Vigésimo terceiro filme da franquia de James Bond (e o terceiro com Daniel Craig), o filme foi dirigido por Sam Mendes (Beleza Americana) e traz Javier Bardem numa performance marcante como o vilão Raoul Silva (que lembra Hannibal Lecter ou mesmo o Coringa de Heath Ledger), além de Judi Dench, que tem uma participação grande na trama, se tornando praticamente a Bond Girl desse episódio.
O filme começa a mil por hora com uma sequência de ação espetacular envolvendo carros, motos, trens e até uma escavadeira (em cima do trem) que não tinha muito propósito de existir - mas num filme do James Bond você não reclama dessas coisas! Logo depois vem a tradicional sequência de créditos, que eu sempre acho anos 60 demais pra uma série sempre tão atual, mas a música da Adele está à altura do filme, que vem sendo considerado um dos melhores da série, merecidamente.
Não é nem que a história seja muito melhor que o normal, mas realmente há algo de sofisticado neste filme. E o mérito é em grande parte de Sam Mendes, que além de ser ótimo diretor de atores, é igualmente cuidadoso com a fotografia e a direção de arte de seus filmes, o que dá sempre a impressão de que se está vendo uma produção de primeira.
Gostei que o filme não abusa da violência e tenta sempre manter o
foco no entretenimento, o que se pode ver nos diálogos e principalmente
nas cenas de ação (há uma luta em meio a dragões num cassino chinês que é
o tipo de toque divertido e imaginativo que não se vê nesses filmes de
ação realistas que estão na moda).
Há coisas preguiçosas
na trama (por exemplo, se um personagem lembrasse de
deixar a lanterna desligada, um trecho crucial do filme não
aconteceria), mas esses detalhes não comprometem a história como um
todo.
Bond é tradicional, mas é atual. É sofisticado, mas põe a mão na lama quando precisa. É invencível, mas tem vulnerabilidades. É sério, mas é bem humorado. No filme há personagens fortes masculinos, femininos, jovens, idosos... Há ação pura, mas com personagens complexos e interessantes o bastante pra nos importarmos. O vilão é ótimo. O filme explora moda, turismo, tecnologia, carros... Todos esses ingredientes tornam a produção um espetáculo de primeira e com um apelo universal que é característico de 007.
Skyfall (Reino Unido, EUA / 2012 / 143 min / Sam Mendes)
INDICAÇÃO: Missão Impossível - Protocolo Fantasma, 007 - Cassino Royale, O Ultimato Bourne, True Lies.
NOTA: 8.5
terça-feira, 30 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Os Candidatos
Comédia estrelada por Will Ferrell e Zach Galifianakis sobre 2 candidatos ao Congresso que transformam a campanha numa espécie de vale-tudo eleitoral, usando das estratégias mais baixas pra derrubar o oponente.
A ideia é interessante, mas por algum motivo o humor nunca parece ser aproveitado ao máximo. Talvez seja só uma questão das piadas não serem surpreendentes ou criativas o bastante. A premissa é parecida com a de O Âncora - outro filme de Will Ferrell sobre rivais disputando um cargo importante. Mas ali tudo funcionava melhor, primeiro porque havia uma química mais interessante entre os protagonistas (a rival de Ferrell era Christina Applegate, que era uma reporter sexy e ambiciosa), além das piadas serem mais fortes.
Em termos de história, falta um pouco de realismo e uma explicação pro fato de ambos os candidatos serem tão incompetentes (uma desculpa na linha de Os Produtores). Talvez fosse mais interessante se apenas Ferrell fosse um personagem cômico e subversivo, e o outro fosse o vilão da história - um candidato politicamente correto porém detestável. Daria um contraponto melhor para as loucuras de Ferrell. Aqui, os dois parecem competir pelas mesmas piadas, diluindo o resultado.
O diretor é Jay Roach, que já se mostrou competente em comédias com Entrando Numa Fria e o primeiro Austin Powers. Esse não chega a ser ruim, mas fica a sensação de que a situação poderia ter sido melhor aproveitada.
The Campaign (EUA / 2012 / 85 min / Jay Roach)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Se Beber, Não Case 2, Quase Irmãos, Escorregando para a Glória, Ricky Bobby - À Toda Velocidade.
NOTA: 6.0
A ideia é interessante, mas por algum motivo o humor nunca parece ser aproveitado ao máximo. Talvez seja só uma questão das piadas não serem surpreendentes ou criativas o bastante. A premissa é parecida com a de O Âncora - outro filme de Will Ferrell sobre rivais disputando um cargo importante. Mas ali tudo funcionava melhor, primeiro porque havia uma química mais interessante entre os protagonistas (a rival de Ferrell era Christina Applegate, que era uma reporter sexy e ambiciosa), além das piadas serem mais fortes.
