sexta-feira, 27 de abril de 2018

Vingadores: Guerra Infinita

Vi 2 horas do filme mas acabei me cansando e indo embora meia hora antes do final. Simplesmente me senti perdendo tempo na sala, mais uma vez investindo numa franquia que desde o primeiro capítulo nunca me proporcionou um pingo de prazer ou de satisfação artística, que me parece insípida em todos os aspectos importantes de um bom entretenimento, e que continua a entregar apenas mais do mesmo de forma mecânica, enlatada. Quando vejo esses filmes da Marvel muitas vezes me sinto como um assexual entrando num cinema pornô, ou um ateu atendendo um culto evangélico... A sensação de olhar pra tela e simplesmente não entender qual a graça, como se me faltasse uma glândula extra que todos os outros espectadores tivessem.

Pra mim o problema é que todas as coisas que o filme oferece de "valor" na verdade são fundadas em questões passageiras, superficiais: efeitos especiais grandiosos que parecem sofisticados hoje mas que daqui a 10 anos já serão ultrapassados; a presença de dezenas de astros que estão em alta no momento e fazem o filme parecer imponente, cool, mas que não representarão muito para as gerações futuras assistindo ao filme; o apego que os fãs têm aos personagens por mérito dos quadrinhos ou de filmes anteriores, e não deste filme em particular; e também por uma espécie de auto-afirmação social, da identificação do espectador com uma "tribo" ou uma sub-cultura específica defendida pelo filme (nesse caso a dos nerds), da mesma forma que nos anos 60/70 faziam filmes hippies pra agradar o público hippie, filmes Disco pra quem ouvia música Disco - filmes que hoje em dia em geral parecem péssimos.

Uma das principais marcas de um bom filme é que ele resiste ao teste do tempo, pois o que ele tem de valor está na essência, naquilo que é universal e atemporal na arte (e no cinema, tudo começa com um bom roteiro e uma boa história) não nos elementos secundários. Então filmes assim acabam sendo o equivalente cinematográfico a essas músicas sobre rebolar a bunda que fazem sucesso por alguns meses e podem até proporcionar instantes divertidos na balada, demonstrar algum tipo de "sabedoria pop" e valor de produção, mas cuja pobreza musical a faz cair em esquecimento na temporada seguinte.

Pra quem quiser melhorar essa capacidade de enxergar o que é essencial em um filme e o que é secundário, o melhor exercício é começar a assistir muitos clássicos e filmes antigos em geral. E parar pra pensar por que é que um bom clássico continua impactante hoje em dia... Observar o que ele tem de especial, que erros ele não comete, por que determinadas cenas continuam tocando as pessoas da mesma forma... E por que outros filmes que foram grandes hits em suas épocas (às vezes mais bem sucedidos do que esses que se tornaram clássicos) hoje em dia soam tão datados, pobres, ineficazes, como por exemplo alguns filmes de desastre dos anos 70, que eram repletos de astros e efeitos especiais caros - coisas que podiam divertir o público num nível superficial e lotar salas de cinema - mas que vendo hoje fica claro que sem essas "muletas" o filme não se sustenta tão bem.

Avengers: Infinity War / EUA / 2018 / Anthony Russo, Joe Russo

FILMES PARECIDOS: Capitão América: Guerra Civil (2016) / Vingadores: Era de Ultron (2015)

quinta-feira, 26 de abril de 2018

A Ghost Story

A postagem Experimentalismo e Filmes de Arte explica bem por que eu não gosto desse gênero de filme, então meio que vou pular essa parte da discussão e apenas comentar algumas observações que me vieram à mente:

O filme se sustenta basicamente em cima de 1 sacada estilística central, que é a de colocar um fantasma tipo Scooby-Doo dentro de um contexto de filme dramático, causando um contraste estranho entre o visual sério da produção e a figura cartunesca no cenário, que se torna ao mesmo tempo ridícula e assustadora.

O problema é que passada a curiosidade inicial gerada por essa imagem, o filme não se propõe a oferecer algo mais interessante em termos de história, desenvolvimento de personagem (há uma tentativa de um plot-twist no final que pra mim não fez o menor sentido, pois o filme não tinha uma trama em primeiro lugar que pudesse ser "revirada").

