sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Grave

NOTAS DA SESSÃO:

- Por que diabos o título Raw virou "Grave" no Brasil?

- O começo com o acidente de carro é intrigante. Não entendemos nada mas pelo menos é algo que puxa a gente pra dentro da história.

- A direção tem muita personalidade; é eficaz e não tem medo de fugir do convencional, provocar o espectador, etc.

- O ambiente da universidade é tão odioso que ficamos com raiva da protagonista por ela não se revoltar, não tomar uma atitude... Às vezes ela até se diverte com o comportamento abusivo dos alunos mais velhos (ri quando dão um banho de sangue nela no trote, etc). É muito passiva, sem personalidade.

- Chocantes as cenas com animais na faculdade de veterinária (eles enfiando o tubo na garganta da égua, etc).

- Os valores da menina são meio suspeitos: ela fica perturbada por ser forçada a comer carne, como se isso fosse o pior abuso do mundo, mas destruírem o quarto dela tudo bem, humilharem ela em público tudo bem.

- Aflitivas as feridas que começam a surgir no corpo dela, ela se coçando, arrancando a pele das bolhas, etc. Mas qual a crítica que esse filme está fazendo? Que carne faz mal pro ser humano? Ou que não devemos ser vegetarianos, se não um dia podemos radicalizar pro outro lado? Até agora ele não está dizendo nada de útil. Apenas tocando em temas controversos de forma vaga, pra posar de intelectual, sem ter nada de fato a dizer.

- Nojento ela puxando cabelo da garganta, os efeitos sonoros pra tornar a cena ainda mais horrível. Ou a cena da menina enfiando o braço no ânus da vaca, ou depois eles cortando os cachorros mortos. A diretora parece achar uma virtude perturbar a plateia (algo que falei recentemente na postagem A intenção de um filme). E nem sempre é um tipo de choque brincalhão, exagerado, feito pra divertir como num filme de terror ou numa comédia - muitas vezes são imagens cruas, mostradas de maneira fria, casual, pra incomodar a plateia, "esfregar realidade" na cara do espectador, etc.

- SPOILER: O filme é basicamente uma série de imagens grotescas: o cachorro lambendo a vagina da menina, depois um close na virilha sendo depilada, depois o dedo da irmã sendo decepado e a protagonista comendo, etc, etc. É uma tolice toda essa "crítica" ao ato de comer carne, parece que a cineasta tem 15 anos de idade - está ansiosa pra discutir temas adultos, parecer sofisticada, mas sem saber como.

- SPOILER: Mal explicada a história dos acidentes de carro na estrada. Quer dizer que a irmã faz isso direto pra poder comer as vítimas? E a tática sempre funciona? Ninguém descobre? Meio forçado.

- Apesar da atitude tola, pelo menos não dá pra dizer que o filme é chato. Tem sempre algo de surpreendente e original acontecendo, há alguns toques de humor, o ritmo é muito bom, a história prende a atenção desde a primeira imagem (o pilar da Excitação certamente é respeitado).

- Mais pro meio começa toda essa obsessão da protagonista por sexo... Já não sabemos mais se o filme quer dizer algo sobre o ato de comer carne, sobre sexo, se sexo também é errado por ser "carnal". É só pra deixar a discussão ainda mais ambígua (crítico adora essas coisas vagas que podem ser interpretadas de qualquer forma). Pelo menos há certa consistência nas coisas que o filme mostra - sangue, animais, sexo, dor física, tudo acaba estando ligado ao tema da carne.

- Um dos problemas é que toda a situação é muito irreal e desconectada de ideias. O espectador não tira nada de útil da história. Não há nenhuma observação psicológica interessante, o filme não diz nada sobre o comportamento humano, sobre a relação entre irmãs, etc. É apenas uma situação fantasiosa criada pra chocar o público e talvez fazer refletir sobre o vegetarianismo.

- A cena da mesa com o pai é um final impactante, embora continue meio vago o propósito do filme.

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CONCLUSÃO: A cineasta é habilidosa, sabe criar um show, há bastante "shock value", mas a discussão é meio boba - o filme está mais preocupado em chocar do que em ser claro sobre o que está falando.

Raw / França, Bélgica, Itália / 2016 / Julia Ducournau

FILMES PARECIDOS: Corra! (2017) / Boa Noite, Mamãe (2014) / Anticristo (2009)

NOTA: 4.0

2 comentários:

Unknown disse...

Olá, Caio!
Muito sensata a análise! Digo que havemos de ficar de olho na Júlia Ducournau; uma cineasta peculiar. Concordo que a discussão é fútil e até confunde sobre o que ela quer dizer com "carne" no filme. Sendo assim, verei as suas próximas produções.
P.S.: Grave é o título original da obra, amigo.

Caio Amaral disse...

oi Sergio. E "Grave" em francês tem o mesmo sentido que Grave em português? Pq pelo conteúdo do filme, o título americano Raw faz mais sentido.. mas enfim.. os franceses gostam de coisas ambíguas né, rs. Quero ver os próximos dela tb.. esse foi só o primeiro longa.. ainda não dá pra concluir muita coisa. abs!