sábado, 16 de junho de 2012

Deus da Carnificina

Parece uma versão cômica de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? esse novo filme de Roman Polanski que mostra dois casais num apartamento no Brooklyn discutindo um incidente escolar onde o filho de um deles agrediu o filho do outro, chegando a quebrar dois dentes do garoto.

Jodie Foster e John C. Reilly fazem os pais da vítima. Kate Winslet e Christoph Waltz fazem os pais do agressor. O filme se passa praticamente inteiro dentro do apartamento acompanhando a conversa entre os 4 - que começa prática e formal, mas vai ficando cada vez menos civilizada, expondo a hipocrisia de todos.

A conclusão é: o ser humano é amoral, as pessoas são irracionalmente egoístas, não há entendimento entre ninguém, razão e moralidade são apenas convenções criadas pra camuflar nossos impulsos animais. É o tipo de filme que olha de cima pra baixo pros personagens - no conflito, todos estão errados, todos são patéticos, e o diretor fica por trás da cortina rindo da mediocridade do ser humano (ou tentando justificar a própria, afinal Polanski tem um passado suspeito). Quando me deparo com esse tipo de filme eu sempre penso - se todo mundo é desprezível nessa história, então por que não escolheram outra?


Poderia ter funcionado, o problema é que o conteúdo não é tão rico quanto gostaríamos. Pra um filme que tem a pretensão de expor a amoralidade humana (não se trata de uma comédia completa), o conflito aqui é banal demais e a discussão é superficial, baseada em noções mal formadas sobre o que é certo e errado (a personagem da Jodie Foster é apresentada no começo como um símbolo de ética, pois ela expressa empatia pelos famintos da África e admira a Jane Fonda - se essa é a noção do filme do que seria moralidade - aquela que somos incapazes de atingir - então é uma confissão de que ele não domina o assunto que resolveu tratar).

A situação toda parece forçada; não há motivos pro casal permanecer horas no apartamento de estranhos, discutindo um assunto desagradável que poderia ser resolvido rapidamente - às vezes parece O Anjo Exterminador, como se houvesse uma força sobrenatural os impedindo de ir embora. Filmes desse tipo precisam estar fundados em conflitos sérios, personagens convincentes e diálogos inteligentes. Há alguns bons momentos na história, mas sem essa base, nem um elenco como esse consegue ir muito longe.

Carnage (França, Alemanha, Polônia, Espanha / 2011 / 80 min / Roman Polanski)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de A Separação, Dúvida.

NOTA: 6.0

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