sábado, 28 de fevereiro de 2009
Frost/Nixon
Peter Morgan (autor de "A Rainha") escreveu a peça e o roteiro pra cinema deste que é sem dúvida um dos melhores e mais impecáveis filmes de 2008. Michael Sheen e Frank Langella reprisam os papéis que criaram no palco (Langella inclusive ganhou o Tony em 2007 - merecia também ter levado o Oscar que acabou indo pra Sean Penn). O filme acompanha o apresentador David Frost numa série de entrevistas feitas com Richard Nixon logo após sua renúncia à presidência. Frost precisava arrancar uma confissão de Nixon sobre sua participação no caso Watergate; todo seu dinheiro e sua reputação estavam em jogo. Nixon também arriscava o resto de sua carreira política, então de certa forma o filme funciona mais como uma partida de boxe do que como um filme sobre política; cada rodada da entrevista é um novo round.
Existem várias formas de se apresentar uma mesma história. O ângulo escolhido por Morgan é do homem pequeno contra o sistema. "Frost/Nixon" não é a história do Watergate. É um filme sobre ter ambição, sobre ser persistente, sobre acreditar em uma idéia apesar da desaprovação de todos. Dá até pra traçar um paralelo com "Quem Quer Ser um Milionário?". Mas todo bom filme, não importa o tema, acaba sendo sobre pessoas, sobre personalidades interessantes. E enquanto "Slumdog" fica apenas na caricatura, cada vez que Langella ou Sheen abrem a boca, você se arrepende de não ter trazido o bloco de notas.
Indicado a 5 Oscars: Melhor Filme, Diretor, Ator (Frank Langella), Edição e Roteiro Adaptado.
Frost/Nixon (EUA, 2008, Ron Howard)
INDICADO PARA: Público adulto em geral. Quem gostou de "A Rainha", "Questão de Honra", "O Veredicto", etc...
NOTA: 8.5
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Lasermania exibe "Peeping Tom"
A Associação Cultural Laser Digital – Lasermania reinicia agora em março uma série de eventos gratuitos abertos ao público com filmes do seu acervo. A primeira sessão será no dia 03/03, Terça-feira, às 20h30, com exibição do filme “Peeping Tom” (A Tortura do Medo), com apresentação de Caio Amaral, que comanda um bate-papo após a apresentação.
Peeping Tom é uma espécie de ”Psicose” britânico - saiu inclusive no mesmo ano, em 1960 - e gerou tanto escândalo que arruinou para sempre a carreira do diretor Michael Powell, grande diretor de clássicos como "Sapatinhos Vermelhos" e "Narciso Negro". Hoje é considerado uma obra-prima, mas permanece pouco conhecido. Ficou em 6º lugar na lista da Premiere dos filmes mais "perigosos" de todos os tempos.
Serviço:
Exibição do filme “Peeping Tom” (A Tortura do Medo)
Ano: 1960
Direção: Michael Powell
Elenco: Carl Boehm, Moira Shearer, Anna Massey, Maxine Audley
Duração: 101 minutos - Colorido - Legendas em Português
Sessão gratuita com lugares limitados (32 vagas)
Dia 03 de março, terça-feira, às 20h30
Reservas pelo telefone 3167-0196
Local: Associação Cultural Laser Digital - Lasermania
Rua Pedroso Alvarenga, 1293 Itaim Bibi
(a meia quadra da Rua Iguatemi e da Nova Faria Lima)
Informações para a imprensa:
Cristina Bielecki
Assessoria de Comunicação
Rua Monte Alegre, 523 – 12º - Conj 121
05014-000 – São Paulo – SP
Tel: 11 – 3672-8682
Cel: 11 – 9111-8970
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Quem Quer Ser um Milionário?
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Sexta-Feira 13
Sou fã de carteirinha de Jason e acho que a série original (principalmente os 3 primeiros filmes) estão entre as melhores coisas já feitas no gênero slasher. Ele é meu vilão favorito, mais que Freddy Krueger, Michael Myers, Leatherface... Tem algo a respeito daquela floresta, do Camp Crystal Lake, do lago, que é simplesmente mágico e faz qualquer Sexta-Feira 13 ser no mínimo agradável. O mesmo se aplica a esse remake, que no fundo é um apanhado dos 3 primeiros - lembre-se que no 1 quem mata não é o Jason e sim sua mãe; no 2 a série tem uma reviravolta sobrenatural e Jason começa a matar, mas ainda usando um saco na cabeça; só no 3 ele encontra a icônica máscara de hockey.