Outro elemento diferente aqui é a tela com formato quadrado e bordas arredondadas (algo que eu nunca tinha visto), que me parece aquela busca forçada por inconvencionalidade que o Robert McKee diz no texto sobre Filme de Arte, algo que desconecta o espectador da história e o faz focar mais no estilo e na figura do autor (no meu texto Mentalidade Clichê há uma discussão sobre o convencional versus o não-convencional que é bem relevante aqui).

Há 1 momento curioso no filme que acho interessante mencionar, onde um homem numa festa faz um longo discurso sobre niilismo para os outros convidados (é o momento mais verbal do filme, que em geral é bem silencioso), que na minha visão pode ser visto como o cineasta tentando se justificar pro público, explicando por que ele fez um filme tão nonsense quanto esse. É como se ele dissesse: "Vejam espectadores, a vida não faz sentido, então por que o meu filme tem que fazer?" - o que é engraçado, pois o leva a à contradição inevitável que discuto na postagem Pessimismo.

O filme tem um apelo visual forte, é ousado, mas está longe do valor artístico/intelectual que parece querer atingir.

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FILMES PARECIDOS: Mãe! (2017) / O Lagosta (2015) / Sob a Pele (2013) / Tio Boonmee (2010)

A Ghost Story / EUA / 2017 / David Lowery

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Aos Teus Olhos

Gosto muito do Daniel de Oliveira como ator e o filme começa com uma situação envolvente, mostrando um professor de natação carismático que é acusado de abusar de um de seus alunos - mas sem revelar pra plateia se ele é inocente ou culpado, apenas acompanhando o impacto do escândalo em sua vida pessoal. É uma situação que já vimos antes em diversos filmes como Dúvida, A Caça, e que sempre garante certo suspense. O grande problema aqui é o "combo" de Naturalismo, Subjetivismo e Pessimismo que se unem impedindo a história de se tornar uma narrativa realmente satisfatória.

SPOILER: Ao longo do filme nós não sabemos se o protagonista é inocente ou culpado, não sabemos se o aluno disse de fato pra mãe que ele foi abusado ou se é tudo uma invenção dela, e pra piorar nossa frustração, o filme termina numa cena aleatória, de forma aberta, inconclusiva, sem nos mostrar nem o que acontece com o protagonista no fim.

Saímos apenas com uma noção vaga de que a felicidade é algo frágil, que um pequeno gesto pode desencadear uma série de acontecimentos e destruir sua vida a qualquer momento, que não existe verdade absoluta, apenas "narrativas" diferentes, e que a tecnologia e as redes sociais vão tornar o mundo ainda mais caótico e imprevisível no futuro.

Não é desinteressante de assistir, mas fica a impressão de um roteiro incompleto, tirado do "forno" antes do tempo, que merecia pelo menos um final mais sólido.

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Aos Teus Olhos / Brasil / 2018 / Carolina Jabor

FILMES PARECIDOS: Sangue Azul (2014) / A Caça (2012) / Dúvida (2008)

NOTA: 5.0

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Update 20/4

Continuo com minha rotina meio atrapalhada; o único filme que vi no cinema esses dias foi Rampage: Destruição Total. Achei divertido, mas enfraquecido pelo total rompimento com a realidade... É o tipo de coisa que temos visto cada vez mais nesses filmes com Dwayne Johnson, Vin Diesel (que pra mim são reflexo da direita atual) - a tentativa de atingir grandiosidade mas sem verdade, sem bom senso, sem inteligência... Romper descaradamente com o mundo real (quase como uma provocação consciente - uma imaturidade / irresponsabilidade assumida) e daí se sentir livre pra celebrar coisas como autoconfiança, heroísmo, aventura, etc. A intenção me parece boa, mas como digo na postagem Os 4 Pilares do Idealismo, sem respeito pela realidade você não consegue de fato criar um bom entretenimento (a não ser que faça algo tipo Sharknado e assuma o lado cômico).

Na Netflix, vi um episódio de La Casa de Papel e também de Lost in Space, mas não me interessaram o bastante pra continuar. 😉✌✌✌

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Jogador Nº 1

NOTAS DA SESSÃO:

- Muito interessante a ideia do OASIS e a metáfora que o Spielberg parece querer criar em relação ao escapismo de seus filmes, embora nesse contexto do OASIS, a ideia de "escapismo" seja um tanto deprimente, pois mostra o ser humano abandonando totalmente a realidade pra buscar felicidade num mundo artificial (não diria que isso é igual à arte ou aos filmes do Spielberg, pois pra mim a arte serve como inspiração pra que a gente seja melhor na vida real, e não apenas como uma fuga, um momento de escape de uma realidade trágica, que continuará trágica após esse breve "descanso").

