sexta-feira, 29 de junho de 2018

Os Incríveis 2

Mais um daqueles blockbusters perfeitamente em harmonia com o momento atual de Hollywood, que reforça os valores vistos como politicamente corretos hoje em dia, que será sucesso tanto de público quanto de crítica - e que naturalmente eu acho um tédio. Nas entrelinhas o filme até tenta passar uma mensagem interessante, diferente, defendendo a livre iniciativa, criticando tanto os liberais quanto os conservadores atuais, mas em todos os níveis mais importantes ele apenas contribui pro objetivo dos progressistas (só de ter que pensar nesses assuntos enquanto vejo um desenho da Disney já acaba minha boa vontade). Pra ter uma noção melhor do que me desagrada no filme, basta dar uma olhada nessa análise feita pelo canal Entre Planos (sobre o primeiro filme, mas que vale pro 2 também), e perceber que tudo aquilo que é colocado como se fosse uma virtude da série, pra mim é um defeito (como já discuti em postagens como Herói Envergonhado, A intenção de um filme, etc):




Incredibles 2 / EUA / 2018 / Brad Bird

NOTA: 5.0

domingo, 24 de junho de 2018

Hereditário

Um roteiro bobinho e pretensioso que tenta juntar numa história só conceitos que dariam pra 5 filmes de terror diferentes (jogo do copo, sonambulismo, alucinações, bruxaria, fantasmas, maldições, possessões demoníacas, crianças do mal, casas assombradas, etc). Cai no que discuto na postagem Emoções Irracionais sobre filmes impressionantes tecnicamente e que sabem manipular as emoções do espectador (apelando pro subjetivismo, por exemplo), e com isso conseguem passar a impressão de serem mais sofisticados do que são de fato.

Hereditary / EUA / 2018 / Ari Aster

NOTA: 4.0

Oito Mulheres e um Segredo

Me pareceu apenas uma grande desculpa pra reunir um grupo de atrizes carismáticas e bem vestidas na tela - a história do roubo em si não é tão interessante ou envolvente, até porque não há muitas coisas em jogo na trama: as protagonistas decidem roubar as jóias apenas pela diversão, não por qualquer tipo de necessidade maior, o que deixa a narrativa um pouco leve demais, sem drama, conflito (além de glamourizar o crime sem justificativa alguma). Mas vale como uma diversão passageira.

Ocean's Eight / EUA / 2018 / Gary Ross

NOTA: 5.5

Jurassic World: Reino Ameaçado

Achei mais fraco que o anterior (essa premissa de resgatar os animais é meio política/burocrática, não explora tanto o que a série tem de melhor que é a magia do parque, o mistério dos dinossauros, etc) mas ainda é um entretenimento bem intencionado (pelo menos tenta honrar os filmes originais, em vez de subvertê-los ou "modernizá-los") e muito bem produzido como era de se esperar.

Jurassic World: Fallen Kingdom / EUA / 2018 / J. A. Bayona

NOTA: 7.5

terça-feira, 5 de junho de 2018

Tully


(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão - um método que adotei para passar minhas impressões de forma mais objetiva.)

ANOTAÇÕES:

- Na postagem A intenção de um filme eu listo como uma das "más intenções" quando o objetivo primário do filme é: "amenizar a dor ou a baixa autoestima do espectador triste ou com senso de inferioridade, retratando personagens infelizes ou problemáticos de maneira positiva - não em prol do entretenimento, mas pra provocar um senso de "conforto" e identificação no espectador, mostrando que outros sofrem como ele, que ele não está sozinho em sua miséria" - então eu de cara já não embarco muito na história de Tully porque esta é justamente a proposta do filme - dizer pra mães exaustas que a maternidade realmente é uma tortura, e que elas não devem se sentir culpadas por estarem infelizes, não conseguirem ser mães ideais, etc.

- O filme em geral é do tipo Naturalista, mas às vezes ele tem umas atitudes Anti-Idealistas ruins quando, pra "confortar" o espectador frustrado, ele se permite alfinetar pessoas felizes e bem sucedidas (como o irmão e a cunhada) sem justificativa alguma (retratando elas de maneira ridícula, caricata, como se felicidade fosse uma espécie de alienação).