Em termos de história, falta um pouco de realismo e uma explicação pro fato de ambos os candidatos serem tão incompetentes (uma desculpa na linha de Os Produtores). Talvez fosse mais interessante se apenas Ferrell fosse um personagem cômico e subversivo, e o outro fosse o vilão da história - um candidato politicamente correto porém detestável. Daria um contraponto melhor para as loucuras de Ferrell. Aqui, os dois parecem competir pelas mesmas piadas, diluindo o resultado.
O diretor é Jay Roach, que já se mostrou competente em comédias com Entrando Numa Fria e o primeiro Austin Powers. Esse não chega a ser ruim, mas fica a sensação de que a situação poderia ter sido melhor aproveitada.
The Campaign (EUA / 2012 / 85 min / Jay Roach)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Se Beber, Não Case 2, Quase Irmãos, Escorregando para a Glória, Ricky Bobby - À Toda Velocidade.
NOTA: 6.0
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Os Infratores
Filme de gangster que conta a história real dos irmãos Bondurant, que na época da Lei Seca americana eram contrabandistas de "moonshine" - apelido dado pro whisky produzido clandestinamente. O conflito principal é entre eles e o personagem de Guy Pearce - um policial sanguinário que quer parte dos lucros. Num nível mais pessoal, o filme pode ser visto como a história de "superação" de Jack (Shia LaBeouf), o mais novo dos 3 irmãos, que desde pequeno tinha fama de covarde e precisa aprender a ser durão (coloquei as aspas porque é questionável se o tipo de brutalidade admirada no filme é uma virtude).
A história é bem contada, a produção tem classe, o elenco é muito bom. Infelizmente as qualidades do filme ficam em segundo plano e o que realmente se destaca é a violência, que vai muito além do que seria necessário pra ilustrar o poder dos vilões. Acaba sendo o principal instrumento do filme pra impressionar a plateia de tempos em tempos, o que acaba deixando a história negativa e excessivamente focada no mal (é um caso parecido com o de Selvagens do Oliver Stone).
Ainda assim é uma produção respeitável. Não chega a atingir a sofisticação e a dimensão mítica dos clássicos de Humphrey Bogart e James Cagney, mas funciona no nível da ação e do filme de vingança.
Lawless (EUA / 2012 / 116 min / John Hillcoat)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Selvagens, Inimigos Públicos, Atração Perigosa, O Gangster, Os Infiltrados.
NOTA: 7.0
A história é bem contada, a produção tem classe, o elenco é muito bom. Infelizmente as qualidades do filme ficam em segundo plano e o que realmente se destaca é a violência, que vai muito além do que seria necessário pra ilustrar o poder dos vilões. Acaba sendo o principal instrumento do filme pra impressionar a plateia de tempos em tempos, o que acaba deixando a história negativa e excessivamente focada no mal (é um caso parecido com o de Selvagens do Oliver Stone).
Ainda assim é uma produção respeitável. Não chega a atingir a sofisticação e a dimensão mítica dos clássicos de Humphrey Bogart e James Cagney, mas funciona no nível da ação e do filme de vingança.
Lawless (EUA / 2012 / 116 min / John Hillcoat)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Selvagens, Inimigos Públicos, Atração Perigosa, O Gangster, Os Infiltrados.
NOTA: 7.0
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
As Vantagens de Ser Invisível
Comédia dramática sobre um adolescente reservado e com problemas psiquiátricos que entra no colegial e é acolhido por dois alunos extrovertidos (mas não populares) de um ano mais avançado. O filme é um dos mais bem avaliados do ano e aborda, de maneira leve, temas como bullying, drogas, primeira vez e homossexualidade. O diretor Stephen Chbosky é também o autor do livro.
O filme se passa no início dos anos 90 e faz um retrato nostálgico do ano mais importante da juventude desses 3 amigos. Eles são do tipo que escutam David Bowie, The Smiths, frequentam sessões à meia-noite de Rocky Horror Picture Show e querem viver livremente. Os atores estão todos bem - só não sei se é possível acreditar totalmente que esses personagens seriam excluídos. É um paradoxo comum em filmes com esse tema: o diretor quer que o personagem seja um desajustado apenas no universo da história, mas não para a plateia do filme. Então você acaba com uma figura carismática, atraente, que na realidade seria popular no colégio - só que por algum motivo todo mundo no filme diz que ele é um esquisito.
O fato do filme ser narrado do futuro pelo personagem principal dá ao filme um tom melancólico que eu particularmente acho desnecessário. É como se ele dissesse "a vida era tão boa", mas não explica por que ela não é mais, tornando a felicidade um evento raro, que existe apenas num "paraíso perdido" da juventude (o que infelizmente deve ser verdade pra muita gente). Pra quem está na adolescência, fica a sensação de que deve-se curtir a vida às pressas, pois após o colegial a magia acaba (se você for pensar, pros "invisíveis" do colégio o que ocorre muitas vezes é o oposto). Mas isso não torna o filme negativo.
