Após um começo promissor que me deixou preparado pra uma experiência emocional intensa (logo de cara já surgem sensações de abandono, fim da infância, despedida), fui me desencantando pouco a pouco com o filme e sua visão perversa do mundo e das pessoas. Esteticamente o filme é impecável (dá pra dizer que a Pixar é o melhor "cineasta" dessa geração), mas algo mudou no espírito da série nesse terceiro episódio. Esses últimos filmes da Pixar me fazem sempre lembrar de E.T. - O Extraterrestre, talvez pela combinação exótica de fantasia infantil com emoções complexas da vida adulta. Mas quando eu me lembro de E.T., eu lembro de bicicletas voadoras, de dedos mágicos que curam, de florestas misteriosas... Mesmo com o final trágico, a tristeza que se sente quando E.T. vai embora só existe como uma resposta proporcional à alegria que ele (a criatura e, ao mesmo tempo, o filme) nos proporcionou. Este Toy Story, por outro lado, só quer saber do lado negativo da aventura. Ele pertence à categoria de filmes como Alice no País das Maravilhas (de Tim Burton) e Coraline. A história mostra brinquedos velhos e abandonados cujo único sonho é que seu dono, já adolescente, volte a brincar com eles (num filme saudável, os brinquedos conseguiriam isto e muito mais até o final da projeção). Eles estão prestes a serem entulhados no sótão de casa quando acidentalmente são enviados para uma creche, de onde tentarão escapar o filme todo, trombando com torturadores e personagens dos mais corruptos possíveis, rezando para voltarem inteiros para o sótão onde poderão viver em paz no esquecimento - uma opção que a essa altura já soa como um presente divino.
No clímax do filme, os personagens se preparam para serem incinerados vivos, dando as mãos em silêncio, aceitando a morte certa que está por vir. Para respeitar uma cena como essa (e talvez até se comover), o espectador precisa compartilhar da idéia do filme de que o universo é um lugar maligno, que o ser humano é uma criatura impotente, condenada ao sofrimento, guiadas por forças que estão além de seu controle (a maioria das pessoas acredita nisso). Mesmo que achem a cena pesada e um pouco inapropriada, essas pessoas irão achá-la "profunda" de alguma forma, apoiadas pela sensação geral de que "a vida é assim", e provavelmente nem ousarão questionar a ausência de divertimento, de entusiasmo e alegria ao longo do filme, também sob esse mesmo pretexto. Essa visão passiva do homem fica evidente no próprio conceito de que os brinquedos ESCOLHEM se fingir de mortos diante dos humanos; eles não são obrigados - não é uma lei absoluta e inquebrável, mas vontade própria - uma regra, estabelecida por ninguém, que eles seguem sem questionar, mesmo quando estão à beira da morte! Essa premissa de Toy Story (que os brinquedos "fingem" serem brinquedos) funciona perfeitamente nos 2 primeiros filmes que são leves e positivos, mas agora, nesse mundo cruel, com eles sendo cremados vivos, tudo perde o sentido. Pra mim, foi uma experiência um pouco frustrante e insatisfatória, interessante mais pelos erros do que pelos acertos.
No clímax do filme, os personagens se preparam para serem incinerados vivos, dando as mãos em silêncio, aceitando a morte certa que está por vir. Para respeitar uma cena como essa (e talvez até se comover), o espectador precisa compartilhar da idéia do filme de que o universo é um lugar maligno, que o ser humano é uma criatura impotente, condenada ao sofrimento, guiadas por forças que estão além de seu controle (a maioria das pessoas acredita nisso). Mesmo que achem a cena pesada e um pouco inapropriada, essas pessoas irão achá-la "profunda" de alguma forma, apoiadas pela sensação geral de que "a vida é assim", e provavelmente nem ousarão questionar a ausência de divertimento, de entusiasmo e alegria ao longo do filme, também sob esse mesmo pretexto. Essa visão passiva do homem fica evidente no próprio conceito de que os brinquedos ESCOLHEM se fingir de mortos diante dos humanos; eles não são obrigados - não é uma lei absoluta e inquebrável, mas vontade própria - uma regra, estabelecida por ninguém, que eles seguem sem questionar, mesmo quando estão à beira da morte! Essa premissa de Toy Story (que os brinquedos "fingem" serem brinquedos) funciona perfeitamente nos 2 primeiros filmes que são leves e positivos, mas agora, nesse mundo cruel, com eles sendo cremados vivos, tudo perde o sentido. Pra mim, foi uma experiência um pouco frustrante e insatisfatória, interessante mais pelos erros do que pelos acertos.
