sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Outros filmes vistos - Dezembro 2019

Minha Mãe É uma Peça 3 (2019) - 7.0

Dois Papas (2019) - 5.0

História de um Casamento (2019) - 7.0

Entre Facas e Segredos (2019) - 6.0

Meu Nome é Dolemite (2019) - 5.5

As Golpistas (2019) - 7.5

Downtown Abbey (2019) - 4.0

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Cats

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- A produção é boa em termos de direção de arte, fotografia. Os efeitos nem são tão ruins - os gatos são bizarros, mas isso é mais um problema de design do que da qualidade do CGI.

- O começo já não funciona muito bem. Teria sido melhor mostrar como era a vida da Victoria antes dela ser abandonada, apresentar a personagem, o universo dela, os desejos dela, pra daí acontecer a reviravolta e ela ir parar no mundo dos gatos "Jellicle". Do jeito que acontece, não há nenhum contraste entre o que ela era antes e o que ela será agora. É apenas mais uma gata se juntando a um grupo de gatos... Não há uma diferença fundamental entre ela e os "Jellicle". Não é como uma pessoa normal descobrindo um mundo fantástico, tipo Dorothy em O Mágico de Oz. Se Dorothy já fosse uma criatura igual às do mundo de Oz, tipo uma "mulher de lata", não haveria surpresa descobrir esse novo mundo.

- Toda a sequência da gata gordinha (Rebel Wilson) merece um lugar na lista dos piores momentos da história do cinema. Não só o CGI dela ficou ainda mais bizarro que o dos outros gatos, como a parte dos ratos e das baratas dançando é de um mau gosto indescritível.

- As músicas são fracas, e são usadas de maneira ruim - não avançam a história, não surgem em contextos adequados dramaticamente. Até porque não há história nem narrativa (literalmente!). O filme é apenas uma sequência de gatos se apresentando.

- Emoções Irracionais: um dos problemas fundamentais que tornam Cats um musical ruim, é a tentativa de criar significado através de emoções diretamente, não através de história, conteúdo. O filme não tem enredo, protagonistas, não tem personagens bem construídos, são apenas gatos aleatórios se apresentando um atrás do outro... No entanto, o filme espera que o espectador se emocione profundamente a cada cena, só porque todos os gatos indicam que agora é um momento de sentir algo... "Oh, aí vem a velha Deutoronomy!!", e de repente estão todos boquiabertos, chorando, uma música grandiosa começa a tocar, entra a Judi Dench com um olhar solene, e o filme espera que a gente ache tudo comovente e épico, sendo que até 1 minuto atrás nem sabíamos quem era essa personagem, não havia expectativa nenhuma pra esse momento. O mesmo acontece com a principal canção do musical ("Memory") que no fim é uma cena totalmente vazia, apenas uma música aleatória no meio de tantas outras, que "soa" pomposa e importante simplesmente por qualidades melódicas, não porque o momento em si é importante.

- Os vocais do filme são ruins. Provavelmente o diretor Tom Hooper usou a técnica de fazer os atores cantarem ao vivo no set, assim como ele fez em Os Miseráveis, o que acaba estragando as músicas (principalmente as mais românticas). É um compromisso desnecessário com realismo, ainda mais quando se trata de um filme sobre gatos com rostos humanos, braços e pernas. A "protagonista" Francesca Hayward foi contratada por ser bailarina, mas ela não é cantora profissional, o que dá pra perceber.

- Não há nenhum suspense ou interesse em descobrir qual será a "escolha Jellicle". O filme não tem protagonista de fato, ninguém pra gente torcer, não apresenta nenhum conflito interessante.

- O musical da Broadway pra mim nunca teve muita graça. Talvez a única coisa que explique a popularidade e longevidade da peça, é o fato dela parecer ter sido escrita em função dos atores, pra agradar profissionais do meio teatral, afinal a peça dá oportunidade pra 20 atores diferentes (magros, gordos, brancos, negros, jovens, velhos, bailarinos clássicos, sapateadores) terem sua canção solo, seu momento pra bilhar no palco. É perfeito pra audições, ou como plataforma pra atores mostrarem suas habilidades, mas pra plateia não faz o menor sentido.

