos pais, daí precisamos de piadas primitivas de banheiro pras crianças pequenas", etc.

Dood disse...

Exatamente. Por isso que Walter Lantz, Tex Avery, Chuck Jones, William Hannah e Joseph Barbera são criadores com um legado eterno.

Anônimo disse...

Isso porque Lantz, Avery, Jones, Hannah e Barbera viveram e trabalharam em outra época. Hoje estariam submetidos às pressões do marketing e da correção política, como a Pixar.

Caio Amaral disse...

Ah sim.. hoje em dia dificilmente talentos como esses se tornariam mainstream.. estou inclusive preparando uma postagem sobre esse tema.. abs.

Dood disse...

Ansioso, aliás estou assim desde que você anunciou uma postagem sobre Veganismo Cultural.

Dood disse...

Isso porque Lantz, Avery, Jones, Hannah e Barbera viveram e trabalharam em outra época. Hoje estariam submetidos às pressões do marketing e da correção política, como a Pixar.

- No caso eu excluiria o Marketing, acho legal ter coisas com estampas dos personagens que gosto. Porém eles tem que me convencer que são legais. Marketing deveria ser pensado posteriormente a repercussão do produto audiovisual.

Caio Amaral disse...

Hmm, bem lembrado Dood, tem esse do Veganismo na lista hehe.

Anônimo disse...

Falando de William Hanna e Joseph Barbera, bem que eles mereciam receber mais crédito pela criação do conceito da franquia Carros:
https://www.youtube.com/watch?v=stiKX7TDQBw
Pedro

Caio Amaral disse...

É uma ideia bem ampla né.. difícil imaginar que alguém possa ter inventado esse conceito.. carros que falam, frutas que falam, brinquedos que falam.. tudo parece vir atrás do conceito de animais que falam.. que acho que sempre será o mais popular..

Dood disse...

Carangos e Motocas, gostava muito quando criança assistia na Manchete e depois vi na Record no final dos anos 90. É como Caio disse: eles não inventaram até porque esse antropomorfismo é usado muito em linha de brinquedos infantis. Agora em desenho eram comumente usado para personagens secundários.