terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto


Drama psicológico sobre um garotinho extremamente inteligente e precoce (e ao mesmo tempo obsessivo, neurótico, que aparentemente sofre de uma tal de Síndrome de Asperger) que perde o pai (Tom Hanks) nos ataques de 11 de Setembro. O pai era um ídolo pro menino e vivia criando charadas e enigmas pra ele decifrar.

Depois que ele morre, o menino (Thomas Horn, numa das performances infantis mais marcantes que eu já vi) encontra uma chave misteriosa no quarto do pai e passa o resto do filme numa aventura pela cidade pra encontrar a fechadura que ela abre, acreditando que se trata de mais uma charada (o interessante é que ele tem plena consciência de que está fazendo isso pra adiar a sensação da perda, embora acredite de fato que a chave revelará algo importante). A premissa lembra muito a primeira parte de A Invenção de Hugo Cabret, só que levada adiante e desenvolvida num filme inteiro.

É um drama intenso, pesado, com um texto extremamente elaborado, literário, uma direção estilizada, fora do padrão, e até por isso irá dividir a plateia, assim como dividiu a crítica. Eu achei um dos melhores do ano. Adoro a honestidade e a maneira direta do garoto (e do filme) lidar com questões tão adultas, e também o fato dele ser uma pessoa forte e estar lutando pra superar seus problemas - não é um filme sobre alguém apenas sofrendo e sentindo pena de si mesmo.

A maioria dos filmes sobre perda são parados e parecem mais uma contemplação da dor. Este não é assim - introduzindo o elemento da chave e da busca pela fechadura, o filme consegue transformar a questão emocional numa ação concreta, cinematográfica ("filmável"), que se desenvolve num enredo estruturado e satisfatório. O elenco está excelente e é outro ponto forte do filme (além do garoto e Hanks, há também Sandra Bullock e Max Von Sydow, indicado ao Oscar).

Extremely Loud & Incredibly Close (EUA / 2011 / 129 min / Stephen Daldry)

INDICAÇÃO: Difícil comparar com qualquer coisa... Pra quem gosta de dramas familiares adultos como Foi Apenas um Sonho, ou então "provocadores de lágrimas" do tipo Uma Prova de Amor, Lado a Lado, etc.

NOTA: 8.5

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Previsões do Oscar 2012


Essas são as previsões para o Oscar 2012 nas categorias principais, de acordo com os experts do AwardsDaily.com:

Filme: O Artista
pra quem eu daria: Cavalo de Guerra (em segundo lugar pra Meia-Noite em Paris; esses são meus 2 filmes favoritos do ano - dos que vi, claro)

Diretor: Michel Hazanavicius (O Artista)
pra quem eu daria: Spielberg (que não está indicado - entre os indicados fico com Woody Allen)

Atriz: Viola Davis (Histórias Cruzadas)
pra quem eu daria: Meryl Streep (ainda não vi Albert Nobbs nem My Week with Marilyn - essa categoria é a maior polêmica da noite; se Viola de fato ganhar será um verdadeiro choque, pois apesar dela estar muito bem, seu personagem é bem menor que o de Meryl, que além de estar brilhante já foi esnobada demais pela Academia)

Ator: Jean Dujardin (O Artista)
pra quem eu daria: sem grandes favoritos aqui; Dujardin faz uma imitação excelente mas, como o personagem é superficial, a performance não tem grande impacto (teria pelo menos indicado o garotinho de Tão Forte e Tão Perto que é impressionante)

Atriz Coadjuvante: Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
pra quem eu daria: também sem grandes favoritas (ainda não vi Albert Nobbs)

Ator Coadjuvante: Christopher Plummer (Beginners)
pra quem eu daria: gosto do Plummer mas o filme ainda não estreou; por enquanto prefiro o Max Von Sydow (Warrior e Marilyn também não estão estrearam, então não tenho muito o que palpitar aqui).

Roteiro Original: Meia-Noite em Paris
pra quem eu daria: Meia-Noite em Paris (teria lembrado de Melancolia aqui)

Roteiro Adaptado: Os Descendentes
pra quem eu daria: entre os finalistas, ficaria com O Homem que Mudou o Jogo, mas ainda prefiro Cavalo de Guerra, Tão Forte e Tão Perto, Histórias Cruzadas e até A Pele que Habito, que não foram indicados.

