Teria sido o fim da civilização se um filme com o nome de Capitão América tivesse aderido à tendencia atual de transformar os heróis em losers, depressivos, cínicos, etc. Mas felizmente este filme é uma rara exceção e serve como uma boa resposta a todas as discussões recentes aqui no blog envolvendo essa questão dos heróis.
Um dos argumentos contra a minha teoria do herói envergonhado era que um personagem precisava ter falhas, pois ninguém da plateia se identificaria com um ser perfeito. Concordo em partes. Veja o Capitão América - ele não está livre de falhas. No começo, ele mostra várias, só que não são exatamente "falhas" e sim desvantagens. Desvantagens físicas, que estão além do controle do personagem. Não são falhas de caráter. Ele era magrelo, baixinho, doente - mas não era desonesto, não era injusto, não era hipócrita. Nesse contexto, até gosto quando o herói tem "falhas".
Eventualmente ele ganha um corpo digno de um herói, que vem literalmente como uma recompensa pelo seu caráter (e é isso que faz dele um herói). Suas qualidades são reveladas pouco a pouco, através de ações, em cenas específicas, ao contrário de filmes que tentam pular essa parte e jogam tudo na imaginação da plateia; basta lembrar da cena do mastro da bandeira, da cena da granada, da resposta que ele dá quando lhe perguntam se quer "matar nazistas", etc. O nível médio de inteligência aqui está alguns pontos acima do blockbuster habitual de verão.
Chris Evans foi uma ótima escolha pro papel; aliás, um dos melhores efeitos especiais que eu já vi foi na primeira parte deste filme, quando Evans aparece numa versão "subnutrida" de si próprio, algo que teria sido impossível de fazer alguns anos atrás. Uma união perfeita de técnica e conteúdo (há algo de brilhante na ideia do corpo perfeito do herói ser o corpo real do ator, e dos efeitos terem sido necessários pra mostrar o contrário; como ele seria se fosse "normal"!).
Achei o filme realmente acima da média; bem escrito, bem dirigido (por Joe Johnston, de Querida, Encolhi as Crianças e Jumanji); tudo aquilo que se espera de uma superprodução de estúdio (ou seja, que não chega ainda a ser um trabalho autoral, com ideias mais elaboradas, etc).
Não percam e não saiam da sala antes do fim dos créditos; o que aparece depois vai muito além de uma cena extra...!
Captain America: The First Avenger (EUA / 2011 / 124 min / Joe Johnston)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Thor, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, Superman (1978), etc.
NOTA: 8.0