O que importa aqui é que os personagens foram criados com sensibilidade, têm personalidades bem definidas, e os conflitos e a amizade entre eles são interessantes. Parece uma versão adolescente de Na Estrada, ou talvez um novo Três Formas de Amar.
The Perks of Being a Wallflower (EUA / 2012 / 103 min / Stephen Chbosky)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Um Dia, 500 Dias Com Ela, C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor, Três Formas de Amar.
NOTA: 7.5
O filme se passa no início dos anos 90 e faz um retrato nostálgico do ano mais importante da juventude desses 3 amigos. Eles são do tipo que escutam David Bowie, The Smiths, frequentam sessões à meia-noite de Rocky Horror Picture Show e querem viver livremente. Os atores estão todos bem - só não sei se é possível acreditar totalmente que esses personagens seriam excluídos. É um paradoxo comum em filmes com esse tema: o diretor quer que o personagem seja um desajustado apenas no universo da história, mas não para a plateia do filme. Então você acaba com uma figura carismática, atraente, que na realidade seria popular no colégio - só que por algum motivo todo mundo no filme diz que ele é um esquisito.
O fato do filme ser narrado do futuro pelo personagem principal dá ao filme um tom melancólico que eu particularmente acho desnecessário. É como se ele dissesse "a vida era tão boa", mas não explica por que ela não é mais, tornando a felicidade um evento raro, que existe apenas num "paraíso perdido" da juventude (o que infelizmente deve ser verdade pra muita gente). Pra quem está na adolescência, fica a sensação de que deve-se curtir a vida às pressas, pois após o colegial a magia acaba (se você for pensar, pros "invisíveis" do colégio o que ocorre muitas vezes é o oposto). Mas isso não torna o filme negativo.
O que importa aqui é que os personagens foram criados com sensibilidade, têm personalidades bem definidas, e os conflitos e a amizade entre eles são interessantes. Parece uma versão adolescente de Na Estrada, ou talvez um novo Três Formas de Amar.
The Perks of Being a Wallflower (EUA / 2012 / 103 min / Stephen Chbosky)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Um Dia, 500 Dias Com Ela, C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor, Três Formas de Amar.
NOTA: 7.5
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Selvagens
Após uma série de filmes que fugiram de seu estilo, Oliver Stone volta ao universo de violência e foras da lei carismáticos - esse é daquele tipo de filme que mesmo antes de acabarem os créditos iniciais já vemos cenas de sexo, tortura e consumo de drogas.
Chon e Ben (Taylor Kitsch e Aaron Johnson) são melhores amigos na Califórnia e estão entre os melhores produtores de maconha do mundo. Além do negócio, eles também dividem a mesma namorada. Tudo vai bem até que a garota é sequestrada por um cartel mexicano (liderado por Salma Hayek) após eles se recusarem a fazer uma parceria.
Geralmente não gosto de filmes cujo conflito é entre 2 grupos de bandidos. Eles te colocam na posição de ter que torcer pelo menos pior dos dois lados, mas não para o lado bom. Aqui ainda dá pra tomar partido, pois apesar da profissão questionável, Chon e Ben são mostrados como pessoas relativamente honestas e bem intencionadas.
A história é envolvente e bem contada, mas não gosto do universo do filme, que tem a intenção de glamourizar a imagem dos bandidos; tornar o mal poderoso e descolado. Nunca sei se isso é um verdadeiro fascínio do diretor pelo lado negro, ou se é apenas uma maneira de parecer 'cool' pra plateias mais jovens.
Savages (EUA / 2012 / 131 min / Oliver Stone)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Drive, Atração Perigosa, Profissão de Risco, Assassinos por Natureza.
NOTA: 6.5
Chon e Ben (Taylor Kitsch e Aaron Johnson) são melhores amigos na Califórnia e estão entre os melhores produtores de maconha do mundo. Além do negócio, eles também dividem a mesma namorada. Tudo vai bem até que a garota é sequestrada por um cartel mexicano (liderado por Salma Hayek) após eles se recusarem a fazer uma parceria.
Geralmente não gosto de filmes cujo conflito é entre 2 grupos de bandidos. Eles te colocam na posição de ter que torcer pelo menos pior dos dois lados, mas não para o lado bom. Aqui ainda dá pra tomar partido, pois apesar da profissão questionável, Chon e Ben são mostrados como pessoas relativamente honestas e bem intencionadas.
A história é envolvente e bem contada, mas não gosto do universo do filme, que tem a intenção de glamourizar a imagem dos bandidos; tornar o mal poderoso e descolado. Nunca sei se isso é um verdadeiro fascínio do diretor pelo lado negro, ou se é apenas uma maneira de parecer 'cool' pra plateias mais jovens.
Savages (EUA / 2012 / 131 min / Oliver Stone)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Drive, Atração Perigosa, Profissão de Risco, Assassinos por Natureza.
