segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O Dilema das Redes

Acho que os algoritmos e a obsessão por controle/manipulação das redes sociais estão de fato tornando a internet um lugar desagradável, e o documentário faz um bom trabalho em expor algumas dessas táticas eticamente questionáveis. Mas acho uma tolice o tipo de cenário apocalíptico que esse filme pinta. Pra começar, ele cria a impressão de que empresas e anunciantes são coisas maléficas, cujo grande propósito é fazer mal aos consumidores (em vez de oferecer um produto útil e desejado pelo consumidor, que é a intenção da maioria). Outra ideia boba é essa de que as pessoas ficaram viciadas no celular, como se isso fosse algo doentio. É óbvio que um adolescente não consegue ficar longe do celular por 1 semana (como eles dramatizam no documentário). Não é só o vício em likes e o aspecto "caça-níquel" das redes sociais que tornam o celular algo necessário. As pessoas precisam dele pra trabalhar, pedir comida, ler notícias, receber mensagens, combinar algo com os amigos. Seria autodestrutivo — e não saudável — querer ficar sem celular por uma semana nos dias de hoje. Claro que o celular abre portas para "viciar" usuários de maneira não saudável, mas qualquer coisa que dá prazer faz isso: jogos, doces, drogas, sexo... É responsabilidade de cada um não se deixar levar por esse tipo de excesso, e não da indústria de evitar produzir coisas "excessivamente interessantes". Mas o principal problema do documentário acima de tudo é que ele rejeita totalmente a ideia de que o ser humano tem livre arbítrio, autocontrole. É como se uma persuasão bem feita pudesse ser capaz de fazer a gente agir completamente contra nossos interesses e valores, fazer qualquer coisa que o algoritmo queira, como se não tivéssemos filtro algum para estímulos externos (lembre que nem hipnotizados fazemos coisas contra nossa vontade). É aquela visão da humanidade como um gado não pensante que sempre é usada pra justificar mais controles do governo (sim, no fim alguns entrevistados dizem que a solução pra isso tudo deve ser a intervenção estatal). Bem, se a humanidade de fato é tão indefesa e manipulável assim, praticamente tudo pode ser uma ameaça à civilização, não só as redes sociais: qualquer tipo de propaganda, todas as religiões, a TV, intelectuais, políticos, o sistema de educação, videogames, a indústria do cinema... Sim, muitas pessoas são manipuláveis, não pensam, mas ser burro sempre trouxe e sempre trará consequências negativas, não é uma novidade da era digital. O documentário é até meio hipócrita, pois ele em si é uma ferramenta de manipulação, repleto de noções equivocadas que promovem políticas destrutivas de esquerda. A Netflix e sua seção de documentários é uma das máquinas mais poderosas de propaganda anti-capitalista da atualidade — isso sim é algo que deveria te assustar.

The Social Dilemma / 2020 / Jeff Orlowski

NOTA: 6.0

4 comentários:

Anônimo disse...

Boa análise. De fato, essas críticas não são muito diferentes daquelas que eram feitas antes do advento da internet, de que as pessoas assistiam TV demais ou que passavam muito tempo no telefone (principalmente jovens e mulheres).
Pedro.

Caio Amaral disse...

É exatamente isso..! O tipo de coisa que impressiona se vc tem 18 anos.. mas depois de umas décadas vividas.. você vê que é sempre a mesma história, hehe.

Dood disse...

Não esqueçam dos quadrinhos, a censura neles inspirou um livro chamado Seduction of the Inocent e criou um orgão regulamentador (Comic Code).

Interessante é que não importa a ideologia: a ideia de um controle sobre uma ferramenta de massa sempre aparece.

Caio Amaral disse...

Hehe sim.. pessoas que se acham no direito de controlar a vida dos outros em todos os aspectos é o que nunca vai faltar no governo.. rs.