Toy Story 3 (EUA, 2010, Lee Unkrich)
NOTA: 6.5
Bem Caio, é a primeira vez que entro em seu blog(por engano), mas gostei porque adoro filmes e me senti atraida pelo seu comentário... mas... gostaria me expressar dizendo que acabei de voltar do cinema com meus dois filhos (4 e 7 anos) e ADORAMOS Toy Story3. Assisto muuuuitos filmes, assim como leio muitos livros. Assim como fui ver o 1 e o 2, não espera nada diferente do 3 e ao contrário, me espantei com a riqueza de detalhes, imagem e criatividade. Discordo de voce quando diz que o filme é negativista, ao contrário, acho que é um filme realista até demais principalmente pelos olhos de um adulto tentando passar uma boa historia para uma criança. Acho tb fantástica a idéia dos brinquedos se trocarem a inércia por "vida" por tras dos olhos dos seres vivos, pois foi isso que sempre sonhei que os brinquedos faziam e acho que é isso que toda criança cheia de criatividade tb sonha ou pensa. Quem nunca deu vida a uma boneca? Ou a um carrinho? Quem nunca desabafou com um ursinho? ou chorou suas lagrimas aos pés de seu brinquedo predileto, eperando um consolo? ORA, acho que a historia é muito bem retratada sim e não seria melhor se e nem o sucesso que é se fosse de outra maneira. Vc ja teve infância? Lembre-se dela e seja mais positivo e menos amargo. Acho que vc pode sim extrair muito de qualquer tipo de filme. Basta sentir o que o autor quer passar para vc. Abraços
ResponderExcluirIMC
Olá IMC, em primeiro lugar, bem vindo(a) ao blog e saiba que opiniões opostas são sempre bem vindas e que eu sempre adoro discutir, hehe. Concordo que o filme seja muito criativo e rico em detalhes - porém isso em si não é uma qualidade necessariamente; se você usar criatividade e riqueza de detalhes, por exemplo, pra celebrar o Holocausto, isso se tornará um defeito. Ou seja, o que estamos questionando no fundo é se a mensagem por trás do filme é positiva ou negativa. Eu considero negativa, pois o que enxerguei ali foi a projeção de um mundo maligno, sem esperança, onde pessoas inocentes vivem sob constante terror, ameaçadas pelo medo do abandono, da violência, do vazio e do acaso - e onde elas aceitam isso tudo de cabeça baixa e não conseguem dar a volta por cima. Meu desenho favorito quando criança (sim, eu já fui uma) era Dumbo; eu tinha até um Dumbinho de pelúcia pendurado no teto por uma mola, que quando puxada fazia ele voar por todo o quarto (minha mãe conta que eu era tão fascinado pelo desenho que eu puxava minhas próprias orelhas de tempos em tempos pra ver se elas cresciam!). Agora, depois de grande, eu entendo o que me atraía tanto naquela história - a idéia de que Dumbo podia usar suas orelhas enormes (justamente o seu "defeito", aquilo que faz dele diferente, esquisito) pra transformá-las em sua maior virtude - asas! É tão simples, bonito e universal que até hoje é capaz de eu me emocionar na cena final. Já em Toy Story 3, não consigo ver nada que chegue nem perto de algo tão inspirador. Nada que, quando criança, fosse me fazer pendurar o Buzz Lightyear no teto do quarto. Quanto ao lance dos bonecos só agirem quando os humanos não estão por perto, é uma idéia inocente e divertida, claro, que funciona bem num mundo inocente, divertido e sem problemas - deixa de ser plausível e de ter graça quando os brinquedos estão sofrendo tortura física, psicológica, e indo direto pra fornalha. Fiquei um pouco impressionado com algo que você escreveu, perguntando quem nunca tinha desabafado com um ursinho, ou chorado lágrimas aos pés de seu brinquedo favorito. Eu! NUNCA!! Eu estava ocupado demais me divertindo, pensando em coisas fantásticas... As lágrimas e os dias tristes existiam, claro, mas eram coisas raras (aliás ainda são). Esses momentos são (ou deviam ser) apenas um desvio do nosso estado natural de felicidade - não um meio de vida, algo belo, pra ser aceito passivamente, muito menos algo pra ser alimentado, celebrado - da mesma forma que uma gripe é um desvio do nosso estado natural de saúde, e não merece mais atenção do que isso. Hoje, vejo que os filmes estão quase todos "gripados"... E se pareço amargo, é justamente porque LEMBRO bem do quão maravilhosa foi minha infância, que aliás sinto que nunca acabou... A diferença é que os 'toys' não estão tão divertidos quanto os de antes, hehe. Abraços!