NOTA: 6.5
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Moonrise Kingdom
De Wes Anderson (Os Excêntricos Tenenbaums), o filme se passa no verão de 1965 numa ilha fictícia na Nova Inglaterra, onde Sam, um escoteiro anti-social de 12 anos, foge de seu acampamento pra encontrar Suzy, uma menina problemática que foge de casa. Rompendo com o mundo convencional, eles vivem uma aventura pela natureza enquanto são perseguidos pela polícia e por seus pais.
O quanto você vai gostar do filme depende em grande parte do quanto você acha que estilo pode superar conteúdo. As locações são belíssimas, a fotografia tem uma textura orgânica de filme antigo, os cenários são ricos e cheios de objetos interessantes - o que há de descaso por drama, há de atenção pelo visual.
O que isso faz é dar a impressão que o filme despreza o potencial dramático do cinema, como se ele dissesse "eu não estou tentando ser um filme de verdade, fazer você se importar - meu objetivo é apenas criar essas imagens interessantes, e quem sabe fazer você refletir um pouco sobre os excluídos da turma".
Isso não invalida o filme, que é interessante e cheio de ideias, mas é uma pena que um capricho técnico tão alto esteja num filme que parece estar constantemente tirando sarro de si mesmo.
Moonrise Kingdom (EUA / 2012 / 94 min / Wes Anderson)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Viagem a Darjeeling, O Excêntricos Tenenbaums; E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, etc.
NOTA: 7.0
Ruby Sparks - A Namorada Perfeita
Comédia romântica sobre um escritor com bloqueio criativo (Paul Dano) que cria a mulher dos seus sonhos - até que ela inexplicavelmente salta das folhas de sua máquina de escrever para se tornar sua namorada na vida real. Os diretores são os mesmos de Pequena Miss Sunshine e o roteiro foi escrito por Zoe Kazan, que interpreta Ruby no filme.
Um dos problemas é que a personagem de Ruby é superficial e não convence como garota dos sonhos. Ela cozinha bem, é extrovertida, gosta de cachorro, mas o que há de tão fora do comum? O filme não mostra. Ela diz para Calvin: "Eu sou uma bagunça". Ele responde: "Eu amo a sua bagunça". O romance tem toda essa atitude "isso é tão complicado e inevitável" - no fim parece um relacionamento desses de 3 meses que todo mundo tem.
A primeira meia hora do filme funciona, mas passado o trecho em que Ruby ganha vida e Calvin aceita que ela é real, a história não encontra um rumo interessante. O casal começa a ter problemas, mas não há nenhuma explicação para isso (é a premissa do universo malevolente, de que as coisas têm que dar errado por algum motivo). O motivo é que Calvin não sabe como seria sua garota ideal, e por isso não consegue escrevê-la direito.
Mais pro final, o filme se torna pretensioso. Calvin resolve escrever um livro - que é exatamente a história do filme que estamos assistindo. O livro é aclamado por todos por sua genialidade. Bem, isso é afirmar que a história do próprio filme Ruby Sparks é genial! É preciso tomar muito cuidado quando você faz estimativas de algo que está contido no trabalho. Se você diz que vai mostrar a mulher mais bonita do mundo, você tem que garantir que será alguém realmente impressionante. O filme faz várias estimativas que não consegue atingir - diz que Calvin é um escritor genial, mas o personagem que mostra parece apenas um garoto inseguro. Diz que Ruby é a namorada dos sonhos, mas o que mostra é uma garota normal. Diz que a história do filme é genial, mas o que vemos é uma versão inferior de um roteiro do Charlie Kaufman (Quero Ser John Malkovich, Adaptação, etc).
A roteirista Zoe Kazan é neta do famoso cineasta Elia Kazan, e é filha de roteiristas (a mãe escreveu Benjamin Button, o pai escreveu O Reverso da Fortuna). Expectativas altas podem ser um fardo pesado pra quem é parente de artistas bem sucedidos, mas é preciso ser realista pra não tentar dar um passo maior que a perna. Zoe escreveu uma história que se autoproclama brilhante, criou uma personagem que pretende ser a garota dos sonhos, e depois se escalou pra interpretá-la! Pretensão tem limite.
Ruby Sparks (EUA / 2012 / 104 min / Jonathan Dayton, Valerie Faris)
INDICAÇÃO: Mais Estranho que a Ficção, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças.
NOTA: 6.0
Um dos problemas é que a personagem de Ruby é superficial e não convence como garota dos sonhos. Ela cozinha bem, é extrovertida, gosta de cachorro, mas o que há de tão fora do comum? O filme não mostra. Ela diz para Calvin: "Eu sou uma bagunça". Ele responde: "Eu amo a sua bagunça". O romance tem toda essa atitude "isso é tão complicado e inevitável" - no fim parece um relacionamento desses de 3 meses que todo mundo tem.
