sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O Protetor 2

Vendo filmes como esse, como John Wick, ou mesmo fenômenos do mundo dos games como GTA, fica claro que existe uma enorme fatia da população que vê algo de prazeroso nesse tipo de violência, em assistir alguém descontando sua raiva fisicamente, se vingando de forma brutal... E que não se trata apenas de uma busca por justiça, algo motivado por um senso de moralidade, pois em muitos casos (como aqui em O Protetor 2) o espectador nem tem como saber se as atitudes do protagonista são justas ou não (na verdade, o simples fato dele não ter informações o suficiente antes de partir pra ação, e de nem esperar pra ver se a Justiça fará algo primeiro, já torna a atitude condenável). Por exemplo: numa cena no início do filme, Denzel Washington (trabalhando como motorista) dá carona pra uma mulher cheia de hematomas no corpo, que é colocada pacificamente no táxi por um homem. Sem que a gente saiba mais nada a respeito da situação (quem bateu nela, por que, se ela também agrediu alguém), e sem nem informar a polícia antes, Denzel volta até o apartamento dos supostos agressores e tortura / assassina todo mundo! E não, Denzel não é retratado como uma pessoa desequilibrada, imoral, e sim como um herói, um homem incorruptível, corajoso, uma espécie de mito, que está fazendo tudo aquilo que o espectador secretamente gostaria de fazer. Outra pista de que não se trata apenas de uma busca por justiça - do desejo de se livrar de um problema pra daí perseguir valores positivos (ele não busca nada positivo, sua vida é toda sobre destruir negativos - inclusive negativos que nada têm a ver com sua vida pessoal) - é a enorme ênfase na violência gráfica: o "herói" não se contenta apenas em eliminar os vilões, ele precisa torturá-los, achar maneiras particularmente grotescas de realizar o ato (e o filme faz questão de mostrar tudo em detalhes). Em determinada cena ele praticamente admite ter prazer no ato de infligir dor, e diz que se fosse possível, mataria os vilões mais de 1 vez só pela satisfação.

Infelizmente o filme inteiro é baseado em cima desse único "prazer", portanto não sobra muito pros outros espectadores apreciarem em termos de história, técnica, etc. A trama não é muito clara, demora pra engrenar, e até mesmo as cenas de ação são fracas, cheias de clichês e coisas forçadas pra darem um ar sobre-humano pro protagonista (Denzel ouve um latido de cachorro pelo telefone e já tem certeza que o garoto está em perigo; o vilão está numa cidade deserta no alto de uma torre, em vigilância, armado, e Denzel consegue escalar a torre e golpeá-lo sem que ele perceba, etc).

Não estou querendo dizer que os fãs desse tipo de filme sejam psicopatas (assim como quem joga games violentos não são pessoas sádicas necessariamente), de qualquer forma, ainda não consegui entender o mecanismo psicológico pelo qual uma pessoa com valores totalmente positivos, num estado saudável de consciência, consegue achar satisfação numa história como essa.

The Equalizer 2 / EUA / 2018 / Antoine Fuqua

NOTA: 3.5

15 comentários:

Korvoloco Aspicientis disse...

Isso que você falou sobre pessoas com valores totalmente positivos conseguem achar satisfação numa história como essa também me chama a atenção há algum tempo. Na verdade, penso assim de pessoas que adoram filmes de terror como Sexta Feira 13, A Hora do Pesadelo, o grotesco Centopeia Humana ou mesmo assistindo programas sensacionalistas como Cidade Alerta.
Temas de zumbis, por exemplo, tem a desculpa de passar uma mensagem anti-capitalista e tal que acaba agradando um certo público, mas filmes como esse que listei, não passam de seres malignos que perseguem e matam pessoas inocentes das formas mais brutais possíveis, e talvez O Protetor 2, John Wick e etc sejam uma espécie de ''inversão da inversão de valores''. Em outras palavras, esse público que sempre sentiu prazer em ver o Jason arrancar o coração de uma vítima, é o mesmo que sente prazer em ver o protagonista anti-herói fazer mais ou menos a mesma coisa com um vilão.
Vejo nisso um problema sério, porque antes, pelo menos havia uma divisão clara entre o bem e o mal, mas hoje em dia fica difícil distinguir de qual lado o protagonista está.
Não sei até onde essa moda do mocinho/vilão vai durar, mas certamente é algo que devemos nos preocupar, antes que seja tarde demais.

Caio Amaral disse...