ResponderExcluir...Eu nao acho que a imagem passada foi de um mundo maligno, cheio de medo, abandono e violência. Estamos em 2010 e meus filhos nao chegam nada perto das crianças de 40 anos atras (tenho 44), alias, já há diferença nas crianças de 20 anos atras onde as brincadeiras eram outras e a inocência pairava. Tento enraizar em meus filhos coisas mais uteis que video game, shopping, coca-cola etc, mas confesso que é difícil. Mesmo assim ainda consigo fazer milagres, eles nao veem canal aberto, somente dvd e cartoo ou desenhos como pica-pau e popaye, mas mesmo assim eles chegam em casa falando do tal Ben 10 que eu nem sei quem é. Bem, vamos lá. Voltando a nossa realidade e nosso ao assunto, acho que "interessante e inspirador" esse mundo de fantasia onde há sim perigo, medo, "terror?" (nem tanto), mas também há a certeza que o bem vencerá, que os perigos serão transpassados e tudo dará certo no final, sabendo-se sempre que o vilão será punido. Não deixa de ser um consolo pra nós adultos e uma diversão garantida para as crianças. Eles já sabem que o mundo não é somente flores. Meu filho de 4 anos já tem essa percepção, mesmo sendo inocente. O que a gente vê hj nos jornais já esta estampado e alardeado nos jornais, revistas, salas de aula e em todos os meios... basta ouvir, ver ou ler e uma criança de 9 anos já o sabe. Não quero esconder a violencia do mundo e passar a imagem de flores para meus filhos, quero sim mostrar a eles que apesar dos perigos, das pessoas más, rancorosas, de todos os males, há sim outro lado e há tb os pqs. Tudo pode ser melhor se as pessoas se ajudarem, se amarem, se apoiarem. Isso é mostrado no filme. A união e o carinho de um é enaltecido e valorizado pelo grupo no final. E nao é assim que tem que ser? Não é assim em nossas novelas maravilhosas? Não é assim em nossa vida? Pois é. Acho que o filme só ilustrou um pouquinho as coisas. Bem Caio, nao quero tornar isso uma coisa chata, só quis mesmo era expressar minha opinião e me mostrar fã da série. Vc tem razão em muitas coisas tb. E não fique preocupado, esse negocio de desabafar com o ursinho é coisa de mulher mesmo. Até hj faço isso, só que hj é com o espelho. kkkk. Abraços e... meu nome é Iracema.
ResponderExcluirOlá Iracema! Pois é, essa discussão não tem fim, pois ela toca em questões muito fundamentais... Qual a função da arte? Mostrar o mundo como ele é? Mostrar o mundo como ele poderia e deveria ser? O que buscamos na arte e nos filmes? Inspiração, combustível pros nossos sonhos? Um reconhecimento das nossas limitações? São perguntas muito grandes e abstratas... Recomendo o livro da filósofa Ayn Rand "The Romantic Manifesto" (só tem em inglês) caso se interesse pelo tema. De qualquer forma, o respeito pelo outro vem antes de qualquer divergência dessa natureza, então agradeço pela sua educação e paciência - se todos soubessem discordar com essa diplomacia o mundo seria um lugar bem mais calmo, rss. Abraços!
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