Edição: O Artista
pra quem eu daria: Cavalo de Guerra, que não foi indicado (dos indicados pode ser Hugo, mas O Artista é muito bom nesse ponto).

Fotografia: A Árvore da Vida
pra quem eu daria: Cavalo de Guerra (ou Hugo; A Árvore da Vida tem imagens e paisagens maravilhosas, mas prefiro fotografias que além de serem bonitas servem a uma boa narrativa)

Direção de Arte: A Invenção de Hugo Cabret
pra quem eu daria: A Invenção de Hugo Cabret

Figurino: O Artista
pra quem eu daria: muitos dos indicados não chegaram ainda; poderia ser O Artista mesmo ou Hugo - sem grandes preferências

Animação: Rango
pra quem eu daria: Tintim (que eu não gosto muito, mas o ano foi fraco de animações - essa categoria é o maior mico do ano, afinal Tintim ganhou tanto o Globo de Ouro quanto o prêmio do sindicado dos Produtores e nem foi indicado ao Oscar, levantando dúvidas quanto à seriedade da Academia)

Trilha Sonora: O Artista
pra quem eu daria: Cavalo de Guerra (claro que a música num filme mudo tem um papel central, mas é difícil superar John Williams ainda mais trabalhando com Spielberg - além disso me incomoda que O Artista use o tema de Um Corpo que Cai assim tão descaradamente, sem nenhuma justificativa muito boa; o que tem a ver um filme com o outro?)

Mixagem de Som / Edição de Som: Hugo
pra quem eu daria: Hugo está de bom tamanho; ou Cavalo de Guerra, ou Millennium.

Filme Estrangeiro: A Separação
pra quem eu daria: só vi A Separação e gostei (teria indicado A Pele que Habito aqui e quem sabe até o Tropa de Elite 2)

Documentário: Undefeated
pra quem eu daria: não vi nenhum ainda, mas teria indicado o documentário do Justin Bieber (Justin Bieber: Never Say Never) que foi um sucesso e é bem melhor do que você deve imaginar

Maquiagem: A Dama de Ferro
pra quem eu daria: A Dama de Ferro

Canção: Os Muppets - O Filme
pra quem eu daria: acho que pra nenhuma das 2 indicadas; essa categoria costuma ser uma das mais esquisitas do Oscar, com as escolhas mais arbitrárias

Efeitos Especiais: Planeta dos Macacos: A Origem
pra quem eu daria: Planeta dos Macacos: A Origem (ou Hugo)

É isso aí. Como meus filmes favoritos não devem ganhar muita coisa, vou pelo menos torcer pra Meryl que tem chances (e sem dar importância demais pra opinião da Academia, claro!). Boa festa pra vocês =)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Homem que Mudou o Jogo


História verídica de Billy Beane, gerente geral do time de baseball Oakland A, que após uma grande derrota perdeu seus melhores jogadores, teve o orçamento cortado, e pra conseguir montar o melhor time possível acabou revolucionando toda a filosofia do esporte, usando fórmulas matemáticas criadas por um estudante de economia.

O filme às vezes parece uma história motivacional "formulaica" e previsível, mas por outro lado, aborda o esporte de um ângulo totalmente interessante, original, e tem momentos de inteligência e profundidade acima da média.

Eu não me interesso por esportes e o filme me deixou curioso do começo ao fim; porque não é um filme sobre uma disputa física, e sim sobre invenções, descobertas, e sobre auto-confiança e persistência - um homem independente com um conceito inovador tendo que lutar contra a descrença de todos ao seu redor. Mais a fundo, é um conflito entre razão, ciência, o poder das ideias, versus pragmatismo, subjetivismo - e mostra aonde se pode chegar quando você vive pela realidade e não dá bola pra tradição ou pro que os outros pensam.

A única coisa estranha do roteiro é que o clímax acontece cedo demais. Afinal, a partir do momento em que sabemos que o método do Brad Pitt funciona, o resto do filme é apenas uma série de acontecimentos esperados - o fato deles ganharem ou perderem a final do campeonato não é tão relevante pro tema central da história - a verdadeira vitória já aconteceu.

Ainda assim gostei bastante do filme, que está indicado a 6 Oscars incluindo Melhor Filme, Roteiro, Ator Coadjuvante pra Jonah Hill e Ator pra Brad Pitt.

