terça-feira, 29 de julho de 2008

Ao Entardecer

Vanessa Redgrave, Claire Danes, Patrick Wilson, Glenn Close, Toni Collette, Meryl Streep... Reuna todas essas pessoas num filme e tente ser medíocre. Aqui quase conseguiram. O húngaro Lajos Koltai (originalmente diretor de fotografia; indicado ao Oscar por "Malèna") pelo menos caprichou no visual, mostrando paisagens deslumbrantes e deixando até Redgrave no leito de morte parecer bonita e saudável. O filme conta a história de uma velha senhora que nos seus últimos momentos recorda um tempo nostálgico da sua juventude onde ela viveu sua maior paixão e tomou as decisões que traçariam o rumo de sua vida. É um daqueles dramas femininos de alta sociedade que a Keira Knightley adora; uma mistura de "O Grande Gatsby" com "Diário de uma Paixão". O filme começa muito bem e é agradável de se ver, mas não emociona e eventualmente se torna cansativo e perde o rumo (o livro deve ser muito bom, mas não se traduz bem num roteiro para cinema). Redgrave e Streep estão ótimas (Streep só aparece no finalzinho), mas o resto todo do elenco parece um pouco errado. Pra começar, Claire Danes não convence no papel e não parece ser o perfil certo pra esse tipo de personagem. Apesar do incrível elenco, não houve um cuidado especial com a direção de atores (como houve com a fotografia). Parece que não fizeram mais de 1 ou 2 takes de cada plano, deixando passar muitos defeitinhos de interpretação... Aquelas caretas e expressões estranhas que um ator faz e que poderiam ter sido evitadas caso tivessem repetido mais vezes. Mesmo assim, o maior atrativo do filme ainda é o elenco, que inclui as filhas de Vanessa Redgrave e Meryl Streep fazendo suas próprias filhas! Da mesma autora de "Beleza Roubada".

Evening (EUA/ALE, 2007, Lajos Koltai)

NOTA: 5.5

domingo, 20 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas

Um filme sádico, fruto dessa nova onda do cinemão americano pós Bin-Laden, fascinado pela crueldade, pela tortura, pelo medo. Veio na hora certa, pro público certo, e de certa forma lembra muito o nosso "Tropa de Elite", que foi um fenômeno cultural equivalente por aqui. Ambos celebram o terror, a decadência moral, o caos, e deixam o espectador refém na poltrona, com uma narrativa agressiva, muita violência e tanto barulho que não sobra muito espaço pra pensar.

O lado bom: Heath Ledger dá um show numa interpretação perturbadora, histórica. Algumas sequências de ação são memoráveis, como a do assalto a banco inicial.

O lado ruim: Infelizmente a gente não consegue desfrutar dessas sequências, pois Christopher Nolan não sabe o que fazer com a câmera. Sua 'técnica visual' se limita a alguns panoramas elegantes e movimentos de câmera suaves, que podem levar a platéia a pensar que o filme é "bem dirigido". Mas quem consegue entender o que está acontecendo, por exemplo, na cena de luta com os vários Batmans? Ou na cena do tiroteio no meio da rua, quando Coringa e sua equipe se disfarçam de policiais? Ou na perseguição de carros no tunel? Spielberg construiu uma perseguição de carro 5 vezes mais longa e complexa no novo Indiana Jones, com pessoas constantemente saltando de um carro pro outro, acrobacias com cipós e uma caveira de cristal que a cada hora caía nas mãos de uma pessoa diferente, e a gente sabe o tempo todo quem está em que lugar, e o que esta pessoa quer. O filme também sofre de um excesso de grandes acontecimentos... É tanta coisa que acontece que o filme parece ter 4 horas... Não há um senso de construção e de que as coisas estão caminhando para um clímax. Outros problemas incluem uma transformação nada convincente de Aaron Eckhart em vilão (a gente fica com a sensação de que perdeu um pedaço do filme), e uma completa falta de senso de humor. Quando Nolan tenta fazer uma cena cômica com 2 garotinhos num carro brincando de atirar, a cena é claramente tímida e falsa. Não funciona. Nolan só sabe ser sádico... Quando o Coringa brutalmente enfia um lápis no olho de um policial, aí sim tudo soa natural e o cinema vem abaixo.

Enfim. A sensação que eu tive é de que o filme está o tempo todo tentando provar algo. Que a missão dele não é presentear a platéia com grandes cenas, e sim provar o quanto é sofisticado, o quanto é esperto e profundo. O que acaba deixando a desejar... O próprio personagem do Coringa, que os autores devem achar digno de um Tennessee Williams, parece tolo em alguns momentos. Ele se auto-analisa, explica suas motivações, como alguém que age por vaidade e não por uma verdadeira loucura. E ele prega o caos, mas contraditoriamente age de forma sistemática, sendo o tempo todo malvado e cruel. Os grandes vilões do cinema, como Hannibal Lecter, eram assustadores pois eram realmente caóticos e insanos. Assim como na vida, o mais assustador não é alguém que age o tempo todo de má fé, mas sim alguém sensível, capaz de demonstrar afeto, e que a qualquer momento pode te apunhalar pelas costas.

The Dark Knight (EUA, 2008, Christopher Nolan)

NOTA: 6.5

terça-feira, 8 de julho de 2008

WALL-E

Fiquei de queixo caído a maior parte do filme. É provavelmente a animação 3D mais sofisticada já feita, com roteiro/direção/fotografia/trilha de um filme de 1ª. Ainda assim tive algumas queixas. A primeira é que eles roubaram muitas coisas de "E.T." - o robô tem o mesmo formato, a mesma voz, a mesma personalidade; os temas do filme são parecidos, a música, a sequência inicial do robô sozinho no planeta, tem a plantinha que é outro símbolo em comum, a cena em que eles pintam o robô de mulher (há uma igual em "E.T."), o tema de "volta pra casa"... Enfim... Pelo menos roubaram do melhor, o que já é um avanço. A outra queixa é mais problemática... Tem a ver com o desenvolvimento do roteiro na segunda metade. O tema romântico fica um pouco abandonado. O personagem da Eve perde parte do interesse, sendo que foi justamente a aparição dela que motivou a história e fisgou a platéia. Ela começa fechada, violenta, misteriosa, até que literalmente se fecha e "desliga". WALL-E se apaixona e a gente fica imediatamente fascinado pela possibilidade de um romance... O obstáculo parece tão grande! Como será que ele irá conquistá-la? É uma situação é envolvente, mas daí acho que o filme procura uma saída fácil e frustrante... A robozinha vai simplesmente conhecendo melhor WALL-E e se encantando, e logo os dois estão voando felizes e dando as mãos. Uma resolução que levasse em conta a enorme diferença entre os dois e justificasse essa aproximação seria bem mais satisfatória. Enfim, estou falando mal, mas na verdade o filme é ótimo. Se além de tudo não tivesse esses defeitos, seria certamente um novo clássico do cinema.

WALL-E (EUA, 2008, Andrew Stanton)

NOTA: 8.5