A primeira meia hora do filme funciona, mas passado o trecho em que Ruby ganha vida e Calvin aceita que ela é real, a história não encontra um rumo interessante. O casal começa a ter problemas, mas não há nenhuma explicação para isso (é a premissa do universo malevolente, de que as coisas têm que dar errado por algum motivo). O motivo é que Calvin não sabe como seria sua garota ideal, e por isso não consegue escrevê-la direito.
Mais pro final, o filme se torna pretensioso. Calvin resolve escrever um livro - que é exatamente a história do filme que estamos assistindo. O livro é aclamado por todos por sua genialidade. Bem, isso é afirmar que a história do próprio filme Ruby Sparks é genial! É preciso tomar muito cuidado quando você faz estimativas de algo que está contido no trabalho. Se você diz que vai mostrar a mulher mais bonita do mundo, você tem que garantir que será alguém realmente impressionante. O filme faz várias estimativas que não consegue atingir - diz que Calvin é um escritor genial, mas o personagem que mostra parece apenas um garoto inseguro. Diz que Ruby é a namorada dos sonhos, mas o que mostra é uma garota normal. Diz que a história do filme é genial, mas o que vemos é uma versão inferior de um roteiro do Charlie Kaufman (Quero Ser John Malkovich, Adaptação, etc).
A roteirista Zoe Kazan é neta do famoso cineasta Elia Kazan, e é filha de roteiristas (a mãe escreveu Benjamin Button, o pai escreveu O Reverso da Fortuna). Expectativas altas podem ser um fardo pesado pra quem é parente de artistas bem sucedidos, mas é preciso ser realista pra não tentar dar um passo maior que a perna. Zoe escreveu uma história que se autoproclama brilhante, criou uma personagem que pretende ser a garota dos sonhos, e depois se escalou pra interpretá-la! Pretensão tem limite.
Ruby Sparks (EUA / 2012 / 104 min / Jonathan Dayton, Valerie Faris)
INDICAÇÃO: Mais Estranho que a Ficção, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças.
NOTA: 6.0
sábado, 13 de outubro de 2012
A Entidade
Do diretor de O Exorcismo de Emily Rose (e dos produtores de Atividade Paranormal), o filme conta a história de um escritor famoso de livros criminais (Ethan Hawke) que se muda para uma cidade nova com sua família onde ele pretende investigar uma série de assassinatos para seu próximo livro. Mas, ao encontrar uma caixa de filmes antigos no sótão da casa, eventos estranhos começam a acontecer ameaçando ele e sua família.
É um dos filmes de terror mais bem dirigidos que vi recentemente - a trilha sonora, o uso da fotografia, da edição - tudo é usado com habilidade pra criar o máximo de suspense: pode-se ver que o filme não está simplesmente imitando os cacoetes de dezenas de outros filmes, mas descobrindo cena a cena qual a técnica mais eficiente pra gerar tensão - mesmo quando usa dos clichês.
Há outro elemento importante aqui, que é o senso de realismo. Num filme de terror, não há envolvimento se os atores parecem estar interpretando de uma maneira forçada ou se os eventos da história parecem ilógicos. Aqui, há inúmeros detalhes que buscam quebrar com essa artificialidade. Por exemplo: o personagem de Ethan Hawke precisa descobrir como emendar um filme 8mm. O que ele faz? O que todos nós faríamos - entra no Google! Ou então, a cena no meio da madrugada em que a filha se perde ao ir ao banheiro. Nós pensamos: sim, isso realmente aconteceria com uma criança pequena que acabou de mudar para uma casa nova! Tudo isso é feito pra você acreditar na realidade que está na tela, e só assim um filme desse tipo pode funcionar.
O filme é tão bem feito em seu desenvolvimento que o fato do público sair (em grande parte) contrariado prova o quão importante é o final de um filme em relação a tudo o que aconteceu antes. Um filme medíocre pode ser aclamado se tiver uma cena final de impacto. Por outro lado, um filme bem feito às vezes pode ser rejeitado se decepcionar nos últimos minutos - pra mim isso é o que acontece aqui. Em filmes de serial killers / monstros / espíritos, você sempre espera que os personagens tenham um encontro definitivo com o vilão no final. Aqui, há um encontro, mas não exatamente da maneira que o público espera. A sensação é a de que faltou algo, de que a experiência não foi vivida completamente. É um problema de roteiro, mas no geral, acho que os méritos do filme compensam essa falha.
Sinister (EUA / 2012 / 110 min / Scott Derrickson)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Sobrenatural, O Último Exorcismo, REC, Revelação.
NOTA: 7.0
É um dos filmes de terror mais bem dirigidos que vi recentemente - a trilha sonora, o uso da fotografia, da edição - tudo é usado com habilidade pra criar o máximo de suspense: pode-se ver que o filme não está simplesmente imitando os cacoetes de dezenas de outros filmes, mas descobrindo cena a cena qual a técnica mais eficiente pra gerar tensão - mesmo quando usa dos clichês.