A maneira como as pessoas assimilam arte nem sempre é tão direta, óbvia, por isso às vezes me esforço pra fazer esse exercício de considerar outras formas de enxergar o filme.. No caso de terror, eu não tenho problema algum com o Jason por exemplo.. assim como não tenho problema com o Alien explodindo do peito das pessoas, ou com Norman Bates esfaqueando a protagonista em Psicose, ou com o tubarão de Jaws devorando criancinhas na praia.. há uma violência chocante, porém é claro que aquilo é uma coisa horrível, indesejável, que está sendo provocada pelo personagem do mal.. e em contraponto existe sempre um mocinho pra gente torcer, que quase sempre no final derrota o vilão. É um conflito claro entre bem e mal. Agora no caso de O Protetor.. supostamente é pra gente se identificar com o protagonista, achar que o que ele está fazendo é algo correto, admirável.. sob o pretexto de que ele está apenas fazendo justiça.. o que me parece um argumento furado pelas razões que dei na crítica.. Pra mim o "pai" desses filmes não são os filmes de terror, e sim alguns westerns dos anos 60/70.. onde a linha entre herói e bandido começou a ficar mais borrada, e o foco na violência começou a ficar maior (em comparação com os westerns clássicos do John Wayne, etc).. Filmes como The Outlaw Josey Wales com o Clint Eastwood, por exemplo.. É quase sempre o mesmo perfil de personagem.. um homem solitário, anti-social, de mal com o mundo, que foi machucado no passado (mataram alguém que ele ama), alguém que muitas pessoas querem ver morto, mas daí ele prova que é mais forte que todos os bandidos juntos e sai matando geral.. Quando é uma coisa em auto-defesa, ou quando os antagonistas são claramente maus, daí tudo bem.. porém em muitos casos fica claro que o prazer do filme é simplesmente mostrar o herói assassinando outras pessoas, sem a necessidade de um contexto maior.. abs.

Dood disse...

Engraçado que eu sempr me pego com filmes assim e acabo me identificado, sou meio solitário anti - social. Ás vezes temos dias que parece dar tudo errado, que pessoas estão contra nós, que o sistema não funciona... Acho que o filme perfeito nessa analogia é Um Dia de Fúria.

Eu faço mea culpa porque gosto desses filmes, me indentifico em parte com isso, é meio uma válvula de escape de um stress que vivo em alguns momentos.

Apesar disso não sou fã de GTA. Acho o universo do jogo pouco atraente pra mim.

Filmes assim não mudam muito, é verdade. Apesar de John Wick ser bem feito por conta do Keanu Reeves ter tido uma ótima escola em Matrix e tudo.

Caio Amaral disse...

Oi Dood tudo bem? Sugiro que leia o que escrevi sobre Filmes Inspiradores e Filmes Aliviadores na postagem Filmes Bem vs. Mal Intencionados ... ali tento explicar qual o problema de um filme ser feito primeiramente pra aliviar um estado emocional negativo... Acho essencial também considerar a questão da justiça.. o filme deve sempre se esforçar pra convencer o espectador de que o protagonista está fazendo a coisa certa, que ele não está apenas descontando seu ódio em cima de pessoas possivelmente inocentes.. Pense por outro lado nesses filmes de esquerda tipo Três Anúncios Para um Crime onde a heroína sai dando porrada nos "opressores" apenas pra descontar seu ódio, sem ter certeza também de quem é o vilão.. É a mesma coisa, só que com o herói aliviando o stress de uma tribo diferente.. abs.

Dood disse...

Essa linha de pensamento de ver o herói fazer a coisa certa, talvez por isso não me empolgue tanto com GTA. É um bom game, mas a trama vem de algo muito turvo.

O problema de filmes assim que pra mim e que eles exploraram muito nos anos 80, o que teria que ser melhor trabalhado é o roteiro como dito pra ser algo mais inteligente. Só que acabam só trabalhando com as cenas de ação, que até acho importante. Mas porradaria com uma trama rasa não se torna algo que há um desejo de rever.

Caio Amaral disse...

Então, o primeiro O Protetor eu até achei um filme decente em termos de história.. o problema nem foi tanto a superficialidade da trama, e sim essa questão do caráter do protagonista... ou seja, mesmo que a trama fosse super bem escrita, não faria muita diferença pra mim nesse caso em termos de identificação com o herói, etc..

Dood disse...