- Embora o filme seja fantasioso, no fim ele é profundamente Naturalista, não só pela ausência de trama e pelo foco em caracterizações, mas também pela maneira como ele caracteriza os gatos: em vez dos gatos representarem arquétipos universais, valores morais com os quais o espectador possa se identificar, eles são apenas gatos específicos, com nomes exóticos, hábitos particulares. Quando você assiste um filme tipo A Bela e a Fera, por exemplo, você se interessa pelos personagens pois, através de suas ações, eles vão se tornando símbolos de bondade, ou maldade, ou ganância, ou independência, e com base nisso você vai passando a torcer por um, por outro, vai desejando ou temendo que algo aconteça na história. Aqui o filme fica apenas descrevendo vários personagens e suas particularidades irrelevantes que nada interessam à plateia: gato X gosta de fazer tais coisas, se veste de tal jeito, fala com tais maneirismos... gato Y tem outras peculiaridades... Isso é mais próximo do cinema Naturalista, que espera que a gente se interesse pelos personagens não com base em valores, mas porque é importante conhecer outros povos, pessoas com hábitos diferentes, dar visibilidade a outras culturas, etc.

- Quando a Judi Dench chega pra avaliar os gatos e decidir qual será o escolhido, em vez de mudar a estrutura do filme, ele apenas continua a apresentar gatos inéditos. Nem faz sentido. A gente passou 1 hora e meia vendo gatos se apresentando, mas eles não estavam se apresentando diante da Judi Dench ainda, apenas para a plateia e para os outros gatos Jellicle. A Judi Dench só chegou depois e não viu esses primeiros gatos. Então no final, não deveria acontecer uma apresentação / resumo de todos eles pra ela poder avaliar? Ela vai basear a escolha dela só nesses últimos gatos que ela pôde assistir? E todos os outros?

- É estranho o momento da Taylor Swift... Pra que toda essa entrada triunfal, sendo que no fim a música é sobre o Macavity, e ela seria apenas uma assistente introduzindo ele? Não faz sentido ela roubar a cena dessa forma, sendo uma personagem tão secundária (claro, pra uma atriz de musical principiante que quer ter seu momento no palco deve fazer muito sentido ter essa cena).

- Péssimo esse final com teletransporte, o mágico amador tendo que se provar pra resgatar a Judi Dench daquele bote... Deve ser um dos artifícios de trama mais aleatórios já escritos.

- Péssima a performance final de "Memory", que supostamente seria o momento mais bonito do filme. Os vocais são cheios de defeitinhos e toques realistas (deixados de propósito), sem falar na expressão feia da Jennifer Hudson, no ranho escorrendo do nariz o filme inteiro. É a noção de que o que é visceral e imperfeito é mais "belo". E por que ela é a escolhida no final? Não há nada de especial nela em comparação com os outros gatos... A única "virtude" dela é ela se parecer com uma mendiga, aparentar ser a mais sofrida... E segundo as regras do altruísmo, quem sofre mais merece todas as honras, mesmo que não tenha qualidades positivas.

- Judi Dench é uma grande atriz, mas está sofrendo aqui pra cantar. Toda essa sequência após a escolha do gato parece arrastada e anticlimática.

Cats (Reino Unido, EUA / 2019 / Tom Hooper)

NOTA: 1.0

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Star Wars: A Ascensão Skywalker

Bem melhor que o subversivo Os Últimos Jedi, e achei melhor até que O Despertar da Força. Mas nada ainda que eu consiga admirar em comparação com os clássicos. Deve existir tanta pressão numa produção como essa, tanto dinheiro envolvido, tantos executivos e fãs pra agradar, que realmente não sobra muito espaço pra inovação, surpresa, riscos... Embora J.J. Abrams faça um bom trabalho e a produção seja riquíssima (que privilégio é ver um filme com trilha do John Williams, production design do Rick Carter) em termos de conteúdo acaba sendo um filme sem personalidade, que joga no seguro, busca apenas agradar os fãs trazendo os elementos familiares da saga pra sentirmos que estamos de volta ao mundo de Star Wars - aquela sensação que temos ao visitar uma atração da Disney (e isso ele faz muito bem), mas fora do contexto da nostalgia, do fan service, não há um filme memorável, um roteiro bem escrito, grandes ideias... Pelo menos em termos de valores o filme me pareceu bem intencionado (o tom é mais leve, mais parecido com o dos clássicos - C-3PO em particular tem uns momentos ótimos) o que sugere que o Episódio 8 foi apenas uma aberração (culpa provavalmente de Rian Johnson) e não parte de um plano maléfico da Disney de corromper o espírito da saga.

Star Wars: A Ascensão Skywalker / EUA / 2019 / J.J. Abrams

NOTA: 7.0