Há outro elemento importante aqui, que é o senso de realismo. Num filme de terror, não há envolvimento se os atores parecem estar interpretando de uma maneira forçada ou se os eventos da história parecem ilógicos. Aqui, há inúmeros detalhes que buscam quebrar com essa artificialidade. Por exemplo: o personagem de Ethan Hawke precisa descobrir como emendar um filme 8mm. O que ele faz? O que todos nós faríamos - entra no Google! Ou então, a cena no meio da madrugada em que a filha se perde ao ir ao banheiro. Nós pensamos: sim, isso realmente aconteceria com uma criança pequena que acabou de mudar para uma casa nova! Tudo isso é feito pra você acreditar na realidade que está na tela, e só assim um filme desse tipo pode funcionar.
O filme é tão bem feito em seu desenvolvimento que o fato do público sair (em grande parte) contrariado prova o quão importante é o final de um filme em relação a tudo o que aconteceu antes. Um filme medíocre pode ser aclamado se tiver uma cena final de impacto. Por outro lado, um filme bem feito às vezes pode ser rejeitado se decepcionar nos últimos minutos - pra mim isso é o que acontece aqui. Em filmes de serial killers / monstros / espíritos, você sempre espera que os personagens tenham um encontro definitivo com o vilão no final. Aqui, há um encontro, mas não exatamente da maneira que o público espera. A sensação é a de que faltou algo, de que a experiência não foi vivida completamente. É um problema de roteiro, mas no geral, acho que os méritos do filme compensam essa falha.
Sinister (EUA / 2012 / 110 min / Scott Derrickson)
INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Sobrenatural, O Último Exorcismo, REC, Revelação.
NOTA: 7.0
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Busca Implacável 2
Sequência do bem sucedido (e super eficiente) Busca Implacável, que deu início a essa nova fase da carreira de Liam Neeson como herói de ação. Produzido por Luc Besson, o filme trás de volta Maggie Grace e Famke Janssen como a filha e a ex-mulher do herói.
No primeiro filme, Neeson matou dezenas de criminosos pra poder resgatar sua filha sequestrada. Agora, o pai de um desses sequestradores mortos busca vingança, planejando raptar a família inteira durante uma viagem a Istambul.
Embora menos interessante (como na maioria das sequências) a fórmula continua funcionando. Neeson é a figura ideal para o papel, e muito da graça do filme vem de assistir esse senhor respeitável, solene e elegante derrotando assassinos perigosos (o que é muito mais interessante do que ver machões bombados fazendo a mesma coisa, como em Os Mercenários 2, pois aqui há a ideia de que inteligência e experiência superam a força bruta).
Os diálogos são primários, a história é simples até demais, mas pelo menos o conflito é claro e a ação é bem feita (os melhores momentos são quando Neeson encarna o MacGyver e encontra saídas sofisticadas para os seus problemas).
O ponto fraco é que esse é o tipo de história que não pede uma sequência; eles teriam que ter criado um enredo 3 vezes mais elaborado e original pra não dar a sensação de "mais do mesmo"; de um filme feito apenas pra faturar mais alguns milhões (o primeiro custou 25 milhões e faturou quase 10 vezes isso).
Ainda assim, é um entretenimento honesto. Assim como Neeson, tem um objetivo muito simples, e o cumpre de maneira direta, sem fingir ter maiores pretensões.
Taken 2 (França / 2012 / 91 min / Olivier Megaton)
INDICAÇÃO: Quem gostou de O Legado Bourne, À Toda Prova (Haywire), Desconhecido, O Fim da Escuridão, etc.
NOTA: 6.5
No primeiro filme, Neeson matou dezenas de criminosos pra poder resgatar sua filha sequestrada. Agora, o pai de um desses sequestradores mortos busca vingança, planejando raptar a família inteira durante uma viagem a Istambul.
Embora menos interessante (como na maioria das sequências) a fórmula continua funcionando. Neeson é a figura ideal para o papel, e muito da graça do filme vem de assistir esse senhor respeitável, solene e elegante derrotando assassinos perigosos (o que é muito mais interessante do que ver machões bombados fazendo a mesma coisa, como em Os Mercenários 2, pois aqui há a ideia de que inteligência e experiência superam a força bruta).
Os diálogos são primários, a história é simples até demais, mas pelo menos o conflito é claro e a ação é bem feita (os melhores momentos são quando Neeson encarna o MacGyver e encontra saídas sofisticadas para os seus problemas).
O ponto fraco é que esse é o tipo de história que não pede uma sequência; eles teriam que ter criado um enredo 3 vezes mais elaborado e original pra não dar a sensação de "mais do mesmo"; de um filme feito apenas pra faturar mais alguns milhões (o primeiro custou 25 milhões e faturou quase 10 vezes isso).
Ainda assim, é um entretenimento honesto. Assim como Neeson, tem um objetivo muito simples, e o cumpre de maneira direta, sem fingir ter maiores pretensões.