Essa é a questão que me faz afastar do GTA, não me sinto atraído pela maneira de transgredir a lei por transgredir. Mas confesso que gosto do jogo Bully que tem uma temática parecida - até é feito pela mesma empresa do GTA, mas se passa numa escola. Talvez pelo fato de você poder ser transgressor num colégio, mas ao frequentar as aulas te dá um conhecimento para sobreviver a outros estudantes.

Caio Amaral disse...

Entendi.. de games eu não conheço nada, mesmo o GTA eu só vi uns trechos de outras pessoas jogando.. mas nunca joguei... então nem me meto muito a criticar, hehe. abs!

Dood disse...

GTA tem seu lado de história, mas sempre focado no crime e na criminalidade. Mas te dá uma liberdade absurda em cima disso, e também o próprio ambiente é focado na violência. Apesar de algumas interações sociais, dependendo do teu prestígio você é visado e respeitado.

Até tem uma verão Western chamada Read Dead Rendemption, até mesmo você comentou sobre o lance dos Westerns em que o mocinho não é bem mocinho, ele segue a mesma temática.

O que me atrai no Bully é que, apesar de ter uma possibilidade de transgredir as regras. Você está num colégio e tem essa liberdade de quebrar ou não as regras. Manter relações influências, etc... Acho um jogo menos abrasivo que os anteriores. Apesar de gostar de Read Dead Rendemption mais que GTA. Mas Bully é um dos meus favoritos por ter como background uma ordem.

Caio Amaral disse...

É uma indústria tão gigante né, às vezes tenho curiosidade de jogar um ou outro só pra entender do que se trata.. mas não a ponto de gastar mais de 2 mil reais num console, hehe..

Dood disse...

Eu uso de pirataria pra ter acesso a muitas dessas coisas, e a maior parte que jogo é antigo. Por exemplo Bully é de 2009. Eu jogo num Playstation 2 desbloqueado.

Caio Amaral disse...

Entendi.. o último videogame que eu tive foi o Super Nintendo então já viu, heheh.. só se desse pra jogar no computador mesmo..

Korvoloco Aspicientis disse...

Se você gosta de uma boa história ao estilo Star Trek, recomendo a trilogia Mass Effect, é um dos meus jogos favoritos. Nele você pode customizar seu personagem e trabalhar na personalidade dele no decorrer da jogatina, por exemplo, há muitos diálogos com pessoas e alienígenas e precisa ter muito cuidado, pois se der respostas secas, seu nível de Renegade sobe e você se torna, não um vilão, mas um anti-herói, e se der respostas amigáveis, seu nível de Paragon sobe, te tornando um herói íntegro, super do bem mesmo. A parte da ação é fácil, você não terá dificuldades. Os saves do primeiro jogo são transferidos para o segundo e do segundo para o terceiro. Sem falar que você tem um universo inteiro para explorar. Também saiu recentemente Mass Effect Andromeda, mas eu não gostei muito dele não, fique nos três primeiros que já está bom.

Outro jogo que merece destaque, é Bioshock, principalmente os dois primeiros. Apesar da história do jogo criticar em certos pontos das ideias de Ayn Rand, vale muito a pena joga-lo. É fortemente inspirado no livro A Revolta de Atlas. E nesse jogo o final pode ser bom ou ruim conforme suas decisões durante o gameplay.

Também tem Civilization. São no total 6 jogos, além de alguns "spin-off's". Nesse você cria uma civilização do zero, desde a fase tribal até a era moderna e você pode chegar à vitória por dominação, diplomacia etc, você decide. Pode começar pelo quarto jogo em diante, que é considerado por muitos o melhor da franquia (eu prefiro o quinto), além do mais, o quarto jogo é narrado pelo Leonard Nimoy.

Claro, tem trocentos jogos, a lista seria gigantesca, mas recomendo esses por que são os que estou jogando agora novamente. E não precisa se preocupar em comprar console, eles são bem otimizados, rodam tranquilamente em um computador mediano, mas precisa regular as resoluções.
A trilogia Mass Effect você pode comprá-la em mídia digital, basta baixar a Origin. Já Civilization e Bioshock precisa baixar a Steam e comprar lá mesmo. ;-)

Dood disse...

Agora vi que Bully saiu pra Pc também, tu pode jogar pegando na steam.

Caio Amaral disse...

Valeu pelas dicas Korvoloco e Dood..! Já tinha visto um vídeo no YouTube sobre esse Bioshock e a relação com a Ayn Rand.. mas não sabia que ele também criticava a filosofia.. Aqui em casa eu tenho um Mac.. se um dia descobrir como abrir esses jogos aqui.. dou uma procurada nesses, hehe. abs!