Moneyball (EUA / 2011 / 133 min / Bennett Miller)

INDICAÇÃO: Quem gostou de A Rede Social, Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme, À Procura da Felicidade, Erin Brockovich.

NOTA: 7.5

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Cada Um Tem a Gêmea que Merece


Um desses filmes onde algo de fora (um parente, uma babá, um animal) chega pra virar a rotina da família de cabeça pra baixo. Aqui, Jack (Adam Sandler) recebe a visita da irmã gêmea Jill que ele odeia, que é completamente desastrada, sem modos, ignorante, mas que no fim as crianças adoram e acaba trazendo uma espécie de alegria pra casa.

Filmes do Adam Sandler são geralmente irregulares, cheios de piadas de mau gosto e outras simplesmente fracas, mas no geral valem a pena por causa de alguns bons momentos que compensam as piadas constrangedoras. Não é o caso desse filme.

Pra mim o principal problema aqui é que Jill é muito mais desagradável do que agradável - ela chega e atrapalha a vida do irmão que estava perfeitamente bem antes (se ela tivesse entrando numa casa extremamente regrada, tradicional, ou esnobe, o filme teria um outro sentido, pois o alvo do humor seriam essas convenções chatas e ela estaria transformando a família pra melhor).

Além disso, não se trata de uma comédia de disfarce do tipo As Branquelas, onde a graça vem da reação das pessoas ao verem patricinhas agindo como trogloditas. Jill, apesar de interpretada por Sandler, não é um homem disfarçado de mulher na história - ela é de fato uma mulher sem educação, portanto quando ela se comporta de maneira grosseira, o significado da piada é completamente diferente.

Há momentos divertidos de Jill, mas o foco principal é no negativo - em Jill constrangendo o irmão com sua falta de educação (num filme como As Branquelas, por exemplo, o foco é no positivo - nas falsas patricinhas fazendo coisas surpreendentes e se tornando muito mais verdadeiras e divertidas que as originais).

Enfim, a intenção parecia boa, mas Sandler dá tiro pra todo lado fazendo todo tipo de palhaçada sem parecer se importar com o alvo das piadas.

Jack and Jill (EUA / 2011 / 91 min / Dennis Dugan)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Norbit, A Casa das Coelhinhas, Zohan - O Agente Bom de Corte.

NOTA: 4.0

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret


Primeiro filme "família" de Scorsese, sobre um garoto órfão que vive numa grande estação de trem em Paris na década de 30 e cruza o destino de Georges Méliès, que foi um dos nomes mais importantes do cinema mudo e um pioneiro dos efeitos especiais. No filme, Méliès se tornou um velho amargurado que abandonou o cinema e virou dono de uma lojinha de brinquedos na estação - até que surge o garoto pra resgatar suas memórias.

Tecnicamente é um milagre e um dos filmes mais impecáveis já feitos. As imagens são nítidas e perfeitamente enquadradas, os vôos de câmera em 3D são de tirar o fôlego (James Cameron disse que é o melhor uso de 3D que ele já viu), cada canto de cada cenário é rico em detalhes, as superfícies metálicas são brilhantes e polidas, as cores enchem os olhos - o filme todo parece um brinquedo de última geração e às vezes fica difícil de acreditar que não seja uma animação completa do tipo O Expresso Polar.

Já o roteiro não funciona tão perfeitamente. Tudo começa com o mistério do autômato e a busca do menino por uma mensagem do pai - na segunda metade, o filme vai se transformando na história do velho que abandonou os sonhos - no fim, vira a biografia do Georges Méliès e uma aula de história do cinema. Essas partes todas não parecem se encaixar tão bem quanto as diversas engrenagens do filme e a história acaba perdendo a força (as cenas envolvendo o inspetor feito por Sacha Baron Cohen parecem fazer parte de ainda um outro filme).

O garoto (que adora fazer auto-análises e se fazer de coitado) diz no meio do filme que não sabe qual o seu propósito na vida - isso indica por que a própria história também parece não ter propósito. Felizmente, o trecho final do filme funciona muito bem - a homenagem ao cinema mudo (remetendo a O Artista) - que é onde Scorsese brilha e assume o papel de professor/historiador que ele faz tão bem - e onde ele está muito mais à vontade do que no resto do filme, onde tem que sair da sua zona de conforto pra tentar entreter a família, coisa que nunca foi o seu forte.

