segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Mestre

Escrito, dirigido e co-produzido por Paul Thomas Anderson (de Magnólia e Sangue Negro), o filme conta a história de Freddie Quell (Joaquin Phoenix), um veterano da Segunda Guerra perturbado, obcecado por sexo, que está tentando se readaptar à sociedade quando seu caminho cruza com o de Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman), líder de um novo movimento filosófico chamado "A Causa" (que lembra demais a Cientologia pra ser acidental). Freddie se junta aos seguidores de Lancaster, encontrando um novo sentido pra sua vida.

Mas se você acha que é uma história feliz, pense de novo. O filme no fundo é um alerta contra a dependência psicológica e o misticismo, e mostra o poder que líderes carismáticos podem ter sobre mentes vulneráveis (Anderson já tocou nesse tema em Magnólia, quando mostrou Tom Cruise como um guru de auto-ajuda para homens - Cruise, aliás, que é o cientologista mais famoso de todos). Há uma cena antes de Freddie se juntar à "Causa" em que Lancaster o chama pra uma entrevista. Freddie tem que responder a uma série de perguntas pessoais olhando nos olhos de Lancaster - se Freddie piscar, a entrevista recomeça do zero (ele provavelmente está sendo hipnotizado e não sabe disso). Em vez de cortar entre entrevistador e entrevistado, a câmera fixa apenas no rosto de Joaquim Phoenix (talvez mostre o corpo todo, mas a expressão dele é tão poderosa que é como se mais nada existisse na tela). É um ponto chave do filme. Ao final da cena, sabemos que o mestre fisgou mais um discípulo.


Lancaster Dodd foi inspirado em L. Ron Hubbard, a figura sinistra e fascinante que criou a Cientologia (há um documentário antigo com entrevistas dele no YouTube que é de tirar o sono). Os produtores negam que o filme fale sobre a Cientologia, mas as semelhanças são tantas que fica óbvio que isso é apenas pra evitar ataques da igreja. O assunto do filme é forte porque mostra uma capacidade assustadora da mente humana: a de ter total convicção em ideias completamente irreais. Há vários cultos como "A Causa" por aí, cada vez mais disfarçados de ciência, pra um público que já não compra mais os mitos das antigas religiões. Faz a gente se perguntar o que é mais perigoso: suspender a lógica por completo e aceitar ideias com base na fé, ou corromper o processo racional de forma que se possa "provar" qualquer coisa.

É um filme pesado, com um ritmo lento, que deve entediar o espectador menos interessado em discussões abstratas. Teve 3 indicações ao Oscar (Hoffman, Phoenix e Amy Adams - todos ótimos) mas merecia no mínimo mais as de roteiro e direção pra Anderson, que tem feito filmes cada vez mais sérios e brilhantes cinematograficamente.

The Master (EUA / 2012 / 144 min / Paul Thomas Anderson)

INDICAÇÃO: Pra quem gostou de Closer - Perto Demais, De Olhos Bem Fechados, Magnólia.

NOTA: 8.5

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