Depois da parte 9 (o pior de todos, lançado em 1993), a série perdeu completamente o rumo - foi ressuscitada em 2001 com "Jason X", que se passava no século 25 e no espaço! Depois veio "Freddy vs. Jason" que apesar de divertido, era mais uma piada do que um novo episódio. Agora resolveram esquecer tudo e recomeçar do zero. O resultado é melhor do que se poderia esperar (o filme é produzido por Sean S. Cunningham, diretor do primeiro, e faturou 45 milhões em sua estréia nos EUA - a maior estréia da história para um filme do gênero), mas ainda não se compara aos originais. A produção é bonita, a atmosfera está certa, mas os personagens não são mais os mesmos. Parece uma festa de modelos, a gente não consegue se importar por ninguém. Num slasher, onde existe muito pouca história, 80% do filme é personagem... Se você não tem um grupo interessante de personagens, realmente não sobra muita coisa.
Friday the 13th (EUA, 2009, Marcus Nispel)
INDICADO PARA: Fãs de terror cansados de torture-porn como "Jogos Mortais", etc.
NOTA: 6.0
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Coraline e o Mundo Secreto
O filme parte de uma das premissas mais interessantes que eu ouvi nos últimos tempos: uma garota acha uma passagem mágica em sua casa, que vai dar em uma outra versão da sua casa, onde tudo é mais bonito, seus pais são mais alegres e atenciosos, a comida é mais gostosa, o jardim é mais florido - a única diferença é que todas as pessoas têm botões costurados no lugar dos olhos!
O filme poderia ter sido uma aventura fantástica na tradição de "O Mágico de Oz" e "Alice no País das Maravilhas", mas acaba virando uma experiência bizarra e desagradável, embalada por um show de fotografia e animação stop-motion. É fácil ver por que o filme não funciona, veja a história: uma menina chata vive uma vida triste e solitária, e ao descobrir uma passagem mágica em sua casa, dá num lugar grotesco que é ainda mais deprimente que sua vida real, então ela volta e aprende a apreciar o que tem! Puxa... Fico imaginando se as crianças depois vão querer comprar bonecos desse filme, ou então botões pra colocar nos olhos e brincar de vazio existencial... Não adianta: criatividade e inovação técnica só têm valor quando associados a algo humano e bem intencionado.
Coraline (EUA, 2009, Henry Selick)
INDICADO PARA: Interessados em técnica de animação.
NOTA: 5.5
Hamlet 2
Comédia no estilo "Saturday Night Live" sobre um professor de teatro fracassado que precisa montar uma peça original de sucesso pra impedir que a escola cancele o seu curso. Ele escreve então uma sequência musical para "Hamlet" de William Shakespeare.
O filme é claramente inspirado por "Primavera para Hitler" (The Producers), mas não é tão bem escrito quanto poderíamos esperar. O filme também parece muito auto-consciente de sua irreverência, matando a graça da maioria das piadas. No entanto, quando elas funcionam, fazem valer o filme. Eu fiz uma cirurgia na maxila há pouco tempo e ainda não posso dar risada. Coloquei o filme sabendo que se ele começasse a ficar engraçado, teria que parar. Demorou, mas aconteceu. Tirei o DVD no primeiro verso da canção "Estuprado pelo Rosto".
Hamlet 2 (EUA, 2008, Andrew Fleming)
INDICADO PARA: Cinéfilos (que vão entender as dezenas de referências). Quem gosta de "South Park", "Team America", etc.
NOTA: 6.0
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Dúvida
Filmes baseados em peças de teatro são geralmente muito pouco dinâmicos e sua força se concentra nos diálogos e nos conflitos entre os personagens. Pense em "O Homem que Não Vendeu Sua Alma", "Equus", "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?". O problema de "Dúvida" é que além dele ser pouco dinâmico, os conflitos são banais e nada de muito sério parece estar em jogo. Esses filmes precisam ser explosivos, surpreendentes, os personagens precisam fazer coisas impensáveis! Eles fazem todo um dramalhão em torno da hipótese do padre ter abusado do garoto, mas temos a sensação de que mesmo que tudo seja provado, não seria assim algo tão grave. O garoto é amigo do padre, tem certa maturidade, é gay, vai ver ele gostou! Qual o problema? Outras coisas no filme incomodam, como o uso errado de alívio cômico e uma linguagem de câmera que só ajuda a fortalecer a idéia de que nem o diretor está acreditando muito na história. Ou seja, o filme soa sempre um pouco tolo, mas é uma tolice divertida que pode ser vista com prazer. Afinal, o que é entediante na companhia de Meryl Streep?
