sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quem Quer Ser um Milionário?

Pra mim o filme foi uma experiência decepcionante em muitos aspectos. Durante a sessão, fiquei o tempo todo tentando ser condescendente e aproveitar a história pela sua simplicidade. Afinal, o filme já é um dos mais premiados de todos os tempos e o grande favorito ao Oscar. Eu sempre adorei ver o Oscar, mas nesses últimos anos eu raramente concordei com o resultado. Pelo contrário, fiquei meio revoltado com as vitórias de “Crash” e “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Então eu queria de verdade que esse filme servisse como uma espécie de reconciliação com a Academia. Bem, não aconteceu. Eu simplesmente acho que o filme não é bom o bastante. Já entrei com certo receio pois desconfio um pouco de Danny Boyle. Pra mim seu melhor filme é “Extermínio”, um terror sobre zumbis em Londres. Em “Cova Rasa”, “Caiu do Céu” e “Sunshine – Alerta Solar” por exemplo, acho que ele demonstra uma considerável falta de maturidade, sensibilidade e bom gosto como artista (parece sempre mais preocupado com o estilo visual do que com qualquer outra coisa). É interessante como o fato de você conhecer ou não o autor pode influenciar sua opinião. Imagine que você conheça uma pessoa, e fique encantado com sua personalidade e senso de humor, mas logo depois a veja com um outro grupo de pessoas, repetindo os mesmos trejeitos e as mesmas piadas. Ela se torna automaticamente detestável, não se torna? Com um diretor acho que é igual. A edição rápida e as afetações de câmera deste filme podem parecer originais e modernas pra algumas pessoas, mas eu me lembrava inevitavelmente de “Caiu do Céu”, onde ele fazia a mesma coisa ainda mais fora de contexto. São pequenas pistas que somadas vão me dizendo que Danny Boyle é esse diretor cult, que se diverte fazendo cortes rápidos e enquadramentos tortos, mas que não tem tanta visão pra tratar das questões mais profundas da história.

Pegue a estrutura em flashback. As pessoas ficam admiradas com a originalidade de contar a história da vida dele pra explicar como ele sabia as perguntas do programa. É uma sinopse interessante pra se ler no jornal, mas ninguém percebe que isso mata completamente o suspense do filme. Todas as cenas do programa (exceto a última que é “surpresa”) se tornam redundantes, mas ainda assim são tratadas pelo diretor como se fossem pequenos clímax (o garoto sempre faz a mesma cara de admiração quando acerta; fica parado, com a boca aberta, espantado com a própria sorte – essa mesma cara ele usa pra demonstrar sua paixão pela mocinha do filme). Isso tudo são técnicas pra manipular a platéia – o que eu não tenho nada contra, exceto quando é mal feito. O filme quer que a gente simpatize pelos personagens. Como ele faz isso? Através de diálogos e desenvolvimento de personagem? Não, ele pega as criancinhas mais meigas da Índia e chama os bandidos pra arrancarem seus olhos. Ele quer criar um momento emocionante no reencontro do casal no final do filme. Como ele faz? Ocultando os sentimentos da garota, por exemplo, pra criar uma curiosidade na platéia até o final da história? Não, ele chama os bandidos de novo, que raptam a menina e rasgam sua cara com um canivete. O filme inteiro é explicito, na cara, grosseiro como uma novela da Globo. Não exige qualquer investimento ou inteligência da platéia. Se fosse uma aventura escapista sem pretensões, não me incomodaria nem um pouco (afinal, pra mim “Indiana Jones 4” foi um dos melhores de 2008). Mas se você quer que eu assista uma mãe ser assassinada na frente do filho, ou um garoto inocente ser eletrocutado apenas por ter acertado algumas perguntas na TV, então eu preciso de algumas justificativas.
Tenho várias coisas pra reclamar, como a fotografia que na maior parte é feia e óbvia, apenas bastante saturada e contrastada, algo que se faz na pós produção sem grande esforço (acho que as pessoas gostam do conteúdo da imagem e confundem isso com fotografia; olham aquelas indianas lavando roupa no rio e pensam “que fotografia bela”). Achei a vitória do menino fraca e pouco emocionante, afinal não havia nada em risco – a única coisa que ele queria era encontrar a menina, e ele já tinha feito isso. O dinheiro era secundário (há uma seqüência no filme “Terra dos Sonhos” onde um pai compete num parque de diversões pra ganhar um boneco pra filha que é 10 vezes mais eficiente que esse filme inteiro).

Ou seja, o filme é questionável em vários aspectos, mas ele atinge as pessoas com uma mensagem otimista, dizendo que se você for puro e honesto, mesmo que apanhe da vida no final será recompensado. Os fracos vencem. Acho isso tão duvidoso, ainda mais quando essa “vitória” está tão baseada em dinheiro e na sorte do menino ter pego as perguntas fáceis. Não foi cultura que o salvou, não foi educação. E os outros milhões de miseráveis na Índia que também são puros e honestos mas não tem a mesma sorte? Que mensagem eles poderiam tirar desse filme?

Slumdog Millionaire (RU, 2008, Danny Boyle)

NOTA: 6.5

Nenhum comentário:

Postar um comentário