quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Uma Mulher Fantástica

NOTAS DA SESSÃO:

- Problemas típicos de filmes Naturalistas: o retrato dos personagens é externo, superficial. No começo ficamos apenas tentando entender quem são os personagens, há quanto tempo eles estão juntos, qual a natureza do relacionamento, se Marina é trans ou não (o filme tenta prender atenção por omitir informações, não por mostrar algo de fato interessante). É como se a plateia fosse subitamente autorizada a espiar a vida dessas pessoas, mas sem ter nenhuma informação sobre o passado delas, sobre o universo interno dos protagonistas, etc. O filme não tenta fazer a gente se identificar com ninguém, se envolver com o drama, criar interesse, emoção... O objetivo é ser "socialmente relevante", conscientizar a plateia a respeito dos preconceitos que transsexuais vivem no dia a dia, etc.

- Alguns dos desconfortos que a Marina passa são especificamente por ela ser trans (não querer mostrar a identidade com o seu nome masculino, etc), mas esses são a minoria. A maioria dos problemas ocorrem simplesmente pela natureza da situação... Orlando largou a família pra ficar com uma pessoa bem mais jovem e de uma classe social totalmente diferente... Ele morreu de maneira suspeita (os hematomas da queda da escada). Não é preconceito contra trans o fato da família do Orlando não querer contato com a Marina... Ou a investigadora suspeitar que Orlando possa ter sido agredido. Isso aconteceria mesmo que Marina não fosse trans.

- História parada. Muitas cenas de Marina olhando pro nada, contemplativa, caminhando vagarosamente.

- Quando o filme sai do Naturalismo puro pra tentar fazer umas coisas mais "poéticas" (as visões de Orlando, a coreografia na balada, etc) tudo soa meio forçado, destoando da linguagem do resto do filme. Ela treinando boxe, a cena dela caminhando contra a ventania (nos lembrando da "luta" que os trans enfrentam) parecem simbolismos tolos e desnecessários.

- No começo Marina parece equilibrada, sensata, mas depois começa a irritar com essa insistência em ir no velório, criar barraco com a família do Orlando, etc (ela diz que foi atrás do cachorro, mas o cachorro não estaria no velório!). Se o Orlando enquanto era vivo não queria que Marina conhecesse sua família, é meio desnecessário ela fazer isso agora, só pra exercer seu "direito" de se despedir dos mortos.

- O roteiro é cheio de elementos sobressalentes, pontas soltas que não levam a lugar nenhum: todo o mistério criado em cima da chave da sauna, que no fim não serve pra nada, ou o filme começar com imagens das cataratas do Iguaçu, criar certo suspense em cima das passagens desaparecidas, e depois nem mencionar isso mais.

- Ridículo ela pular revoltada em cima do carro da família por causa do cachorro (o filme nem mostrou o apego que ela tinha pelo cachorro pra gente se importar por isso agora).

- A despedida do corpo no crematório é vazia de emoção... Nós não sabemos nada sobre esse relacionamento, que valor um representava pro outro, que mensagem tirar dessa perda, etc. É o que digo sobre filmes Naturalistas exigirem altruísmo do espectador: devemos nos importar simplesmente porque isso é algo importante pra Marina, mesmo não seja interessante pra nós na plateia.

- De onde surgiu essa performance no final? Que horas Marina preparou isso? Os personagens são tão mal desenvolvidos que nem sabíamos até agora que ela era uma cantora desse nível. Dá a impressão que o diretor só quis aproveitar o fato da atriz ser cantora lírica na vida real, e enfiou algumas cenas de canto pra mostrar as habilidades da atriz, mesmo que isso não se encaixasse bem na história.

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CONCLUSÃO: Fraco. Se ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, será mais pela questão da representatividade.

Una Mujer Fantástica / Chile, Alemanha, Espanha, EUA / 2017 / Sebastián Lelio

FILMES PARECIDOS: Corpo Elétrico (2017) / Boi Neon (2015)

NOTA: 4.0

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