quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Maze Runner: A Cura Mortal

NOTAS DA SESSÃO:

- A produção dos Maze Runners sempre me parece mais rica e bem cuidada visualmente do que a de outras sagas adolescentes como Divergente, etc. Não é nenhum Mad Max: A Estrada da Fúria, mas é respeitável.

- A sequência inicial do trem não tem nada de muito especial em termos de ideias, direção, mas é uma tentativa de se criar um Set Piece empolgante logo na cena de abertura, o que é sempre um bom sinal.

- A motivação do herói aqui é mais fraca que no último filme. Todo o objetivo dos personagens é salvar o oriental (Minho) que foi capturado pela WCKD. É algo totalmente altruísta, pouco ambicioso, sem nenhum benefício atraente pro Thomas e pros outros personagens. Eu como espectador não estou nem aí pra esse Minho - ele já era um personagem esquecível no filme anterior, e o roteiro não tenta torná-lo importante pro espectador nesse novo capítulo, pra termos um interesse real em seu resgate. Devemos apenas aceitar que ajudar o próximo vale qualquer sacrifício (especialmente se o próximo for "multicultural").

- Pra quem não sacou, a Last City representa a América egoísta e má, cercada pelo muro do Trump, disposta a metralhar os pobres estrangeiros do lado de fora pra não ter que dividir suas riquezas com eles. E Thomas é um herói, não porque ele tem virtudes interessantes, mas porque apesar de branco, ele se sacrifica em prol dos não-brancos e luta contra o sistema. É o mesmo discurso tedioso anti-América, anti-individualismo que temos que ouvir em todos os filmes, músicas, séries e eventos televisivos hoje em dia. Isso só não arruina o filme pois nesse caso fica claro que o objetivo do filme não é político, intelectual, no fundo ele quer apenas mostrar uma aventura, entreter, etc. Essas mensagens só estão presentes pois são os valores mainstream de hoje - é o que você tem que repetir se você quiser ser pop, atual, politicamente correto, etc.

- Como "heist movie" o filme é bem fraco. A maneira como eles invadem a WCKD é bem trivial (raptam a Teresa que abre as portas facilmente com suas impressões digitais) e pior ainda é a maneira forçada como eles resgatam o Minho e escapam do prédio (Minho pra facilitar já estava fugindo quando os amigos chegam pra resgatá-lo, e daí em poucos minutos eles se livram de todos os guardas saltando pela janela do alto do prédio e mergulhando no espelho d'água mais fundo de todos os tempos).

- O filme é cheio de saídas fáceis, mal pensadas, que não geram nenhuma admiração pelos personagens e ainda fazem o roteiro parecer tolo. Logo após a fuga forçada do prédio, há a cena absurda em que o ônibus com os refugiados é cercado pelas autoridades da WCKD, mas daí milagrosamente cai um cabo de aço do céu, e um guindaste (perfeitamente posicionado onde o ônibus parou aleatoriamente) ergue o ônibus pra fora dos muros da cidade (déjà-vu do vagão do trem sendo "pescado" pela nave na sequência inicial). Filmes que ignoram o conceito de autoestima estão sempre dependendo dessas soluções mágicas pra salvar os heróis (e de dons divinos que tornam o protagonista especial por causa de sua genética, não de seu caráter e suas ações).

- Como a história é fraca, no final eles usam o mesmo recurso da parte 1 e 2 pra dar um senso de conclusão: algo trágico acontece a algum amigo de Thomas, daí ele grita e chora intensamente (e a gente na plateia lembra que Gally, um personagem que morreu tragicamente no fim da parte 1, ressuscitou e está de volta à série - por que então devemos acreditar que os que morreram nesse filme de fato morreram?).

- SPOILER: Como o herói ainda não sofreu e se sacrificou o bastante, no fim ele se entrega voluntariamente pros inimigos pra salvar a humanidade. E de bônus ainda leva um tiro na barriga pra proteger a Teresa (uma personagem má).

- SPOILER: O filme vai cada vez chutando mais o balde. A maneira como Thomas mata o vilão é muito falsa (aquele vidro prendendo os zumbis iria se quebrar tão facilmente?). E depois a maneira forçada como a Teresa acaba morrendo só porque a nave não conseguiu dar uma ré de 2 metros pra ela subir (mais um sacrifício, mais um amigo morrendo pro herói gritar e chorar).

- É meio esquisito os vilões do filme serem pessoas que estão atrás de uma cura pra uma doença mortal que pode acabar com a vida de todos, e os mocinhos serem aqueles que se recusam a colaborar com a cura e não demonstram qualquer interesse nela (a única empresa no mundo querendo salvar a humanidade é essa que é maligna?!). Outro detalhe: os vilões não queriam deixar os estrangeiros entrarem na Last City pois os consideravam perigosos... Mas quando os estrangeiros finalmente entram na cidade, o que eles fazem? Tacam fogo em tudo, derrubam todos os prédios, destroem a cidade, sugerindo que os vilões não estavam tão errados assim.

- SPOILER: No fim a Last City (a civilização moderna, a "América") é totalmente incendiada e destruída pelas pessoas do "bem", os únicos cientistas que tinham conhecimento sobre a cura são mortos, e os mocinhos vão felizes e satisfeitos pra um lugar "paradisíaco" onde tudo é rústico, o trabalho é manual, as pessoas vivem de agricultura, artesanato, moram em tendas, etc.

- A carta do Newt no fim é uma tentativa barata de comover a plateia. Não funciona pois o personagem era raso, esquecível, e não demonstrou essa ligação emocional toda com o Thomas ao longo do filme.

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CONCLUSÃO: Apesar das mensagens políticas péssimas, não acho o filme mal intencionado, pois elas são apenas um pano de fundo. O problema aqui no fim é a história fraca, o protagonista fraco, e a falta de inteligência que tira a credibilidade da ação.

Maze Runner: The Death Cure / EUA / 2018 / Wes Ball

FILMES PARECIDOS: As séries Divergente, Jogos Vorazes, etc.

NOTA: 4.5

2 comentários:

Anônimo disse...

Engraçado como agora todo filme americano parece vir com uma mensagem anti-Trump. Isso pode acabar tendo o efeito oposto ao pretendido. Até porque boa parte das pessoas vai se cansar de tanta doutrinação. Talvez por isso "The Last Jedi" acabou tendo uma das bilheterias mais fracas da franquia 'Star Wars'.
Pedro.

Caio Amaral disse...

Não sei até que ponto o público percebe essas mensagens, quando elas não são tão explícitas.. mas de fato a indústria do entretenimento anda alienando parte da população, por conta dessa insistência em política, etc..