segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Mágico


Animação francesa indicada ao Oscar, do mesmo diretor de As Bicicletas de Belleville. O roteiro quem escreveu foi Jacques Tati, o famoso diretor/ator/roteirista/mímico francês que, pra quem não conhece, é mais lembrado pelo personagem do Sr. Hulot - um senhor polido e atrapalhado que parece uma mistura de Chaplin com Mr. Bean (quase nunca falava), mas muito único e excêntrico - eu pessoalmente não acho graça no humor dele, mas reconheço a originalidade e a criatividade dos filmes.

Tati escreveu mas nunca conseguiu produzir o filme em vida, que conta a história de um ilusionista que pertence a uma classe decadente de artistas de palco, que nos anos 60 perdiam espaço pra bandas de rock e um tipo de entretenimento mais histérico. Ou seja, há todo um tom melancólico de nostalgia misturado com crítica social. No meio disso tudo há uma história de amor, mas também meio amarga pois não se sabe direito a natureza da atração dos dois e além disso a mocinha é extremamente interesseira.

Não há muito o que destacar aqui em termos de história. Acho que o melhor do filme é mesmo a qualidade da animação, que torna cada imagem interessante de se ver. Mas o tom pessimista é constante o filme todo: os personagens são todos caricatos e o desenhista parece zombar da raça humana ao exagerar certos traços e gestos, tornando todo mundo meio patético. Se você tem dinheiro, você é um explorador sem alma. Se você está apaixonado, você tem segundas intenções. Se você está num palco cantando rock, você é um demente efeminado. Se você quer comprar uma roupa bonita, você é fútil. Tudo isso é transmitido através da animação, o que não deixa de ser um grande mérito (há tão poucos diálogos que nem se incomodaram em legendar o filme).

Mas acho que eu teria gostado mais da história original de Tati. Acontece que o roteiro foi todo alterado pelo cineasta Sylvain Chomet, causando um sério desentendimento com a família Tatischeff (o neto de Jacques Tati chegou a escrever uma e-mail para o crítico Roger Ebert, explicando o motivo da revolta - leia o e-mail aqui). O roteiro original era muito pessoal, e foi escrito como um pedido de desculpas de Tati à filha que ele abandonou. Na história, o ilusionista fazia amizade com uma jovem fã de uma cidade do interior, que achava que ele era de fato um mágico. Eventualmente, eles vão juntos pra cidade grande e ele acaba sustentando a mentira, com medo de perder a garota pros encantos da cidade, uma vez que seus truques tenham sido revelados. O próprio Tati dizia que o Sr. Hulot era apenas um personagem que tinha criado, mas que na vida real ele era extremamente diferente. Ou seja, esse sentimento de farsa estava no centro da relação de Tati com a filha, que formou a imagem do pai através dos filmes que via quando criança.

O Mágico
L'Illusionniste (ING/FRA, 2010, Sylvain Chomet)

Orçamento: US$ 17 milhões
Bilheteria atual: US$ 3 milhões
Nota do público (IMDb): 7.8
Nota da crítica (Metacritic): 8.4
Assista o trailer

INDICAÇÃO: Quem gostou de As Bicicletas de Belleville, filmes do Hayao Miyazaki como Ponyo, O Castelo Animado, etc.

NOTA: 6.0

6 comentários:

  1. A gente nunca concorda! rssss

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  2. BRAUN! Haha.. Discordamos em política, música.. Por que seria diferente aqui?? Hahaha.

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  3. Se é o mesmo diretor dó ótimo "As Bicicletas de Belleville", irei assistir. Sou fã de animação e Belleville me encantou.

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  4. A animação é o que faz valer o filme Renato..! Muito interessante.

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  5. E é triste que dói, né.
    Eu gostei.

    Vamos marcar de ver Cisne negro no fds?

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