Indicado a 5 Oscars: Melhor Atriz (Meryl Streep), Melhor Ator Coadjuvante (Philip Seymour Hoffman), Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams), Melhor Atriz Coadjuvante (Viola Davis), Melhor Roteiro Adaptado.
Doubt (EUA, 2008, John Patrick Shanley)
INDICADO PARA: Quem gostou de "Notas Sobre um Escândalo", filmes sobre conflitos morais.
NOTA: 6.5
O Leitor
Terceiro filme de Stephen Daldry - ele fez antes "Billy Elliot" e "As Horas", e é provavelmente o único diretor indicado ao Oscar por 100% de seus filmes (se você desconsiderar Jerome Robbins, que co-dirigiu "West Side Story" mas fez apenas este). Seguindo a fórmula de Daldry (drama de época + assuntos polêmicos + grandes performances femininas), o filme mostra o relacionamento entre um adolescente e uma mulher mais velha na Alemanha no final da Segunda Guerra.
O filme começa muito bem. Tão bem aliás que eu precisava ir ao banheiro durante a sessão e simplesmente não conseguia escolher uma cena que me parecesse desnecessária! O roteiro é cheio de mistério, de surpresas... No entanto ele perde um pouco da força no terceiro ato. Os anos passam, os personagens se tornam distantes, e a história toma um rumo que frustra um pouco a platéia. Um dos problemas é que falta um personagem central no filme (basta ver a confusão que foi decidir se a Kate Winslet era atriz principal ou coadjuvante nos prêmios). Ela é a figura central da história, mas não vemos o filme pelos olhos dela. É uma mulher misteriosa, com um passado oculto, um pouco como a Meryl Streep em "A Escolha de Sofia" - mas naquele filme, quem narrava a história inteira era o vizinho. Aqui, a história também não é sobre o adolescente. Ou seja, a gente sai da sessão sentindo que não viveu o drama de ninguém completamente. Compensando isso tudo, o filme tem várias cenas memoráveis e até comoventes (em especial uma na prisão envolvendo uma máquina de escrever). Kate Winslet dá outro show, apesar de ser prejudicada no final por uma maquiagem não muito convincente (ainda acho ela bem superior em "Foi Apenas um Sonho").
Mas diferente de "Dúvida", que propõe uma discussão moral vazia que nunca decola, a força desse filme está em seu conteúdo, na complexidade dos personagens, nas escolhas que eles fazem e na forma como a gente é forçado a pensar constantemente.
Indicado a 5 Oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz (Kate Winslet), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia.
The Reader (EUA/ALE, 2008, Stephen Daldry)
INDICADO PARA: Quem gostou de "A Escolha de Sofia", "O Paciente Inglês"...
NOTA: 8.0
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Milk - A Voz da Igualdade
Gus Van Sant é um dos diretores mais esquizofrênicos em atividade. Começou a carreira com filmes cults sobre jovens rebeldes ("Drugstore Cowboy", "Garotos de Programa"), chegou à consagração com "Gênio Indomável", depois começou a pirar. Primeiro veio o infame remake colorido de "Psicose". Depois parece que ele se apaixonou pelo plano-sequência (longas cenas filmadas de uma vez só, sem cortes) e fez vários filmes sobre jovens alienados ("Gerry", "Elefante", "Last Days", "Paranoid Park"), todos muito chatos, silenciosos e sem muito conteúdo, quase exercícios fotográficos (o diretor favorito dele é o Kubrick - ele inclusive filmou alguns de seus filmes no formato 1.37 : 1, vulgo "fullscreen", assim como Stanley, mas as semelhanças param por aí).
Agora ele reaparece com um filme narrativo completamente mainstream (considerando o tema), dirigido da maneira mais direta e tradicional possível, sem nenhum vestígio de sua loucura! O que será que isso significa?! Será que ele percebeu que estava viajando demais e resolveu fazer as pazes com o público? Será que ele só estava precisando de dinheiro, e daqui a pouco ele vem com uma sequência em 3D de "Cidadão Kane"? Não sei, acho que nem ele sabe. Mas o filme é realmente bom, com um elenco brilhante, um dos melhores "ensembles" do ano. É a boa e velha história do homem contra o sistema, mas com o frescor de ser o primeiro filme importante sobre o movimento dos direitos gays.