- Pelo menos fica estabelecido que, se a pessoa morrer ou perder moedas no OASIS, isso representa de fato uma perda de valor no mundo real, não é apenas um jogo inconsequente (embora a gente não saiba exatamente o que o protagonista tem a perder, o que de ruim aconteceria em sua vida pessoal caso ele perca no jogo, etc).

- O objetivo de encontrar o Easter Egg também é bem estabelecido, mas não há um grande envolvimento do espectador, pois a motivação do personagem é mal fundada, superficial. Ele não parece ter um grande sonho de ser dono do OASIS, não parece estar precisando desesperadamente do dinheiro ou algo do tipo, então a corrida não tem carga dramática, um significado emocional pra ele. É apenas um joguinho com um prêmio atraente no fim, mas se ele não ganhar, tudo bem também. A garota Art3mis até tem uma motivação mais sólida, ideológica (meio esquerdista), mas que não parece ser vital pro Wade de fato.

- Divertidas as milhares de referências à cultura pop. Embora o filme dê tiro pra todo lado, tentando agradar públicos opostos (acho legal quando são referências a coisas compatíveis com o mundo do Spielberg - De Volta para o Futuro, etc - mas quando ele começa a homenagear coisas mais underground, indie, me parece inautêntico - assim como o vilão do filme na cena em que ele tenta ganhar a simpatia do Wade mencionando John Hughes, Duran Duran, quando na realidade é um homem de negócios que não entende de nada disso).

- Seria muito mais inspiradora a história se o Halliday tivesse escondido as chaves de forma que apenas uma pessoa com grandes qualidades de caráter pudesse encontrar. Alguém com as mesmas virtudes dele, e que cada chave provasse que o jogador tem alguma qualidade específica, tornando-o digno de comandar o OASIS. Mas na prática pra encontrar as chaves aqui você só precisa desvendar enigmas comuns - qualquer pessoa inteligente que pesquise bem a vida de Halliday poderia encontrá-las.

- As maneiras como o herói descobre as chaves também não são muito legais. Por exemplo, quando ele descobre que tem que dar ré na corrida de carro - é uma associação tão distante que o espectador não tem como entender como foi feita. A gente não participa da brincadeira, não entende a lógica por trás das descobertas, apenas assiste passivamente o herói tendo sacadas mirabolantes que não sabemos de onde vieram. Nos melhores filmes, o espectador consegue entender como o herói teve o insight, sente que ele também teria tido a sacada se estivesse na mesma situação. A diversão do espectador não está em descobrir que o herói é mais esperto que ele, e sim no prazer de ver uma revelação incrível com seus próprios olhos - o que costumava ser a abordagem do Spielberg no passado: vejam por exemplo essa cena de Contatos Imediatos do Terceiro Grau, onde o Richard Dreyfuss finalmente descobre o que significa a montanha que aparece em suas visões, após dias tentando decifrar o enigma dos aliens:




- Meio confusa essa história das 3 chaves - o fato de todo mundo poder pegar a chave também depois que o 1º revela o segredo. Isso não vai "filtrando" as pessoas, de forma que só os melhores jogadores se aproximem da 3ª chave.

- O romance não funciona. A menina é antipática, não há sintonia entre eles, ele diz que está apaixonado por ela, mas não vimos 1 momento de real intimidade, não vimos ele demonstrar em nenhum momento que estava envolvido emocionalmente - e eles nem se conhecem na vida real (a ideia tola de que você deve se apaixonar por uma pessoa apenas por sua consciência, e ignorar totalmente a dimensão física).

- Meio desnecessário todo o trecho na balada, a disputa de dança ao som de Bee Gees, etc. Só serve pra fazer mais referências à cultura pop, mas soa forçado, até porque a segunda chave não está aí.

- O vilão também é fraco. É um empresário ganancioso que quer virar o dono do OASIS, mas não tem uma motivação realmente destrutiva, maligna, nem tem nada contra o herói pessoalmente (os dois mal se conhecem, então não há muito drama).

- O filme entrar dentro de O Iluminado é uma ideia maravilhosa e tecnicamente é muito bem feito - mas ainda acho que o filme depende demais dessas referências pop pra agradar o público, porque se dependesse só da história e dos personagens, seria pouco interessante.