Taken 2 (França / 2012 / 91 min / Olivier Megaton)
INDICAÇÃO: Quem gostou de O Legado Bourne, À Toda Prova (Haywire), Desconhecido, O Fim da Escuridão, etc.
NOTA: 6.5
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Poder Paranormal
Sigourney Weaver e Cillian Murphy interpretam cientistas especializados em desmascarar pessoas que afirmam ter poderes sobrenaturais. Com poucos recursos pra continuarem com suas investigações, eles veem uma grande oportunidade quando um famoso paranormal (Robert De Niro) ressurge após anos sumido - provar que ele é um charlatão representaria não só a salvação profissional da dupla, mas uma vitória pessoal em muitos níveis. O conflito envolve questões importantes e é muito bem apresentado (imagine James Randi contra Uri Geller) - estes são personagens sérios e ambiciosos numa rota de colisão. Eles não podem ser completamente bem sucedidos sem se enfrentarem - e o sucesso de um requer a derrota do outro.
O diretor e roteirista Rodrigo Cortés (de Enterrado Vivo) sem dúvida fez muita pesquisa antes de escrever o roteiro e isso aparece no filme - e o interessante é que ele ilustra os dois lados do conflito com o mesmo nível de inteligência e respeito (o lado dos céticos e o lado dos crentes) de forma que, mesmo estando do lado dos céticos na história, nunca é possível saber pra que lado ele tombará no final - o que gera um grande suspense pra quem se interessa pelo debate (e quem não se interessa?). Esse posicionamento deve ser reflexo das incertezas do diretor, que disse em entrevista que acha que tanto os céticos quanto os crentes acreditam naquilo que é mais conveniente para eles - ou seja, ele parece não acreditar que existam pessoas de fato racionais, que se baseiam em evidências apenas.
Ainda não sei se o filme faz total sentido e pretendo revê-lo em breve. Mas é importante dizer que há uma diferença profunda entre um filme como este, que é totalmente compreensível em todo o seu percurso, mas que eventualmente apresenta alguns elementos duvidosos e toma certas liberdades com a narrativa - e um filme que já parte de uma premissa mal explicada, que nunca é completamente inteligível pro espectador. O primeiro tipo respeita a racionalidade da plateia e é motivado pelo desejo de tornar a experiência mais interessante. O segundo conta com a confusão da plateia e é motivado pelo desejo de parecer mais esperto que ela.
Recebido friamente pela crítica e pelo público, pra mim foi uma das melhores surpresas do ano. Ótimos atores, ótimos personagens, ótimo tema. Suponho que muita gente tenha problemas com a segunda metade e com o desfecho, que não é exatamente o que o primeiro ato promete (embora não seja desonesto). Eu certamente gostaria de ver um filme inteiro sobre essa primeira parte, porém o rumo que a história toma é interessante em sua própria maneira e a experiência acaba sendo satisfatória de uma maneira inesperada.
Red Lights (EUA, Espanha / 2012 / 113 min / Rodrigo Cortés)
INDICAÇÃO: para quem gostou de A Caixa, O Ilusionista, O Sexto Sentido, Twin Peaks, etc.
NOTA: 8.0
O diretor e roteirista Rodrigo Cortés (de Enterrado Vivo) sem dúvida fez muita pesquisa antes de escrever o roteiro e isso aparece no filme - e o interessante é que ele ilustra os dois lados do conflito com o mesmo nível de inteligência e respeito (o lado dos céticos e o lado dos crentes) de forma que, mesmo estando do lado dos céticos na história, nunca é possível saber pra que lado ele tombará no final - o que gera um grande suspense pra quem se interessa pelo debate (e quem não se interessa?). Esse posicionamento deve ser reflexo das incertezas do diretor, que disse em entrevista que acha que tanto os céticos quanto os crentes acreditam naquilo que é mais conveniente para eles - ou seja, ele parece não acreditar que existam pessoas de fato racionais, que se baseiam em evidências apenas.
Ainda não sei se o filme faz total sentido e pretendo revê-lo em breve. Mas é importante dizer que há uma diferença profunda entre um filme como este, que é totalmente compreensível em todo o seu percurso, mas que eventualmente apresenta alguns elementos duvidosos e toma certas liberdades com a narrativa - e um filme que já parte de uma premissa mal explicada, que nunca é completamente inteligível pro espectador. O primeiro tipo respeita a racionalidade da plateia e é motivado pelo desejo de tornar a experiência mais interessante. O segundo conta com a confusão da plateia e é motivado pelo desejo de parecer mais esperto que ela.
Recebido friamente pela crítica e pelo público, pra mim foi uma das melhores surpresas do ano. Ótimos atores, ótimos personagens, ótimo tema. Suponho que muita gente tenha problemas com a segunda metade e com o desfecho, que não é exatamente o que o primeiro ato promete (embora não seja desonesto). Eu certamente gostaria de ver um filme inteiro sobre essa primeira parte, porém o rumo que a história toma é interessante em sua própria maneira e a experiência acaba sendo satisfatória de uma maneira inesperada.
