domingo, 25 de julho de 2021

Um Lugar Silencioso: Parte II

(Os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

- Assim como Viúva Negra e tantos filmes, a história parece começar da metade, e o filme não se esforça em nada pra deixar as coisas claras pro espectador, criando aquela sensação de você ter pego o bonde andando (tática ótima pra camuflar um roteiro medíocre). A sequência inicial é um flashback mostrando como a invasão começou, porém eu passei uns 40 minutos de filme achando que aquilo poderia também ter sido um flash forward, afinal as crianças pareciam um pouco mais velhas que no primeiro filme... Não lembrava direito o que tinha acontecido com o pai... E tinham 3 crianças com a família — como nada é muito bem explicado, o garotinho menor eu imaginei que poderia ser o bebê do primeiro filme, após alguns anos.

- O problema dos comportamentos irreais e dos planos irracionais que citei na parte 1 se repete aqui. O foco da trama é a jornada da filha rumo à ilha, mas parece totalmente forçado ela decidir ir até lá sozinha, escondida da mãe, como se estivesse fazendo algo repreensível. Seria de interesse de todos encontrar esse lugar, e com o rádio que espanta os monstros, eles não estariam correndo tantos riscos quanto antes. Além disso, a teoria da menina não é nada sólida... Ela quer usar a estação de rádio pra transmitir o barulho do aparelho auditivo e salvar a todos. Mas que "todos" são esses? Nem sabemos se existem outros sobreviventes no mundo! O filme não estabeleceu isso. E se existirem, quais as chances deles ouvirem essa rádio?! O ruído do aparelho nem mata os monstros, apenas deixa eles ligeiramente atordoados, então o plano dela ainda não resolveria o problema. É tudo tão irracional que você simplesmente desiste da história... Até nos pequenos detalhes. Por exemplo: qual o sentido da rádio tocar a canção "Beyond the Sea" para atrair sobreviventes à ilha? Como alguém irá adivinhar que a música se trata de uma mensagem codificada? Qual a necessidade de se comunicar em códigos sendo que os inimigos são aliens que não entendem nossa língua? Não seria mais lógico deixar um recado em inglês?

- Em vez de focar nas qualidades positivas dos personagens, na eficácia, na coragem, o filme foca no lado frágil e desamparado do ser humano. Emily Blunt está boa parte do tempo chorando... As pessoas estão sempre tomando decisões burras, reagindo de forma emotiva, brigando umas com as outras... Repare como sempre que alguém quer fazer algo, ir em uma direção, outra pessoa diz "não, você não pode fazer isso!" com uma cara de ódio — e ninguém tem razão em nada, é tudo pra mostrar como as relações humanas são difíceis, como não há comunicação, como diferentes pontos de vista exigem sempre sacrifícios de todas as partes, etc.

- (SPOILER) Como o foco aqui é a fragilidade, nada mais apropriado os personagens no fim serem salvos por um objeto associado a deficiência... O final é extremamente insatisfatório e brochante. Primeiro porque a ideia de usar o ruído contra o monstro não é nenhuma sacada surpreendente, apenas algo que eles já estavam fazendo o filme todo, e que no fim não solucionará nada. Não ficamos sabendo se isso irá salvar outras pessoas, se existem outros sobreviventes, se há esperança dos monstros serem derrotados definitivamente, se eles poderão voltar a viver na terra... E depois de largar a mãe e o irmão sozinhos no continente, o mínimo que o filme deveria ter feito pra dar um senso de conclusão, seria mostrar eles chegando na ilha, a família se reunindo, etc. Mas assim como o filme não tem problemas em começar a história do meio, ele também não liga em terminar antes do fim... Assim fica uma narrativa mais "desconstruída" e "moderna".

A Quiet Place Part II / 2020 / John Krasinski

2 comentários:

Anônimo disse...

kkkkk muito bom. E quando M. Night Shyamalan fez os alienígenas em Sinais terem a água como seu ponto fraco todo mundo criticou.
Outra coisa que me incomodou é o fato da família continuar andando descalços quando já ficou bem claro que isso não tem a menor diferença e que eles poderiam usar sapatos. O fato de eles andarem descalços só prejudica a eles mesmos pra caminhar, correr, etc.
Também é muito clichê esse recurso de ter uma comunidade separada de todos. Vi isso em Birdbox, O Livro de Eli, Filhos da Esperança, Eu sou a Lenda.
E a mitologia dos alienígenas não faz o menor sentido. Se eles são caçadores que evoluiram utilizando sensibilidade sonora, porque só tem cenas deles matando tudo o que tocam em vez de caçando e comendo, levando pro "bando", etc. Se leões agissem assim, eles estariam extintos.
E se até os militares em Jurassic Park conseguiram colocar em gaiolas criaturas mais perigosas, mais ameaçadoras e maiores, como que a sociedade neste filme entrou em colapso e os militares não conseguiram capiturar nem umazinha cobaia para descobrir as fraquezas? Como que os militares não elaboraram um plano de evacuação aéreo, já que os aliens não vôam?

muito ruim esse filme.

Caio Amaral disse...


É incrível..! Filmes que eram considerados forçados ou tolos no passado ficam parecendo exemplos de racionalidade quando vc compara com alguns desses sucessos atuais..

Isso da comunidade isolada já está meio clichê mesmo.. o mundo pós-apocalíptico onde as pessoas voltaram a viver com poucos recursos, etc. Não me surpreende esse tipo de ambientação estar em alta (como comentei no post da pandemia)..

Me ocorreu isso da ausência de aviões.. ou de mais carros.. já que tinham barcos de sobra pra eles atravessarem. E se os bichos não nadam, e são basicamente animais ferozes que matam as pessoas 1 a 1 (não são zumbis ou algo que vai se multiplicando exponencialmente).. teria sido difícil uma devastação tão completa msm. abs!