quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Sharp Objects


Apesar do clima pesado, foi uma das poucas séries recentes que conseguiu prender minha curiosidade até o final. Um pouco pelo mistério dos assassinatos, mas mais até pelo mistério envolvendo o passado da protagonista Camille (Amy Adams está brilhante) e de sua família disfuncional. Além também da qualidade da direção de Jean-Marc Vallée (o mesmo de Big Little Lies) que é cheia de sutilezas e tem uma atenção aos detalhes que não se vê tanto na TV.

A série não chega a ser totalmente malevolente em seu Senso de Vida, pois se esforça pra mostrar que Camille é uma boa pessoa e que ela pode superar seus traumas. Ainda assim, na maior parte do tempo que gastamos vendo a série, estamos olhando pra temas deprimentes e situações negativas. Muito do incômodo vem do retrato quase exclusivo de relacionamentos conflituosos entre os personagens. As únicas relações positivas que vemos aqui estão nas poucas cenas em que Amy Adams interage com seu chefe e sua esposa. Praticamente todas as outras relações entre todos os personagens de alguma forma expressam cinismo, desarmonia, raiva, inveja, agressividade, desconfiança... E os relacionamentos entre os personagens numa história pra mim são como os acordes de uma música - eles determinam o tom geral da experiência. Essa negatividade é algo que eu percebo não incomodar muito os fãs de séries de TV (afinal a grande maioria das séries têm esse foco em relacionamentos conflituosos, então isso deve dar algum tipo de prazer pras pessoas) porém pra mim, ficar num ambiente como esse por muito tempo me coloca num mindset realmente ruim, quase como o de ter que conviver com pessoas tóxicas na vida real, me afastando da maioria das coisas produzidas pra TV hoje em dia (uma convicção minha é que pra falar sobre pessoas negativas e temas negativos, um filme não precisa colocar o espectador também num estado mental indesejável).

Ainda assim, as qualidades da série me pareciam compensar esse problema central - a sensação constante de que algo impactante estava pra acontecer nos capítulos seguintes me fez seguir em frente, e os 2 últimos episódios fizeram valer a pena.

Sharp Objects (HBO Mini-Series) / EUA / 2018 / Criadora: Marti Noxon

NOTA: 7.5

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O Protetor 2

Vendo filmes como esse, como John Wick, ou mesmo fenômenos do mundo dos games como GTA, fica claro que existe uma enorme fatia da população que vê algo de prazeroso nesse tipo de violência, em assistir alguém descontando sua raiva fisicamente, se vingando de forma brutal... E que não se trata apenas de uma busca por justiça, algo motivado por um senso de moralidade, pois em muitos casos (como aqui em O Protetor 2) o espectador nem tem como saber se as atitudes do protagonista são justas ou não (na verdade, o simples fato dele não ter informações o suficiente antes de partir pra ação, e de nem esperar pra ver se a Justiça fará algo primeiro, já torna a atitude condenável). Por exemplo: numa cena no início do filme, Denzel Washington (trabalhando como motorista) dá carona pra uma mulher cheia de hematomas no corpo, que é colocada pacificamente no táxi por um homem. Sem que a gente saiba mais nada a respeito da situação (quem bateu nela, por que, se ela também agrediu alguém), e sem nem informar a polícia antes, Denzel volta até o apartamento dos supostos agressores e tortura / assassina todo mundo! E não, Denzel não é retratado como uma pessoa desequilibrada, imoral, e sim como um herói, um homem incorruptível, corajoso, uma espécie de mito, que está fazendo tudo aquilo que o espectador secretamente gostaria de fazer. Outra pista de que não se trata apenas de uma busca por justiça - do desejo de se livrar de um problema pra daí perseguir valores positivos (ele não busca nada positivo, sua vida é toda sobre destruir negativos - inclusive negativos que nada têm a ver com sua vida pessoal) - é a enorme ênfase na violência gráfica: o "herói" não se contenta apenas em eliminar os vilões, ele precisa torturá-los, achar maneiras particularmente grotescas de realizar o ato (e o filme faz questão de mostrar tudo em detalhes). Em determinada cena ele praticamente admite ter prazer no ato de infligir dor, e diz que se fosse possível, mataria os vilões mais de 1 vez só pela satisfação.

Infelizmente o filme inteiro é baseado em cima desse único "prazer", portanto não sobra muito pros outros espectadores apreciarem em termos de história, técnica, etc. A trama não é muito clara, demora pra engrenar, e até mesmo as cenas de ação são fracas, cheias de clichês e coisas forçadas pra darem um ar sobre-humano pro protagonista (Denzel ouve um latido de cachorro pelo telefone e já tem certeza que o garoto está em perigo; o vilão está numa cidade deserta no alto de uma torre, em vigilância, armado, e Denzel consegue escalar a torre e golpeá-lo sem que ele perceba, etc).

Não estou querendo dizer que os fãs desse tipo de filme sejam psicopatas (assim como quem joga games violentos não são pessoas sádicas necessariamente), de qualquer forma, ainda não consegui entender o mecanismo psicológico pelo qual uma pessoa com valores totalmente positivos, num estado saudável de consciência, consegue achar satisfação numa história como essa.