Hugo (EUA / 2011 / 126 min / Martin Scorsese)

INDICAÇÃO: Quem gostou de As Aventuras de Tintim, Os Fantasmas de Scrooge, Oliver Twist, Desventuras em Série.

NOTA: 7.5

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Viagem 2: A Ilha Misteriosa


Depois do sucesso de Viagem ao Centro da Terra (2008) resolveram fazer essa sequência mesmo sem Brendan Fraser, que foi trocado pelo The Rock dando menos credibilidade ao filme (alguns atores parecem ter a habilidade de deixar qualquer produção com cara de filme de segunda linha, tipo The Rock, Nicolas Cage, etc). Ainda tem a Vanessa Hudgens, que eu acho simpática mas que não ajuda muito aqui nesse sentido. O garoto Josh Hutcherson é o único que permanece (e há uma participação de Michael Caine como o avô "Indiana Jones" do menino).

É um genérico de Jurassic Park, Avatar, só que bem mais bobinho, com uma premissa pouco convincente onde tudo é resolvido de forma muito rápida - em questão de minutos todo mundo já chegou na ilha sem grandes problemas (essa ilha seria o lugar que inspirou clássicos da literatura como As Viagens de Gulliver e A Ilha do Tesouro).

O filme é bem intencionado, agradável, mas infantil demais, sem seriedade. Pra criar fantasia, você precisa do real o tempo todo como referência. A regra pra esse tipo de filme é - quanto mais sério for o tom da produção, quanto mais inteligente e científica for a premissa, quanto mais dramáticos forem os atores, melhor será o resultado.

Journey 2: The Mysterious Island (EUA / 2012 / 94 min / Brad Peyton)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Viagem ao Centro da Terra, A Ilha da Imaginação, Uma Noite no Museu, etc.

NOTA: 5.5

A Dama de Ferro

Tem qualidades e problemas similares a J. Edgar. O lado bom é a escolha do tema; Margaret Thatcher é uma figura extremamente interessante, forte, especial (não conheço a história dela tão bem pra saber se apoio todas as suas ideias, mas seus princípios básicos e políticas econômicas eu certamente admiro), então mesmo com falhas o filme não perde todo o seu interesse. Infelizmente o roteiro é extremamente superficial, Naturalista, sem enredo, que vai saltando de um episódio pra outro na vida de Thatcher sem dramatizar direito nenhum deles, sem tocar em assuntos polêmicos ou se posicionar em relação a nada (como disse Ebert, ninguém é neutro em relação a Thatcher, exceto os autores desse filme!), dando a sensação frustrante de que o filme nunca começa - que tudo não passa de um grande trailer; um videoclipe longo que ilustra vagamente a vida de uma mulher da qual gostaríamos de saber mais.

  Pessoalmente não gosto do tom ambíguo de crítica (que aqui é muito menos justificado que em J. Edgar - a "pior" coisa que ela faz o filme todo é ser dura e exigente, pois queria trazer progresso para o país), além da ênfase desnecessária à velhice, que só serve pra dar à plateia o "gostinho" de ver a Dama de Ferro sendo "vencida" pelo Alzheimer, numa tentativa de torná-la comum, ou mesmo puní-la por sua força. Meryl Streep (que teve sua 17ª indicação ao Oscar, mas que não ganha nada desde 1982) está brilhante - melhor que qualquer outra atriz que vi esse ano - só não é ajudada pelo filme, afinal fica difícil ter uma grande performance se o roteiro é vago e não te dá grandes cenas.

 The Iron Lady (Reino Unido, França / 2011 / 105 min / Phyllida Lloyd)

INDICAÇÃO: Quem gostou de J. Edgar, A Rainha, Coco Antes de Chanel (que são todos bem melhores). 

NOTA: 6.0

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Artista


Produção francesa (filmada nos EUA), muda, preto e branca, no formato de tela original 1.33:1, que reproduz o estilo dos filmes americanos dos anos 20. O filme conta a história de um astro do cinema mudo que se apaixona por uma atriz em ascensão durante a transição para o cinema falado. Enquanto a carreira dela decola, a dele entra em crise pois ele resiste (burramente) à chegada do som e seus filmes fracassam nas bilheterias.

É um dos filmes mais aclamados do ano e está indicado a 10 Oscars. A produção é impecável, a direção é cheia de ideias e soluções inteligentes, há várias referências curiosas à história do cinema, mas pra mim o maior interesse é o próprio estilo - a sacada de reproduzir um filme mudo; algo como Tarantino e Rodriguez fizeram em Grindhouse, só que explorando um outro universo e fazendo uma grande homenagem à Hollywood.