- Não gosto do pessimismo e da vitimização. Se pelo menos o filme contrastasse os momentos difíceis com alguns momentos positivos entre ela e os filhos, pelo menos 1 sorriso dela direcionado ao bebê, mostrando a criança como algo de valor, o filme pareceria melhor intencionado... Mas não - é como não houvesse nada de compensador na situação. O filme retrata o bebê como se fosse um pedaço de carne sem alma que está ali só pra gritar e arruinar as noites da Charlize Theron. É um filme com uma visão vazia e materialista da vida. E a pergunta que não quer calar: se ter filhos é tão infernal assim, por que o casal está no filho número 3? Somos obrigados a perpetuar a espécie? A seguir o mesmo roteiro que todo mundo?

- Quando chega a Tully (babá) o filme dá uma melhorada no tom. Mas espero que a mensagem final não seja tão rasa assim ("A vida está muito puxada? Então aceite dinheiro do seu irmão rico e contrate um empregado!").

- Há algo de suspeito na Tully. O filme quer que a gente a veja como a babá perfeita, como uma nova amiga da Charlize, mas há algo de sinistro e falso na personagem que torna as cenas incômodas. Não sabemos nada sobre a vida dela, ela não demonstra emoções autênticas, está sempre com uma atitude estranhamente positiva, altruísta, que soa manipulativa... E não faz sentido uma menina tão qualificada assim estar nesse emprego... A gente fica esperando baixar a Rebecca De Mornay nela a qualquer momento.

- SPOILER: Péssimo (e totalmente artificial) a Tully transar com o marido da Charlize pra "ajudar" na vida sexual do casal. Essa cena na cama chega a ser incômoda de ver. Ou então mais pra frente quando ela espreme o peito da Charlize no banheiro pra ajudar o leite a sair. Se fosse um filme de terror onde a babá fosse pra ser sinistra, seria perfeito. Mas o filme continua querendo mostrar a Tully como se fosse uma babá moderna, admirável, um anjo que caiu na vida da Charlize.

- SPOILER: Uma tolice a revelação final de que a Tully só existia na imaginação da Charlize. Na postagem Simbolismo e Filmes Interpretativos eu discuto por que desaprovo filmes que vêm com uma "carta na manga" no último momento e com isso tentam consertar uma narrativa que foi inteira problemática. Se eu passei 1h30 de filme achando tudo mal escrito, sem realismo psicológico, a personagem estranha, sem carisma... Não adianta no fim dizer "supresa, era tudo simbólico!" e achar que o espectador sairá satisfeito. Isso é apenas a Diablo Cody (roteirista) tentando pagar de espertinha, colocando sua sacada "genial" acima de questões narrativas mais importantes. E a mensagem é uma chatice: "Vejam maridos, não existem Tullys na vida real, então tratem de ajudar suas esposas nas tarefas domésticas!". Reparem como o filme promove uma maneira destrutiva de se lidar com os problemas da vida: o desejo da Charlize no começo do filme é o de obter ajuda pra cuidar dos filhos, o que é totalmente compreensível (o desejo do protagonista é o que chamamos de a "espinha" da história). No fim, como é que a "heroína" conquista seu objetivo? Sendo responsável, assertiva, racional, criativa, buscando soluções de ganha-ganha, dando um exemplo inspirador pra plateia? Não: quase se matando num acidente de carro, até que seu marido finalmente fica convencido de que ela é incapaz, digna de pena, chegou no seu limite, e assim decide ajuda-la com base na culpa. E o irmão rico da Charlize também era imaginário? Ele não continua disposto a pagar por uma babá? Com 3 filhos pequenos (sendo 1 autista) isso ainda não seria uma ótima opção pro casal, mesmo que eles não achassem uma babá tão "mágica" quanto a Tully?

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Tully / EUA / 2018 / Jason Reitman

NOTA: 4.0