- Confuso quando o Wade começa a conhecer os amigos na vida real. Os amigos eram secundários demais no OASIS, e lá todo mundo vive mudando de disfarces, então nem sei mais quem é quem agora. São pessoas que não parecem ter nada em comum e não criam uma equipe atraente.

- Não é claro como descobrem que a 3ª chave está no Atari.

- O filme cria um enorme suspense em cima daquele orbe, como se fosse uma arma altamente perigosa, quando é apenas um escudo pra impedir os competidores de chegarem no Atari enquanto os vilões jogam.

- O final vai ficando cada vez pior e mais caótico. É péssimo todo esse trecho onde a Art3mis é presa, mas daí consegue escapar e facilmente subir até a sala do vilão, tudo pra desativar o orbe e liberar o Atari, que nem sabemos se é mesmo a 3ª chave. A sequência de batalha é poluída visualmente, não dá pra entender qual o objetivo físico, se esses milhares de pessoas estão aí pra tentar jogar o Atari...

- O herói faz aquele discurso pra multidão, como se tivesse numa batalha épica pra salvar o planeta... Não cola, pois foi o que disse no começo: Wade não tem uma motivação pessoal forte na história, e o vilão não tem de fato um plano de destruir o mundo, etc. Não são como os rebeldes em Star Wars. É uma história bem mais simples, sem essa carga política toda.

- Não fica claro por que o Wade atira na Art3mis. É um ato extremamente dramático, mas que não parece ter necessidade alguma, acontece de maneira rápida, casual. Só aumenta a impressão de que morrer no jogo não é tão sério assim no fim das contas.

- SPOILER: O herói não faz nada de admirável o filme todo. No fim sobrevive porque ganhou uma moeda mágica de presente que nem sabia que tinha. E acha o Easter Egg não por ter virtudes relevantes, mas porque é um pouco mais nerd que os outros jogadores e deve passar o dia todo lendo trivia de video game.

- Nada a ver a cena em que ele se recusa a assinar o contrato. Ele nem leu o que estava escrito. É como se contratos fossem intrinsecamente maus, coisas de "homens corporativos" que só podem ser maléficos.

- Herói Envergonhado: a ausência de foco nas virtudes de Wade; toda a ênfase no trabalho de equipe; a decisão de Wade de dividir o prêmio com os amigos, etc.

- Detalhes confusos, mal escritos: por que Wade desconfia que o Halliday não é um avatar, sugerindo que ele possa ser uma consciência real ou algo do tipo? De onde veio essa ideia? Ou depois o diálogo com o Ogden Morrow onde é "revelado" que ele é que era a chave de Halliday, e não a Kira. Como assim? A Kira foi sim a 2ª chave. Ogden foi citado no desafio do contrato, mas isso o Wade já sabia. O que há de revelador nessa cena agora? O filme só fica tentando confundir o espectador, dar a sensação de que houve várias revelações surpreendentes agora no clímax, pra ele sair com a vaga impressão de que viu uma grande história, embora não tenha entendido muito bem.

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CONCLUSÃO: As referências culturais divertem e é legal ver o Spielberg tentando se reconectar com o público jovem, mas o roteiro por baixo não se sustenta.

Ready Player One / EUA / 2018 / Steven Spielberg

FILMES PARECIDOS: Ender's Game: O Jogo do Exterminador (2013) / Minority Report - A Nova Lei (2002)

NOTA: 5.0

terça-feira, 10 de abril de 2018

Um Lugar Silencioso

É o tipo de filme com uma premissa tão ilógica que já me perde logo nos primeiros minutos e não recupera mais, pois todos os acontecimentos e todas as ações depois apenas constroem em cima dessa premissa inicial que já parece insultar minha inteligência. E não estou falando do elemento de fantasia, dos monstros, etc... Isso eu compro numa boa. O que eu não compro é o comportamento dos personagens - isso não deve ser irreal num filme, mesmo numa história sobrenatural, se você quiser que o espectador se importe por qualquer coisa. Num filme desse gênero, o que nós queremos ver é como um ser humano real poderia se comportar diante de eventos extraordinários. Os personagens podem ser pessoas comuns, pessoas heroicas, pessoas boas, más, mas ainda assim, devem agir de acordo com a natureza humana pra que nos importemos.