Red Lights (EUA, Espanha / 2012 / 113 min / Rodrigo Cortés)
INDICAÇÃO: para quem gostou de A Caixa, O Ilusionista, O Sexto Sentido, Twin Peaks, etc.
NOTA: 8.0
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Looper - Assassinos do Futuro
Foi aclamada pela crítica essa ficção-científica de orçamento modesto, escrita e dirigida por Rian Johnson (que fez só 2 outros longas antes, nenhum muito conhecido). A história se passa em 2044, onde assassinos profissionais chamados "loopers" são pagos para matar homens vindo de um futuro ainda mais distante (2074, onde a viagem no tempo já foi inventada). Neste futuro, a tecnologia se desenvolveu tanto que se tornou impossível se livrar de corpos sem deixar rastros para a polícia. Portanto, a saída encontrada por mafiosos para dar fim a suas vítimas é enviá-las para serem executadas no passado.
Acontece que a viagem no tempo também é altamente ilegal em 2074 - por que é que a polícia, com uma tecnologia tão imbatível, não consegue detectar essas viagens no tempo clandestinas? A resposta é: não faça muitas perguntas! O filme é todo construído em cima de pequenos problemas como este, deixando a trama confusa e desagradável de se acompanhar. Filmes sobre viagem no tempo quase sempre têm buracos na história, mas é preciso escondê-los - e construir conflitos fortes que funcionem independentemente da lógica da trama.
Aqui, mesmo que a trama fosse perfeitamente plausível, ainda seria uma história insatisfatória, onde nenhum personagem é totalmente gostável (são criminosos contra criminosos - fica difícil de torcer por alguém), as pessoas agem de maneira inconsistente, as regras são mal explicadas, a segunda metade parece um filme separado - o roteirista parece ter tido algumas sacadas interessantes para um filme e, pra dar um jeito de enfiá-las na mesma história, abriu mão de qualquer senso de unidade e realismo psicológico.
Joseph Gordon-Levitt está quase irreconhecível. Quando o filme começou, imaginei que ele tivesse sofrido um acidente ou feito alguma cirurgia no maxilar. Depois percebi que era maquiagem - para deixá-lo mais parecido com Bruce Willis! Fiquei pensando: que senso de prioridade tem um diretor que escolhe comprometer a harmonia facial do ator principal, deixando ele bizarro e artificial o filme inteiro, por causa de um detalhe que não faz a menor diferença (ainda menos num filme que toma tantas outras liberdades)?
O filme parte de uma ideia interessante e esbarra em temas sérios, mas é mal realizado e não tem o intelecto pra elaborar as questões filosóficas que levanta.
Looper (EUA, China / 2012 / 118 min / Rian Johnson)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Contra o Tempo, Os Agentes do Destino, O Preço do Amanhã, A Origem.
NOTA: 4.0
Acontece que a viagem no tempo também é altamente ilegal em 2074 - por que é que a polícia, com uma tecnologia tão imbatível, não consegue detectar essas viagens no tempo clandestinas? A resposta é: não faça muitas perguntas! O filme é todo construído em cima de pequenos problemas como este, deixando a trama confusa e desagradável de se acompanhar. Filmes sobre viagem no tempo quase sempre têm buracos na história, mas é preciso escondê-los - e construir conflitos fortes que funcionem independentemente da lógica da trama.
Aqui, mesmo que a trama fosse perfeitamente plausível, ainda seria uma história insatisfatória, onde nenhum personagem é totalmente gostável (são criminosos contra criminosos - fica difícil de torcer por alguém), as pessoas agem de maneira inconsistente, as regras são mal explicadas, a segunda metade parece um filme separado - o roteirista parece ter tido algumas sacadas interessantes para um filme e, pra dar um jeito de enfiá-las na mesma história, abriu mão de qualquer senso de unidade e realismo psicológico.
Joseph Gordon-Levitt está quase irreconhecível. Quando o filme começou, imaginei que ele tivesse sofrido um acidente ou feito alguma cirurgia no maxilar. Depois percebi que era maquiagem - para deixá-lo mais parecido com Bruce Willis! Fiquei pensando: que senso de prioridade tem um diretor que escolhe comprometer a harmonia facial do ator principal, deixando ele bizarro e artificial o filme inteiro, por causa de um detalhe que não faz a menor diferença (ainda menos num filme que toma tantas outras liberdades)?
O filme parte de uma ideia interessante e esbarra em temas sérios, mas é mal realizado e não tem o intelecto pra elaborar as questões filosóficas que levanta.
Looper (EUA, China / 2012 / 118 min / Rian Johnson)
INDICAÇÃO: Quem gostou de Contra o Tempo, Os Agentes do Destino, O Preço do Amanhã, A Origem.
NOTA: 4.0