O problema é que assim que você se acostuma com a brincadeira, a história não tem força o bastante pra se sustentar sozinha (a resistência do protagonista ao cinema falado não é um conflito muito dramático ou convincente). Achei um filme brilhantemente filmado, porém sem alma. Os clássicos da época funcionam até hoje porque têm histórias verdadeiras, conflitos universais. Aqui o filme não vai além do papel de homenagem, pois a situação e o romance não são grande coisa. Se Luzes da Cidade de Chaplin fosse refeito com som e cor, a história continuaria igualmente interessante - O Artista, se fosse filmado de maneira convencional, não teria grande interesse pois o foco está mais na técnica - no "como", e não no "que".

Pegue por exemplo a cena marcante da mulher se abraçando com a manga do casaco do homem pendurado. É uma imagem forte, criativa, que expressa de maneira simples e visual a ideia de alguém apaixonado - mas embora a sacada seja boa, não é possível se importar muito ou acreditar na cena, pois as caracterizações e o relacionamento estabelecido até ali são superficiais, até pros padrões de uma comédia romântica - a cena acaba virando mais um exibicionismo do diretor do que um momento tocante, e isso ocorre ao longo do filme todo.

O filme tem vários méritos, mas é o tipo de filme que a plateia assiste distante, sem grande envolvimento, apenas admirando a esperteza do autor. De qualquer forma vale pela originalidade e criatividade.

The Artist (França, Bélgica / 2011 / 100 min / Michel Hazanavicius)

INDICAÇÃO: Interessados em técnica e história do cinema.

NOTA: 7.0

sábado, 4 de fevereiro de 2012

J. Edgar


Bom filme biográfico dirigido por Clint Eastwood sobre J. Edgar Hoover, que foi chefe do FBI durante 5 décadas. O filme mostra a carreira dele de maneira integrada com a vida pessoal, revelando um homem que era independente, ambicioso e ao mesmo tempo cheio de questões mal resolvidas e vulnerabilidades na intimidade.

Mostrar as vulnerabilidades é algo positivo; torna a história mais universal e as conquistas mais interessantes - o que eu não gosto é quando o filme começa a querer diminuir as virtudes dele (atendendo ao gosto dessas pessoas que adoram descobrir podres por trás de celebridades). São 2 coisas diferentes.

Toda a velhice e morte de Edgar são mostradas com um tom de decadência, como se o fato dele morrer representasse uma derrota, o pagamento pelos pecados - uma sugestão cínica de que suas conquistas e ambições não serviram pra nada. Esse tom de crítica é apropriado num filme como Lawrence da Arábia, que é sobre um homem brilhante e que realizou grandes coisas, mas que ao mesmo tempo era altamente perturbado e maluco (e isso é muito bem ilustrado na história).

J. Edgar é apresentado como um homem ambicioso, honesto, idealista e que apenas tinha uma vida íntima mal resolvida - tinha um caso gay enrustido com seu homem de confiança, a mãe era dominadora - mas longe disso torná-lo um homem infeliz ou detestável. Se na vida real Hoover era mau caráter, racista, chantagista, tinha um lado negro, o filme não demonstra isso a ponto de justificar o tom ambíguo (e um filme não pode esperar que o público entre na sala com informações históricas especiais).

O "podre" que o filme mais enfatiza é o fato dele ter inventado que prendeu pessoalmente alguns bandidos famosos da época, tudo pra ganhar popularidade e engrandecer sua imagem. É uma distorção de fato questionável - ele devia querer reconhecimento por seus méritos reais, que eram muito maiores do que ter participado de uma ou outra apreensão - mas o filme querer dar a impressão que ele era um vigarista por conta disso não faz sentido.

Enfim, algumas coisinhas técnicas atrapalham, como a maquiagem que não convence, mas o resultado final é positivo e o filme acaba funcionando, principalmente como um estudo interessante de personalidade. Infelizmente foi mal de bilheteria e não teve indicações ao Oscar.

J. Edgar (EUA / 2011 / 137 min / Clint Eastwood)

INDICAÇÃO: Quem gostou de Frost/Nixon, O Aviador, Uma Mente Brilhante.

NOTA: 7.0