Infelizmente, o filme ganhou um novo sentido depois que a "Proposition 8" foi passada na Califórnia no final do ano passado (a lei que voltou a proibir o casamento gay). É como se as conquistas de Harvey Milk tivessem se tornado um pouco menos relevantes de uma hora pra outra. É irônico que um filme que fala justamente sobre o poder da persuasão tenha perdido essa oportunidade tão óbvia - muitos acreditam que se o filme tivesse saído apenas alguns meses antes nos EUA, a lei não teria sido aprovada. É possível... Agora só podemos torcer pra situação sensibilizar os votantes da Academia e favorecer o filme no Oscar - o que valeria também como pedido de desculpas a "Brokeback Mountain", rs.
Indicado a 8 Oscars: Melhor Filme, Diretor, Ator (Sean Penn), Ator Coadjuvante (Josh Brolin), Roteiro Original, Trilha Sonora, Edição, Figurino.
Milk (EUA, 2008, Gus Van Sant)
INDICADO PARA: Quem gostou de "Erin Brockovich", "Fahrenheit 11/9", "A Mulher Faz o Homem", etc.
NOTA: 8.5
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Sim Senhor
Eu ODEIO esse tipo de filme que se apresenta como comédia, mas que no fundo é um melodraminha tímido vendendo idéias convencionais. O filme conta a história de um homem que atende a uma palestra de auto-ajuda e depois passa a dizer "sim" a todas as propostas que recebe. Antes de ver o filme, eu imaginava que haveria uma razão muito importante pra ele só poder dizer "sim". Algo como em "O Mentiroso", onde Jim Carrey perde a habilidade de mentir por causa de um desejo de aniversário de seu filho. É uma fantasia, mas é uma idéia clara e absoluta. Aqui, ele simplesmente sai alterado da palestra e começa a dizer sim pras coisas mais absurdas (como dar todo o seu dinheiro a um mendigo, só porque ele pediu!). O personagem pode sair dessa situação a qualquer momento, simplesmente não tem graça! E as situações pelas quais ele passa são tão bobinhas, sem ousadias (exceto uma envolvendo a Fionnula Flanagan, mas que também não é original). Enfim, simplesmente não consigo rir de um filme cuja mensagem é "embora você deva estar mais aberto às oportunidades, dizer sim à tudo pode te criar problemas". Profundo...
Yes Man (EUA, 2008, Peyton Reed)
INDICADO PARA: Quem riu muito em "A Volta do Todo Poderoso", "Click".
NOTA: 4.0
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Foi Apenas um Sonho
Quarto filme de Sam Mendes ("Beleza Americana", "Estrada para Perdição" e "Soldado Anônimo"), estrelando sua esposa Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. Como todo filme de Mendes, o filme é um primor em todos os sentidos, e diferente do que falei sobre "Benjamin Button", suas várias qualidades individuais (como edição, trilha sonora) trabalham junto com a história e engrandecem a experiência como um todo. Talvez o maior mérito do filme seja as performances. Leonardo DiCaprio pela primeira vez me conquistou como ator, e Kate Winslet está monumental - eu chorava só de vê-la na tela. Uma grande atriz (e isso vale pra cantores, bailarinos, escritores, modelos...) deixa a gente tão seguro em relação a sua performance que, mesmo que ela se arrisque, vá até seus limites, a gente não fica com medo dela se sair mal. Mesmo que ela tropece ou engasgue, ela ainda está dentro do papel. Atrizes mais limitadas (como Angelina Jolie em "A Troca") deixam a gente desconfortável, consciente da interpretação.
Algumas pessoas que leram o livro criticaram o filme, dizendo que o material não funciona tão bem pro cinema, e que algumas coisas foram deixadas de fora. Eu achei tudo muito coeso e envolvente. Se senti falta de alguma coisa, foi talvez de uma análise um pouco mais abrangente da situação. Será que a sociedade era de fato a vilã? Será que simplesmente eles não eram feitos um pro outro, e num outro casamento a April estaria mais disposta a aceitar uma vida normal? Duvidinhas assim que me impediram de sair do filme dizendo "Esta é a mais brilhante análise de um casamento que eu já vi". Mas acho que isso não compromete, pois essas questões também fazem parte da complexidade das relações, que é justamente o tema do filme. Uma história mais mastigada e fácil de digerir provavelmente teria sido menos memorável.
Indicado a 3 Oscars: Melhor Ator Coadjuvante (Michael Shannon), Figurino, Direção de Arte.
Revolutionary Road (EUA/RU, 2008, Sam Mendes)
INDICADO PARA: Público adulto, fãs de dramas sensíveis. Quem gostou de "Pecados Íntimos", "Longe do Paraíso", "Gata em Teto de Zinco Quente", "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", etc.
NOTA: 8.5