The Equalizer 2 / EUA / 2018 / Antoine Fuqua

NOTA: 3.5

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Megatubarão


Sempre que eu entro pra ver um filme, talvez meu desejo mais profundo e essencial (e raramente satisfeito) é o de ver uma união entre arte e entretenimento (ou, num nível mais profundo, entre intelecto e felicidade). Então se externamente o filme se apresenta como uma obra séria, autoral, minha primeira pergunta antes de começar o filme é: será que ele fará um esforço pra também ser prazeroso? E por outro lado, se o filme se apresenta como pura diversão, escapismo (como Megatubarão) minha primeira pergunta é: será que ele fará um esforço pra também ser sofisticado, inteligente, criativo? E aqui logo que começa o filme já percebemos que a resposta é não: o roteiro é composto basicamente de clichês e ideias emprestadas de outros filmes, não há grande respeito pela lógica e pelas leis da física, a ação é inacreditável, os personagens estão sempre se colocando em situações desnecessárias de risco, há alguns personagens tolos que dão um clima meio Zorra Total pra certas cenas... Outro ponto fraco é que o filme não consegue dar uma personalidade forte pro monstro, tornar o tubarão uma figura assustadora, mítica, como no clássico de 75. Aqui é apenas um efeito digital que precisa ficar apelando pra jump scares pra causar qualquer reação no público.

Em termos de valores há também algumas coisas que dão preguiça - a romantização do auto-sacrifício, tentativas de tornar o filme "inclusivo" e multicultural que soam artificiais e às vezes enfraquecem o herói, etc. Não chega a ser um filme ruim - a produção é bem feita, Jason Statham é carismático, a história tem uma boa estrutura - mas a não ser que você tenha 15 anos e nunca tenha assistido nada pra trás dos anos 2000, ficará claro que se trata apenas de uma reciclagem não muito inspirada de velhas fórmulas.

The Meg / China, EUA / 2018 / Jon Turteltaub

NOTA: 5.5

terça-feira, 7 de agosto de 2018

O Paradoxo Cloverfield


Essa deve ser a franquia com o conceito mais vago do cinema, e está chegando num ponto onde qualquer história onde algo inexplicável aconteça poderá ganhar o rótulo "Cloverfield" e um link duvidoso para os outros filmes (tanto esse quanto Rua Cloverfield, 10 eram roteiros independentes que nada tinham a ver com Cloverfield: Monstro - até o produtor J.J. Abrams resolver conectar tudo). Se você for pensar, inúmeros filmes poderiam passar a fazer parte da série com apenas algumas modificações no roteiro: Aniquilação, Círculo de Fogo, Godzilla, Planeta dos Macacos, Transformers, Stranger Things, qualquer episódio antigo do Twilight Zone, etc. Tirando a premissa básica de que um portal interdimensional foi aberto e agora coisas bizarras podem acontecer, não há muito o que conecte os 3 filmes em termos de clima, estilo, qualidade técnica, mensagem, etc. O que falta aqui é um pouco do senso de unidade e planejamento que sentimos ao ver algo como Black Mirror, por exemplo, que consegue mudar de gênero, ambientação, personagens, mas ainda assim preservar um tema central, uma atmosfera consistente.

Mas deixando de lado essa conexão com os outros Cloverfields, como uma aventura espacial isolada o filme até que é divertido de assistir; o ponto de partida é interessante (a crise de energia na Terra, o experimento com a "partícula de Deus"...) a história é cheia de ideias surpreendentes, a narrativa é clara (apesar do filme brincar com realidades paralelas, múltiplas dimensões, paradoxos, ele nunca se torna "Nolanesco" demais). Mas infelizmente falta talento no roteiro, na direção, e apesar de algumas boas sacadas, na tentativa de entreter o filme acaba muitas vezes soando infantil e criando vários momentos ridículos que farão até um garoto de 12 anos revirar os olhos (a absurda cena do braço, a surpresa final, etc). Ou seja, não é nenhum Alien (1979) - não chega nem a ser um Vida (2017) - mas pelo menos não dá pra dizer que é entediante.

The Cloverfield Paradox / EUA / 2018 / Julius Onah

NOTA: 5.0

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo

Uma sequência que não é das mais naturais (a história não exigia uma continuação, todas as melhores músicas já tinham sido usadas no primeiro filme, por razões desconhecidas mataram o personagem da Meryl Streep que era o mais importante - agora ela só faz uma participação especial), ainda assim não dá pra dizer que o filme não funciona. Continuo tendo alguns problemas com a história e com as sequências musicais, que quase sempre começam de maneira meio forçada, não parecem emergir naturalmente da narrativa, dando um senso de artificialidade à alegria que o filme tenta projetar: é o que discuto na postagem Emoções Irracionais - em vez de divertir o espectador através do conteúdo, da história, criando primeiro personagens e situações realmente interessantes, o filme simplesmente joga na tela um monte de gente sorrindo, dançando, cantando músicas pop em cenários coloridos, e espera que a gente entre no clima e se divirta junto só por contágio.

Outra coisa que me distancia um pouco da narrativa é o sonho da protagonista: toda essa ideia de aos vinte e tantos anos já querer se acomodar, ter uma vida pacata, casar, ter filhos e viver pra sempre afastada da civilização numa ilha paradisíaca, tocando uma pousada... É meio como a ideia de Shangri-la: achar que a vida ideal é se estabelecer num lugar onde ninguém precisa mais perseguir objetivos, evoluir, pensar - eu simplesmente acharia isso meio deprimente.

De qualquer forma, o filme continua com um visual lindo, bons atores, e a não ser que você tenha alguma resistência a esse tipo de música ou a filmes musicais em geral (eu não tenho), fica muito difícil não se animar na meia hora final com as aparições de Cher, Meryl, e os hits do ABBA mais aguardados.

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Mamma Mia! Here We Go Again / EUA, Reino Unido / 2018 / Ol Parker

NOTA: 6.0