Agora se no filme o mundo está infestado por monstros que vão devorar qualquer pessoa que faça um barulhinho qualquer, é simplesmente idiota, nonsense, que essas pessoas estejam andando ao ar livre, deixando crianças saírem por aí sozinhas, que elas vivam em lugares abertos, cheios de portas, janelas destrancadas, em lugares silenciosos onde cada objeto derrubado de uma prateleira possa significar a morte. Nenhum ser humano agiria assim, nem mesmo um muito burro. A coisa mais óbvia que qualquer pessoa faria numa situação dessas seria primeiro encontrar um abrigo protegido, com muros, paredes e portas resistentes, ou de repente um apartamento no alto de um prédio, onde mesmo que se fizesse barulho, os monstros não poderiam entrar facilmente por conta de uma barreira física. A questão do barulho seria facilmente driblável também se eles espalhassem caixas de som por aí criando um ruído constante ou tocando música alta por onde eles tivessem que passar (se o pai é tão bom com tecnologia que pode desenvolver aparelhos para surdos em seu porão sozinho, certamente instalar umas caixas de som não seria complicado). Na pior das hipóteses, eles poderiam viver próximos ao mar ou a uma cachoeira, onde o barulho da natureza camuflaria os sons que eles produzissem.

Se só o ponto de partida fosse ilógico, mas o resto do filme não, ainda seria aceitável.. O problema é que tudo o que acontece no filme demonstra falta de noção de realidade por parte dos criadores (como a ideia do tanque de armazenamento de grãos, que age como se fosse areia movediça sugando as pessoas pro fundo - há diversos momentos bizarros como esse em que você se pergunta se o cineasta está te chamando de idiota, ou se ele realmente acha que aquilo é convincente).

Eu ainda tenho certa tolerância quando esse tipo de falta-de-noção está associada a ingenuidade, despretensão, ao desejo de criar um entretenimento leve, etc... O que torna tudo mais irritante aqui é que o cineasta acredita que está fazendo um suspense inovador, autoral, "high-concept", que de alguma forma ele foi brilhante ao pensar num thriller moderno quase sem diálogos... E o público parece estar impressionado também, como se fosse tão ousado pensar numa ideia dessas que o filme merecesse ser aclamado independentemente de seus defeitos.

Não há uma boa história, senso de evolução, bons personagens... É apenas 1 longa sequência de suspense onde ninguém pode fazer barulho se não morre. O cineasta deve ter pensado: "Nossa, aquelas cenas de filmes de monstros onde ninguém pode fazer barulho são tão eficazes, é tão genial quando o diretor não usa trilha sonora em momentos de extrema tensão, criando um contraste entre o silêncio e a expressão dramática no rosto dos atores - não seria legal pegar uma cena dessas e estendê-la por 1 hora e meia?".

Poderia ter sido uma boa ideia, mas ninguém parou pra pensar numa premissa que tornasse crível a situação. E a ideia do "suspense sem diálogos" é apenas um gimmick pra impressionar leigos (e facilitar o trabalho do roteirista). O diretor não usa a ausência de diálogos como forma de tornar o filme uma experiência cinematográfica mais pura, criativa, visual, como fazia Hitchcock. Não há uma noção especial de comunicação visual aqui. É apenas um filme com poucas falas, ou seja, com menos material e conteúdo que outros filmes - e talvez até por isso soe mais inteligente que a média para alguns espectadores ("Até o tolo, estando calado, é tido por sábio; e o que cerra os seus lábios, por entendido.").

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A Quiet Place / EUA / 2018 / John Krasinski

FILMES PARECIDOS: Ao Cair da Noite (2017) / O Homem nas Trevas (2016)

NOTA: 3.0

terça-feira, 3 de abril de 2018

Update 3/4

Além da ressaca pós-Oscar, essas semanas ando concentrado em um novo projeto musical, por isso não tenho postado tanto por aqui (meu lado espectador / crítico às vezes fica meio atrofiado quando estou produzindo algo, não sei por que - fica até difícil pensar em palavras e construir frases quando sento pra comentar um filme). Mas continuo indo ao cinema: vi Jogador Nº 1 que achei um dos mais legais do Spielberg das últimas 2 décadas... Revi Com Amor, Simon e curti ainda mais que da primeira vez... E vi também Uma Dobra no Tempo, que deve entrar facilmente na minha lista dos piores filmes. Tento postar os comentários assim que puder. ✌😉